«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

E AGORA... COMO FICA O BRASIL?

VIDA QUE SEGUE

Roberto Pompeu de Toledo
Dilma Rousseff discursa após a divulgação do resultado das eleições (26/10/2014)
[. . .]

O primeiro desafio para o vencedor, seja quem for, será lidar com o país rachado ao meio. Não que lhe incumba unir o país. O sonho da ordem-unida é próprio das ditaduras. Democracia é desunião. O que lhe incumbe é inspirar a tolerância entre contrários e construir espaços de convergência. Sobretudo, cabe-lhe não aprofundar a desunião até limites fatais, como na Venezuela.

O perigo maior vem do PT. A quarta vitória seguida embute a ameaça de embriagar-lhe as alas bolivarianas a ponto de acharem que chegou a sua vez. Em caso de derrota, a tentação de sair às ruas e incendiar o país com greves e manifestações para inviabilizar o novo governo será forte. [...] Será imperioso governar com a consciência de que metade do país votou contra.

Segunda-feira é dia de enrolar as faixas, arrancar os adesivos dos carros e deixar de comer as unhas a cada rodada de pesquisa eleitoral. Dia de não se aborrecer mais com o horário eleitoral – seja porque ele atrasa a hora da novela, seja pela intragável presença do safado, mentiroso e mais desaforado dos seres que é o candidato adversário.

É dia até de começar a pensar em visitar aquele amigo que se evitou durante todas estas últimas semanas porque sua orientação política era oposta. O veneno da campanha desceu dos candidatos até a alma do eleitorado. A hora é de calma – calma, minha gente, porque a vida segue e o Brasil continua.

Fonte: VEJA – Edição 2397 – Ano 47 – nº 44 – 29 de outubro de 2014 – Pg. 122.

Cinco desafios econômicos do novo governo

Ruth Costas

Seja quem for o vencedor da votação deste domingo, dia 26, este terá de tomar decisões-chave sobre questões que afetam o seu bolso.
PT e PSDB podem divergir em muitos temas, mas a desaceleração do crescimento parece ter criado um certo consenso de que a economia está em uma encruzilhada.

Como os tucanos costumam enfatizar, a expectativa oficial é que o país cresça só 0,9% este ano e analistas do mercado são ainda mais pessimistas, estimando uma expansão de menos de 0,3%.

Por outro lado, como ressaltam os petistas, o desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que tem evitado que a população seja duramente afetada - embora não esteja claro por quanto tempo esse cenário positivo no mercado de trabalho pode ser mantido sem uma retomada.

Economistas de diversas linhas teóricas concordam que impulsionar a economia depende tanto de uma agenda de curto prazo, que inclui o controle da inflação e ajuste das contas públicas, quanto de uma de longo prazo, ligada a reformas estruturais.

Confira abaixo os cinco desafios que, na opinião deles, o novo governo deve enfrentar na área econômica:

Otaviano Canuto
1) Inflação

Boa parte dos brasileiros já sente o peso da alta de preços no bolso e caberá ao próximo governo evitar um descontrole nessa área.

Aécio Neves, do PSDB, diz que perseguirá uma meta de 3% de inflação e a presidente Dilma Rousseff, do PT, garante que será "duríssima" contra o problema.

Espera-se que a alta de preços deste ano fique próxima do teto da meta do Banco Central – de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

Para muitos economistas, porém, a meta só será alcançada com o adiamento dos reajustes de preços administrados (definidos ou influenciados por órgãos públicos).

"Em 2015, será difícil evitar a recomposição de alguns desses preços, o que deve ser um desafio a mais no controle da inflação", diz o conselheiro senior e ex-vice presidente do Banco Mundial Otaviano Canuto.

Entre os que podem subir estão o preço da energia, as tarifas de ônibus e combustíveis.

Canuto explica que, em 2015, uma possível desvalorização do real também pode ter um impacto inflacionário adicional (em função da alta dos importados).

"Caberá a nova gestão achar uma solução para a questão da inflação, que até pode ser via política monetária. Mas, como os juros já estão relativamente elevados, o ideal seria que se tentasse uma política fiscal mais retraída", opina.

André Martins Biancarelli
2) Investimentos

O consumo interno e o estímulo ao crédito estiveram entre os principais motores do crescimento brasileiro nos últimos anos.

Os investimentos, porém, não acompanharam essa expansão (e caíram do patamar de 20% para 17% do PIB), o que contribuiu para a freada.
Economistas veem diferentes razões para tal descompasso.

Alguns culpam a falta de reformas para amenizar problemas como a complexa burocracia do país, as deficiências de infraestrutura e gargalos de mão de obra – que inibiriam investimentos.

Outros criticam o governo por supostos erros de gestão que teriam atrasado projetos importantes (como o pré-sal) e afastado empresários de parcerias na área de infraestrutura.

Há certo consenso de que a falta de investimentos também estaria ligada a "expectativas negativas".

Para o governo, porém, esse "pessimismo" seria politicamente motivado e intensificado pela crise internacional. Já consultorias econômicas o atribuem a incertezas relacionadas à condução da política econômica.

