«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

PAPA FRANCISCO EM NOVA YORK E FILADÉLFIA - FORTES ENCONTROS, PROFÉTICAS PALAVRAS!

Deus vive nas nossas cidades e nos dá um rosto, disse o Papa

Rádio Vaticano

“Deus vive nas nossas cidades, a Igreja vive nas nossas cidades e quer ser fermento na massa, quer misturar-se com todos, acompanhando a todos, anunciando as maravilhas d’Aquele que é Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.
PAPA FRANCISCO
Celebra Missa no Madison Square Garden - Nova York
Sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Papa Francisco concluiu o quarto dia de sua visita aos Estados Unidos presidindo a celebração da Santa Missa pela paz e a justiça no Madison Square Garden, “lugar emblemático desta cidade, sede de importantes encontros desportivos, artísticos, musicais, que congregam pessoas de diferentes partes, e não só desta cidade, mas do mundo inteiro. Neste lugar, que representa as diferentes faces da vida dos cidadãos que se reúnem por interesses comuns”.

A homilia proferida em espanhol, inteiramente inspirada na passagem do Profeta Isaías O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz”, foi ambientada em um contexto urbano atual, onde “o povo que caminhava, o povo no meio das suas atividades, das suas ocupações diárias; o povo que caminhava carregando seus sucessos e erros, seus medos e oportunidades, viu uma grande luz. O povo que caminhava com as suas alegrias e esperanças, com as suas decepções e amarguras, viu uma grande luz”. “E o povo de Deus – afirmou Francisco - é chamado, em cada época, a contemplar esta luz... que quer chegar a cada canto desta cidade, aos nossos concidadãos, em cada espaço da nossa vida”. 
PAPA FRANCISCO
Missa no Madison Square Garden em Nova York
O Papa reconhece a complexidade da vida nas cidades, marcadas por “um contexto multicultural, com grandes desafios não fáceis de resolver”. “As grandes cidades – continuou - tornam-se polos que parecem apresentar a pluralidade das formas que nós, seres humanos, encontramos para responder ao sentido da vida nas circunstâncias em que nos achávamos”. Por outro lado – fez a ressalva - “as grandes cidades também escondem o rosto de muitos que parecem não ter cidadania ou ser cidadãos de segunda categoria”:

“Nas grandes cidades, sob o ruído do tráfego, sob o «ritmo das mudanças», permanecem silenciadas as vozes de tantos rostos que não têm «direito» à cidadania, não têm direito a fazer parte da cidade – os estrangeiros, os seus filhos (e não só) que não conseguem a escolaridade, as pessoas privadas de assistência médica, os sem-abrigo, os idosos sozinhos – postos à margem das nossas estradas, nos nossos passeios num anonimato ensurdecedor. Entram a fazer parte duma paisagem urbana que lentamente se torna natural aos nossos olhos e, especialmente, no nosso coração”.

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Homilia
Santa Missa no Madison Square Garden
Nova Iorque
25 de setembro de 2015

Encontramo-nos no Madison Square Garden, lugar emblemático desta cidade, sede de importantes encontros desportivos, artísticos, musicais, que congregam pessoas de diferentes partes, e não só desta cidade, mas do mundo inteiro. Neste lugar, que representa as diferentes faces da vida dos cidadãos que se reúnem por interesses comuns, ouvimos: «O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9,1). O povo que caminhava, o povo no meio das suas atividades, das suas ocupações diárias; o povo que caminhava carregando seus sucessos e erros, seus medos e oportunidades, viu uma grande luz. O povo que caminhava com as suas alegrias e esperanças, com as suas decepções e amarguras, viu uma grande luz.

O povo de Deus é chamado, em cada época, a contemplar esta luz. Luz que quer iluminar as nações: assim o proclamava, cheio de júbilo, o velho Simeão. Luz que quer chegar a cada canto desta cidade, aos nossos concidadãos, em cada espaço da nossa vida.

O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz”. Uma das características do povo crente passa pela sua capacidade de ver, de contemplar no meio das suas obscuridades a luz que Cristo vem trazer.

O povo crente que sabe olhar, que sabe discernir, que sabe contemplar a presença viva de Deus no meio da sua vida, no meio da sua cidade. Hoje, com o profeta, podemos dizer: o povo que caminha, respira, vive no meio do smog, viu uma grande luz, experimentou um ar de vida.

Viver numa grande cidade é algo de bastante complexo: um contexto multicultural, com grandes desafios difíceis de resolver. As grandes cidades recordam-nos a riqueza escondida no nosso mundo: a variedade de culturas, tradições e histórias. A variedade de línguas, roupas, comida. As grandes cidades tornam-se polos que parecem apresentar a pluralidade das formas que nós, seres humanos, encontramos para responder ao sentido da vida nas circunstâncias em que nos achávamos. Por sua vez, as grandes cidades escondem o rosto de muitos que parecem não ter cidadania ou ser cidadãos de segunda categoria. Nas grandes cidades, sob o ruído do tráfego, sob o ritmo das mudanças, permanecem silenciadas as vozes de tantos rostos que não têm direito à cidadania, não têm direito a fazer parte da cidade – os estrangeiros, os seus filhos (e não só) que não conseguem a escolaridade, as pessoas privadas de assistência médica, os sem-abrigo, os idosos sozinhos – postos à margem das nossas estradas, nos nossos passeios num anonimato ensurdecedor. Entram a fazer parte duma paisagem urbana que lentamente se torna natural aos nossos olhos e, especialmente, no nosso coração.

Saber que Jesus continua a percorrer as nossas estradas, misturando-Se vitalmente com o seu povo, envolvendo-Se e envolvendo as pessoas numa única história de salvação, enche-nos de esperança, uma esperança que nos liberta daquela força que nos impele a isolar-nos, a ignorar a vida dos outros, a vida da nossa cidade. Uma esperança que nos liberta de ligações vazias, das análises abstratas ou da necessidade de sensações fortes. Uma esperança que não tem medo de inserir-se, agindo como fermento, nos lugares onde nos toca viver e atuar. Uma esperança que nos chama a entrever, no meio da poluição, a presença de Deus que continua a caminhar na nossa cidade.

Como é esta luz que passa pelas nossas estradas? Como podemos encontrar Deus que vive conosco no meio da poluição das nossas cidades? Como podemos encontrar-nos com Jesus vivo e operante no hoje das nossas cidades multiculturais?

O profeta Isaías servir-nos-á de guia neste aprender a ver. Ele apresenta-nos Jesus como Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da Paz (9,5). Assim, nos introduz na vida do Filho, para que seja a nossa vida também.

«Conselheiro admirável». Narram os Evangelhos que como muitos Lhe iam perguntar: Mestre, que devemos fazer? O primeiro movimento que Jesus gera com a sua resposta é propor, incitar, motivar. Sempre propõe aos seus discípulos que partam, que saiam. Impele-os a ir ao encontro dos outros, onde realmente estão e não onde gostaríamos que estivessem. Ide uma, duas, três vezes, ide sem medo, sem repugnância, ide e anunciai esta alegria que é para todo o povo.

«Deus forte». Em Jesus, Deus fez-Se Emanuel, o Deus-conosco, o Deus que caminha ao nosso lado, que Se misturou com as nossas coisas, nas nossas casas, com as nossas panelas, como gostava de dizer Santa Teresa de Jesus.

«Pai eterno». Nada e ninguém poderá separar-nos do seu Amor. Ide e anunciai, ide e vivei mostrando que Deus está no meio de vós como um Pai misericordioso que sai cada manhã e cada tarde para ver se o seu filho regressa a casa e, logo que o avista, corre a abraçá-lo. Abraço que quer acolher, purificar e elevar a dignidade dos seus filhos. Pai que, no seu abraço, é boa notícia para os pobres, alívio para os aflitos, liberdade para os oprimidos, consolação para os tristes (cf. Is 61,1).

«Príncipe da paz». Ir ter com os outros para partilhar a boa notícia de que Deus é nosso Pai. Ele caminha ao nosso lado, liberta-nos do anonimato, duma vida sem rostos, vazia, e introduz-nos na escola do encontro. Liberta-nos da guerra da competição, da autorreferencialidade, para nos abrirmos ao caminho da paz. Aquela paz que nasce do reconhecimento do outro, aquela paz que surge no coração ao ver, de modo especial o mais necessitado, como um irmão.

Deus vive nas nossas cidades, a Igreja vive nas nossas cidades e quer ser fermento na massa, quer misturar-se com todos, acompanhando a todos, anunciando as maravilhas d’Aquele que é Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.

«O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz», e nós somos suas testemunhas.

Fontes: NEWS.VA – Official Vatican Network – 26/09/2015 – Internet: clique aqui; e Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Sexta-feira, 25 de setembro de 2015 – 20h28 – Internet: clique aqui.

Papa aos bispos:
Valorizar a contribuição das mulheres na vida da Igreja

André Cunha

Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas da Pensilvânia, na Catedral de São Pedro e São Paulo, na Filadélfia. 
PAPA FRANCISCO
Profere sua homilia durante Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas da Pensilvânia
Catedral de São Pedro e São Paulo - Filadélfia
Sábado, 26 de setembro de 2015

Após passar por Washington DC e Nova Iorque, o Papa Francisco chegou finalmente à Filadélfia, para o principal objetivo da viagem aos Estados Unidos, que é participar do Encontro Mundial das Famílias, a partir da noite deste sábado, 26 de setembro.

Ainda na manhã de hoje, o Pontífice presidiu uma Missa especialmente para os bispos, padres, religiosos e religiosas da Igreja na Filadélfia.

Na Catedral de São Pedro e São Paulo, Francisco recordou, no início de sua homilia, os esforços de sacerdotes, religiosos e leigos que, ao longo de dois séculos, trabalharam pelas necessidades espirituais dos pobres, dos imigrantes, dos doentes e dos encarcerados, nessa cidade.
 
Santa Catarina Drexel (1858-1955)
Exemplo deste trabalho, foi Santa Catarina Drexel, uma das grandes Santas saídas da Filadélfia, e que inspirou a reflexão de Santo Padre. Ela nasceu em 26 de novembro de 1858 e fundou a Congregação das Irmãs do Santíssimo Sacramento para os índios e afro-americanos.

Santa Catarina foi ao encontro do Papa Leão XIII para falar-lhe da necessidade das missões, e este perguntou-lhe de maneira incisiva: “E tu, que farás?”.

A partir dessa pergunta, Francisco falou sobre dois aspectos, no contexto da missão especial de transmitir a alegria do Evangelho e edificar a Igreja, como sacerdotes, diáconos ou membros de institutos de vida consagrada.

