«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

REFUGIADOS NA EUROPA: O MAIOR DRAMA HUMANO DESTE A 2ª GUERRA MUNDIAL

Berlim se prepara para receber maior fluxo de refugiados desde a 2ª Guerra

Jamil Chade

O governo alemão mobiliza-se para o maior fluxo de refugiados desde a
2.ª Guerra; o país já conta com 11 milhões de estrangeiros 
Imigrante esconde-se debaixo de trem para tentar embarcar e chegar à Sérvia.
Foto: Boris Grdanoski / AP

Eles deixaram suas casas enquanto seus bairros eram bombardeados. Levaram semanas para conseguir sair da Síria e encontrar refúgio em um território vizinho. Ali, esperaram por meses em barracas, na expectativa de que a guerra logo terminaria. Isso não ocorreu. A opção foi tomar um longo caminho em direção à Europa.

De caminhão, à pé pela noite ou em botes, esses refugiados passaram por Turquia, Grécia, Macedônia, Sérvia, Hungria e Áustria. Mas, finalmente, após um périplo de meses, essas pessoas que sobrevivem às bombas, ao mar, aos traficantes e ao controle das autoridades chegam ao destino tão sonhado: a Alemanha.

O governo de Berlim mobiliza-se para o maior fluxo de refugiados desde a 2.ª Guerra. O país já conta com 11 milhões de estrangeiros e verá esse número crescer de forma importante entre este ano e 2016 e, por isso, quer um acordo europeu para compartilhar esse fluxo.

O Estado de S. Paulo visitou a cidade de Passau que, nos últimos meses, tem sido a porta de entrada para esse sonho de milhares de refugiados. Na fronteira com a Áustria, a pequena localidade de 55 mil habitantes à beira do Rio Danúbio começou a receber por dia entre 400 e 700 refugiados nas primeiras semanas de agosto. Mas, na terça-feira, o número saltou para 1,1 mil – 70% sírios. Em Munique, chegaram mais 2 mil pessoas.

Um número significativo vem pelas mãos de traficantes, que os deixam ainda pela madrugada nos bosques escuros perto do Rio Danúbio. Vultos passaram a ser frequentemente vistos cruzando as estradas da região e não são poucos os atropelamentos.
Pela manhã, as rádios locais, além de informar sobre o trânsito, alertam os motoristas sobre os pontos de cruzamento de refugiados. Placas de trânsito estão sendo também instaladas nas rodovias para indicar aos motoristas para o risco.

“Isso está ocorrendo principalmente pela madrugada”, explicou Michael Walch, coordenador sanitário da Malteser Hilfsdienst, uma entidade de ajuda ligada à Ordem de Malta. “A previsão é que esse movimento dure por ao menos um ano”. “Eles chegam exaustos e muitos recebem os primeiros atendimentos médicos aqui, após meses de guerra e fuga.” 

Khaled, de Damasco, evita usar a palavra “traficante”. “Vim de Viena com um táxi, se é que você me entende o que quero dizer com isso”, disse ao O Estado de S. Paulo. “Paguei euros 500 apenas para esse último trecho”, lamentou, contando que também pagou por vários outros trechos e, principalmente, para cruzar o Mar Mediterrâneo entre a Turquia e a Grécia.

Segundo as autoridades gregas, 2,5 mil refugiados chegaram a Lesbos apenas na quarta-feira, enquanto outros 15 mil estão na ilha esperando ser transportados para Atenas.

Mas a maioria apenas usa a Grécia para chegar a cidades alemãs. Passau foi obrigada a investir para poder receber esses refugiados. “Não acreditamos que esse fluxo vai parar”, declarou ao Estado o representante da Polícia Federal na cidade, Thomas Schweikl.

“Por isso, estamos construindo um novo centro de acolhida, além dos outros quatro que já temos.” Apenas em agosto, a cidade recebeu 17 mil pessoas, mas grande parte foi distribuída por centros de refugiados da região.

O volume de policiais teve de ser aumentado, com reforços de outras localidades da Alemanha, e ginásios em escolas foram transformados em instalações para os refugiados.
“Há seis meses, o departamento que se ocupava de refugiados menores de idade tinha um funcionário. Agora somos 20”, declarou Ralf Grunow, responsável pela área.

Para as autoridades, a generosidade da população tem surpreendido, com doações frequentes, até de brinquedos. Mas também têm ocorrido atos de xenofobia. Dois centros de acolhida foram incendiados e, ontem, um homem foi preso ao atacar os refugiados com gás de pimenta.