Sem destravar os investimentos é difícil pensar que a economia possa voltar a crescer no patamar dos 4% da década passada.

"Por isso, impulsionar os investimentos privados na produção e em infraestrutura será um dos principais desafios do novo governo", diz o economista André Biancarelli, da Unicamp.

Otto Nogami
3) Contas públicas

Analistas calculam que as contas públicas fecharão 2014 com um "déficit nominal" superior a 4% do PIB – o pior resultado em mais de uma década.

O cálculo de tal déficit contabiliza receitas e despesas do governo, além do pagamento dos juros da dívida pública.

O governo se comprometeu a poupar 1,9% do PIB para pagar esses juros, mas há dúvidas sobre se atingirá a meta.

Para Otto Nogami, do Insper, a expansão dos gastos e deterioração das contas públicas têm tido um impacto negativo na inflação, além de abalar a credibilidade do país frente a investidores.

Muitos economistas também vêm denunciando que, em uma tentativa de se aproximar da meta, o governo teria lançado mão de uma "contabilidade criativa" - manobras contábeis que fariam parecer que se estaria economizando recursos, quando isso não ocorreria.

"Para colocar as contas públicas em dia, o novo governo poderia adotar basicamente duas estratégias: aumento de impostos ou corte de gastos", explica Lourdes Sola, professora da USP especialista em economia política.

A primeira seria extremamente impopular. A segunda precisaria ser planejada com cautela - cortar em gastos sociais e investimentos, por exemplo, poderia ser um "tiro no pé".

"A questão das metas fiscais é uma discussão de curto prazo, mas não podemos perder de vista seu objetivo de longo prazo, que é tornar o Estado mais eficiente para investir no que interessa", diz Biancarelli.

Lourdes Sola
4) Inclusão social

O aumento da renda dos trabalhadores, a formalização do trabalho e programas sociais ajudaram milhares de pessoas a cruzar a linha da pobreza nos últimos anos.

Mas se o país se mantiver com um nível de crescimento baixo, em algum momento o emprego pode ser afetado, colocando em risco esses ganhos.

A campanha do PT tem defendido que o partido seria o mais apto a impedir retrocessos - "protegendo o emprego" e investindo no social.

Já a campanha do PSDB acabou na defensiva, repetindo à exaustão que não pretende cortar gastos sociais ou fazer um ajuste drástico, ao custo de uma escalada do desemprego.

Nogami admite que de fato é possível que um ajuste, ainda que gradual, tenha algum efeito sobre o nível de emprego. "A questão é que ele é inevitável e, ao adiar essas reformas, também podemos estar aumentando seus custos", opina.

"O grande desafio não é simplesmente crescer, mas sim crescer com estabilidade e emprego", resume Carlos Melo, cientista político do Insper.

5) Problemas estruturais

Há certo consenso de que, para garantir o crescimento da economia no médio e longo prazo, é preciso atacar os problemas estruturais que afetam a competitividade das empresas no país.

Entre eles estão a complexa burocracia e sistema tributário brasileiro e as deficiências de infraestrutura.

"Trata-se de uma agenda de médio e longo prazo, mas que precisa começar a ser colocada em prática o quanto antes", diz Canuto.

O objetivo seria ampliar o chamado PIB potencial do país, que leva em consideração a sua capacidade instalada para estimar quanto ele pode crescer sem que sejam criadas pressões inflacionárias (por falta de oferta).

"O próximo governo precisará fazer reformas estruturais para realmente mudar o ambiente de negócios no Brasil, porque só isso lançará as bases para um crescimento sustentado", diz Canuto.

Fonte: BBC Brasil – 23 de outubro de 2014 – Internet: clique aqui.

Seis por meia dúzia
 
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
José Roberto de Toledo - jornalista político
 
Milhões nas ruas protestando; sete em cada dez eleitores declarando desejo de mudança no governo. O cenário no qual transcorreram as eleições de 2014 prenunciava uma transformação profunda da política brasileira. O resultado não poderia ser mais contrastante. O Congresso Nacional terá poucas caras novas e com sobrenomes velhos. Os Estados continuam sendo governados, na imensa maioria, pelos mesmos caciques de sempre. E Dilma Rousseff (PT) segue sendo presidente do Brasil, após derrotar o PSDB no segundo turno: 2002, 2006 e 2010 “reloaded” [recarregada, reabastecida].

Das 27 eleições para governador, só dá para dizer que houve algum tipo de renovação em quatro. Nas outras 23, o atual governador se reelegeu, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, ou fez o sucessor, como em Pernambuco e na Bahia, ou o eleito é um ex-governador, como no Espírito Santo, Tocantins e Piauí. Na melhor das hipóteses, o novo governador pertence a um grupo político que, não faz muito tempo, mandava no Estado.

A maior renovação aconteceu no Maranhão, com Flávio Dino (PC do B), que desalojou o clã dos Sarney. No Mato Grosso, Pedro Taques (PDT) é um procurador tornado senador que se elegeu governador. Não foi eleito por ter parentes políticos. No Distrito Federal, a eleição de Rodrigo Rollemberg (PSB) acabou com a polarização entre o PT e o grupo de Joaquim Roriz. No Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB) põe fim a uma era do PMDB no poder. Só.