A Jovialidade de Santa Catarina Drexel embasou o primeiro aspecto. Ela ainda era jovem quando foi interpelada por Leão XIII. Neste sentido, Francisco disse: “Quantos jovens, nas nossas paróquias e escolas, têm os mesmos ideais elevados, generosidade de espírito e amor a Cristo e à Igreja!”

Missão da Igreja no mundo e o papel da mulher

Um dos grandes desafios que a Igreja tem pela frente, nesta geração, é promover, em todos os fiéis, o sentido de responsabilidade pessoal pela missão da Igreja. Além disso, torná-los capazes de cumprirem tal responsabilidade como discípulos missionários, e serem fermento do Evangelho no nosso mundo.

O segundo aspecto que o Papa refletiu acerca da expressão “E tu, que farás?”, enfatizou a importância da mulher leiga na Igreja. “Sabemos que o futuro da Igreja, numa sociedade em rápida mudança, exigirá – e já agora o exige – um compromisso cada vez mais ativo por parte dos leigos”, disse o Papa.

“A Igreja nos Estados Unidos sempre dedicou um enorme esforço ao trabalho da catequese e da educação. O nosso desafio, hoje, é construir alicerces sólidos e promover um sentido de colaboração e responsabilidade compartilhada, quando programamos o futuro das nossas paróquias e instituições”, destacou.

De acordo com o Papa, isto não significa esquecer a autoridade espiritual dada à Igreja, mas, de forma particular, valorizar a “contribuição imensa que as mulheres, leigas e consagradas, deram e continuam a oferecer à vida das nossas comunidades”.

Encontro com as famílias

O principal objetivo da visita do Papa aos Estados Unidos é o Encontro Mundial das Famílias. Francisco então pediu aos bispos, sacerdotes e consagrados para refletirem de modo particular sobre a qualidade do ministério da Igreja com as famílias, os casais que se preparam para o matrimônio e os jovens.

“Tenho conhecimento do que se faz nas vossas Igrejas locais para dar resposta às suas necessidades e apoiá-los no seu caminho de fé. Peço-vos que rezeis fervorosamente pelas famílias, bem como pelas decisões do próximo Sínodo sobre a família”.

Leia, abaixo, a íntegra da homilia do papa:


HOMILIA
Santa Missa com bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas
26 de setembro de 2015
Filadélfia, Estados Unidos

Nesta manhã, aprendi algo mais da história desta bela catedral: a história que está por detrás das suas paredes altas e dos seus vitrais. Contudo prefiro olhar a história da Igreja, nesta cidade e neste Estado, como uma história não de construção de muros, mas do seu derrube. Ela fala-nos de gerações e gerações de católicos comprometidos, saindo para as periferias a fim de construir comunidades de culto, de educação, de caridade e de serviço à sociedade inteira.

Uma tal história é visível nos muitos santuários espalhados por esta cidade, nas suas inúmeras paróquias, cujas agulhas e campanários falam da presença de Deus no meio das nossas comunidades. Vemo-la também nos esforços de todos aqueles sacerdotes, religiosos e leigos que, com dedicação, ao longo de dois séculos, trabalharam pelas necessidades espirituais dos pobres, dos imigrantes, dos doentes e dos encarcerados. Vemo-la também nas inúmeras escolas onde consagrados e consagradas ensinaram as crianças a ler e a escrever, a amar a Deus e ao próximo, e a contribuir como bons cidadãos para a vida da sociedade americana. Tudo isto é a herança verdadeira que recebestes e que sois chamados a enriquecer e transmitir.

Muitos de vós conhecem a história de Santa Catarina Drexel, uma das grandes Santas saídas desta Igreja local. Quando ela falou ao Papa Leão XIII da necessidade das missões, o Papa – era um Papa muito sábio! – perguntou-lhe de maneira incisiva: «E tu, que farás?» Aquelas palavras mudaram a vida de Santa Catarina, porque recordaram-lhe que afinal cada cristão recebeu, em virtude do Batismo, uma missão. Cada um de nós deve responder, da melhor forma possível, à chamada do Senhor para construir o seu Corpo, que é a Igreja.

«E tu, que farás?» A partir destas palavras, gostaria de me deter sobre dois aspectos, no contexto da nossa missão especial de transmitir a alegria do Evangelho e edificar a Igreja como sacerdotes, diáconos ou membros de institutos de vida consagrada.

Em primeiro lugar, aquelas palavras – «E tu, que farás?» – foram dirigidas a uma pessoa jovem, uma jovem mulher com ideais elevados, e mudaram a sua vida. Impeliram-na a pensar no trabalho imenso que havia para realizar e a dar-se conta de que também ela era chamada a fazer a sua parte. Quantos jovens, nas nossas paróquias e escolas, têm os mesmos ideais elevados, generosidade de espírito e amor a Cristo e à Igreja! Somos nós capazes de os pôr à prova? Somos capazes de os guiar e ajudar a fazer a sua parte? A encontrar caminhos para poderem partilhar o seu entusiasmo e os seus dons com as nossas comunidades, sobretudo nas obras de misericórdia e de compromisso a favor dos outros? Partilhamos a própria alegria e entusiasmo que temos em servir o Senhor?

Um dos grandes desafios que a Igreja tem pela frente, nesta geração, é promover, em todos os fiéis, o sentido de responsabilidade pessoal pela missão da Igreja e torná-los capazes de cumprirem tal responsabilidade como discípulos missionários, serem fermento do Evangelho no nosso mundo. Isto exige criatividade para se adaptar às situações em mudança, para levar avante a herança do passado, não primariamente mantendo as estruturas e as instituições, que também foram úteis, mas acima de tudo estando disponíveis para as possibilidades que o Espírito abre diante de nós e comunicando a alegria do Evangelho, todos os dias e em todas as estações da vida.

«E tu, que farás?» É significativo que as palavras do Papa já idoso tivessem sido dirigidas a uma mulher leiga. Sabemos que o futuro da Igreja, numa sociedade em rápida mudança, exigirá – e já agora o exige – um compromisso cada vez mais ativo por parte dos leigos. A Igreja nos Estados Unidos sempre dedicou um enorme esforço ao trabalho da catequese e da educação. O nosso desafio, hoje, é construir alicerces sólidos e promover um sentido de colaboração e responsabilidade compartilhada, quando programamos o futuro das nossas paróquias e instituições. Isto não significa transcurar a autoridade espiritual que nos foi confiada, mas discernir e usar sabiamente os múltiplos dons que o Espírito concede à Igreja. De forma particular, significa valorizar a contribuição imensa que as mulheres, leigas e consagradas, deram e continuam a oferecer à vida das nossas comunidades.

Queridos irmãos e irmãs, agradeço-vos o modo como cada um de vós respondeu à pergunta de Jesus que inspirou a vossa vocação: «E tu, que farás?» Encorajo a deixar-vos renovar na alegria daquele primeiro encontro com Jesus e tirar daquela alegria uma renovada fidelidade e vigor. Vou estar convosco nestes dias, pedindo-vos para transmitirdes a minha saudação afetuosa a todos aqueles que não puderam estar aqui conosco, especialmente a tantos sacerdotes idosos e pessoas consagradas aqui espiritualmente presentes.

Durante estes dias do Encontro Mundial das Famílias, gostaria de vos pedir para refletirdes de modo particular sobre a qualidade do nosso ministério com as famílias, os casais que se preparam para o matrimônio e os nossos jovens. Tenho conhecimentos do que se faz nas vossas Igrejas locais para dar resposta às suas necessidades e apoiá-los no seu caminho de fé. Peço-vos que rezeis fervorosamente pelas famílias, bem como pelas decisões do próximo Sínodo sobre a família.

Agora, com gratidão por tudo o que recebemos e com confiante certeza em todas as nossas necessidades, voltemo-nos para Maria, nossa Mãe Santíssima. Que Ela, com o seu amor de mãe, interceda pelo crescimento da Igreja, na América, no testemunho profético do poder da cruz do seu Filho para levar alegria, esperança e força ao mundo. Rezo por cada um de vós e peço-vos, por favor, que rezeis por mim.

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens / Estados Unidos e Cuba – Sábado, 26 de setembro de 2015 – 12h41 – Modificado: Domingo, 27 de setembro de 2015 – 08h56 – Internet: clique aqui; e Sábado, 26 de setembro de 2015 – 12h41 – Internet: clique aqui.

Papa afirma que diferentes formas de moderna tirania procuram suprimir liberdade religiosa

Rogéria Nair
PAPA FRANCISCO
Encontra-se com família durante sua visita ao Independence Mall (Filadélfia)
Sábado, 26 de setembro de 2015

Francisco que está há alguns dias fora de Roma visitando o continente americano, tem visitado pontos estratégicos. Na tarde deste sábado, 26 de setembro, esteve no Independence Mall.

Localizado na região centro-oeste da cidade da Filadélfia, o Independence é lugar onde algumas das mais importantes decisões da história dos Estados Unidos foram tomadas. Em 1776, neste local foi declarada a independência do país e mais tarde foi discutida e aprovada a constituição americana. Desta vez o local serviu como ponto de Encontro Pela Liberdade Religiosa.

Em seu discurso Francisco disse que a Declaração de Independência afirmou que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador, de alguns direitos inalienáveis os quais os governos existem para proteger e defender.

Recordando as grandes lutas que, principalmente, levaram à abolição da escravatura, à extensão do direito de voto, afirmou que um país, quando está determinado a permanecer fiel a seus princípios fundadores que se baseiam no respeito pela dignidade humana, torna-se mais forte e renova-se.

“Um povo que recorda não repete os erros do passado”, afirmou o Santo Padre que também assegurou que a memória salva a alma dum povo de tudo aquilo ou de todos aqueles que poderiam tentar dominá-lo ou utilizá-lo para os seus interesses.

Referindo-se à liberdade religiosa, garantiu ser direito fundamental que transcende, por sua natureza, os lugares de culto, bem como a esfera dos indivíduos e das famílias.

Francisco convidou a olhar à história, especialmente a do século passado, para ver as atrocidades perpetradas pelos sistemas que pretenderam construir “paraísos terrestres” dominando povos, subjugando-os com princípios aparentemente indiscutíveis e negando-lhes qualquer tipo de direito.

Para ele atua no mundo uma moderna tirania que procura suprimir a liberdade religiosa, ou reduzi-la a uma subcultura, frente a isso o Papa, reiterou que: “torna-se forçoso que os seguidores das diferentes religiões unam a sua voz para invocar a paz, a tolerância, o respeito pela dignidade e os direitos dos outros.”

