SÍNODO SOBRE A FAMÍLIA: DECISÃO INÉDITA DO PAPA!
Gerard
O'Connell
America
(revista dos jesuítas dos EUA)
11-10-2014
Papa, em decisão
inédita, mas significativa,
adiciona 6 padres
sinodais à equipe que escreverá
o relatório final do
Sínodo
Cardeal Péter Erdö - Relator do Sínodo |
Com o Sínodo sobre a família chegando à metade do caminho
com uma nota positiva, o Papa Francisco
tomou a decisão inédita e altamente significativa de adicionar seis padres
sinodais altamente qualificados à equipe que irá escrever o seu relatório final.
Essa decisão pode vir a ser um divisor de águas.
Em quase todos os sínodos, ao longo dos últimos 49 anos, o
relatório final era elaborado pelo: relator,
o secretário especial e o secretário-geral.
-
Presumia-se que o relatório final do Sínodo de 2014 iria
seguir o exemplo e ser elaborado pelo cardeal húngaro Péter Erdö (relator), pelo teólogo italiano e arcebispo Bruno Forte (secretário especial) e
pelo cardeal Lorenzo Baldisseri da
Itália (secretário-geral), que está participando do Sínodo pela primeira vez.
Esse já não é o caso.
-
os cardeais Gianfranco Ravasi (da Itália, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura) e Donald William Wuerl (arcebispo de Washington, EUA),
- os arcebispos Victor Manuel Fernandez (Reitor da Universidade Católica de Buenos Aires e principal consultor teológico do papa em Aparecida em 2007),
- Carlos Aguiar Retes (Presidente do CELAM),
- Peter Kang U-IL (Presidente da Conferência Episcopal da Coreia) e
- o padre Adolfo Nicolás Pachón (Superior Geral da Companhia de Jesus).
-
coabitação,
- admissão de católicos divorciados e recasados à comunhão,
- outras situações irregulares,
- uniões homossexuais e
- muito mais.
Nesta primeira semana, os 253 participantes do Sínodo
falaram utilizando tanto textos preparados ou de forma espontânea sobre um ou
outro tema do documento de trabalho que tinha sido designado para esse dia
especial. Eles já concluíram essa parte, mas já várias coisas ressaltam que valem a pena mencionar.
Víctor Manuel Fernandez - novo membro da Equipe de Redação do Relatório Final do Sínodo |
CLIMA
DE LIBERDADE E FRANQUEZA
Para começar, os participantes que estiveram em sínodos
anteriores confirmam que o clima de
liberdade e o método operativo dessa vez é significativamente diferente dos
sínodos do passado, e eles confirmam que isso está produzindo resultados positivos.
Cada participante com quem eu converso privadamente, bem
como aqueles que se reuniram com a imprensa, deram crédito total ao Papa
Francisco pela criação de um clima de
liberdade onde todo mundo sente-se totalmente livre para dizer o que
realmente pensa sobre um determinado assunto. "As pessoas estão muito
relaxadas, e até mesmo fazem piadas", comentou o arcebispo Diarmuid Martin, de Dublin. Ele disse
que o papa tem contribuído grandemente para esse clima, não só defendendo que
eles falassem livremente e corajosamente desde o primeiro dia, mas também por
chegar cedo todos os dias, cumprimentando os participantes quando eles chegam,
e interagindo com as pessoas nos intervalos.
É sabido que, em
sínodos do passado, uma censura discreta, mas eficaz, foi exercida por
autoridades do Vaticano, mas o que era ainda mais grave e prejudicial para a
realização de um debate aberto e honesto era a "auto-censura"
exercida pelos próprios bispos nesses encontros. Dom José Maria Arancedo,
presidente da Conferência Episcopal Argentina, afirmou isso francamente em uma
entrevista, em 9 de outubro, quando, referindo-se a sínodos anteriores, disse: "A pior censura é a auto-censura".
MÉTODO INDUTIVO DE REFLEXÃO
Um segundo fator muito importante que diferencia este sínodo
dos anteriores é que o método
"indutivo" em vez do "dedutivo" tem prevalecido. O
arcebispo Paul-André Durocher,
presidente da Conferência Episcopal do Canadá, destacou este aspecto particular
em um encontro no Vaticano no dia 9 de outubro.
"O que está acontecendo no Sínodo é que estamos vendo
uma maneira mais indutiva de refletir, a
partir das situações reais das pessoas ... e descobrindo que a experiência
vivida pelas pessoas é também uma fonte teológica, um lugar de reflexão
teológica", afirmou.
"Os bispos estão
falando como pastores", muitos participantes confirmaram. Eles estão falando a partir de sua experiência pessoal
e de sua honesta convicção sobre uma ampla variedade de assuntos. Às vezes,
eles estão fazendo isso com grande paixão, também a partir das experiências
matrimoniais de seus próprios pais, sejam elas felizes ou não.