Em todo o resto, a troca de comando, quando houve, foi de seis por meia dúzia. Ou, no máximo, por um terço de 18.

Dos 513 deputados federais, 401 tentaram se reeleger e 290 conseguiram. Sua taxa de sucesso foi de 72%. Nada se correlaciona mais com a vitória na eleição parlamentar do que já ser um parlamentar. Por outro lado, se “apenas” 290 estarão de volta a Brasília no próximo ano, quer dizer que 223 são novos, certo? Não exatamente. Pelo menos 25 não são novatos, mas redivivos. Já foram deputado antes, só tinham dado um tempo.

A Câmara terá 198 neófitos que terão seu primeiro gabinete brasiliense. Formalmente, é a maior taxa de renovação desde 1998: 39%. Mas o exame da lista de eleitos revela que grande parte das caras novas têm sobrenomes ou nomes de guerra velhos conhecidos do Congresso, como Covas, Cardoso e Garotinho.

Mudam só os prenomes: Bruno em lugar de Mario, Clarissa em vez de Anthony. Às vezes nem isso, basta acrescentar um “júnior”, um “neto” ou até um “bisneto” no final. São todos herdeiros do poder, como Newton Cardoso Jr., Expedito Netto e Arthur Bisneto. A hereditariedade do poder é um dos legados da monarquia que a república brasileira conserva com mais afeto e zelo.

Entre os neófitos, quem não chegou lá por ser parente se encaixa em pelo uma dessas categorias:
  • já passou por outro cargo eletivo (prefeito, deputado estadual etc),
  • exerceu alguma função pública (policial, promotor etc),
  • é celebridade – com as exceções que confirmam a regra.
Na Câmara, a eleição foi seis por meia dúzia.

Por que os gritos e cartazes não se converteram em votos de protesto? Não em quantidade suficiente para mudar os donos do poder. Por quê? Há várias respostas, esta é apenas uma.

Porque quem foi às ruas protestar foi um segmento expressivo, mas um segmento, não toda a população. Eram majoritariamente jovens que tiveram mais oportunidades de estudo do que qualquer outra geração anterior à deles na história do Brasil. Mas que não conseguem equiparar esses anos de estudo a cifrões nos seus salários. Estão mais frustrados do que as gerações anteriores. Foram essas gerações mais velhas que decidiram a eleição.

Os mais velhos votaram na continuidade. Não arriscaram porque, mesmo sem tanto estudo quanto os filhos, experimentaram um incremento de renda que nem seus pais nem avós experimentaram. Para eles não era seis por meia dúzia.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Especial/Eleições 2014 – Segunda-feira, 27 de outubro de 2014 – Pg. H23 – Internet: clique aqui.

Reeleita, presidente precisa se reinventar

Carlos Melo*

Carlos Melo - cientista político
Que não haja ilusão: a eleição não somou, dividiu - se não fragmentou. Qualquer que fosse o resultado, seria assim. Agora, o desafio para reunir os cacos do diálogo e de algum consenso que a intemperança dos últimos tempos estraçalhou. A oposição poderia ter sinal trocado, mas o mesmo dedo em riste e faca nos dentes, ressentida, esperando a volta. Que não haja ilusão: o pleito definiu o vencedor ao estilo Machado - “ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”. Esta eleição não termina com a votação: segue hoje e amanhã, com temperatura e pressão elevadas.

A presidente reeleita não é a Dilma de 2010, cercada de boa vontade e esperança. As expectativas a respeito de seu novo governo são defensivas: defender o emprego, a inclusão, o partido; defender o governo. Terá a desconfiança de setores econômicos que não se limitam aos demonizados “banqueiros”. Há a classe média, a mídia, os críticos melindrados. E, claro, um Congresso mais fisiológico e fracionado por interesses diversos, divergentes, difusos, e um governo com menor margem fiscal para saciar apetites fisiológicos.

Atender e recompor a credibilidade demandará morder a língua, desdizer o que se disse, capitular ao inimigo que venceu. Há pouco espaço político para isso, pois a base social, criada e cevada na crença de soluções simples, não compreenderá a complexidade da política, obliterada pelo debate. Dilma não é Sarney, para, no dia seguinte, praticar estelionato e passar o resto do mandato com cara de paisagem. Seus custos e princípios são maiores. Ao mesmo tempo, fazer suavemente o ajuste não contornará os espíritos mais sectários. “Crise” é o nome dessa sinuca.

Os desafios econômicos são grandes, mas os obstáculos políticos são maiores - a política mal manejada pode pôr a perder avanços econômicos. Limitar o necessário ao medíocre possível não é saída. O País pressionará por mudança logo. O desafio requer uma presidente que de modo algum divida a galera em duas torcidas, mas que recomponha a unidade do cristal trincado. Que não haja ilusão, o País carecerá de liderança política de altíssimo nível. A presidente terá de se reinventar.

* Carlos Melo é cientista político e professor do Insper (São Paulo).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Especial/Eleições 2014 – Segunda-feira, 27 de outubro de 2014 – Pg. H7 – Internet: clique aqui.

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