O Santo Padre, cumpriu o que ele mesmo disse a respeito de fazer memória à história. Lembrou-se dos Quackers, fundadores da Filadélfia, os quais impulsionados pelo Evangelho fundaram uma colônia que haveria de ser um paraíso de liberdade religiosa e tolerância. Mencionou ainda São João Paulo II, que por ocasião de sua visita, ao mesmo lugar, fez um tributo aos fundadores da cidade, quando o santo lembrou a todos os americanos que: “a prova decisiva da vossa grandeza é o modo como tratais cada ser humano, mas de maneira especial os mais fracos e os mais indefesos”.

Francisco agradeceu a todos que, independente da religião, procuraram servir o Deus da paz construindo cidades animadas pelo amor fraterno, cuidando do próximo em necessidade, defendendo a dignidade do dom divino da vida em todas as sua fases, defendendo a causa dos pobres e dos imigrantes. [ . . . ] 
PAPA FRANCISCO
Faz seu pronunciamento durante encontro pela liberdade religiosa com a comunidade hispânica e outros imigrantes
Independence Mall – Filadélfia

“Não vos envergonheis daquilo que faz parte de vós”

“Não vos envergonheis das vossas tradições”, suplicou o Papa por duas vezes aos imigrantes. Assegurando que tal com os antepassados trouxeram talentos à nação, estes também trazem.

Segundo o Pontífice os imigrantes, também, são chamados a ser cidadãos responsáveis, de modo que ajude a sociedade a renovar-se a partir de dentro, na fé fervorosa e no sentido profundo da vida familiar e em todos os outros valores que receberam em herança.

Agradeceu o acolhimento caloroso, desejou que fossem renovados na gratidão pelas muitas liberdades de que possuem. “Possais defender estes direitos, especialmente a vossa liberdade religiosa, porque esta foi-vos dada pelo próprio Deus”, disse Francisco.

Por último pediu que conservassem e cuidassem da liberdade que dá a cada povo a seus direitos.

Abaixo, a íntegra desse discurso de Papa Francisco.


Discurso durante encontro pela liberdade religiosa
com a comunidade hispânica e outros imigrantes
Independence Mall – Filadélfia
Sábado, 26 de setembro de 2015

Queridos amigos!

Um dos momentos salientes da minha visita tem lugar aqui, diante do Independence Mall, local do nascimento dos Estados Unidos da América. Neste lugar, foram proclamadas pela primeira vez as liberdades que definem este País. A Declaração de Independência afirmou que todos os homens e todas as mulheres são criados iguais, que são dotados pelo seu Criador de alguns direitos inalienáveis e que os governos existem para proteger e defender tais direitos. Estas vibrantes palavras continuam a inspirar-nos hoje, tal como inspiraram outros povos em todo o mundo, no combate pela liberdade de viver de acordo com a sua dignidade.

Mas a história mostra também que esta verdade, como aliás qualquer verdade, deve ser constantemente reafirmada, assumida e defendida. A história desta nação é também a história dum esforço constante, até aos nossos dias, para encarnar estes altos princípios na vida social e política. Recordamos as grandes lutas que levaram à abolição da escravatura, à extensão do direito de voto, ao crescimento do movimento operário, e ao esforço progressivo por eliminar todas as formas de racismo e preconceito contra as sucessivas ondas de novos americanos. Isto demonstra que um País, quando está determinado a permanecer fiel aos seus princípios fundadores que se baseiam no respeito pela dignidade humana, torna-se mais forte e renova-se.

Todos nos beneficiamos quando se faz memória do nosso passado. Um povo que recorda não repete os erros do passado; pelo contrário, olha confiante para os desafios do presente e do futuro. A memória salva a alma dum povo de tudo aquilo ou de todos aqueles que poderiam tentar dominá-lo ou utilizá-lo para os seus interesses. Quando o exercício efetivo dos respectivos direitos é garantido aos indivíduos e às comunidades, estes não apenas se sentem livres para realizar as suas potencialidades mas contribuem para o bem-estar e enriquecimento da sociedade.

Neste lugar, que é um símbolo do espírito americano, quereria refletir convosco sobre o direito à liberdade religiosa. É um direito fundamental que plasma o modo como interagimos social e pessoalmente com nossos vizinhos, cujos pontos de vista religiosos são diferentes dos nossos.

A liberdade religiosa implica certamente o direito de adorar a Deus, individual e comunitariamente, como a nossa consciência dita. Mas, por outro lado, a liberdade religiosa transcende, por sua natureza, os lugares de culto, bem como a esfera dos indivíduos e das famílias.

As nossas diferentes tradições religiosas servem a sociedade, primariamente através da mensagem que proclamam. Convidam os indivíduos e as comunidades a adorar a Deus, fonte de cada vida, da liberdade e da bondade. Lembram-nos a dimensão transcendente da existência humana e a nossa liberdade irredutível contra qualquer pretensão de poder absoluto. Basta lançar um olhar à história, especialmente à do século passado, para ver as atrocidades perpetradas pelos sistemas que pretenderam construir este ou aquele «paraíso terrestre» dominando os povos, subjugando-os com princípios aparentemente indiscutíveis e negando-lhes qualquer tipo de direito. As nossas ricas tradições religiosas procuram oferecer significado e orientação, «possuem uma força motivadora que abre sempre novos horizontes, estimula o pensamento, engrandece a mente e a sensibilidade» (Exortação apostólica Evangelii gaudium, 256). Chamam à conversão, à reconciliação, ao compromisso em prol do futuro da sociedade, ao sacrifício de si mesmo no serviço do bem comum, e à compaixão por aqueles passam necessidade. No coração da sua missão espiritual, encontra-se a proclamação da verdade e da dignidade da pessoa humana, bem como dos direitos humanos.

As nossas tradições religiosas lembram-nos que, enquanto seres humanos, somos chamados a reconhecer o Outro que revela a nossa identidade relacional contra qualquer tentativa de instaurar «uma uniformidade que o egoísmo do forte, o conformismo do fraco, ou ainda a ideologia do utopista poderia procurar impor-nos» (M. de Certeau).

Num mundo onde as diferentes formas de moderna tirania procuram suprimir a liberdade religiosa, ou reduzi-la a uma subcultura sem direito de expressão na esfera pública, ou ainda usar a religião como pretexto para o ódio e a brutalidade, torna-se forçoso que os seguidores das diferentes religiões unam a sua voz para invocar a paz, a tolerância, o respeito pela dignidade e os direitos dos outros.

Vivemos num mundo sujeito «à globalização do paradigma tecnocrático» (Encíclica Laudato si’, 106), que visa conscientemente uma uniformidade unidimensional e procura eliminar todas as diferenças e as tradições numa busca superficial de unidade. As religiões têm, portanto, o direito e o dever de fazer compreender que é possível construir uma sociedade onde «um são pluralismo, que respeite verdadeiramente aqueles que pensam diferente e os valores como tais» (Exortação apostólica Evangelii gaudium, 255), é um «precioso aliado no compromisso pela defesa da dignidade humana, (…) um caminho de paz para o nosso mundo ferido» (ibid., 257).

Os Quakers, que fundaram Filadélfia, viviam inspirados por um profundo sentido evangélico da dignidade de cada pessoa e pelo ideal duma comunidade unida pelo amor fraterno. Tal convicção levou-os a fundar uma colônia que haveria de ser um paraíso de liberdade religiosa e tolerância. Este significado de compromisso fraterno em prol da dignidade de todos, especialmente dos mais fracos e vulneráveis, tornou-se parte essencial do espírito americano. Durante a sua visita aos Estados Unidos em 1987, São João Paulo II prestou-vos um comovente tributo, lembrando a todos os americanos que «a prova decisiva da vossa grandeza é o modo como tratais cada ser humano, mas de maneira especial os mais fracos e os mais indefesos» (Discurso na cerimônia de despedida no Aeroporto de Detroit, 19 de Setembro de 1987, 3).

Aproveito agora a ocasião para agradecer a todos aqueles que procuraram, qualquer que seja a sua religião, servir o Deus da paz construindo cidades animadas pelo amor fraterno, cuidando do próximo em necessidade, defendendo a dignidade do dom divino da vida em todas as sua fases, defendendo a causa dos pobres e dos imigrantes. Com muita frequência, aqueles que precisam da nossa ajuda são incapazes de se fazer ouvir. Vós sois a sua voz, e muitos dentre vós permitiram lealmente que o seu grito fosse ouvido. Com este testemunho, que muitas vezes encontra forte resistência, recordais à democracia americana os ideais para que foi fundada, e que a sociedade debilita-se sempre e em toda a parte onde prevalece a injustiça.

No nosso meio, temos hoje membros da grande população hispânica da América, bem como representantes de imigrantes recentes nos Estados Unidos. A todos saúdo com particular afeto! Muitos de vós são imigrantes neste país, pagando pessoalmente um alto preço, mas com a esperança de construir uma nova vida. Não desanimeis com os desafios e as dificuldades que tendes de enfrentar, sejam eles quais forem. Peço para não vos esquecerdes que, tal como aqueles que vieram antes de vós, trazeis muitos talentos à vossa nova nação. Não vos envergonheis das vossas tradições. Não esqueçais as lições que aprendestes dos vossos antepassados e que podem enriquecer a vida deste país americano. Repito: não vos envergonheis daquilo que faz parte de vós, o sangue da vossa vida.

Também vós sois chamados a ser cidadãos responsáveis e a contribuir frutuosamente para a vida das comunidades onde viveis. Penso de modo particular na fé fervorosa de muitos de vós, no sentido profundo da vida familiar e em todos os outros valores que recebestes em herança. Trazendo as vossas contribuições, não só encontrareis o vosso lugar aqui, mas ajudareis a sociedade a renovar-se a partir de dentro.

Queridos amigos, agradeço o vosso caloroso acolhimento e o fato de vos terdes reunido hoje comigo. Possam esta nação e cada um de vós sentir-se renovados na gratidão pelas muitas bênçãos e liberdades de que gozais. E possais defender estes direitos, especialmente a vossa liberdade religiosa, porque esta foi-vos dada pelo próprio Deus. Ele vos abençoe a todos. Peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de rezar por mim.

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens / Estados Unidos e Cuba – Sábado, 26 de setembro de 2015  - 19h16 – Modificado: Domingo, 27 de setembro de 2015 – 08h56 – Internet: clique aqui; Sábado, 26 de setembro de 2015 – 18h16 – Internet: clique aqui.