Os bispos do Oriente Médio e da África, assim como os casais
daquela parte do mundo, falaram, muitas vezes, de um jeito de cortar o coração,
sobre o terrível impacto da guerra e da violência nas famílias, enquanto os
bispos da Ásia, África e América Latina falaram dos efeitos destrutivos da
pobreza e da imigração sobre inúmeras famílias.
Um grande número de bispos falou sobre a situação das
crianças em casamentos desfeitos - "os filhos pingue-pongue" que
vivem se intercalando entre as casas dos pais separados, e aqueles em situações
de guerra e de violência, resultando na imigração. Eles falaram sobre como a Igreja está respondendo, em diferentes
países, a tais situações e o que mais ela pode fazer.
MISERICÓRDIA
E AMOR PARA OS CASOS COMPLEXOS
Vários bispos
reafirmaram que a Igreja deve mostrar amor e respeito aos homossexuais e
lésbicas. Houve um consenso de que a Igreja não pode considerar a união de
pessoas do mesmo sexo como casamento, mas deixou claro que não deve haver
discriminação contra os filhos de tais uniões.
Muitos padres sinodais e alguns casais sublinharam a necessidade de uma preparação adequada dos
casais que desejam se casar na Igreja e da necessidade de apoiar os casais
depois de casados e com filhos. Outros sublinharam a necessidade de estar
perto das viúvas e viúvos e daqueles que não têm famílias.
Não há consenso sobre a questão da indissolubilidade do matrimônio, mas há uma variedade de posições
quando se trata de aplicar este princípio aos casos concretos. "Temos que exercer as nossas
responsabilidades pastorais nas áreas cinzentas", disse o arcebispo
Martin em uma coletiva de imprensa no Vaticano no dia 11 de outubro.
Não foi nenhuma surpresa ver diferentes posições surgirem
entre os padres sinodais sobre tais questões como a relação entre a doutrina e
a prática pastoral, como unir a
misericórdia com a justiça, como medir a fé quando um casal deseja contrair
matrimônio e a possibilidade de um
caminho penitencial, que pode abrir a porta para a recepção dos sacramentos da
reconciliação e da comunhão pelos católicos divorciados e recasados. Como já era evidente antes do Sínodo começar, há duas
posições diferentes sobre a
questão da admissão à comunhão de
católicos divorciados e recasados; o que ainda não está claro é o nível de apoio para cada posição.
O Papa Francisco há muito tem favorecido o método indutivo;
foi o que funcionou bem na reunião de Aparecida das Conferências Episcopais da
América Latina e do Caribe (CELAM), em 2007, onde ele foi o editor-chefe de seu
documento final, que agora é um texto fundamental para a compreensão de seu
pensamento. Ele está convencido de que o
processo de sinodalidade pode dar frutos - mesmo os mais inesperados - se
todos os padres sinodais participarem dele com corações e mentes que estejam
abertos para aquilo que o Espírito está dizendo nas diferentes situações no
mundo de hoje.
Vale ressaltar que este clima de liberdade promovido pelo
papa e a metodologia da sinodalidade que ele promoveu, ajudou a evitar a
polarização no Sínodo, e levou os participantes a pensar que uma síntese e um eventual consenso podem
ser alcançados, mesmo sobre as questões mais controversas, até o final do
processo sinodal, em 2015.
Nesta segunda-feira, 13 de outubro, o cardeal Péter Erdö, relator do Sínodo,
apresentará um relatório à assembleia resumindo as mais de 240 palestras ou
apresentações escritas dadas durante a primeira semana. Seu relatório servirá
de base para as 15 horas de discussão em 10 grupos linguísticos (3 em italiano,
3 em inglês, 2 em francês e 2 em espanhol) durante os três dias seguintes. Ele
também irá ajudar na estruturação do relatório final do Sínodo.
As observações feitas
pelos dez grupos linguísticos serão inseridas nessa estrutura e isso resultará
no relatório final, já mencionado, que será elaborado pelos padres sinodais
mencionados anteriormente (a equipe original dos três mais os seis novos
membros nomeados pelo papa).
Os padres sinodais
vão votar e aprovar o relatório final na tarde de 18 de outubro. Esse texto
será entregue ao papa e, eventualmente, enviado às Conferências e Patriarcados
Episcopais de todo o mundo, e também é esperado que ele seja liberado para a
imprensa.
Tradução do
inglês por Claudia Sbardelotto.
Fonte: Instituto
Humanitas Unisinos – Notícias – Segunda-feira, 13 de outubro de 2014 –
Internet: clique aqui.
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