O QUE O SÍNODO NOS ENSINOU
José María
Castillo
Teología sin Censura
26-10-2014
Papa Francisco dialoga com um participante do Sínodo dos Bispos (5-19/Outubro/2014) |
1.
O papado é necessário na Igreja
Agora vemos, de forma mais clara do que nunca, que a Igreja
necessita de uma autoridade suprema, que esteja acima de grupos, tendências,
divisões e enfrentamentos. Se não existisse o papado, seria possível (inclusive
provável) que na Igreja, depois do ocorrido, tivesse acontecido um cisma.
Sabe-se que cinco cardeais foram pedir a Bento XVI que
apoiasse os defensores de uma Igreja conservadora e tradicional, com uma
teologia e uma moral igualmente integrista. Porém, o ex-papa Ratzinger
respondeu aos cinco cardeais que na Igreja não existe mais do que um papa, que
é Francisco. E mais, imediatamente informou Francisco a respeito do que estava
acontecendo. O papado salvou a unidade
da Igreja. Se apenas um arcebispo, Lefebvre, pôde criar um cisma, não
poderiam cinco cardeais ser a origem de uma fratura maior?
2.
Francisco está mudando o papado
Está transformando-o mais do que muitos imaginam. E com o
papado está transformando também a Igreja. O sagrado e o ritual perdem força. E
cresce em importância o humano, a
proximidade com as pessoas, a simplicidade, a normalidade da vida.
Nasce, assim, um estilo novo de exercer a autoridade na
Igreja. Nela, perde importância a religião e ganha presença o Evangelho. Além disso, estamos vendo que este
homem é mais forte e tem mais personalidade do que muitos diziam. Uma
personalidade original, que não o levou a subir, mas, sim, a baixar. Não para
nos distanciar dos últimos, mas, sim, para nos aproximar deles. O novo caminho
da Igreja está traçado.
3.
O conservadorismo da Cúria perde força
Neste Sínodo não ocorreu o que aconteceu no Concílio
Vaticano II. Naquele momento, os curiais integristas também eram minoria.
Porém, uma minoria mais forte e determinante do que essa que participou no
Sínodo. De fato, a minoria curial, no Concílio, soube levar as coisas para seu
terreno. E foi determinante nas questões determinantes para o futuro imediato.
Por isso, o capítulo 3º da Constituição sobre a Igreja foi redigido de forma
que o papado e a cúria tivessem, inclusive, mais poder após o Concílio do que antes
do Concílio.
Por outro lado, os
escândalos em assuntos de dinheiro e em abusos de menores afundaram a
credibilidade do sistema curial de governo na Igreja.
4.
Já não são intocáveis determinados problemas morais como eram
Apela-se, agora, com a mesma segurança, de antes do Sínodo,
à chamada “Lei Natural”? A homossexualidade continua sendo um tabu? Alguém se
atreve a dizer que a Igreja nunca poderá permitir que os sacerdotes se casem? É
tão impensável, como antes, a possibilidade de que as mulheres cheguem a
receber o sacramento da Ordem? Não é verdade que a família, hoje, possua
problemas muito mais graves e urgentes do que aqueles que são concebidos nos
confessionários e nas sacristias?
Se nesse momento fazemos estas perguntas - e outras
parecidas -, isto vem nos dizer que na Igreja, sem que tenhamos percebido, o Sínodo nos mudou (algo, pelo menos, ou
talvez muito) em temas muito mais sérios do que imaginamos.
5.
A forma de exercer o poder está se deslocando
O integrismo conservador perde força porque se empenha em
continuar exercendo o poder de uma forma que cada dia possui menos poder. Cada dia conta com menos força o poder que
proíbe, impõe, ameaça e pune. O “poder repressivo” é cada dia menos poder.
Ao passo que o “poder sedutor” não
enfrenta o sujeito, oferece-lhe facilidades, é amável e responde ao que as
pessoas necessitam.
É verdade que este poder, quando “se universaliza”, como
ocorre com a informática e sua incessante oferta universal de satisfação imediata,
então se torna um poder que submete os sujeitos de maneira que cada sujeito
submetido não é nem sequer consciente de sua submissão. Porém, quando o “poder sedutor” não “se
universaliza”, mas, sim, “humaniza-se”, então o que faz é responder aos anseios
mais profundos das pessoas. E é justamente isto que o mundo está percebendo
no papa Francisco. O que as multidões da Galileia percebiam em Jesus de Nazaré,
quando Jesus andava pelo mundo.
Traduzido do
espanhol pelo Cepat.
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