Papa participa de Festa das Famílias
na Filadélfia e destaca que:
“beleza, bondade e verdade nos levam a Deus”

Míriam Bernardes

Primeiro dia do Papa Francisco na Filadélfia termina com a participação do Pontífice em Festa das Famílias no Benjamin Franklin Parkway
PAPA FRANCISCO
Abençoa fiéis durante a Festa da Família do Encontro Mundial da Famílias
no Parque Benjamin Franklin - Filadélfia - Estados Unidos
Sábado (à noite), 26 de setembro de 2015

O festival, que é uma celebração internacional da família, comunidade de fé, onde as pessoas são convidadas a se unirem nesta alegre celebração global de apoio e amor, aconteceu neste sábado, 26, às 20h30 (horário de Brasília).

Papa Francisco foi recebido ao som da Orquestra da Filadélfia e na sequência assistiu às apresentações feitas por vários artistas. Ouviu, atento, o testemunho de seis famílias, sendo elas da Austrália, Ucrânia, Jordânia, Nigéria, Nova Iorque, Argentina, que descreveram, de forma breve, as suas alegrias e desafios. Foram, também, feitas leituras de passagens bíblicas, uma delas a Parábola do Filho Pródigo.

Durante o evento, os artistas, entre eles, Aretha Franklin, Andrea Bocelli, Juanes e Matt Maher, interagiram com o público de mais de um milhão de pessoas que estavam no local por meio de suas apresentações musicais. 
PAPA FRANCISCO abraça o cantor italiano ANDREA BOCELLI
que se fazia presente na Festa das Famílias e cantou para os presentes

Bergoglio recebeu a relíquia da Santa Gianna Beretta Molla pelas mãos de Gianna Emanuela Molla após ouvir a leitura da carta que a santa escreveu a seu esposo. A santa, beatificada por João Paulo II em 1994, foi casada e mãe de quatro filhos, entre eles Gianna Emanuela.

Após as apresentações artísticas, o Sucessor de Pedro discursou livremente falando sobre verdade, bondade e beleza. [ . . . ]

O ato conclusivo da festa das famílias foi assinatura do Papa em um mural que será montado no norte da Filadélfia e que exigiu dias de pintura em asilos e por crianças, em hospital pediátricos, escolas [veja foto abaixo]. Ele convidou as pessoas a rezarem a oração “Ave Maria” e a clamarem a intercessão de São José pelas famílias. 
PAPA FRANCISCO
Coloca a sua assinatura em um mural que que exigiu dias de pintura em asilos e por crianças,
em hospital pediátricos, escolas
Festa das Famílias - Parque Benjamin Franklin (Filadélfia)

Não deixe de ler, abaixo, o discurso de Papa Francisco neste evento:


DISCURSO
Papa Francisco na Festa das Famílias na Filadélfia
Benjamin Franklin Parkway, Filadélfia
Sábado, 26 de setembro de 2015

Um testemunho verdadeiro nos leva a Deus, porque Deus é beleza e verdade. Um testemunho dado para servir é muito bom, nos torna bons, porque Deus é bondade. Tudo o que é bom, nos leva a Deus. Beleza, bondade e verdade nos levam a Deus.

Muito obrigada a todos aqueles que nos deram a mensagem e a presença de todos vocês também dão testemunho de que vale a pena a vida em família, de que uma sociedade cresce forte, boa, formosa e verdadeira se é edificada sobre a base da família. Uma vez, uma criança me perguntou (vocês sabem que as crianças fazem perguntas difíceis): ‘O que fazia Deus antes de criar o mundo?’ Asseguro-lhes que foi muito difícil responder, mas eu disse: ‘Antes de criar o mundo, Deus amava, porque Deus é amor.’

Era tão grande o amor que tinha entre o Pai, Filho e Espírito Santo que transbordava e não sei se é muito teológico, mas quero que saibam, era tão grande que não podia ser egoísta, tinha que sair de Si mesmo para ter alguém para amar fora Dele e aí Deus criou o mundo e fez essa maravilha que nós vivemos. Estamos destruindo o que fez Deus, diz a bíblia, que é a família. Deus criou o homem e a mulher, deu tudo a eles. Entregou o mundo, e disse que crescessem, multiplicassem, cultivassem a terra. Fizessem crescer todo o amor que colocou nessa criação maravilhosa, que entregou a uma família.

Vamos voltar um pouquinho, toda a beleza, verdade que tem em Si, Deus entregou à família e uma família é, verdadeiramente, família quando é capaz de abrir os braços e receber todo esse amor. Por isso que o paraíso não está aqui, a vida tem seus problemas. Os homens, pela astúcia do demônio, aprenderam a dividir-se e todo esse amor que Deus derramou quase se perde. O primeiro crime, primeiro fratricídio, um irmão matou o outro, afetando o amor, beleza e verdade de Deus. Brigas, posições diferentes, estão nos caminhamos de hoje. Toca a nós decidir o caminho a seguir.

Mas, vamos voltar, quando o homem e sua esposa erraram, se distanciaram de Deus. Deus não os deixou sozinhos, tamanho é o amor pela humanidade. Ele começou a caminhar com seu povo até chegar o momento em que mandou Seu filho e foi mandado não a um palácio, mas a uma família. Deus entrou no mundo através de uma família. Essa família tinha o coração aberto, tinha as portas abertas.

Vamos pensar em Maria, ela não podia acreditar: ‘Como pode isso acontecer?’ E quando explicaram, ela aceitou. Pensem em José, ele também não entende, mas aceita, obedece. E na obediência dessa mulher e desse homem há uma família através da qual Deus sempre bate às portas do coração. Ele gosta de fazer isso, sair de dentro. Mas, o que mais gosta é bater às portas da família e encontrá-la unida, da família que faz seus filhos crescerem, e que criam uma sociedade cheia de bondade, verdade e beleza.

Estamos na festa da família, a família tem carta de cidadania divina. A carta que tem a família foi Deus quem deu para que, no seu seio, crescesse cada vez mais a verdade, a beleza e o amor. Alguns de vocês poderiam dizer: ‘Padre, o senhor fala assim porque é solteiro e a família está em dificuldades. Na família nós discutimos; nas famílias, às vezes, voam uns pratos; os filhos dão dor de cabeça!’

Na família sempre tem cruzes, mas o amor de Deus vem sempre à luz, o amor de Deus nos abre o caminho. Depois da cruz tem a ressurreição, porque o filho de Deus nos abriu esse caminho, por isso a família é uma fábrica de esperança, esperança de viver a ressurreição. Foi Deus quem abriu esse caminho. Os filhos dão trabalho, às vezes, em casa, os colaboradores vêm trabalhar com orelhas, porque eles têm bebês de poucos meses e eu pergunto: ‘Você não dormiu?’.

Na família há dificuldades, porém essas dificuldades se superam com amor e o ódio não supera nenhuma dificuldade. A divisão dos corações não supera nenhuma dificuldade, somente o amor é capaz de recuperar. O amor é festa, é alegria, é seguir avante.

Eu gostaria de destacar dois pontos da família e sobre os quais gostaria que tivessem um especial cuidado, as crianças e os avós.

As crianças são o futuro, a força para ir para frente, são neles que colocamos as esperança e os avós são a memória da família, são os que nos recordam e que nos transmitem a fé. Cuidar dos avós e cuidar das crianças é a demonstração de amor, não sei se maior, mas poderia dizer, mais promissora da família, porque promete o futuro. Um povo que não sabe cuidar das crianças e não sabe cuidar dos seus avós é um povo sem futuro, porque não tem a força e a memória que nos leva para frente.

A família é maravilhosa, mas o problema é que a família, às vezes, tem inimizades, brigas com a mulher, os filhos com o pai. Vou dar um conselho, nunca terminem o dia sem fazer a paz, em uma família não se pode terminar o dia em guerra!

Que Deus os abençoe e dê força, os anime a seguir avante. Vamos viver a família, defender a família, porque ali está nosso futuro e rezem por mim!

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens / Estados Unidos e Cuba – Domingo, 27 de setembro de 2015 – 08h55 – Internet: clique aqui; Sábado, 26 de setembro de 2015 – 23h24 – Modificado: Domingo, 27 de setembro de 2015 – 08h55 – Internet: clique aqui.

Fora do programa,
Papa recebe vítimas de abusos

Cristiane Murray
RÁDIO VATICANO

Diz o papa: “Deus chora profundamente”

O Papa Francisco se reuniu na manhã deste domingo (27/09) com vítimas de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja. Ele mesmo o anunciou, antes de iniciar seu discursos aos bispos hóspedes do Encontro Mundial da Família, na capela do Seminário São Carlos Borromeu, em Filadélfia.
PAPA FRANCISCO
Profundamente emocionado durante palavras que dirigiu a um grupo de 3 mulheres e 2 homens
que sofreram abuso sexual por parte de membros do clero.
Eles se fizeram acompanhar de membros de suas famílias.
Seminário São Carlos Borromeu - Filadélfia
Domingo, 27 de setembro de 2015

Ficaram gravadas em meu coração as histórias de dor e sofrimento dos menores que foram abusados sexualmente por sacerdotes. Continuo a cobrir-me de vergonha porque pessoas que tinham sob sua responsabilidade o cuidado de menores os violaram e lhes causaram graves danos. Deus chora profundamente. Os crimes e pecados dos abusos sexuais em menores não podem ser mantidos em segredo por mais tempo. Comprometo-me por uma zelante vigilância da Igreja para proteger os menores e prometo que todos os responsáveis prestarão contas”.

Depois de pronunciar estas palavras, que não estavam previstas em seu discurso, Francisco revelou:

“Acabo de me reunir com um grupo de pessoas abusadas, crianças que são ajudadas e acompanhadas aqui em Filadélfia com carinho pelo Arcebispo Chaput”. 
Dom Charles Chaput - Arcebispo da Filadélfia (Estados Unidos)

Dom Charles Chaput foi nomeado em 2011 para assumir a Igreja na Filadélfia, tendo de gerenciar uma das comunidades mais feridas pelos escândalos de abusos sexuais nos EUA – naquele mesmo ano, por exemplo, 21 padres foram suspensos em decorrência do problema; a maioria dos episódios de abuso teria ocorrido entre as décadas de 1960 e 1980.

No Centro de Imprensa da cidade, diante de centenas de jornalistas, Padre Federico Lombardi acrescentou alguns detalhes sobre a audiência de Francisco com as vítimas, 3 mulheres e 2 homens adultos que sofreram abusos quando eram menores de idade.

O Papa ouviu o testemunho destas pessoas, depois dirigiu-lhes algumas palavras e conversou com cada uma separadamente. Segundo Pe. Lombardi, Francisco rezou com o grupo e manifestou o seu sofrimento, sua dor e sua vergonha pelas feridas que lhes foram provocadas por membros do clero ou por colaboradores eclesiais.

