ELEIÇÕES 2014 - COMO ESTÁ O CENÁRIO?
Números
parecidos escondem eleitorados cada vez mais diferentes
JOSÉ ROBERTO
DE TOLEDO
Pesquisa para a Presidência da República - DATAFOLHA - 15/10/2014 |
A divisão do eleitorado vai além dos 51% para Aécio Neves
(PSDB) a 49% de Dilma Rousseff (PT). É a
oposição Nordeste versus São Paulo, dos centros ricos das metrópoles versus
suas periferias, dos contrários ao Bolsa Família versus os beneficiários do
programa. Desde 2006 que essa divisão é visível no mapa do Brasil. Em 2014, a polarização está mais forte.
Virou cisão.
Quanto mais diferentes se tornam seus respectivos
eleitorados, mais parecidos ficam os números dos candidatos a presidente. Aécio
e Dilma estão tecnicamente empatados em intenção de voto, e há uma convergência tanto das suas taxas de
rejeição (a de Aécio cresce e se aproxima da de Dilma) quanto dos seus potenciais de voto. Tudo aponta para a disputa mais apertada da história. E a mais tardia
também, com muitos eleitores decidindo só na urna.
O fato de Aécio aparecer em quatro pesquisas com dois pontos
a mais do que Dilma é uma arma psicológica para o tucano. Mas três fatores podem acabar ajudando a presidente na reta final.
1) Apesar de todos os
apoios ao tucano – como os de Marina Silva e da família de Eduardo Campos -, Aécio
não cresceu. É sinal de que a campanha
negativa é o que pesa no segundo turno. Aécio tinha passado incólume até
agora, com as baterias petistas voltadas a Marina no primeiro turno. Agora ele
é o único alvo.
2) A avaliação do governo
Dilma está melhorando: seu saldo positivo chegou a 18 pontos no Ibope e a 19
pontos no Datafolha.
3) No segundo turno, há
menos votos nulos, porque há menos erro do eleitor na hora de votar. Os erros
foram maiores nas regiões onde Dilma teve mais votos no primeiro turno. Se não
se repetirem no dia 26, Dilma pode crescer ainda mais nessas áreas.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Política/Análise – Quinta-feira, 16 de outubro de 2014 – Pg. A4 –
Internet: clique aqui.
“Debate” na
televisão
Um desserviço ao povo
Um desserviço ao povo
Dora Kramer
Veto a entrevistadores
põe candidatos no controle
e deixa eleitor fora
do debate
Dilma Rousseff e Aécio Neves no debate da TV Bandeirantes (14/10/2014) |
A candidata de fala atrapalhada frente ao adversário com o
tique do riso insolente é uma cena que não enseja à decisão do voto de ninguém.
Ainda mais quando o conteúdo não ajuda à configuração do que se possa chamar de
um debate, aqui entendido como exposição de argumentos contra ou a favor de
causas, ideias, projetos.
O primeiro confronto da campanha do segundo turno entre
Dilma Rousseff e Aécio Neves, patrocinado pela TV Bandeirantes, deixou claro que o modelo imposto pelos marqueteiros não funciona a contento. É essencial a participação de entrevistadores
- sejam jornalistas ou até mesmo eleitores sorteados como uma vez fez a TV
Globo - que façam perguntas sobre temas não conhecidos previamente pelos
candidatos e com direito a aprofundamento razoável do assunto. Réplica e
tréplica, no mínimo.
Há quem tenha visto na noite de terça-feira um debate
"quente". Em comparação aos programas do primeiro turno, com aquela
limitação de tempo devido à obrigatoriedade de participação de muitos
candidatos, sem dúvida foi mais interessante. Mas a "quentura" esteve todo tempo relacionada à forma
incisiva com que Dilma e Aécio dirigiam-se um ao outro.
Ambos mostraram
capacidade ofensiva - cada um a seu modo de acordo com suas características
pessoais -, mas ficaram rodando dentro
dos círculos de sempre. Espremendo o que foi dito, a gente se lembra do
quê? Da troca de acusações sobre temas que estão todos os dias no noticiário. O senador disse que a presidente é
"leviana" e ela o acusou nepotismo. Sim, e daí a discussão evolui
para onde? Para lugar algum.
E assim seguiram cada qual atuando em seu quadrado, no
terreno que lhes parecia mais seguro e favorável. Ao ponto de a presidente
ocupar o precioso tempo com questões relativas a Minas Gerais, deixando de lado
o restante do eleitorado nacional. A questão interessava à campanha dela. Mas
esse tipo de programa não é feito para servir ao público?
Do jeito que está, não mesmo. E se acharmos que sim, estamos
todos num belo exercício de autoengano. Temos
pela frente ainda três supostos debates que, a seguirem a regra dos marqueteiros,
vão de novo repetir a agressividade enfadonha e sem resultados.
No modelo atual os
candidatos têm o controle do programa, conduzem-no como bem entendem,
corrigem as falhas ou acentuam acertos conforme lhes indicam os conselheiros
nos intervalos e ficam transitando nas suas zonas de conforto, procurando
empurrar o oponente para a zona de desconforto.
Isso faz parte do jogo, mas não é todo o jogo. Não se trata
de advogar de maneira artificial um diálogo de donzelas. Mas sim de exigir um
questionamento sério a fim de que o eleitor não fique fora do debate hoje
reduzido a uma ação entre inimigos reciprocamente protegidos.
Crédito
das pesquisas
Toda eleição é a
mesma coisa: os acertos das pesquisas são esquecidos e seus desacertos
superdimensionados. O problema não está na amostragem das tendências -
todas captadas nesta eleição particularmente imprevisível -, mas na expectativa de que elas adivinhem o
resultado das urnas.
Por mais que se diga que refletem um momento, as pessoas insistem em vê-las como bolas de
cristal e desconsideram os demais fatores. O principal deles, as decisões de última hora. Depois de encerrada
a propaganda eleitoral, o período de pesquisas e os debates, sobram ainda ao
menos 24 horas para as pessoas refletirem e conversarem a respeito de tudo o
que se passou na campanha.
A continha de dois pontos para lá três pontos para cá não
para em pé diante das condições objetivas e subjetivas da política. Essas é que
compõem o cenário que levará ao resultado. Mas é sempre assim, na próxima eleição
começa tudo de novo.
Fonte: O Estado de S.
Paulo – Política – Quinta-feira, 16 de outubro de 2014 – Pg. A6 – Internet:
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