CHEGOU A CONTA PARA PAGAR ! ! !
Governo
corta R$ 26 bilhões, propõe CPMF,
eleva
Imposto de Renda sobre ganho de capital
e
adia reajuste dos servidores
Alexandro
Martello e Nathalia Passarinho
Objetivo é conseguir superávit primário de 0,7% do PIB
no ano que vem
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Os Ministro da Fazenda Joaquim Levy e do Planejamento Nelson Barbosa durante entrevista sobre cortes nas contas públicas e aumento de impostos. Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo |
Após
um final de semana de muitas reuniões entre a presidente Dilma Rousseff e
vários de seus ministros, o governo federal anunciou nesta segunda-feira (14 de
setembro) um bloqueio adicional de
gastos no orçamento de 2016 no valor de R$ 26 bilhões. Além disso, o
governo também anunciou uma nova rodada
de alta de tributos, com a proposta de retorno da CPMF.
A
CPMF, segundo os cálculos divulgados pelo governo, vai ser responsável por
metade do ajuste nas contas públicas anunciado nesta segunda-feira para o ano
de 2016, que é de R$ 64,9 bilhões. "O
objetivo é que a CPMF não dure mais do que quatro anos", disse o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Também
foi anunciado que haverá redução de
ministérios e cargos de confiança, gerando uma redução de gastos de R$ 200
milhões. Esses cortes, no entanto, não foram
detalhados.
As medidas, que foram anunciadas por
Levy e pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, representam recuo em relação à posição adotada anteriormente. Na
semana retrasada, Dilma havia dito que o
governo cortou "tudo o que poderia ser cortado".
"Muitas
das medidas exigirão apoio do Congresso para se tornarem efetivas, e a confiança
dos brasileiros. Foi sugerido que se procurasse dialogar mais com a sociedade
para que tivesse pleno entendimento sobre a necessidade desse esforço
adicional. Nestas últimas semanas, ficou absolutamente evidente para todos a
necessidade desse ajuste. Temos os
próximos meses para converter em realidade essas medidas, principalmente por
meio da votação de projetos de lei e PECs", declarou o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy.
O
ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, informou que deve haver uma reunião
com as lideranças da base governista, na Câmara e no Senado Federal, e também
com os presidentes de ambas as casas, para viabilizar as medidas propostas.
O
ministro da Fazenda informou ainda que, ao atualizar os parâmetros do orçamento
do ano que vem, baixando a previsão do nível de atividade, foi estimada uma perda de R$ 5,5 bilhões em arrecadação em 2016. O
orçamento do ano que vem trazia uma previsão de queda do PIB de 2015 de 1,8% e
um aumento de 0,2% no próximo ano. Na semana passada, entretanto, o mercado financeiro previu uma contração do
PIB de 2,55% neste ano e de 0,6% em 2016. Queda maior do PIB representa
menos recursos no caixa do governo.
MEDIDAS PROPOSTAS PELO GOVERNO
Volta
da CPMF
O
governo informou que vai propor o retorno
da CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – para saber
mais, clique aqui],
com alíquota de 0,2%, inferior, portanto, aos 0,38% que vigoravam antes. Também
informou que vai reduzir o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF). Com isso,
espera conseguir R$ 32 bilhões em 2016.
"Essa
é uma medida bastante central no esforço. Foi considerada que, diante de todas
as alternativas de tributos, a prorrogação da vigência da lei original da CPMF
seria um caminho que traria menor distorção à economia, seria o caminho com
menor impacto inflacionário, seria melhor distribuído. Incide de maneira
equitativa em todos os setores. E, na verdade, se a gente for pensar, tratam-se de dois milésimos do que [a
pessoa] vai comprar. Você teria, por exemplo, dois milésimos de uma entrada
de cinema que você comprar para diminuir o déficit da Previdência Social",
declarou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
“CPMF para quê? Para
garantir o pagamento das aposentadorias e para diminuir o déficit da
Previdência Social”, declarou Levy. Segundo ele, a prorrogação proposta será por 48 meses.
“É uma contribuição de prazo determinado, com objetivo determinado, que é pagar
as aposentadorias. Dar tranquilidade à Previdência Social”, disse Levy.
Ele
acrescentou que a CPMF seria
"provisória", durando não mais que quatro anos. "Procuramos
por essa alíquota no mínimo necessário para a segurança fiscal. Conhecemos essa
medida. Essa contribuição é que os bancos estão preparados em implementar. É
relativamente rápida, tem grande transparência. Alcança o informal. Depois de
ouvir muitos empresários, essa seria a forma mais eficaz de proteger a
Previdência Social em um momento em que a economia enfrenta dificuldades, que
tem se agravado, com essa questão do grau de investimento", disse o
ministro da Fazenda.
Barbosa
explicou que, pela proposta do governo, toda a arrecadação da CPMF ficaria com
o governo, não sendo dividida, portanto, com estados e municípios.