Mas, para os refugiados, o símbolo de generosidade passou a ser a chanceler Angela Merkel. “Ela é a mama Merkel para muitos de nós”, brincou Ibrahim, de 28 anos, que deixou a cidade síria de Alepo há dois anos. A França ofereceu 5 mil vagas para refugiados desde 2012, a Espanha, 2 mil e a Dinamarca, 14 mil. Mas a Alemanha diz que receberá 800 mil pedidos de asilo apenas este ano. O governo garante que tem condições de receber esses refugiados, mas sabe que a conta dos gastos sociais do governo será elevada e quer, para os próximos anos, repartir essa população pelo continente europeu.

Para o governo austríaco, a Alemanha vai pagar o preço pela generosidade e acusa Berlim de estar criando “falsos sonhos” entre os estrangeiros. Viena teme que, estando na passagem entre os Bálcãs e a “terra prometida” (Alemanha), acabe sendo obrigada a receber milhares desses refugiados.

Entre os imigrantes, o sentimento é de alívio. Mas, diante do trauma da guerra e das incertezas vividas por anos, o tom também é de cautela. O temor é o de que a felicidade seja rapidamente substituída pela dura realidade de ter de aprender uma nova língua, viver uma nova cultura e buscar trabalho.

Ao contrário do fluxo de pessoas que por anos chegou à Europa sem educação ou treinamento, a nova onda de refugiados sírios é composta por estudantes de economia, engenheiros, médicos e profissionais liberais que já sabem que terão de adaptar suas vidas.
Mas os mais jovens já fazem planos e contam ao O Estado de S. Paulo que passaram os últimos meses elaborando a estratégia para “recomeçar a vida”. “Acho que vou querer ser alemão”, contou Ali Hussein, apenas quatro dias depois de entrar no território.

Quem já está na Alemanha há alguns meses, porém, alerta que a integração e o processo burocrático não são fáceis. “Há um ano estou aguardando apenas para que me interroguem sobre o meu caso”, contou ao Estado o eritreu Kosay Abrahem. “Até hoje aguardo para saber se vou receber status de refugiado ou não e, enquanto isso, é como se a vida estivesse em suspense”, afirmou.

Fonte: Folha de S. Paulo – Internacional – Quinta-feira, 3 de setembro de 2015 – Pg. A10 – Internet: clique aqui.

Foto de criança morta em praia turca torna-se símbolo de crise migratória

Redação e Agências Internacionais

Ao menos 12 refugiados morrem em naufrágio, incluindo cinco menores
Aylan Kurdi, criança síria de 3 anos de idade, encontrada morta por afogamento
numa praia da cidade de Bodrum, Turquia
Foto: Nilufer Demir / REUTERS

A face mais cruel da crise migratória na Europa foi evidenciada nesta quarta-feira com uma foto marcante de uma criança encontrada morta na costa da cidade turca de Bodrum. O motivo já é conhecido. Em busca do sonho europeu, o menino estava em um barco de refugiados que afundou ao tentar chegar à ilha de Kos, na Grécia.

A imagem está sendo amplamente divulgada nas redes sociais, como símbolo do fim desastroso de alguns imigrantes que se arriscam em perigosas travessias para o continente europeu, muitas vezes fugindo de conflitos, violência, pobreza, fome e perseguição.

A hashtag #KiyiyaVuranInsanlik (humanidadelevadapelaságuas), em referência à foto, foi para o topo dos trending topics no Twitter.

A foto foi publicada em vários jornais. “Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que irá?”, questionava o título do britânico “The Independent”. Já o português “Público” justificou a publicação: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim.” 
Policial paramilitar recolhe o corpo do menino sírio morto na praia turca.
Foto: REUTERS

Ao menos 12 refugiados que viajavam em duas embarcações morreram nesta quarta-feira, entre eles cinco crianças e uma mulher. Os corpos de algumas vítimas, incluindo o de Aylan Kurdi, de 3 anos, e de seu irmão Galip, de 5, foram vistos na areia, causando angústia entre as pessoas que estavam no local. Sete pessoas foram resgatadas pela guarda costeira e duas estão desaparecidas.

Acredita-se que os passageiros sejam sírios que escapam de uma guerra civil que já matou mais de 200 mil pessoas.

A rota por mar Bodrum-Kos é relativamente curta, mas não menos perigosa. As agências humanitárias estimam que, ao longo do mês passado, pelo menos duas mil pessoas tentaram cruzar Turquia e Grécia por essa via.

