«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 4 de outubro de 2014

27º Domingo do Tempo Comum – Ano A – HOMILIA

Evangelho: Mateus 21,33-43

Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo:
33 “Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro.
34 Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35 Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram.
36 O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma.
37 Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’.
38 Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39 Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
40 Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?”
41 Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
42 Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’
43 Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

CRISE RELIGIOSA

A parábola dos vinhateiros homicidas é um relato no qual Jesus vai mostrando, com toques alegóricos, a história de Deus com seu povo eleito. É uma história triste. Deus havia cuidado do povo, desde o princípio, com todo carinho. Era sua vinha preferida.

Esperava fazer deles um povo exemplar por sua justiça e sua fidelidade. Seriam uma grande luz para todos os povos.

No entanto, aquele povo foi rejeitando e matando, um depois do outro, os profetas que Deus lhes ia enviando para recolher os frutos da uma vida justa. Finalmente, num gesto de incrível amor, enviou-lhes o seu próprio Filho. Porém, os dirigentes daquele povo acabaram com Ele. O que Deus pode fazer com um povo que decepciona de modo tão cego e obstinado suas expectativas?

Os dirigentes religiosos que estão escutando, atentamente, o relato respondem espontaneamente nos mesmos termos da parábola: o senhor da vinha não pode fazer outra coisa a não ser matar aqueles lavradores e colocar a sua vinha nas mãos de outros. Jesus tira, rapidamente, uma conclusão que não esperam: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.

Comentaristas e pregadores interpretaram, frequentemente, a parábola de Jesus como a confirmação da Igreja cristã como sendo o novo Israel em seguida ao povo judeu que, depois da destruição de Jerusalém no ano setenta, dispersou-se por todo o mundo.

Entretanto, a parábola está falando também de nós. Uma leitura honesta do texto nos obriga a fazer-nos graves perguntas: Estamos produzindo, em nossos tempos, os frutos que Deus espera de seu povo: justiça para os excluídos, solidariedade, compaixão para o que sofre, perdão...?

Deus não tem porque abençoar um cristianismo estéril do qual não recebe os frutos que espera. Não tem porque identificar-se com nossa mediocridade, nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Caso não correspondamos às suas expectativas, Deus seguirá abrindo caminhos novos ao seu projeto de salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.

Nós falamos de crise religiosa, de descristianização, de abandono da prática religiosa... Não estará Deus preparando o caminho que torne possível o nascimento de uma Igreja mais fiel ao projeto do Reino de Deus? Não é necessária esta crise para que nasça uma Igreja menos poderosa, porém mais evangélica; menos numerosa, porém mais empenhada em construir um mundo mais humano? Não virão gerações mais fiéis a Deus?

DURA CRÍTICA AOS DIRIGENTES RELIGIOSOS

A parábola dos “vinhateiros homicidas” é, sem dúvida, a mais dura que Jesus pronunciou contra os dirigentes religiosos de seu povo. Não é fácil remontar ao relato original, porém, provavelmente, não era muito diferente daquele que podemos ler hoje na tradição evangélica.

Os protagonistas de maior relevo são, com certeza, os lavradores encarregados de trabalhar na vinha. Sua atuação é sinistra. Não se parecem, absolutamente, com o dono que cuida da vinha com solicitude e amor para que não careça de nada.

Não aceitam o senhor ao qual pertence a vinha. Querem ser os únicos donos. Eles vão eliminando, um atrás do outro, os servos que ele lhes envie com paciência incrível. Não respeitam nem a seu filho. Quando chega, “jogam-no para fora da vinha” e o matam. Sua única obsessão é “ficar com a herança”.

O que pode fazer o dono? Acabar com estes vinhateiros e entregar a vinha a outros “que lhe deem os frutos”. A conclusão de Jesus é trágica: “Eu vos asseguro que o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos.

A partir da destruição de Jerusalém no ano 70, a parábola foi lida como uma confirmação de que a Igreja havia sucedido a Israel, porém nunca foi interpretada como se no “novo Israel” estivesse garantida a fidelidade ao dono da vinha.

O Reino de Deus não é da Igreja. Não pertence à hierarquia. Não é propriedade destes ou daqueles teólogos. Seu único dono é o Pai. Ninguém deve sentir-se proprietário nem de sua verdade nem de seu espírito. O Reino de Deus está no “povo que produz seus frutos” de justiça, compaixão e defesa dos últimos.

A maior tragédia que pode acontecer ao cristianismo de hoje e de sempre é matar a voz dos profetas, é os sumos sacerdotes se sentirem donos da “vinha do Senhor” e que, entre todos, se deixe o Filho “fora”, sufocando seu Espírito.

Se a Igreja não corresponde às esperanças que nela o Senhor depositou, Deus abrirá novos caminhos de salvação em povos que produzam frutos.
[. . .]

Cabe aqui uma reflexão de Luis Espinal, sacerdote jesuíta, assassinado em 1980 na Bolívia. Ele diz assim:

“Passam os anos e, ao olhar para trás, vemos que nossa vida foi estéril.
Não passamos por ela fazendo o bem.
Não melhoramos o mundo que nos deixaram.
Não vamos deixar rastros.
Fomos prudentes e cuidamos de nós.
Porém, para quê?
Nosso único ideal não pode ser atingir a velhice.
Estamos sufocando a vida por egoísmo, por covardia.
Seria terrível desperdiçar esse tesouro de amor que Deus nos deu”.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM – Homilías de José A. Pagola – Terça-feira, 30 de setembro de 2014 – 12h52 – Internet: clique aqui.

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