Mais
tributos
O
governo informou ainda que diminuirá o
benefício a ser concedido no próximo ano para os exportadores de produtos
manufaturados. A alíquota do Reintegra,
programa que "devolve" aos empresários uma parte do valor exportado
em produtos manufaturados por meio de créditos do PIS e Cofins, que seria de 1%
em 2016, será de apenas 0,1%. O benefício, portanto, foi praticamente eliminado
no ano que vem. Com isso, o governo vai
arrecadar R$ 2 bilhões a mais.
Também
cairá o benefício dado à indústria
química (por meio do PIS/Cofins), que renderá
mais R$ 800 milhões ao governo. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
anunciou ajustes nos juros sobre capital
próprio, limitando a incidência da TJLP a 5% do efeito do cálculo, e
aumento da alíquota de 15% para 18%. Essa
medida renderá mais R$ 1,1 bilhão aos cofres públicos.
Imposto
sobre ganho de capital
O
ministro anunciou ainda a criação de um imposto
sobre “ganho de capital progressivo”, que será cobrado sobre aumentos de
receita das pessoas físicas. Esse tributo vai afetar, por exemplo, os recursos gerados com a venda de um imóvel.
Atualmente, há uma cobrança de 15% sobre o valor da venda da propriedade.
Agora, o percentual será maior, conforme o volume de recursos gerados com a operação.
O impacto estimado com o tributo é de R$
1,8 bilhão. O novo imposto terá as seguintes alíquotas:
- Para venda de até R$ 1 milhão será de 15%
- De R$ 1 milhão a R$ 5 milhões, será de 20%
- De R$ 5 milhões a R$ 20 milhões, será de 25%
- Mais de R$ 20 milhões, será de 30%
“Como
é um imposto novo isso leva uma mudança de hábitos. É difícil estimar as
receitas. É um ganho de quando você aliena um bem. Hoje você paga 15%. Agora, quando houver vendas cumulativas
acima de R$ 1 milhão, você pagará uma alíquota maior”, disse.
Sistema
S
[Estrutura
educacional mantida pela indústria, como:
SEBRAE, SENAI, SESI, IEL, SENAC, SESC, SENAR, SENAT, SEST, SESCOOP]
O
ministro da Fazenda informou que vai “compartilhar temporariamente” com os
órgãos do sistema S os estímulos hoje concedidos para empresas que investem em
inovação. A expectativa é gerar um impacto positivo de R$ 2 bilhões.
“Hoje
já temos alguns programas de valorização da inovação. Temos lá de trás a
chamada lei do MEI, que permitia que várias despesas pudessem ser abatidas em
dobro do custo do lucro tributado. Era um estímulo. No caso, estamos
compartilhando esse estímulo pelos órgãos do sistema S, temporariamente”,
disse.
Além
disso, Joaquim Levy informou que haverá
redução de 30% nas alíquotas do sistema S e do Sebrae e, também, oneração da tributação da contribuição
previdenciária incidente sobre a folha – o que renderá mais R$ 6 bilhões aos
cofres públicos em 2016. Na prática, esses recursos deixarão de ir para o
Sistema S e passarão a ser direcionados para a Previdência Social.
Reajuste
de servidores e suspensão de concursos
Entre
as medidas anunciadas, do lado do
bloqueio de gastos, está o adiamento
do reajuste do salário dos servidores públicos até agosto do ano que vem.
Sem essa medida, os salários seriam corrigidos em janeiro de 2016. Com essa
medida, o governo espera um impacto de
R$ 7 bilhões a menos nos gastos públicos.
Além
disso, também haverá suspensão de
concursos públicos, que estavam estimados em R$ 1,5 bilhão em gastos em
2016.
"Estamos
vendo aumento do desemprego no setor privado e reajustes de salários sem
contemplar inflação. Nesse momento, é plenamente justificável [adiar reajuste
para 2016]. A média de salários [no setor público] é superior ao setor privado.
E [os servidores públicos] têm estabilidade no emprego. Nesse momento de travessia fiscal, nesse esforço para elevar o
superávit primário, todos estão fazendo sua parte. Achamos adequado adiar
proposta de reajuste para 2016 de janeiro para agosto", declarou o
ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
Corte
de ministérios e despesas administrativas
O
governo anunciou ainda uma redução de R$
2 bilhões em despesas discricionárias com DAS (cargos comissionados) e gastos
administrativos.
Dentro
da redução de gastos administrativos, o governo prevê a economia de R$ 200 milhões com corte de ministérios e cargos de
confiança. E outros R$ 200 milhões
em gastos com servidores (diárias, passagens, auxílio moradia e telefone).
Outros
R$ 1,6 bilhão estão previsto em renegociação de contratos, como aluguel,
manutenção, segurança e veículos.
Teto
salarial
O
governo pretende ainda enviar ao Congresso projeto de lei para garantir o
cumprimento do teto salarial a todos os agentes públicos e servidores.
Atualmente, a legislação já diz que a remuneração no setor público não pode
ultrapassar o salário de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas
alguns benefícios e complementações salariais acabam por aumentar o valor.
