«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 13 de setembro de 2015

PAPA VAI À CUBA E AOS ESTADOS UNIDOS

Papa defenderá imigrantes nos Estados Unidos

Cláudia Trevisan

Latinos, em especial os mexicanos, serão tema central da viagem do
pontífice ao país; Francisco terá encontro com grupo em Nova York
PAPA FRANCISCO

A defesa dos imigrantes estará no topo da agenda do papa Francisco em sua primeira visita aos Estados Unidos da América (EUA), a partir do dia 22 de setembro, o que colocará o pontífice no centro de uma das mais controvertidas questões da campanha para a eleição presidencial de 2016. A proposta de deportação das 11 milhões de pessoas que vivem sem documentos em solo americano é um dos fatores que levaram Donald Trump à liderança entre os eleitores republicanos.

Francisco deverá abordar o assunto no encontro que terá com o presidente Barack Obama, no dia 23, e no discurso que fará ao Congresso no dia seguinte – o primeiro de um papa ao Parlamento dos EUA. A situação dos imigrantes e dos refugiados também deverá ser tratada no pronunciamento que o pontífice fará na ONU, no dia 25.

Mas o papa não manifestará suas posições apenas em discursos. A seu pedido, sua visita a Nova York incluirá encontro com 150 imigrantes e refugiados. Francisco chegou a cogitar um gesto simbólico contundente: entrar nos EUA pela fronteira com o México, mesmo percurso traçado por milhões de indocumentados que vivem no país. A ideia foi descartada por dificuldades logísticas. 
Elvis Garcia Callejas - hondurenho que vive nos Estados Unidos após fugir da miséria e violência em seu país


Foi pelo México que Elvis Garcia Callejas chegou aos EUA, há dez anos, vindo de Honduras. Na época, ele tinha 15 anos e fugia da pobreza e da violência de San Pedro Sula, cidade com o maior índice de homicídios do mundo. Como muitos menores desacompanhados que entram nos EUA, ele viajou a pé, de ônibus, de carona e em cima de trens – um périplo que durou um mês. Mais tarde, dois de seus quatro irmãos tentaram se juntar a ele, mas foram detidos na fronteira e deportados.

No dia 25, ele estará no grupo que se encontrará com o papa. “Ainda não acredito”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo por telefone. “Esse é um papa da América Latina, que fala a mesma língua que eu. Um papa que quer mudanças na Igreja, na política e na economia. Um papa que luta pelos direitos dos pobres, dos imigrantes e dos refugiados. É um papa muito diferente dos outros.”

Com ajuda de uma família dos EUA, Callejas se tornou cidadão americano e se formou em Espanhol, Sociologia e Desenvolvimento Internacional. Hoje, trabalha em uma instituição de caridade católica em Nova York, onde dá assistência a menores desacompanhados que chegam ao país.

O ano passado registrou uma onda de imigração de crianças e adolescentes da América Central para os EUA. Nos 12 meses encerrados em outubro, 68 mil menores foram detidos na fronteira e enviados a abrigos ou postos sob a guarda de parentes. 
Imigrantes da América Central embarcam na “Besta”, apelido de um trem de carga no México,
na tentativa de chegar à fronteira com os EUA: muitas crianças fazem a viagem sozinhas
para depois serem detidas e enfrentarem os tribunais americanos

Foto: Elizabeth Ruiz / AFP

CAMPANHA

Callejas espera que os pronunciamentos do papa sirvam como uma antítese [oposição] às posições de Trump em relação aos imigrantes. “Muitas das coisas que ele diz não são verdadeiras e estimulam o ódio contra a comunidade latina imigrante”, avaliou. O pré-candidato republicano disse que mexicanos que entram no país são estupradores e traficantes. Entre suas promessas, está a construção de um muro entre os dois países, que seria pago pelo México.

Hoje com 21 anos, Hazel Bonilla foi levada pela família aos EUA quando tinha 6 anos. O pai acabou voltando ao país de origem, El Salvador, e Hazel vive com a mãe e o irmão mais velho. Nenhum deles tem situação regular nos EUA. “Minha mãe trabalha como caixa em uma loja e seus chefes tiram proveito de sua situação. O salário é baixo e muitas vezes ela não tem horário de almoço. Além disso, não temos seguro-saúde”, relatou Hazel à reportagem. No dia 25, ela estará entre os 150 imigrantes e refugiados que encontrarão o papa.

A salvadorenha não acredita que as propostas e a candidatura de Trump possam ser levadas a sério. “Ele é um político que tenta chamar atenção para si.” Apesar da retórica do republicano, Hazel afirma que o apoio nos EUA a pessoas como ela cresceu.