“Peço que acreditem que o Santo Padre ouve e acredita em vocês. Sinto profundamente que alguns bispos tenham falhado em sua responsabilidade de proteger as crianças. É muito preocupante saber que em alguns casos, tenham sido os próprios bispos a cometer abusos. Prometo-lhes que seguiremos o caminho da verdade, aonde quer que nos leve. O clero e os bispos serão chamados a prestar contas se abusaram de crianças ou não foram capazes de protegê-las”.

Francisco também agradeceu as vítimas pela contribuição essencial em restabelecer a verdade e iniciar o caminho da recuperação.

O encontro durou cerca de 40 minutos e terminou com a bênção do Papa.

Leia, abaixo, a íntegra das palavras que o papa dirigiu às vítimas de abuso sexual e suas famílias (o texto encontra-se em espanhol):


DISCURSO
Encontro com Vítimas de Abuso Sexual
Seminário São Carlos Borromeu – Filadélfia
Domingo, 27 de setembro de 2015

Mis queridos hermanos y hermanas en Cristo, estoy muy agradecido por esta oportunidad de conocerles, estoy bendecido por su presencia. Gracias por venir aquí hoy.

Las palabras no pueden expresar plenamente mi dolor por el abuso que han sufrido. Ustedes son preciosos hijos de Dios, que siempre deberían esperar nuestra protección, nuestra atención y nuestro amor. Estoy profundamente dolido porque su inocencia fue violada por aquellos en quien confiaban. En algunos casos, la confianza fue traicionada por miembros de su propia familia, en otros casos por miembros de la Iglesia, sacerdotes que tienen una responsabilidad sagrada para el cuidado de las almas. En todas las circunstancias, la traición fue una terrible violación de la dignidad humana.

Para aquellos que fueron abusados por un miembro del clero, lamento profundamente las veces en que ustedes o sus familias denunciaron abusos pero no fueron escuchados o creídos. Sepan que el Santo Padre les escucha y les cree. Lamento profundamente que algunos obispos no cumplieran con su responsabilidad de proteger a los menores. Es muy inquietante saber que en algunos casos incluso los obispos eran ellos mismos los abusadores. Me comprometo a seguir el camino de la verdad, dondequiera que nos pueda llevar. El clero y los obispos tendrán que rendir cuentas de sus acciones cuando abusen o no protejan a los menores.

Estamos reunidos aquí en Filadelfia para celebrar el Don de Dios de la vida familiar. Dentro de nuestra familia de fe y de nuestras familias humanas, los pecados y crímenes de abuso sexual de menores ya no deben mantenerse en secreto y con vergüenza. Esperando la llegada del Año Jubilar de la Misericordia, su presencia aquí hoy, tan generosamente ofrecida a pesar de la ira y del dolor que han experimentado, revela el corazón misericordioso de Cristo. Sus historias de supervivencia, cada una única y convincente, son señales potentes de la esperanza que nos llega por la promesa de que el Señor estará con nosotros siempre.

Es bueno saber que han traído con ustedes familiares y amigos a este encuentro. Estoy muy agradecido por su apoyo compasivo y rezo para que muchas personas de la Iglesia respondan a la llamada de acompañar a los que han sufrido abusos. Que la puerta de la misericordia se abra por completo en nuestras diócesis, nuestras parroquias, nuestros hogares y nuestros corazones, para recibir a los que fueron abusados y buscar el camino del perdón confiando en el Señor. Les prometemos apoyarles en su proceso de sanación y en siempre estar vigilantes para proteger a los menores de hoy y de mañana.

Cuando los discípulos que caminaron con Jesús en el camino a Emaús reconocieron que Él era el mismo Señor Resucitado, le pidieron a Jesús que se quedara con ellos. Al igual que esos discípulos, humildemente les pido a ustedes y a todos los sobrevivientes de abusos que se queden con nosotros, con la Iglesia, y que juntos como peregrinos en el camino de fe, podamos encontrar nuestro camino hacia el Padre.

Fontes: NEWS.VA – Official Vatican Network – 27/09/2015 – Internet: clique aqui; e Santa Sé – Papa Francisco – Discursos – Domingo, 27 de setembro de 2015 – Internet: clique aqui.

O Evangelho não é um produto a consumir,
diz Papa ao Clero

Letícia Barbosa

Papa Francisco discursa sobre a família, o consumismo e o relacionamento humano para os bispos no Encontro Mundial das Famílias 
PAPA FRANCISCO
Saúda bispos que estavam participando do Encontro Mundial das Famílias
Seminário São Carlos Borromeu - Filadélfia
Domingo, 27 de setembro de 2015

Neste domingo, 27 de setembro, em seu último dia de viagem em terras norte-americanas, Papa Francisco encontrou-se com os bispos participantes do Encontro Mundial das Famílias, no Seminário São Carlos Borromeu, na Filadélfia (EUA).

Antes de discursar ao clero, Papa Francisco contou que havia se reunido com jovens abusados sexualmente. Diante disso, ele demonstrou sua profunda vergonha por estes crimes e comprometeu-se a ajudar nos esclarecimentos de casos como este.

“Deus chora profundamente por estes crimes. […] Os crimes de abusos sexuais não podem ficar em segredo por mais tempo. […] Os responsáveis prestarão contas”, frisou o Santo Padre.

Em seu discurso, o Pontífice refletiu sobre as famílias, assim como vem dedicando atenção especial sobre este tema no decorrer de seu pontificado. Ele destacou a importância da família para a Igreja, ao comentar que “sem a família, a Igreja também não existiria: não poderia ser aquilo que deve ser, isto é, sinal e instrumento da unidade do gênero humano”.

As transformações nos relacionamentos humanos

Papa Francisco chamou a atenção para as transformações ocorridas na forma com que as pessoas se relacionam. Ele comparou essas relações fazendo alusão a um mercado e a um shopping. Antigamente, as pessoas iam aos mercados ou pequenas vendas e encontravam os produtos que a satisfaziam e por conhecerem o dono e estabelecerem vínculos, muitas vezes compravam fiado. Entretanto, com o passar dos anos e desenvolvimento da sociedade, nos shoppings encontra-se uma grande variedade de produtos e você já não estabelece nenhum vínculo.

Para o Sucessor de Pedro, o mundo se tornou um “grande supermercado, onde a cultura adquiriu uma dinâmica competitiva”.

“Consumir relações, consumir amizades, consumir religiões, consumir, consumir… Não importa o custo nem as consequências. Um consumo que não gera ligações, um consumo que pouco tem a ver com as relações humanas. As ligações são meramente um «meio» para satisfazer as «minhas necessidades». O próximo, com o seu rosto, com a sua história, com os seus afetos, deixou de ser importante”, salientou o Papa.
PAPA FRANCISCO
Discursa diante dos Bispos participantes do 8º Encontro Mundial da Famílias
Seminário São Carlos Borromeu - Filadélfia

O sacramento do matrimônio na cultura atual

O Santo Padre explicou que muitos jovens adiam o matrimônio à espera das condições ideais de bem-estar. Mas, ele frisa que com isso a vida é vivida “sem sabor”.

“Estamos vivendo uma cultura que impulsiona e convence os jovens a não fundar uma família, pela falta de meios e por ter tantos meios que está cômodo assim. Essa é a tentação, não fundar uma família”, alertou o Pontífice.

Missão dos Bispos

O Santo Padre convidou os bispos, como pastores de um rebanho concedido a eles por Cristo, a não condenarem os erros das pessoas, especialmente dos jovens, pois cresceram nessa sociedade. Mas, para que tal situação seja modificada, o Papa explicou que o clero precisa incentivar os fiéis com palavras de esperança e ânimo, pois o “Evangelho não é um produto a consumir, ele não entra nessa cultura do consumismo”.

“Nós pastores, seguindo os passos do Pastor, somos convidados a procurar, acompanhar, erguer, curar as feridas do nosso tempo. Olhar a realidade com os olhos de quem sabe que é chamado a mover-se, é chamado à conversão pastoral. O mundo atual pede-nos com insistência esta conversão”, disse o Papa.

Não deixe de ler, na íntegra, este discurso do papa aos bispos. Veja abaixo:


DISCURSO
Papa Francisco fala aos bispos no Encontro Mundial das Famílias
Capela do Seminário São Carlos Borromeu
Filadélfia, Estados Unidos
Domingo, 27 de setembro de 2015

Queridos Irmãos Bispos!

Sinto-me feliz por ter a oportunidade de partilhar estes momentos de reflexão pastoral convosco, na jubilosa ocasião do Encontro Mundial das Famílias.

De fato, para a Igreja, a família não é primariamente um motivo de preocupação, mas a feliz confirmação da bênção de Deus à obra-prima da criação. Cada dia, em todos os cantos do planeta, a Igreja tem motivos para se alegrar com o Senhor pelo dom daquele povo numeroso de famílias que, mesmo nas mais duras provas, honram as promessas e guardam a fé.

Assim eu diria que o primeiro impulso pastoral, que nos pede esta desafiadora transição de época, é precisamente um passo decidido na linha de tal reconhecimento. A estima e a gratidão devem prevalecer sobre o lamento, apesar de todos os obstáculos que enfrentamos. A família é o lugar fundamental da aliança da Igreja com a criação de Deus. Sem a família, a Igreja também não existiria: não poderia ser aquilo que deve ser, isto é, sinal e instrumento da unidade do gênero humano (cf. Concílio Vaticano II, Lumen gentium, 1).

Naturalmente a compreensão que dela possuímos, plasmada com base na integração da forma eclesial da fé e da experiência conjugal da graça, abençoada pelo sacramento, não deve fazer-nos esquecer a profunda transformação do contexto atual, que incide sobre a cultura social – e agora também legal – dos laços familiares e que nos afeta a todos, crentes e não-crentes. O cristão não está «imune» às mudanças do seu tempo; e este mundo concreto, com as suas múltiplas problemáticas e possibilidades, é o lugar onde temos de viver, acreditar e anunciar.

Em tempos passados, vivíamos num contexto social em que as afinidades entre a instituição civil e o sacramento cristão eram substanciais e compartilhadas: os dois estavam interligados e apoiavam-se mutuamente. Agora já não é assim.

Para descrever a situação atual, escolheria duas imagens típicas da nossa sociedade: duma parte as conhecidas lojas, pequenos negócios das nossas terras; da outra os grandes supermercados ou centros comerciais.

Algum tempo atrás, podia-se encontrar numa mesma loja todas as coisas necessárias para a vida pessoal e familiar – é certo que expostas pobremente, com poucos produtos e, consequentemente, poucas possibilidades de escolha.