Segundo
Barbosa, o projeto de lei imporia
limites a situações que hoje geram salário superior ao teto. “Vamos enviar
um projeto de lei que vai disciplinar a metodologia de cálculo e o que entra ou
não no teto de remuneração e ao mesmo tempo estabelecer um sistema de
cruzamento de dados.”
Abono
permanência
O
ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, anunciou que vai eliminar o chamado abono de permanência, que é um benefício
remuneratório pago a servidores que já atingiram a idade para se aposentar, mas
que permanecem na função. A extinção do benefício tem que ser feita por
proposta de emenda à Constituição.
“Vamos
eliminar o abono de permanência. A previsão é que mais 123 mil servidores
adquirirão nos próximos anos. No próximo
ano, os gastos com o abono serão de R$ 1,2 bilhão de reais”, disse o
ministro.
“Minha
Casa, Minha Vida”; PAC e Saúde
O
ministro do Planejamento anunciou que o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC) vai
sofrer corte no trecho que trata do Minha
Casa, Minha Vida, em R$ 4,8 bilhões.
“Para
que isso não comprometa a execução do programa a nossa proposta é que o FGTS
direcione recursos para pagamento de parte das despesas do Minha Casa, Minha Vida, na faixa 1, que hoje não recebe recursos do
FGTS”, disse Barbosa.
Segundo
ele, também está prevista uma renegociação de contratos de aluguel, manutenção
e segurança, entre outros, para economizar mais R$ 1,6 bilhão no ano que vem.
Outra
medida anunciada é a redução de gastos
em R$ 3,8 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (sem Minha Casa
Minha Vida) e de mais R$ 3,8 bilhões em
gastos com Saúde (a serem recompostos posteriormente com emendas
parlamentares).
OBJETIVO DAS MEDIDAS ANUNCIADAS
O
objetivo do novo bloqueio de gastos é tentar
reequilibrar a peça orçamentária do ano que vem, que foi enviada ao Congresso
Nacional, pela primeira vez, com déficit (despesas maiores do que receitas)
e evitar novo rebaixamento da nota
brasileira pelas agências de classificação de risco. Na semana passada, o
Brasil perdeu o grau de investimento da Standard & Poor's.
Meta
fiscal
Para
aumentar a confiança no Brasil, o governo já informou que buscará, ao invés de
uma meta de déficit fiscal de R$ 30,5 bilhões para o governo (0,5% do PIB) ou
de R$ 21,1 bilhões para todo o setor público (governo, estados, municípios e
estatais), ou 0,34% do PIB - conforme está no orçamento de 2016 - um superávit
primário, a economia para pagar juros da
dívida pública, de 0,7% do PIB no ano que vem.
A
retomada de uma meta superavitária para o próximo ano, da ordem de 0,7% do PIB,
acontece após disputas internas entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que
defende um resultado positivo para as contas públicas em 2016, e o titular do
Ministério do Planejamento, Nelson Barbosa - que buscava, com um déficit, uma
meta mais "realista".
Resultados
fiscais
No
ano passado, as contas de todo o setor público (governo, estados, municípios e
empresas estatais) registraram o primeiro déficit primário (receitas menos
despesas, sem contar juros) anual da história. Em 2014, o déficit primário foi de R$ 32,53 bilhões, ou 0,63% do PIB.
Em
2015, apesar dos vários aumentos de tributos e bloqueio de gastos públicos, as
contas públicas continuaram a registrar deterioração. De janeiro a julho, foi
contabilizado o pior resultado da série histórica, que começa em 2001, para
este período. Em 12 meses até julho,
houve um déficit primário de R$ 50,99 bilhões, ou 0,89% do PIB, também o
pior resultado da série histórica para este indicador.
Quando se
incorporam os juros da dívida pública na conta, no conceito conhecido no
mercado como resultado "nominal", houve déficit de R$ 502 bilhões em
12 meses até julho, o equivalente a expressivos 8,81% do PIB.
Trata-se, também, do pior
resultado da história. O déficit nominal foi impulsionado pelos gastos do Banco Central com
os contratos de "swap cambial"
- que já superam R$ 90 bilhões em 2015.
Se fechar neste patamar em
2015, o resultado nominal do Brasil só estaria em melhor situação da de países
como:
- Bahrein (déficit de 9,8% do PIB),
- Antigua (-10,5% do PIB),
- Algéria (-12,5% do PIB),
- Brunei (-15,6% do PIB),
- República do Djibuti (-13% do PIB),
- Egito (-11,7% do PIB),
- Guinea Equatorial (-21,4% do PIB),
- Eritreia (-12,18% do PIB),
- Guiné (-10,1% do PIB),
- Iraque (-9,9% do PIB),
- Líbia (-68% do PIB) e
- Venezuela (-19,9% do PIB),
de
acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional.
Fonte: Portal G1 – Economia – 14/09/2015 – 16h57 –
Atualizado em: 14/09/2015 às 18h44 – Internet: clique aqui.
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