PRONATEC - DESCONTROLE NOS GASTOS E GESTÃO
Auditoria aponta
descontrole
em vitrine de Dilma
em vitrine de Dilma
RENATA AGOSTINI
FLAVIA FOREQUE
FLAVIA FOREQUE
Auditoria inédita da CGU (Controladoria-Geral da União) no Pronatec, uma das vitrines eleitorais de Dilma Rousseff (PT), afirma que não é possível precisar quantos alunos assistem de fato às aulas e como foram gastos os recursos repassados pelo governo federal às escolas.
O documento, ao qual a Folha de S.
Paulo teve acesso, é resultado da primeira fiscalização focada no programa
— criado há três anos para formar técnicos e exaltado pela petista.
O relatório, produzido a partir de entrevistas e análise de documentos,
foi finalizado em 27 de agosto, depois de manifestação do MEC (Ministério da
Educação). [Portanto, bem antes das
eleições de 1º e 2º turnos]
Ele aponta descontrole dos gastos públicos porque, diz a CGU, alunos desistentes continuam sendo
contabilizados — e as instituições podem ser remuneradas por esse grupo que não
frequenta mais as aulas, já que "não
existe processo de prestação de contas nem análise e aprovação do cumprimento
das vagas pactuadas com os ofertantes".
Os auditores analisaram a execução do principal braço do programa,
chamado de Bolsa-Formação, por meio do qual a União [Governo
Federal] banca aulas gratuitas de ensino
técnico e de qualificação profissional.
Ele
representa cerca de 40% das mais de 8 milhões de matrículas no Pronatec —a maior
parte das vagas é oferecida e custeada diretamente pelo Sistema S (Senai, Senac,
Senat e Senar).
"O aluno desistente continua sendo contabilizado como se estivesse
matriculado e a instituição recebe indevidamente o valor da Bolsa-Formação não
utilizada", afirma o relatório da CGU.
"Mesmo
sem a cobrança, entrega e análise das prestações de contas, o FNDE [Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação] continuou
transferindo recursos para as redes de ensino em 2013 e 2014, que juntos somam
mais de R$ 4,5 bilhões", diz a auditoria da CGU. Em 2011 e 2012, foram
distribuídos R$ 1,7 bilhão em bolsas.
O governo federal nega descontrole [ver abaixo].
DADOS FIDEDIGNOS
A auditoria diz que os problemas do programa começam pelo Sistec, sistema que gerencia as matrículas.
"A rede
de ensino não é obrigada a corrigir os dados do Sistec, que vem apresentando
falhas desde a sua implementação, nem é obrigada a apresentar dados
fidedignos", diz o documento.
A meta de 8 milhões de matrículas do Pronatec foi alcançada em agosto e
vem sendo usada como trunfo por Dilma. Neste ano, a presidente já participou de
pelo menos 11 formaturas do Pronatec — todas em Estados diferentes.
Segundo a
propaganda eleitoral da petista, trata-se do "maior programa profissionalizante
do mundo".
Os auditores, porém, dizem que o
sistema não permite o registro dos alunos que desistiram do curso. Tal falha
impossibilita precisar quantos recebem a formação.
"O Sistec não permite cancelar o registro de alunos desistentes,
considerados aqueles que se matricularam e não compareceram nos cinco primeiros
dias letivos de curso", diz o relatório da CGU.
As instituições deveriam "reconfirmar a matrícula" após
cumprimento de até 25% da carga horária dos cursos de qualificação profissional
ou dos quatro primeiros meses dos cursos técnicos. Mas a função não foi criada
no sistema até hoje, admite o MEC.
A falta de
controle criou um ambiente favorável a fraudes, que já vêm
sendo identificadas pelo Ministério Público Federal e pelo TCU (Tribunal de Contas
da União).
No Pará, o então reitor do
Instituto Federal em 2012 e outras 12 pessoas são acusadas de desvio de recursos — a denúncia foi
aceita pela Justiça.
No Paraná, dez servidores do
Instituto Federal são investigados sob a acusação de inflar o número de aulas e receber por isso. O TCU apura se houve
irregularidade em bolsas a servidores da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
Dilma Rousseff presente na formatura de Turma do Pronatec - Instituto Federal de S. Catarina Florianópolis (SC), 6 de junho de 2014 |
CONTROLE
As falhas no
Sistec já eram apontadas pela CGU em 2011, quando o Pronatec foi criado.