Havia uma ligação pessoal entre o vendedor e os clientes da vizinhança. Vendia-se a crédito, isto é, havia confiança, conhecimento, proximidade. Um fiava-se do outro. Tinha a coragem de fiar-se. Em muitos lugares, tal negócio era conhecido como «a venda local».

Entretanto, nas últimas décadas, desenvolveram-se e expandiram-se negócios de outro tipo: os centros comerciais, espaços imensos com grande variedade de mercadorias. O mundo parece que se tornou um grande supermercado, onde a cultura adquiriu uma dinâmica competitiva. Já não se vende a crédito, não se pode confiar nos outros. Não há ligação pessoal, relação de vizinhança. A cultura atual parece incentivar as pessoas a entrarem na dinâmica de não se prender a nada nem a ninguém. Não confiar, nem fiar-se. É que hoje a coisa mais importante parece ser esta: correr atrás da última tendência ou atividade.

E isto também em nível religioso. O consumo é que determina o que é importante hoje. Consumir relações, consumir amizades, consumir religiões, consumir, consumir… Não importa o custo nem as consequências. Um consumo que não gera ligações, um consumo que pouco tem a ver com as relações humanas. As ligações são meramente um «meio» para satisfazer as «minhas necessidades».

O próximo, com o seu rosto, com a sua história, com os seus afetos, deixou de ser importante. Este comportamento gera uma cultura que descarta tudo aquilo que já «não serve» ou «não satisfaz» os gostos do consumidor. Fizemos da nossa sociedade uma imensa vitrine multicultural, atenta apenas aos gostos de alguns «consumidores», enquanto muitos, muitíssimos outros «comem as migalhas que caem da mesa de seus donos» (Mt 15,27).

Isto provoca uma grande ferida. Atrevo-me a dizer que uma das principais pobrezas ou raízes de muitas situações contemporâneas é a solidão radical a que se veem forçadas muitas pessoas. E assim, indo atrás do que «me agrada», olhando ao aumento do número de «seguidores» numa rede social qualquer, as pessoas seguem a proposta oferecida por esta sociedade contemporânea. Uma solidão temerosa de qualquer compromisso, numa busca frenética de se sentir conhecido.

Devemos condenar os nossos jovens por terem crescido nesta sociedade? Devemos excomungá-los, porque vivem neste mundo? Será preciso ouvirem da boca dos seus pastores frases como estas: «dantes era melhor», «o mundo está um desastre e, se continuar assim, não sabemos como iremos acabar»? Não, não creio que seja esta a estrada. Nós pastores, seguindo os passos do Pastor, somos convidados a procurar, acompanhar, erguer, curar as feridas do nosso tempo. Olhar a realidade com os olhos de quem sabe que é chamado a mover-se, é chamado à conversão pastoral. O mundo atual pede-nos com insistência esta conversão. «É vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém» (Exortação apostólica Evangelii gaudium, 23).

Enganar-nos-íamos se interpretássemos a desafeição, que a cultura do mundo atual tem pelo matrimônio e a família, só em termos de puro e simples egoísmo. Será que os jovens deste tempo se tornaram todos irremediavelmente medrosos, frágeis, inconsistentes? Não nos deixemos cair na cilada! Muitos jovens, no quadro desta cultura dissuasiva, interiorizaram uma espécie de medo inconsciente, que os paralisa relativamente aos impulsos mais belos e mais altos, e também mais necessários. Há muitos que adiam o matrimônio à espera das condições ideais de bem-estar. Entretanto a vida é consumida, sem sabor. É que a sabedoria dos verdadeiros sabores matura com o tempo, como fruto de um generoso investimento da paixão, da inteligência, do entusiasmo.

Estamos vivendo uma cultura que impulsiona e convence os jovens a não fundar uma família, pela falta de meios e por ter tantos meios que está cômodo assim. Essa é a tentação, não fundar uma família.

Como pastores, nós bispos, somos chamados a reunir as forças e a relançar o entusiasmo pelo nascimento de famílias que correspondam mais plenamente à bênção de Deus, segundo a sua vocação. Devemos investir as nossas energias não tanto para explicar uma vez e outra os defeitos da atual condição hodierna e os valores do cristianismo, como sobretudo convidar com audácia os jovens a serem ousados na opção pelo matrimônio e pela família. Também aqui é preciso uma santa ousadia! Quantas mulheres se lamentavam: meu filho tem 30 anos e não se casa! Temos que entusiasmar os jovens para que se casem. Temos que acompanhar e fazer amadurecer o compromisso do matrimônio. Um cristianismo, que pouco «faz» na realidade e «se explica» infinitamente na formação, vive numa desproporção perigosa; diria, num verdadeiro e próprio círculo vicioso. O pastor deve mostrar que o «Evangelho da família» é verdadeiramente a «boa notícia» num mundo em que a atenção para consigo mesmo parece reinar soberana. Não se trata de fantasia romântica: a tenacidade em formar uma família e levá-la por diante transforma o mundo e a história.

O pastor anuncia serena e apaixonadamente a Palavra de Deus, encoraja os crentes a apostarem alto. Tornará os seus irmãos e irmãs capazes de acolher e praticar a promessa de Deus, que alarga a própria experiência da maternidade e da paternidade para o horizonte duma nova «familiaridade» com Deus (cf. Mc 3,31-35). O pastor vela pelo sonho, a vida, o crescimento das suas ovelhas. Este «velar» não nasce dos discursos feitos, mas do cuidado pastoral. Só é capaz de velar quem sabe estar «no meio», quem não tem medo das perguntas, do contato, do acompanhamento. O pastor vela, antes de tudo, com a oração, sustentando a fé do seu povo, transmitindo confiança no Senhor, na sua presença. O pastor permanece sempre vigilante, ajudando a levantar o olhar quando aparecem o desânimo, a frustração ou as quedas. Seria bom perguntar-nos se, em nosso ministério pastoral, sabemos «perder» tempo com as famílias.

Sabemos estar com elas, partilhar as suas dificuldades e as suas alegrias? Naturalmente, viver o espírito desta jubilosa familiaridade com Deus e propagar a sua emocionante fecundidade evangélica é, em primeiro lugar, o traço fundamental do estilo de vida do bispo. Assim nós mesmos, aceitando humildemente a aprendizagem cristã das virtudes familiares do povo de Deus, assemelhar-nos-emos cada vez mais a pais e mães (como Paulo; veja-se 1Ts 2,7.11), evitando transformar-nos em pessoas que aprenderam simplesmente a viver sem família. De fato, o nosso ideal não é viver sem afetos.

A nós pastores nos tocam duas coisas: a oração e a pregação. Qual é o primeiro trabalho do bispo? Orar, rezar. O segundo trabalho que vai junto com esse: pregar. Ajuda-nos esta definição. O bispo tem a missão de pastorear com a oração e o anúncio.

O bom pastor renuncia a afetos familiares próprios, para destinar todas as suas forças – e a graça da sua vocação especial – à bênção evangélica dos afetos do homem e da mulher que dão vida ao desígnio da criação de Deus, a começar pelos afetos perdidos, abandonados, feridos, arrasados, humilhados e privados da sua dignidade. Esta entrega total ao amor de Deus não é, por certo, uma vocação alheia à ternura e ao bem-querer! Bastar-nos-á olhar para Jesus, para entendermos isso (cf. Mt 19,12). A missão do bom pastor segundo o estilo de Deus – só Deus o pode autorizar, não a sua presunção! – imita, em tudo e para tudo, o estilo afetivo do Filho para com o Pai, que se reflete na ternura da sua entrega: em favor, e por amor, dos homens e mulheres da família humana.

Na perspectiva da fé, este é um tema precioso. O nosso ministério tem necessidade de desenvolver a aliança da Igreja e da família. Caso contrário, definha; e, por nossa culpa, a família humana distanciar-se-á irremediavelmente da Feliz Notícia dada por Deus.

Se formos capazes deste rigor dos afetos de Deus, usando infinita paciência, e sem ressentimento, com os sulcos nem sempre lineares onde devemos semeá-los, até uma mulher samaritana com cinco «não-maridos» se descobrirá capaz de dar testemunho. E, para um jovem rico que tristemente sente que deve pensar ainda com calma, um maduro publicano descerá precipitadamente da árvore e far-se-á paladino dos pobres, nos quais nunca pensara até então.

Deus nos conceda o dom desta nova proximidade entre a família e a Igreja. A necessidade da família, Igreja e pastores. A família é o nosso aliado, a nossa janela aberta para o mundo, a evidência duma bênção irrevogável de Deus destinada a todos os filhos desta história difícil e maravilhosa da criação que Deus nos pediu para servir!

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens – Estados Unidos / Cuba – Domingo, 27 de setembro de 2015 – 10h55 – Internet: clique aqui.

“Todos precisam ser purificados, eu sou o primeiro”, diz Papa

Letícia Barbosa

Ao visitar os detentos do Instituto Curran-Fromhold, na Filadélfia, (EUA),
Papa Francisco discursa sobre a misericórdia de Deus
PAPA FRANCISCO
Saúda e conversa com detentos do Instituto Curran-Fromhold em Filadélfia
Domingo, 27 de setembro de 2015

Papa Francisco encerrou a manhã de atividades na Filadélfia (EUA) ao discursar neste domingo, 27, aos detentos do Instituto Curran-Fromhold.

O Santo Padre falou aos internos que Cristo não pergunta por onde as pessoas andaram, apenas deseja que sejam purificadas dos caminhos nos quais passaram. Segundo ele, todos são pecadores e precisam passar por esse processo de purificação.

“Viver comporta ‘sujar os nossos pés’ pelas estradas poeirentas da vida, da história. Todos precisamos de ser purificados, ser lavados. Todos, eu sou o primeiro”, ressaltou o Papa.

O Sucessor de Pedro convidou os detentos a não enxergarem esse tempo de reclusão como uma expulsão da sociedade.

“[Jesus] Quer ajudar-nos a recompor o nosso andar, retomar o nosso caminho, recuperar a nossa esperança, restituir-nos a fé e a confiança. Quer que regressemos às estradas da vida, sentindo que temos uma missão; que este tempo de reclusão nunca foi sinônimo de expulsão”, disse Francisco.

Ao término de seu discurso, o Santo Padre cumprimentou pessoalmente todos os detentos.

Leia, abaixo, a íntegra do discurso de Francisco aos detentos:


DISCURSO
Papa Francisco fala aos detentos do Instituto Curran-Fromhold
Filadélfia – Estados Unidos
Domingo, 27 de setembro de 2015

Queridos irmãos e irmãs!

