«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Não há como fugir, é hora de rever tudo


Washington Novaes

Seja qual for o resultado das eleições presidenciais e estaduais, vamos ter de mergulhar em profunda discussão sobre os rumos que o País terá de tomar. Perdidos em debates sobre generalidades, desperdiçamos um tempo e uma oportunidade valiosos, enquanto a economia nacional recuava e se aproximava do patamar zero de crescimento, o mercado acionário manifestava seus temores com cotações mais baixas, a inflação se mantinha em patamares inaceitáveis, as instituições financeiras (O Estado de S. Paulo, 26/8) previam PIB próximo de zero este ano e abaixo de 2% no ano que vem. Embora fugindo do culto de tanta gente aos chamados índices do PIB - como se fosse um referencial único a ser observado -, é preciso ver que nosso produto bruto, segundo o Fundo Monetário Internacional, se colocava em 119.º lugar no mundo (revista Congresso em Foco), com R$ 4,8 trilhões. Segundo o Pnud [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento] (julho 2014), o Brasil situava-se no 79.º lugar em índice de desenvolvimento, entre 187 países.
Marcus Eduardo Oliveira - economista

Mais contundente ainda, nossa economia parece, sob certos aspectos, haver recuado ao Brasil colônia, vendendo quantidades maiores de minérios, soja e outras commodities a preços declinantes (O Estado de S. Paulo, 14/9) aos países mais ricos - com isso proporcionando a eles o que lhes falta em solo fértil, biodiversidade, água, sol. Sem prestar atenção sequer a profundas transformações já em curso no panorama mundial, como adverte a conceituada revista New Scientist no artigo The end of the nation, em que chama a atenção para mudanças em curso, movimentos em ascensão, transformações como na Ucrânia, na Escócia, na Catalunha, em Hong Kong e outros lugares - sem falar na rápida evolução das compras de territórios em países (como faz a China) em outros continentes (como a África).

São muitos os estudiosos a chamar a atenção para a insustentabilidade de modelos dominantes no mundo, em que:
  • pouco mais de 250 pessoas, cada uma delas com ativos superiores a US$ 1 bilhão, juntas detêm mais que o produto interno bruto conjunto dos 40 países mais pobres, onde vivem 600 milhões de pessoas – como lembra o professor de Economia na USP Marcus E. Oliveira (Eco-21, abril de 2014).
  • Pouco mais de 90 mil pessoas detêm mais de US$ 20 trilhões (algumas vezes o PIB brasileiro) em paraísos fiscais.
  • E apenas 500 mil pessoas mais ricas respondem pelas emissões de 50% do dióxido de carbono no mundo.
Outros estudos lembram que os países mais ricos, que têm menos de 20% da população mundial, consomem quase 80% dos recursos globais, quando economistas já apontam para a atual insustentabilidade de um consumo médio mundial de 9 toneladas por ano por pessoa - com a população já evoluindo para 11 bilhões de pessoas nas próximas décadas. O jornalista Clovis Rossi cita (Folha de S. Paulo, 25/9) pesquisa de professores da Universidade de Brasília e do Ipea segundo a qual no Brasil o cenário não é muito diferente: os 5% mais ricos entre nós "passaram a abocanhar cerca de 44% da renda total do país" em 2012 (eram 40% em 2006).
Sérgio Besserman Vianna - economista PUC-Rio

Esse quadro insustentável leva estudiosos como Sérgio Besserman Vianna (ex-presidente do IBGE, diretor do BNDES, professor da PUC-Rio) a dizer que nos próximos 20 anos “a humanidade terá de fazer escolhas inéditas” em valores que regerão a vida das próximas gerações. Uma delas será inserir os custos do aquecimento global em todos os produtos, todos os serviços – atribuindo assim os custos a quem os gera. Mas precisamos saber como enfrentar “a atual escassez de lideranças, seja nos níveis local, regional ou global”.

A dramaticidade das questões já levou o secretário-geral das Nações Unidas a propor, em Nairóbi, em junho, “uma nova fase no desenvolvimento humano”, para a qual, diz ele, “estamos prontos”. O Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento Humano iniciou uma consulta “sobre a elaboração de um novo sistema financeiro sustentável” – proposta que deverá vir à luz no primeiro trimestre do ano que vem. E o Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente] acentua a insustentabilidade das atuais regras para um sistema global que movimenta US$ 225 trilhões por ano.

Em certos momentos tem-se a impressão, no Brasil, de que vivemos à margem dessas grandes questões que hoje assustam o mundo, da insustentabilidade do que estamos vivendo. Ainda há pouco tempo, uma comissão da Universidade de Oxford, “diante da nossa incapacidade de enfrentar as grandes questões da política, de nossa tendência a fórmulas de curto prazo diante dos grandes desafios do futuro”, acentuou “as encruzilhadas vitais que nos esperam” e farão dos próximos cem anos “o melhor século de todos os tempos – ou o pior”. Arrolou, por isso, grandes desafios que nos aguardam. Entre eles:
1) Como poderão o crescimento e o desenvolvimento tornar-se mais sustentáveis e inclusivos?
2) Como poderão os setores de alimentos, energia, água e biodiversidade tornar-se mais seguros?
3) Como poderão as infraestruturas de saúde e seus processos atender às necessidades de todos?”.


Washington Novaes - jornalista (autor deste artigo)
Numa segunda parte de seu estudo, depois de analisar fatores que comandaram transformações em outros momentos – como interesses compartilhados, liderança, inclusão, instituições, parcerias, objetivos comuns –, aponta para alguns alvos a serem perseguidos – proteção da camada de ozônio, redução do uso de fumo, realização das Metas do Milênio –, assim como para fatores que dificultam avanços, como as visões de curto prazo delineando os ciclos políticos e econômicos.
São muitas as sugestões para caminhar, como a aliança entre países ou cidades para enfrentar questões centrais como as do clima, estabelecer instituições mais criativas, eliminar impostos abusivos – entre várias outras. E a ênfase na necessidade de abolir “subsídios perversos em combustíveis e na agricultura”.

São essas as questões que temos pela frente – e com urgência. Não há como fugir.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sexta-feira, 3 de outubro de 2014 – Pg. A2 – Edição impressa.

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