A aprovação de uma reforma migratória que abrisse caminho para obtenção de cidadania pelos 11 milhões de indocumentados nos EUA era uma das prioridades do presidente Barack Obama. Projeto nesse sentido foi aprovado no Senado em 2013, mas nunca avançou na Câmara, em razão da oposição republicana. Em novembro, o democrata decidiu agir sem o aval do legislativo e assinou decreto que suspendeu a deportação de milhões de pessoas.

Quando Obama receber o papa Francisco na Casa Branca, a situação dos imigrantes será um dos temas da agenda, confirmou a assessoria do presidente. Outros assuntos que farão parte da conversa são o combate às mudanças climáticas, a atenção aos pobres e marginalizados, a garantia de liberdade religiosa e a promoção de oportunidades econômicas para todos.

Agenda do Papa em Cuba e nos EUA

Dia 19
O papa Francisco chega às 16 horas a Havana (capital de Cuba)

Dia 20
Realiza missa na Praça da Revolução; visita o presidente Raúl Castro; se reúne com religiosos na Catedral de Havana

Dia 21
Missa em Holguín; se reúne com bispos em Santiago de Cuba

Dia 22
Chega às 16 horas a Washington (capital dos Estados Unidos)

Dia 23
Encontro com Barack Obama; missa de canonização

Dia 24
Visita Congresso; encontro com religiosos em Nova York

Dia 25
Discursa na ONU; visita imigrantes no Harlem; missa no Madison Square Garden

Dias 26 e 27
Eventos na Filadélfia; cerimônia de despedida e partida rumo a Roma


Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Domingo, 13 de setembro de 2015 – Pg. A16 – Internet: clique aqui e aqui.

“Posições de Francisco irritam republicanos”

Entrevista com Pe. Thomas Reese

Cláudia Trevisan

Defesa dos imigrantes, pobres e combate ao aquecimento global
incomodam políticos conservadores dos Estados Unidos 
THOMAS REESE - padre jesuíta norte-americano
Cientista Social, Jornalista e Teólogo


Em sua primeira visita aos Estados Unidos da América (EUA), o papa Francisco deverá incomodar os conservadores do Partido Republicano com sua defesa dos imigrantes, dos pobres e de medidas de combate ao aquecimento global. Ao mesmo tempo, poderá frustrar os democratas se der ênfase à família integrada por um homem e uma mulher e condenar o aborto. A avaliação é do padre Thomas Reese, jesuíta e integrante da ala progressista da Igreja Católica dos EUA. Para ele, um dos papéis do papa é ser um profeta, que “conforta os aflitos e aflige os que estão confortáveis”. Os conservadores americanos já se incomodaram com o discurso de Francisco na Bolívia, no qual ele criticou o capitalismo sem amarras. Segundo ele, há uma grande discussão na Igreja sobre o “efeito Francisco”, que se traduziria no aumento de fiéis em razão da popularidade do papa. Mas o impacto será limitado se não houver mudanças na atitude dos clérigos [bispos, padres e religiosos].

Em 2014, Reese foi convidado pelo presidente Barack Obama para integrar a Comissão sobre Liberdade Religiosa Internacional dos EUA, um organismo independente que faz recomendações sobre o assunto ao Executivo e ao Congresso. Em 1998, foi nomeado editor-chefe da de respeitada revista semanal católica America, publicada pelos jesuítas. Sete anos mais tarde, renunciou ao cargo. Na visão de integrantes da ala liberal da igreja, o gesto foi motivado por pressão do Vaticano, insatisfeito com a linha editorial pouco ortodoxa de Reese. Atualmente, ele é analista do jornal National Catholic Reporter. A seguir, trechos da entrevista.

Quais serão os principais temas da visita do papa aos EUA?

Pe. Thomas Reese: Há uma série de tópicos que o papa levantará em sua visita aos EUA e eles são consistentes com coisas sobre as quais fala desde o início de seu papado. Ele tem um grande amor e preocupação em relação aos pobres e também é muito preocupado com o meio ambiente. Esses são dois tópicos que abordará quando falar com o país mais rico e poderoso do mundo. Vai dizer “vocês foram abençoados e têm uma responsabilidade de cuidar dos pobres e do meio ambiente”. A crise dos refugiados certamente será tratada no discurso na ONU. A preocupação com refugiados e imigrantes que vêm aos EUA será algo que ele levantará. Um dos papéis do papa é ser um profeta. Eu descreveria um profeta como alguém que conforta os aflitos e aflige os que estão confortáveis. O profeta é uma pessoa que fala a verdade aos poderosos. Sabemos que, como arcebispo de Buenos Aires, ele fez isso com os líderes econômicos e políticos da Argentina e com frequência os deixou incomodados.

Muitas das posições do papa coincidem com posições do presidente Obama e do Partido Democrata – como na questão climática, imigração, restabelecimento de relações com Cuba, apoio o acordo com o Irã. Isso deixa os conservadores irritados?

