PACOTE DO GOVERNO: análises...
Tentativa
de recriar tributo
pode
liquidar de vez a gestão Dilma
Marcelo de
Moraes
Não existe um plano B.
O governo precisa desesperadamente fazer caixa para
tapar seus rombos.
Encurralado
política e economicamente, o governo da presidente Dilma Rousseff apelou para o velho expediente de aumentar impostos
para tentar sanear o caixa, esvaziado pela farra administrativa dos últimos
anos. O governo apresentou nesta terça-feira, 14 de setembro, um pacote de
medidas dentro do chamado ajuste fiscal
que, na sua maior parte, repassa para o
contribuinte a conta pelo longo período de descalabro nos gastos públicos.
A
proposta de recriação da Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) prevê injetar cerca de R$
32 bilhões nas contas do governo e cobrir o rombo da Previdência Social, cada
vez mais deficitária, e responderá por cerca da metade do valor do pacote
apresentado nesta terça.
O problema com o plano é que
a CPMF –
derrubada pelo Senado em 2007 – é
rejeitada pela imensa maioria dos parlamentares, que não desejam arcar com o
desgaste político de aprovar a criação de mais um imposto. A medida é tão
desgastante que nem a presidente Dilma quis anunciá-la, delegando aos ministros
da área econômica a tarefa de apresentar publicamente o chamado “remédio
amargo” para a crise do País.
Mesmo
que tivesse defensores ardorosos, a CPMF
ainda tem contra si o rito processual necessário para sua aprovação. Por
ser uma proposta de emenda à Constituição, precisa de alta quantidade de votos
para ser aceita: são exigidos três
quintos de votos favoráveis de todos os senadores e deputados, em dois turnos
de votação em cada uma das Casas. Nunca é demais lembrar que a base de
apoio do governo dentro do Congresso hoje, simplesmente, desapareceu e ninguém
no Palácio do Planalto tem a menor ideia sobre quantos votos poderá ter nessa
batalha política.
Assim,
o governo apresentou como saída central para a barafunda administrativa em que
se meteu a aprovação de um imposto impopular e altamente rechaçado por quem
precisaria apoiá-lo. E, sem o dinheiro
da CPMF, o governo coloca em risco sua própria continuidade. Não existe um plano B. O governo precisa
desesperadamente fazer caixa para tapar seus rombos. Simples assim. Só que,
se a proposta for derrotada nesse movimento – algo imensamente provável nas
atuais condições políticas –, a sinalização que o governo passará é a de
fracasso na tentativa de obter uma saída para a crise.
Fonte: O Estado de S. Paulo –
Política – Terça-feira,
15 de setembro de 2015 – Pg. A4 – Internet: clique aqui.
Mais cobrança para você
Celso Ming
O governo empurrou para o Congresso a maior parte das
decisões
impopulares para consertar os estragos que ele próprio
produziu
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CELSO MING |
Alguma
ficha deve ter caído. A presidente Dilma
parece convencida agora de que tem de governar e, neste momento, governar
significa trabalhar com o orçamento equilibrado. Se vai conseguir, são
outros quinhentos.
Falta
muito para saber se as novas propostas são suficientes para garantir a
sustentabilidade da dívida bruta e as bases para a retomada do crescimento
econômico e do emprego. A redução das
despesas depende demais de decisões do Congresso e de dobrar os servidores
públicos para aceitar o congelamento dos salários. Depende também de que a
base do governo aceite a redução de despesas sociais, especialmente do Programa Minha Casa, Minha Vida.
O aumento da arrecadação
está fortemente dependente da volta da Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira (CPMF), várias vezes rejeitada pelo Congresso. Dessa teta se espera,
em 2016, uma receita de R$ 32 bilhões, maior que o rombo fiscal da proposta
orçamentária, de R$ 30,5 bilhões.
Na
prática, o governo empurrou para o Congresso a maior parte da responsabilidade
pela tomada de decisões impopulares, cujo objetivo é consertar os estragos que
ele próprio produziu.
A volta da CPMF vem com nova
destinação.
Não é mais para a Saúde, o discurso enganador de antes. É para ajudar a cobrir o déficit da Previdência Social e, de
quebra, não ter de repartir a arrecadação com Estados e municípios.
A alegação de que se trata
de um tributo provisório beira o cinismo. Essa lorota é conhecida. Também a velha CPMF
chegou como provisória, até no nome (que é o P da sigla), mas foi ficando. O
ministro Joaquim Levy disse na entrevista em que apresentou o novo pacote que a
intenção da equipe econômica é que de dure quatro anos, quando o governo já
será outro e os ministros, também.
Se vem para cobrir o rombo
da Previdência, já se vê que tende a continuar em vigor enquanto houver rombo. Para que o rombo não
exista, será necessária profunda reforma do sistema a que o governo se negou
até agora, sob o argumento de que não há déficit da Previdência, “essa invenção
dos neoliberais”.
A alíquota dessa nova CPMF é
0,20% sobre cada operação bancária. O ministro Levy tentou vender essa facada com o
argumento de que é indolor, que implica desconto de “tão somente” 2 milésimos
em cada compra, como se 2 milésimos fossem uma insignificância. Vale lembrar que a CPMF também foi criada
em 1996, com uma alíquota de 0,20%, que depois foi puxada para 0,38%.
Nenhuma
observação dos ministros sobre o maior
defeito desse tributo, que é:
- o caráter cumulativo (efeito cascata),
- que onera todo o sistema produtivo,
- tira a competitividade do produto brasileiro e, por isso,
- é vedado pela Constituição.
O
governo desistiu, também, de aumentar, como antes pretendia, a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio
Econômico (Cide), que incidiria sobre os combustíveis, provavelmente porque
não quis jogar ainda mais gasolina no fogaréu da inflação. Com isso, não ajuda
a recuperar o setor do etanol, dizimado no primeiro quadriênio Dilma.
Falta
saber se o corte pretendido das despesas é suficiente para resgatar a confiança
perdida após tantas estripulias na condução da política econômica. Em todo o
caso, parece finalmente caído o tabu de que não podem ser cortadas despesas
sociais. Mas pode ser pouco.
CONFIRA
As projeções do mercado
levantadas pelo Banco Central indicam um pessimismo crescente na definição dos
principais indicadores econômicos deste ano. Aí estão as previsões para o PIB e para a
inflação.
Expectativas
Esse
maior pessimismo indica que o Banco Central não está conseguindo administrar as
expectativas, uma das exigências do sistema de metas de inflação. Os “fazedores de preços” não estão se
deixando convencer de que o Banco Central vai obter a convergência da inflação
para o centro da meta no final de 2016.
[Opinião
pessoal: mesmo porque, não é aumentando os juros, através do reajuste
para cima da taxa Selic, que o Banco Central conseguirá combater a inflação.
Isso só está aumentando a
dívida pública e dificultando o investimento!]
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