Fonte: O Globo – Mundo – 02/09/2015 – 10h45 – Atualizado em 03/09/2015 às 13h00 – Internet: clique aqui.

A visionária Merkel

Gilles Lapouge

Os atos são importantes.
A Alemanha, este ano, acolherá 800 mil requerentes de asilo! 
Angela Merkel - primeira-ministra da Alemanha

A chanceler alemã, Angela Merkel, não é uma sentimental. É uma mulher racional, pudica, pragmática e melhor para ler estatísticas bancárias ou algoritmos do que para fazer apelo aos sentimentos. Seu discurso, normalmente, é isento de qualquer lirismo ou desses arroubos "político-históricos" que pautam a afetação dos políticos italianos ou franceses.

Mas Merkel é a única dirigente na Europa que se mostra à altura da trágica provação imposta ao continente com a chegada das multidões de imigrantes vindos da vasta zona que começa no Paquistão e vai até a Tunísia e a África Subsaariana.

Muito bem, Merkel é a única (entre os políticos) que entendeu que há um movimento que extrapola a categoria do político e encontra seu lugar definitivo - o da "grande migração". Ela compreendeu isso.

Visionária, Merkel também está em busca de soluções. E quando um responsável político compreende a dimensão desse fenômeno é para estabelecer regras de comportamento catastróficas. Os partidos fascistas, por exemplo a Frente Nacional, na França, mas também na Inglaterra, Itália, Áustria, depois de dar gritos de horror, explicam que a Europa tem de se proteger atrás de imensas cercas de arame farpado contra os perturbadores da ordem, os esfomeados, os humilhados, os desesperados, cujas hordas vêm à afortunada Europa.

Entre os "humanistas", do gênero socialista, não se fala em devolver os migrantes ao mar, mas sugerem que a Europa adote soluções responsáveis, bruscas, enérgicas, prudentes - em resumo, soluções "realistas", como se diz. Mas onde está o "real" no caso desta hemorragia de dois continentes sobre um terceiro: África e Ásia sobre a Europa (hemorragia, aliás, provocada pelos erros cometidos pela Europa)?

Merkel utiliza outra linguagem. A da história. Da memória deste continente que foi a Europa: "Os direitos civis universais, afirma, eram até agora associados à Europa e à sua história. Se a Europa fracassar na questão dos refugiados, esta não será mais a Europa da forma como nós a representamos".

E faz um alerta. Evocando aqueles que desejam - para solucionar o problema dessa grande migração - que seja abolido o Espaço Schengen, Merkel retruca que se a Europa fracassar diante desse desafio então, sim, deverá abolir Schengen, mas essa será uma enorme derrota da Europa.

Ela resume a questão de uma maneira bela: "Não quero agora tirar para fora todos os instrumentos de tortura. Queremos encontrar uma solução, como bons camaradas". E sua voz se eleva como o de uma professora de escola um pouco prussiana ao se dirigir aos insanos da extrema direita. "Não devemos ter nenhuma tolerância com aqueles que questionam a dignidade de outros homens."

Como esse discurso da chanceler alemã foi ouvido na França, o país mais amigo da Alemanha? A França, há muito tempo desviava o olhar do problema. Mas o drama ganhou força. Paris, por fim, declarou que a França compartilha dos pontos de vista da Alemanha. Ou seja, a generosidade, o sentimento de solidariedade, o respeito à dignidade do ser humano. Antes tarde do que nunca.

Na realidade, há bastante tempo a Alemanha se mostra mais humana do que a França com relação aos refugiados. A Alemanha não só acolhe mais refugiados, mas sobretudo lhes reserva uma acolhida mais generosa. Na França é com o rosto crispado que entreabrimos a porta para os migrantes. Depois, os encurralamos e abandonamos em terrenos baldios abomináveis como em Calais, autêntica vergonha da humanidade.

Claro que há países piores que a França. A Hungria acaba de erguer um muro, como se para conceder uma vitória póstuma aos muros que a União Soviética tanto apreciava. A maior parte dos países da Europa oriental é contra os migrantes. E, desnecessário dizer, a Grã-Bretanha continua a campeã em egoísmo político. Com certeza, muita gente dirá que os discursos, mesmo o de Merkel, embora menos mentirosa do que seus colegas europeus, não convencem ninguém. Os atos são importantes. A Alemanha, este ano, acolherá 800 mil requerentes de asilo!

Traduzido do francês por Terezinha Martino.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Quinta-feira, 3 de setembro de 2015 – Pg. A12 – Internet: clique .

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