O Sínodo enfrenta o tema dos divorciados
Duas linhas
sobre a comunhão
Iacopo
Scaramuzzi
Vatican Insider
09-10-2014
Cardeal Francesco Coccopalmerio Presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos |
O Sínodo
Extraordinário sobre a Família enfrenta plenamente a questão dos divorciados em
segunda união. Seguindo a ordem do “Instrumentum
laboris”, o documento base, os padres sinodais se ocuparam do tema (que já
havia surgido nas discussões anteriores), desde ontem à tarde. Na aula, houve
um “‘crescendo’ de participação, paixão e envolvimento”, explicou o padre
Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa vaticana, e se delinearam duas linhas: uma a favor e a outra contra a admissão, em
certos casos, à comunhão; ambas, de qualquer forma, fiéis aos ensinamentos
de Jesus, tanto em relação à misericórdia como em relação à indissolubilidade
do vínculo matrimonial. Ainda não é o momento para fazer cálculos oficiais,
ressaltou Lombardi: no Sínodo não se fazem contas.
Surgiram, pois, duas linhas, disse Lombardi na coletiva de
imprensa diária: uma que “diz com muita decisão que o anúncio do Evangelho
sobre o matrimônio exige, se o vínculo é válido, que não seja válida a admissão
aos sacramentos, por coerência da doutrina com a fidelidade às palavras do
Senhor”; a outra, ao contrário, recorda que “Jesus vê as situações vividas a partir da chave da misericórdia” e
“vai ao encontro” das “diferentes situações específicas”, razão pela qual se
chegou a conceber a hipótese de, em certos casos, permitir o acesso à
Eucaristia. De qualquer modo, indicou Lombardi, “as pessoas mais
preocupadas pela doutrina não são alheias aos sofrimentos das pessoas em
dificuldades” e os que propõem a abertura “não negam, de nenhuma maneira, a
indissolubilidade do matrimônio”.
Estas duas tendências podem ser apreciadas na síntese das
discussões de ontem pela tarde e de hoje pela manhã, divulgada hoje pela Sala
de Imprensa da Santa Sé, e na qual não se aponta quem apresentou os diferentes
argumentos. Durante o debate de ontem, “insistiu-se intensamente em que é preciso uma atitude de respeito para com
os divorciados em segunda união, porque, muitas vezes, vivem situações de
desgosto ou injustiça social, sofrem em silêncio e procuram, em muitos
casos, mediante um percurso gradual, participar mais plenamente na vida
eclesial. A pastoral deveria ser, pois,
não repressiva, mas, sim, totalmente misericordiosa”. Durante a discussão
livre de ontem à tarde, foi dito que “é
importante evitar atentamente fazer um juízo moral, falar de ‘estado permanente
de pecado’, e procurar, ao contrário, fazer compreender que a não admissão
ao sacramento da Eucaristia não cancela completamente a possibilidade da graça
de Cristo e que se deve, muito mais, à situação objetiva da permanência de um
vínculo sacramental indissolúvel anterior. Com esta ótica, insistiu-se, em
várias ocasiões, na importância da comunhão espiritual. De qualquer maneira,
afirmou-se que estas propostas também manifestam limites e que não há soluções ‘fáceis’
para estas problemáticas”. Hoje pela manhã, o debate retomou a “questão do
acesso ao sacramento da Eucaristia para os divorciados em segunda união”. Enfatizou-se
a indissolubilidade do matrimônio, mas também se afirmou que “é preciso ver cada um dos casos”.
Recordou-se, novamente, que o fato dos divorciados em segunda união não poder
comungar, não quer dizer que não pertençam à comunidade eclesial.
Segundo Lombardi, não se pode falar de maiorias ou minorias,
porque “no Sínodo não se fazem contas” e “é absolutamente impossível fazer
contas segundo as intervenções”, uma vez que o Sínodo está realizando seu
caminho de “conhecimento recíproco” e todos escutam respeitosa e
interessadamente. Entre ontem e hoje, esclareceu o padre Thomas Rosica,
responsável da comunicação para os jornalistas de língua inglesa, “as intervenções foram intensas, belas e
vívidas”, e os padres sinodais
falaram se dirigindo “não apenas à mesa da presidência, mas também diretamente
aos demais padres sinodais”.
Também participou da coletiva de imprensa o cardeal
Francesco Coccopalmerio, presidente do Pontifício Conselho para os Textos
Legislativos, que explicou que são três as hipóteses que estão sendo estudadas
pela comissão criada pelo Papa Francisco, em agosto (presidida pelo monsenhor
Pio Vito Pinto), “para buscar tornar
mais simples e rápido o procedimento para as nulidades matrimoniais”:
- “a anulação da dupla sentença conforme”, atualmente em vigor,
- a anulação da petição de um “juiz colegiado” e
- o procedimento administrativo, ou seja, a anulação feita
diretamente pelo bispo local no caso em que o matrimônio seja “certamente nulo”
e o bispo o conheça e tenha a certeza de sua credibilidade.
Em sintonia como o que foi surgindo no debate, que enfatizou
“a necessidade de um enfoque respeitoso
e não de discriminação aos homossexuais” (síntese vaticana), o cardeal
Coccopalmerio disse que a Igreja não
aceita nem o matrimônio nem a bênção para os casais do mesmo sexo, mas que os
respeita. Em relação aos divorciados em segunda união, Coccopalmerio
recordou “devemos adotar a hermenêutica do Papa: salvar absolutamente a
doutrina, mas partir de cada uma das pessoas e de suas situações concretas de
necessidade e urgência e de seus sofrimentos”, para poder “dar respostas às
pessoas concretas em situações de gravidade e emergência”.
O cardeal André
Vingt-Trois inaugurou as sessões de trabalho, nesta manhã, insistindo na
doutrina católica sobre a contracepção frente à mentalidade do mundo secularizado.
Entre os argumentos enfrentados durante o debate livre, tanto ontem como hoje,
destacam-se: a paternidade responsável, a gravidade de um crime como o aborto,
a violência em família, a poligamia, uma maior preparação ao matrimônio, a
pastoral para as crianças e a enorme evolução da família em relação ao Sínodo
ordinário de 1980 sobre a “família cristã”.
Traduzido
pelo Cepat.
Fonte: Instituto
Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 10 de outubro de 2014 –
Internet: clique aqui.
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