Usado desde 2009 como o principal sistema de controle da educação
técnica no país, ele reúne dados oficiais sobre o alcance do Pronatec, mas
enfrenta problemas de confiabilidade nas informações há anos, relatou a CGU.
Até um morto
apareceu como aluno do programa, avisou o órgão ao MEC. Os auditores
cruzaram os dados com o Sistema de Controle de Óbito e viram que a matrícula havia sido feita após a suposta
morte do "aluno".
A pasta afirmou à CGU que irá averiguar a conveniência de integrar os
bancos de dados, uma vez que até agora apareceu apenas um morto num universo de
dois milhões de matrículas checadas.
De acordo com os auditores, diante da situação, o MEC precisará
"instituir um processo de recomposição cadastral, uma vez que a base de
dados do Sistec encontra-se com problemas de divergência entre a situação
cadastrada e a real".
A CGU
indicou ainda falta de pessoal na secretaria responsável pelo programa e de
indicadores de qualidade, já que o MEC analisa apenas o número
de matrículas realizadas para medir o desempenho do Pronatec. "Este indicador não permite avaliar os
impactos sociais e econômicos que se pretende obter".
O relatório da CGU ajuda a entender pontos que vêm sendo questionados
pela reportagem há 36 dias.
A Folha de S. Paulo pede
desde o dia 10 de setembro que o MEC explique quantas pessoas físicas
participam do Pronatec, como é feito o controle de alunos desistentes e como a
pasta evita fraudes.
Até agora, o
MEC negava-se a responder, alegando que precisa de tempo para levantar os dados, sem
precisar quando as informações poderiam ser fornecidas.
CINCO
FRENTES
Pronatec - Lançado em outubro de 2011, o Pronatec (Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) se transformou numa das principais
bandeiras de Dilma na educação. Objetivo: 8 milhões de matrículas em cursos de
ensino técnico e qualificação profissional até 2014
1. Bolsa-formação: custeio de vagas em cursos
técnicos e de qualificação em instituições públicas, privadas e no Sistema S
(Senai, Senac, Senar e Senat)
2. Brasil Profissionalizado: compra de equipamentos para a
rede estadual de ensino técnico
3. Rede e-Tec Brasil: oferta de cursos à distância
4. Acordo de gratuidade: compromisso do Sistema S de
alocar mais recursos e aumentar vagas gratuitas destinadas a pessoas de baixa
renda
5. Rede federal: investimentos para expandir a
oferta de cursos de educação profissional e tecnológica
Fonte: Folha
de S. Paulo – Eleições 2014 – 19/10/2014 – 16h56 – Internet:
clique aqui.
Ministério
da Educação nega falhas citadas por controladoria, mas não convence
O Ministério da Educação afirmou
que o sistema do Pronatec "sempre permitiu o cancelamento das
matrículas" e que ocorreu "uma divergência conceitual" com a CGU
[Controladoria Geral da União] durante o processo de auditoria do programa.
A pasta diz que o termo cancelamento não está explícito, mas é possível
registrar matrículas "sem frequência inicial", com "frequência
inicial insuficiente" e "desistente".
O MEC não
explicou por que a justificativa não consta na seção destinada às manifestações
do próprio ministério sobre os achados dos auditores no documento.
Questionada, a CGU manteve a afirmação feita no relatório, que foi
concluído em 27 de agosto. "Durante
a auditoria, a funcionalidade de cancelamento de matrículas ainda não havia
sido implementada no sistema do MEC."
A controladoria disse ainda que o MEC solicitou "prorrogação de
prazo para apresentar providências".
A pasta disse que as instituições do Sistema
S que receberam recursos em 2011 e 2012 fizeram a prestação de contas
"por meio físico" e que "o processo informatizado de prestação
de contas está em fase de implantação".
Sobre a reconfirmação da matrícula, o MEC afirmou que "existe uma
análise mensal da frequência utilizando o sistema", sem haver pagamento
para as canceladas.
O MEC também
não respondeu se as prestações do Sistema
S que afirma terem sido entregues foram analisadas e aprovadas. No
relatório de auditoria, a pasta limita-se a dizer que "o procedimento de
definição dos critérios de prestação de contas dos recursos destinados à
Bolsa-Formação está em fase de conclusão".
Fonte: Folha
de S. Paulo – Eleições 2014 – 19/10/2014 – 02h00 – Internet:
clique aqui.
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