Obrigado pela recepção e a possibilidade de estar aqui convosco compartilhando este período da vossa vida. Um período difícil, cheio de tensões. Um período que – bem sei – é doloroso não só para vós, mas também para as vossas famílias e toda a sociedade; porque uma sociedade, uma família que não sabe sofrer com as dores dos seus filhos, que não as leva a sério, que as trata como coisas «naturais» considerando-as normais e previsíveis, é uma sociedade «condenada» a permanecer prisioneira de si mesma, prisioneira de tudo o que a faz sofrer. Vim como pastor, mas sobretudo como irmão para compartilhar a vossa situação e fazê-la minha também; vim para podermos rezar juntos e apresentar ao nosso Deus aquilo que nos dói e também o que nos encoraja, e receber d’Ele a força da Ressurreição.

Recordo o Evangelho em que Jesus lava os pés aos seus discípulos durante a Última Ceia. Uma atitude que os discípulos tiveram dificuldade em compreender, incluindo São Pedro que reage dizendo-Lhe: «Tu nunca me hás-de lavar os pés!» (Jo 13,8).

Naquele tempo era costume, quando uma pessoa chegava a casa, lavar-lhe os pés. As pessoas eram recebidas sempre assim. Não havia estradas asfaltadas, eram estradas poeirentas, com o cascalho que se enfiava nas sandálias. Todos percorriam caminhos que os deixavam impregnados de pó, quando não se feriam em alguma pedra ou faziam qualquer corte. No Cenáculo, vemos Jesus que lava os pés, os nossos pés, os pés dos seus discípulos de ontem e de hoje.

Todos sabemos que viver é caminhar, viver é seguir por várias estradas, diferentes caminhos que deixam a sua marca na nossa vida.

Pela fé, sabemos que Jesus nos procura, quer curar as nossas feridas, curar os nossos pés das chagas dum caminho cheio de solidão, limpar-nos do pó que se foi agarrando a nós ao longo das estradas que cada um percorreu. Não nos pergunta por onde andamos, nem nos interroga sobre o que andávamos a fazer.

Pelo contrário, diz-nos: «Se Eu não te lavar, nada terás a ver comigo» (Jo 13,8). Se não te lavar os pés, não poderei dar-te a vida que o Pai sempre sonhou, a vida para que te criou. Ele vem ao nosso encontro para nos calçar de novo com a dignidade dos filhos de Deus. Quer ajudar-nos a recompor o nosso andar, retomar o nosso caminho, recuperar a nossa esperança, restituir-nos a fé e a confiança. Quer que regressemos às estradas da vida, sentindo que temos uma missão; que este tempo de reclusão nunca foi sinônimo de expulsão.

Viver comporta «sujar os nossos pés» pelas estradas poeirentas da vida, da história. Todos precisamos de ser purificados, ser lavados. Todos, eu sou o primeiro. Todos somos procurados por este Mestre que nos quer ajudar a retomar o caminho. O Senhor procura-nos a todos, para nos dar a sua mão. É penoso constatar como às vezes se geram sistemas prisionais que não procuram curar as chagas, curar as feridas, criar novas oportunidades. É doloroso constatar como às vezes se pensa que só alguns precisam de ser lavados, purificados, sem considerar que o seu cansaço, o seu sofrimento, as suas feridas são também o cansaço, o sofrimento e as feridas duma sociedade. O Senhor no-lo mostra claramente através dum gesto: lavar os pés para se sentar à mesa; uma mesa, da qual Ele quer que ninguém fique fora. A mesa que foi preparada para todos e para a qual todos somos convidados.

Este período na vossa vida só pode ter um objetivo: estender a mão para retomar o caminho, estender a mão para que ajude à reintegração social. Uma reintegração de que todos fazemos parte, que todos somos chamados a estimular, acompanhar e realizar. Uma reintegração procurada e desejada por todos: reclusos, famílias, funcionários, políticas sociais e educativas. Uma reintegração que beneficia e eleva o nível moral de toda a comunidade.

Jesus convida-nos a partilhar a sua sorte, o seu estilo. Ensina-nos a ver o mundo com os seus olhos. Olhos que não se escandalizam do pó da estrada; antes, procura limpar e curar, procura remediar. Convida-nos a trabalhar para criar novas oportunidades: para os presos, para os seus familiares, para os funcionários; uma oportunidade para toda a sociedade. Desejo encorajar-vos a manter esta atitude entre vós, com todas as pessoas que de alguma maneira fazem parte deste Instituto. Sede artífices de oportunidades, artífices de caminho, de novas vias.

Todos temos alguma coisa de que ser limpos, purificados. Que a consciência disto nos desperte para a solidariedade, para nos apoiarmos e procurarmos o melhor para os outros.

Fixemos os olhos em Jesus que nos lava os pés: Ele é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14,6), que nos vem fazer sair do engano de crer que nada pode mudar, que nos ajuda a caminhar por sendas de vida e plenitude. Que a força do seu amor e da sua Ressurreição seja sempre caminho de vida nova.

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens – Estados Unidos e Cuba – Domingo, 27 de setembro de 2015 – 12h22 – Internet: clique aqui; Domingo, 27 de setembro de 2015 – 11h52 – Internet: clique aqui.

Missa, com Papa Francisco, conclui o
8º Encontro Mundial das Famílias

Míriam Bernardes

Papa Francisco salienta a importância dos gestos concretos de amor
PAPA FRANCISCO
Acolhe família durante a Missa Conclusiva do 8º Encontro Mundial das Famílias
Parque Benjamin Franklin - Filadélfia (EUA)
Domingo, 27 de setembro de 2015

Na Santa Missa conclusiva do VIII Encontro Mundial das Famílias que aconteceu neste domingo, 27, às 17h (horário de Brasília), no Benjamin Franklin Parkway na Filadélfia, Papa Francisco disse: “Deus semeia a sua presença no nosso mundo, porque “é nisto que está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou primeiro.” (1Jo 4, 10).

O Pontífice destacou também que a santidade, assim como a felicidade, está ligada aos pequenos gestos que, mesmo sendo mínimos, fazem toda a diferença na vida do outro. E chama de gestos miraculosos as ações simples como a bênção antes de dormir, o abraço ao retornar de um dia de trabalho praticados por mãe, avós, pai, filho e acompanhados de ternura, afeto.

“O amor exprime-se em pequenas coisas, na atenção aos detalhes de cada dia que fazem com que a vida tenha sempre sabor de casa. A fé cresce, quando é vivida e plasmada pelo amor. Por isso, as nossas famílias, as nossas casas são autênticas igrejas domésticas: são o lugar ideal onde a fé se torna vida e a vida se torna fé.”
PAPA FRANCISCO
Profere a sua homilia durante a Missa que concluiu o 8º Encontro Mundial da Famílias
Filadélfia - Estados Unidos

No decorrer de sua fala, relembrou do cuidado e paciência que é necessário ter com as crianças e os avós e interrogou os presentes; “Eu lhes digo como pergunta, para que respondam: ‘Em minha casa se grita ou se fala com amor e ternura? Essa é uma boa maneira de medir nosso amor.’

E continuou, após salientar sobre o desejo de Jesus, que coloquemos em prática os gestos de amor, sinais da presença vida Dele e operante no nosso mundo: “Como estamos a trabalhar para viver esta lógica nas nossas famílias e nas nossas sociedades? Que tipo de mundo queremos deixar aos nossos filhos (cf. Encíclica Laudato si’, 160)? Não podemos responder, sozinhos, a estas perguntas. É o Espírito que nos chama e desafia a responder a elas com a grande família humana.”

Francisco fez o convite para que as famílias se abram aos milagres do amor e superem o escândalo do amor mesquinho e desconfiado, fechado em si mesmo, sem paciência com os outros e renovem sua fé na Palavra de Deus.

Caminhando para a finalização da homilia, o Santo Padre falou: “Que o senhor nos dê a graça de sermos profetas da família, profetas do Evangelho do amor!”.

Leia, abaixo, a íntegra da homilia de Papa Francisco nesta missa de conclusão do Encontro Mundial das Famílias:


HOMILIA
Santa Missa de Conclusão do VIII Encontro Mundial das Famílias
Benjamin Franklin Parkway – Filadélfia
27 de setembro de 2015

Hoje, a Palavra de Deus surpreende-nos com uma linguagem alegórica forte, que nos faz pensar; imagens vigorosas, que questionam as nossas reflexões. Uma linguagem alegórica que nos interpela, mas que anima o nosso entusiasmo.

Na primeira Leitura, Josué diz a Moisés que dois membros do povo estão a profetizar, anunciando a palavra de Deus sem qualquer mandato. No Evangelho, João diz a Jesus que os discípulos impediram uma pessoa de expulsar os espíritos malignos em nome d’Ele. E aqui aparece a surpresa: Moisés e Jesus censuram estes colaboradores por serem de mente tão fechada. Oxalá fossem todos profetas da Palavra de Deus! Oxalá cada um fosse capaz de fazer milagres em nome do Senhor!

Por sua vez, Jesus encontra hostilidade nas pessoas que não aceitaram aquilo que fazia e dizia. Para elas, a abertura de Jesus à fé honesta e sincera de muitas pessoas, que não faziam parte do povo eleito de Deus, parecia intolerável. Entretanto os discípulos estavam a agir em boa-fé; mas a tentação de serem escandalizados pela liberdade de Deus, que faz chover tanto sobre os justos como sobre os injustos (cf. Mt 5,45), ultrapassando a burocracia, o oficial e os círculos restritos, ameaça a autenticidade da fé e, por isso, deve ser vigorosamente rejeitada.

Quando nos damos conta disto, podemos entender por que motivo as palavras de Jesus sobre o escândalo são tão duras. Para Jesus, o escândalo intolerável consiste em tudo aquilo que destrói e corrompe a nossa confiança no modo de agir do Espírito.

Deus, nosso Pai, não Se deixa vencer em generosidade, e semeia. Semeia a sua presença no nosso mundo, porque «é nisto que está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou primeiro» (1Jo 4,10). Aquele amor dá-nos uma certeza profunda: somos procurados por Ele, Ele está à nossa espera. É esta confiança que leva o discípulo a estimular, acompanhar e fazer crescer todas as boas iniciativas que existem ao seu redor. Deus quer que todos os seus filhos tomem parte na festa do Evangelho. Não ponhais obstáculo ao que é bom – diz Jesus –, antes pelo contrário, ajudai-o a crescer. Pôr em dúvida a obra do Espírito, dar a impressão de que a mesma não tem nada a ver com aqueles que não são «do nosso grupo», que não são «como nós», é uma tentação perigosa. Não só bloqueia a conversão à fé, mas constitui uma perversão da fé.

