«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

REFORMA POLÍTICA, O DEBATE INADIÁVEL

MURILLO DE ARAGÃO*


Murillo de Aragão - cientista político
Em tempos de eleição devemos fazer uma reflexão aprofundada sobre a democracia e a política. É importante, no entanto, não cair no discurso fácil de que, dado o gigantismo de nosso processo eleitoral, somos uma democracia madura. Temos um processo eleitoral relevante e exemplar em muitos sentidos, mas o processo político que precede as eleições é doentio, viciado e carente de aperfeiçoamentos.

O Brasil de hoje, mesmo com os avanços institucionais obtidos desde a redemocratização, em 1985, ainda vive sua infância democrática. E para que soluções não democráticas não prevaleçam cuidados são essenciais. É certo afirmar que democracia e desenvolvimento econômico e social andam juntos, pois países com índice de desenvolvimento humano avançado quase sempre são democracias consolidadas. Este é o ideal que o Brasil deve perseguir: ser uma democracia socialmente justa e desenvolvida.

Entretanto, nossos vícios e desvios estão ameaçando nosso caminho na busca por uma democracia madura. Retrocessos, infelizmente, integram o processo histórico e não é diferente no Brasil. Além do risco de retrocessos, temos ainda aspectos que não evoluíram ou evoluem lentamente. O autoritarismo faz parte de nosso dia a dia, por exemplo: na humilhação que cidadãos sofrem na mão de servidores e funcionários públicos arrogantes, na qualidade precária de muitos serviços públicos e no desproporcional poder do Estado perante a sociedade.

Não falo dos poderes que o Estado deve ter, mas da opacidade e da desconexão com que o Estado brasileiro funciona. Aponto ainda a intervenção brutal do Estado na economia:
  • direcionando recursos para setores premiados;
  • a carga tributária abusiva, se comparada à contrapartida dada ao contribuinte; e
  • o uso político e corporativo de empresas estatais na destruição de valor, como a ocorrida na Petrobrás.
Existem ainda três outras graves expressões de autoritarismo disfarçado: o corporativismo, não a velha ideologia, mas a reles atuação destinada a salvaguardar benefícios em detrimento do bem comum; o clientelismo que engraxa as relações políticas; e a corrupção.

[1] O corporativismo é tão vil e destruidor quanto os demais vícios, pois sonega ao bem comum os recursos desviados para castas privilegiadas.

[2] O clientelismo é igualmente trágico para a sociedade na medida em que onera o custo dos bens e dos serviços públicos.

[3] A corrupção contamina as relações entre a sociedade e governo: dando vantagens indevidas na obtenção de negócios, alimenta esquemas escusos de financiamento de políticos e partidos, sendo praticada tanto como forma de alcançar benefícios quanto como solução ante o arbítrio e a ineficiência.

Porém temos muitos outros problemas em nossas instituições e seria cansativo listá-los. A prova de que o sistema não anda nada bem é a sucessão de escândalos políticos:
  • Os famigerados "mensalões" foram praticados por quase todos os partidos, entre os principais.
  • Quase 2 mil candidatos nestas eleições foram impugnados por causa da Lei da Ficha Limpa.
  • Alguns partidos são meras agremiações de competição eleitoral,
  • outros são valhacoutos [esconderijos] de interesses muitas vezes escusos e inconfessáveis ou feudos de "empresários" políticos.
As coligações partidárias mascaram os partidos e os nanicos transformam-se em vendedores de vagas e de tempo de televisão na propaganda eleitoral. Celebridades e abonados têm seu caminho pavimentado para o Congresso em detrimento do político comum, em extinção. A Câmara de 2015 iniciará seus trabalhos com nada mais, nada menos que 28 partidos. O que não é nada bom para o sistema político.

A política no Brasil deveria ser sempre uma atividade nobre e generosa, destinada ao progresso econômico e, sobretudo, ao desenvolvimento humano. Quando a política funciona bem, promove muitos avanços. Os avanços nos direitos humanos e trabalhistas, por exemplo, foram decorrentes de boas políticas.

A má política gera atrasos e injustiças, num círculo vicioso. A degradação da política gera mais degradação. E o inacreditável é que a resposta de nossas instituições é lenta, muito lenta. Tivemos avanços, como a implementação da urna eletrônica, a imposição judicial da fidelidade partidária e a instituição da Lei da Ficha Limpa. Mas estamos muito aquém do que necessitamos.

Nestas eleições, apesar das declarações em favor da reforma política, não percebi o ardor necessário dos candidatos para avançar em favor de uma reforma ampla e profunda. Falta-nos, nesta quadra de nossa História, um movimento como aquele em favor da anistia ampla e irrestrita do final dos anos 1970. E, sobretudo, falta sentido cívico a nossos líderes políticos para assumirem a necessidade de reformar o que não está funcionando bem.

Uma oportunidade está aparecendo no horizonte: em 2015 muitos políticos e parlamentares deverão responder a processos no STF por causa das delações ligadas ao escândalo na Petrobrás. São gravíssimas as acusações envolvendo corrupção e uso político da empresa. O episódio poderá ter poder devastador nas lideranças políticas, que serão obrigadas a se defender na mais alta Corte de acusações que devem vir solidamente fundamentadas por estarem inseridas numa das mais cuidadosas investigações de nossa Justiça. Se necessitamos de crises para avançar, a crise de 2015 já está anunciada.

Não devemos esperar piorar para fazer o que é certo. O caminho é a criação de um pacto em favor de uma reforma política que tenha a participação dos três Poderes e da sociedade civil. Os temas que devem ser debatidos são de conhecimento:
  • financiamento de campanha,
  • teto de despesas de campanhas,
  • fidelidade partidária,
  • cláusula de barreira,
  • fim das coligações para eleições proporcionais,
  • fiscalização pela sociedade civil do fundo partidário,
  • limite à reeleição de presidentes de agremiações e ao nepotismo em partidos, entre outros.
Sobram temas e urge a necessidade. Falta interesse e falta coragem.

* Murillo de Aragão é advogado, mestre em Ciência Política, doutor em Sociologia pela UNB [Universidade Federal de Brasília] e autor do livro “Reforma Política - O Debate Inadiável”.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Terça-feira, 21 de outubro de 2014 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

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