Pe. Thomas Reese: Sim, muito (risos). Há comentaristas conservadores no rádio e na TV que gostariam de ver a Igreja Católica e os evangélicos como o Partido Republicano na oração. Eles querem que a Igreja fale apenas sobre aborto, casamento gay, controle de natalidade ou liberdade religiosa, questões que estão sintonizadas com o Partido Republicano. Eles não querem que a Igreja fale sobre receber bem os imigrantes, proteger o meio ambiente, cuidar dos pobres, pois essas questões são próximas dos democratas. Alguns dos conservadores acham que a Igreja estava do seu lado na política partidária e agora estão insatisfeitos com o papa Francisco. Na verdade, a Igreja Católica não se enquadra em nenhum dos dois partidos. Ela tem posições fora de sintonia com ambos. 
Prédio do Congresso dos Estados Unidos da América:
o discurso de Papa Francisco neste local (24/09) está sendo muito aguardado,
mesmo porque, é a primeira visita de um papa ao local

Os conservadores também ficaram insatisfeitos com a crítica do papa ao capitalismo sem amarras, em seu discurso na Bolívia.

Pe. Thomas Reese: Sim, ele tem uma crítica muito forte do capitalismo sem regulação, ou capitalismo libertário, o que muitas pessoas nos EUA simplesmente não aceitam. O papa Bento XVI tinha as mesmas posições, mas ele não as articulava em uma linguagem clara. O papa atual é muito mais explícito. O Bento falava como um acadêmico. O papa Francisco fala como escritor de um artigo de opinião. Na encíclica Caritas in Veritate, o papa Bento falou que havia um papel para o governo na regulamentação da economia e na redistribuição da riqueza. Nos EUA, mesmo uma liberal-democrata como Nancy Pelosi (líder do partido na Câmara) nunca usaria as palavras “redistribuição de riqueza”. O papa Bento estava à esquerda dos democratas em relação a temas econômicos. Mas ninguém prestava atenção. Como o papa Francisco usa linguagem explícita, as pessoas estão prestando atenção.

Quão política será a visita?

Pe. Thomas Reese: Aguardo com expectativa o discurso do papa na sessão conjunta do Congresso. O que eles farão, especialmente os republicanos? Se o papa falar “vocês devem receber bem os imigrantes, se preocupar com os pobres, proteger o meio ambiente”? Os democratas irão à loucura, aplaudirão, gritarão. O que os republicanos farão? Sentar em cima das mãos? Ao mesmo tempo, se ele falar que toda a criança merece um pai e uma mãe e a vida deve ser protegida (condenação do aborto), os republicanos darão pulos e os democratas não saberão o que fazer. Será uma peça extraordinária de teatro político.

A imigração transformou-se em uma questão extremamente controvertida nas eleições presidenciais, especialmente com Donald Trump. Qual o peso que o tema terá na visita?

Pe. Thomas Reese: A imigração é grande preocupação da Igreja Católica nos EUA. Muitos dos novos imigrantes são católicos e os bispos nos EUA estão preocupados com eles. O papa Francisco se encontrará com alguns deles em Nova York. Tanto em suas palavras quanto em suas ações, mostrará sua preocupação com os imigrantes e refugiados.

Qual o apelo do catolicismo nos EUA, especialmente para os jovens?

Pe. Thomas Reese: O papa Francisco tem um grande apelo, entre católicos e não católicos, jovens e velhos. Mas a Igreja não tem o apelo que ele tem. A expectativa é que o papa traga pessoas de volta à Igreja e a um debate sobre o “efeito Francisco”. Apesar de as pessoas se sentirem atraídas pelo papa Francisco, quando vão à sua paróquia não encontram o papa Francisco. Elas encontram o padre. A menos que os clérigos abracem as prioridades do papa, o “efeito Francisco” será mínimo. Mesmo sendo extremamente importante para a Igreja, o papa não é a Igreja. Nosso catolicismo é celebrado nas paróquias locais. Se as pessoas não encontram padres que tenham amor e compaixão vão se afastar de novo.

Os clérigos nos EUA são particularmente conservadores ou há uma mistura?

Pe. Thomas Reese: É uma mistura. Uma das dificuldades é que os padres jovens são mais conservadores que os mais velhos. Os mais velhos passaram pela experiência do Concílio Vaticano Segundo e tendem a ser um pouco mais liberais. Os mais jovens foram atraídos pela agenda e as prioridades dos papas João Paulo II e Bento XVI. Agora eles têm um papa que está mudando a agenda e as prioridades, o estilo da Igreja de uma maneira que não entendem e com a qual se sentem incômodos.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional – Domingo, 13 de setembro de 2015 – Pg. A16 – Internet: clique aqui.

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