A fé abre a «janela» à presença operante do Espírito e demonstra-nos que a santidade, tal como a felicidade, está sempre ligada aos pequenos gestos. «Seja quem for que vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, (…) não perderá a sua recompensa», diz Jesus (Mc 9,41). São gestos mínimos, que uma pessoa aprende em casa; gestos de família que se perdem no anonimato da vida diária, mas que fazem cada dia diferente do outro. São gestos de mãe, de avó, de pai, de avô, de filho. São gestos de ternura, de afeto, de compaixão. Gestos como o prato quente de quem espera para jantar, como o café da manhã de quem sabe acompanhar o levantar na alvorada. São gestos familiares. É a bênção antes de dormir, e o abraço ao regressar duma jornada de trabalho. O amor exprime-se em pequenas coisas, na atenção aos detalhes de cada dia que fazem com que a vida tenha sempre sabor de casa. A fé cresce, quando é vivida e plasmada pelo amor. Por isso, as nossas famílias, as nossas casas são autênticas igrejas domésticas: são o lugar ideal onde a fé se torna vida e a vida se torna fé.

Jesus convida-nos a não obstaculizar estes pequenos gestos miraculosos; antes, quer que os provoquemos, que os façamos crescer, que acompanhemos a vida como ela se nos apresenta, ajudando a suscitar todos os pequenos gestos de amor, sinais da sua presença viva e operante no nosso mundo.

Este comportamento a que somos convidados leva-nos a perguntar: Como estamos a trabalhar para viver esta lógica nas nossas famílias e nas nossas sociedades? Que tipo de mundo queremos deixar aos nossos filhos (cf.Laudato si’, 160)? Não podemos responder, sozinhos, a estas perguntas. É o Espírito que nos chama e desafia a responder a elas com a grande família humana. A nossa casa comum não pode mais tolerar divisões estéreis. O desafio urgente de proteger a nossa casa inclui o esforço de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar (cf. ibid., 13). Que os nossos filhos encontrem em nós pontos de referência para a comunhão! Que os nossos filhos encontrem em nós pessoas capazes de se associarem com outras para fazer florir todo o bem que o Pai semeou.

Sem meias palavras mas com afeto, Jesus diz-nos: «Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem?» (Lc 11,13). Quanta sabedoria há nestas palavras! De fato nós, seres humanos, quanto a bondade e pureza de coração não temos muito de que nos vangloriarmos; mas Jesus sabe que, relativamente aos filhos, somos capazes de uma generosidade sem limites. Por isso nos encoraja: se tivermos fé, o Pai dar-nos-á o seu Espírito.

Nós cristãos, discípulos do Senhor, pedimos às famílias do mundo que nos ajudem. Somos tantos a participar nesta celebração e isto, em si mesmo, já é algo de profético, uma espécie de milagre no mundo de hoje. Quem dera que fôssemos todos profetas! Quem dera que cada um de nós se abrisse aos milagres do amor a bem de todas as famílias do mundo, para assim podermos superar o escândalo dum amor mesquinho e desconfiado, fechado em si mesmo, sem paciência com os outros!

Como seria bom se por todo o lado, mesmo para além das nossas fronteiras, pudéssemos encorajar e apreciar esta profecia e este milagre! Renovemos a nossa fé na palavra do Senhor, que convida as nossas famílias para esta abertura; que convida todos a participarem na profecia da aliança entre um homem e uma mulher, que gera vida e revela Deus.

Toda a pessoa que desejar formar, neste mundo, uma família que ensine os filhos a alegrar-se com cada ação que se proponha vencer o mal – uma família que mostre que o Espírito está vivo e operante –, encontrará a nossa gratidão e a nossa estima, independentemente do povo, região ou religião a que pertença.

Que Deus nos conceda a todos, como discípulos do Senhor, a graça de ser dignos desta pureza de coração que não se escandaliza do Evangelho.

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens – Estados Unidos e Cuba – Domingo, 27 de setembro de 2015 – 18h55 – Internet: clique aqui; e Domingo, 27 de setembro de 2015 – 17h51 – Internet: clique aqui.

Papa pede que vejam a Igreja como
companheira fiel em toda e qualquer prova

Rogéria Nair

Ao encontrar-se com organizadores, voluntários e benfeitores do Encontro Mundial das Famílias, Papa pede que vejam a Igreja como companheira fiel
PAPA FRANCISCO
Abençoa a todos que foram ao Aeroporto de Filadélfia despedirem-se dele.
Antes de partir, o Papa proferiu um discurso de agradecimento
aos organizadores, voluntários e benfeitores do Encontro Mundial das Famílias,
bem como, a todos que prepararam e proporcionaram a sua visita aos Estados Unidos.
Domingo, 27 de setembro de 2015

Durante a cerimônia de despedida, na noite deste domingo, 27 de setembro, Papa Francisco agradeceu a todos que trabalharam pela concretização do Encontro Mundial das Famílias, de modo especial, ao Arcebispo Chaput e à arquidiocese de Filadélfia, às autoridades civis, aos organizadores e aos inúmeros voluntários e benfeitores.

O Santo Padre desejou que esses dias de oração e reflexão sobre a importância da família sirva como encorajamento para continuarem a lutar pela santidade e para que vejam a Igreja como companheira fiel em toda e qualquer prova que tenham de enfrentar.

Fez seu agradecimento também aos que partilharam seu testemunho durante o encontro das famílias e a todos que trabalharam por sua estadia em Washington e Nova Iorque.

Recordou dois momentos marcantes de sua estadia em solo americano:
  • a canonização de  São Junípero Serra, momento que disse ter sido comovente; e
  • sua visita ao Ground Zero [onde estavam os edifícios conhecidos como “torres gêmeas” do World Trade Center, em Nova York], local que para ele, recorda de forma eloquente o mistério do mal.

“Sabemos com toda a certeza que o mal não terá jamais a última palavra e que, no plano misericordioso de Deus, triunfarão sobretudo o amor e a paz”, afirmou Francisco.

Concluiu pedindo que, assim como receberam muito de Deus de forma gratuita, que também possam dar gratuitamente aos outros; e de modo especial, que os voluntários e benfeitores do Encontro Mundial das Famílias não deixem apagar o entusiasmo por Jesus, pela Igreja, pelas famílias e a família maior da sociedade.

Leia, agora, a íntegra deste último pronunciamento de Papa Francisco em sua viagem aos Estados Unidos:


DISCURSO
Saudação ao Comitê organizador, aos voluntários e aos benfeitores do
VIII Encontro Mundial das Famílias
Aeroporto Internacional da Filadélfia
Domingo 27 de Setembro de 2015

Amados Irmãos Bispos,
Queridos amigos!

Os meus dias entre vós passaram rápido, mas cheios de graça para mim e – espero – também para vós. Neste momento em que estou para partir, sabei que o faço com o coração cheio de gratidão e esperança.

Sinto-me grato a todos vós e a quantos trabalharam ardorosamente para tornar possível e preparar o Encontro Mundial das Famílias. Agradeço de modo particular ao Arcebispo Chaput e à arquidiocese de Filadélfia, às autoridades civis, aos organizadores e aos inúmeros voluntários e benfeitores que contribuíram cada qual segundo as próprias possibilidades.

Agradeço ainda às famílias que partilharam os seus testemunhos durante o Encontro. Não é fácil falar abertamente do próprio percurso na vida! Porém a sua sinceridade e humildade diante de Deus e de nós mostraram a beleza da vida familiar e toda a sua riqueza e variedade. Rezo para que estes dias de oração e reflexão sobre a importância da família para uma sociedade sadia possam encorajar as famílias a continuar a lutar pela santidade e a ver a Igreja como uma companheira fiel em toda e qualquer prova que tenham de enfrentar.

No final da minha visita, quero agradecer também a todos os que trabalharam para a minha estadia nas arquidioceses de Washington e Nova Iorque. Particularmente comovente para mim foi a canonização de São Junípero Serra, que nos lembra a todos nós a chamada para ser discípulos missionários, bem como parar pessoalmente, junto com irmãos de outras religiões, no Ground Zero, local que recorda de forma eloquente o mistério do mal; mas sabemos com toda a certeza que o mal não terá jamais a última palavra e que, no plano misericordioso de Deus, triunfarão sobre tudo o amor e a paz.

Senhor Vice-Presidente, peço-lhe para renovar ao Presidente Obama e aos membros do Congresso a minha gratidão, juntamente com a garantia das minhas orações pelo povo americano. Esta terra foi abençoada com enormes dons e oportunidades. Rezo para que sejais bons e generosos guardiões dos recursos humanos e materiais que vos foram confiados.

Agradeço ao Senhor por ter contemplado a fé da Igreja bem radicada neste País, como se manifestou nos nossos momentos de oração em conjunto e se mostrou em muitas obras de caridade. Jesus diz nas Escrituras: «Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25,40). As atenções que tivestes para comigo e a vossa recepção são sinal do vosso amor e fidelidade a Jesus. E é-o também a solicitude pelos pobres, os doentes e os sem-abrigo, os imigrantes, a vossa defesa da vida em todas as suas fases, bem como a preocupação com a vida familiar. Em tudo isto, reconheceis que Jesus está no meio de vós e que, cuidar um do outro, é solicitude pelo próprio Jesus.

No momento da partida, peço a todos vós, especialmente aos voluntários e benfeitores que se prodigalizaram pelo Encontro Mundial das Famílias, que não deixeis apagar-se o vosso entusiasmo por Jesus, pela sua Igreja, pelas nossas famílias e a família maior da sociedade. Possam estes dias, passados juntos, dar frutos que permaneçam, e a generosidade e solicitude pelos outros possa continuar. Assim como recebemos muito de Deus – dons oferecidos a nós gratuitamente e não merecidos pelas nossas forças –, assim, em troca, procuremos também dar gratuitamente aos outros.

Queridos amigos, abraço-vos a todos no Senhor e confio-vos aos maternos cuidados de Maria Imaculada, Padroeira dos Estados Unidos. Rezarei por vós e vossas famílias, e peço-vos, por favor, para rezardes por mim. Deus vos abençoe a todos. Deus abençoe a América!

Fonte: Canção Nova – Especiais – Papa Francisco – Viagens – Estados Unidos e Cuba – Domingo, 27 de setembro de 2015 – 21h04 – Internet: clique aqui; Domingo, 27 de setembro de 2015 – 19h59 – Internet: clique aqui

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