«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Papa: indulgências no Jubileu Extraordinário da Misericórdia

Reflexões sobre uma jogada dupla e ousada do 
“Papa da Misericórdia”

John L. Allen Jr.
Crux
01-09-2015

Papa Francisco executou uma dupla e ousada jogada pastoral nessa terça-feira (1º de setembro), estendendo a mão a dois grupos há muito tempo afastados das estruturas oficiais da Igreja Católica.


Um dia depois de gravar uma sessão de vídeo com três comunidades dos Estados Unidos programada para ir ao ar na sexta-feira (4 de setembro), descrita por aqueles que já o assistiram como uma “produção caseira”, o Papa Francisco executou uma dupla e ousada jogada pastoral nessa terça-feira (1º de setembro), estendendo a mão a dois grupos há muito tempo afastados das estruturas oficiais da Igreja Católica.

Em uma concessão que se aplica a um “Ano da Misericórdia” especial, que durará do dia 8 dezembro de 2015 ao dia 20 de novembro de 2016, Francisco decretou que qualquer sacerdote católico, sem a necessidade de autorização especial de um bispo, pode conceder o perdão a alguém que “procure” realizar um aborto.

Embora a referência em uma carta papal emitida nesta terça-feira dirija-se principalmente às mulheres que se submeteram a abortos, a decisão pode ser interpretada para se aplicar igualmente a outras partes, como os médicos que realizam abortos e qualquer outra pessoa envolvida.

O pontífice também decidiu que qualquer católico que confessar os pecados durante o ano jubilar a um sacerdote da Fraternidade Sacerdotal São Pio X – grupo separatista tradicionalista não aprovado por Roma – será, não obstante, considerado licitamente perdoado.

Francisco expressou esperança nesta terça-feira que a ruptura com esta Fraternidade Sacerdotal possa ser superada “em um futuro próximo”, expressando a sua abertura a uma reconciliação mais ampla.

À primeira vista, esta jogada dupla do pontífice sugere quatro reflexões.

Em primeiro lugar, é importante notar que tais decisões não representam nenhuma mudança no ensino católico oficial. Tanto o aborto quanto o desafio à autoridade papal ainda são considerados pecados graves, provocando o que o Direito Canônico – que é o compêndio das leis da Igreja – descreve como excomunhão latae sententiae, que significa “automático”, no caso: excomunhão automática.

Com efeito, o que Francisco fez, em vez de alterar a doutrina, foi estender o âmbito da misericórdia para qualquer um que buscar o perdão com aquilo que ele descreve como um “coração contrito”.

Em segundo lugar, fazer estes dois movimentos num mesmo momento poderá ser visto como mais um esforço do papa no sentido de um equilíbrio político, o que lembra a sua decisão, em abril de 2014, de beatificar os falecidos papas João XXIII e João Paulo II em conjunto, pontífices ícones da esquerda e da direita católicas, respectivamente.

Provavelmente, a concessão quanto ao aborto será bem recebida por muitos católicos progressistas que há tempos pediam por uma maior compaixão para com as mulheres envolvidas nestes casos, enquanto os conservadores podem se alegrar com a abertura à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, pois eles compartilham algumas das preocupações do grupo concernentes às reformas progressistas adotadas no Concílio Vaticano II (1962-1965).

Se o que o Papa Francisco quer é um equilíbrio, ele poderá, no entanto, obtê-lo sob a forma de uma resposta negativa de ambos os lados.

Alguns ativistas contrários ao aborto podem se estremecer com a notícia, o que poderia ser visto como uma redução do nível de seriedade moral que a Igreja atribui ao ato. (Por outro lado, alguns podem se alegrar pela lembrança de que o aborto provoca a excomunhão.)

Enquanto isso, outras vozes há muito vêm se opondo à aproximação do Vaticano para com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, queixando-se do histórico turbulento do grupo no que diz respeito ao antissemitismo e às suas atitudes, em geral, de desaprovação em questões tais como as do diálogo inter-religioso e liberdade religiosa.

Reações desse tipo podem começar a surgir, posto que Francisco até o momento não tem sido visto como um grande amigo dos tradicionalistas. Alguns poderão se preocupar que tal concessão é um sinal de mudança de rota, talvez especialmente em conjunto com a recente visita de Francisco ao altar de Pio X, na Basílica de São Pedro, e a sua confissão de ser um “devoto” do falecido pontífice.

Em terceiro lugar, os especialistas poderão precisar de um dia inteiro para avaliar o significado exato de tais movimentos.

Sobre o aborto, tem havido um longo debate entre os canonistas a respeito do que exatamente significa “procurar” [realizar] um aborto. Por exemplo: será que “procurar” se aplica igualmente a um namorado que paga pelo procedimento ou um pai que o permite quando se trata de uma menor de idade?

O Direito Canônico diz que os cúmplices de um crime grave estão sujeitos à mesma pena, o que tem levantado questões espinhosas sobre se os legisladores que apoiam o direito ao aborto, por exemplo, devem ser considerados excomungados.

O que a carta de Francisco busca com certeza não é tentar resolver essas questões. No entanto, ela as trouxe de volta à cena.

Quanto à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, as coisas parecem ainda mais sombrias.

No passado, o Vaticano disse que nem todo mundo que frequenta ocasionalmente uma das missas da Fraternidade encontra-se, necessariamente, em cisma, mas que o grupo promove uma “mentalidade cismática” que pode se empedernir ao longo do tempo.

Roma também já decidiu que os padres da Fraternidade foram validamente ordenados, mas são considerados suspensos porque as suas ordenações aconteceram sem a autorização papal adequada.

Consequentemente, eles não estão tecnicamente autorizados a realizar quaisquer ministérios, incluindo o sacramento da Confissão.

Francisco, no entanto, parece os ter autorizado a fazerem exatamente isso durante o ano jubilar, o que pode levar alguns a se perguntar se ele não teria “suspendido” efetivamente as proibições do grupo.

O Pe. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse a jornalistas na terça-feira que Francisco “não está fazendo um apelo por anistia jurídica”, o que aparentemente quer dizer que o seu movimento não aborda o status da Fraternidade diante do Direito Canônico.

Alguns poderão ter dificuldades para entender por que isso é importante, dado que a estimativa é de que a Fraternidade São Pio X não chegue a um milhão de seguidores no mundo todo, cifra que representa cerca de um décimo do 1% da população católica total.

No entanto, o movimento “lefebvrista”, assim chamado por causa do falecido arcebispo francês Marcel Lefevbre que o fundou, é considerado como o único cisma formal após o Vaticano II. O problema envolvendo os cismas faz parte do DNA do Vaticano, uma vez que eles vêm sendo profundamente desestabilizadores, dividindo a Igreja e custando ao catolicismo regiões inteiras do mundo.

Todos os papas, desde o Vaticano II, tiveram como prioridade acabar com os cismas. Nesse sentido, esta abertura de Francisco marca simplesmente mais um movimento numa longa história.

Em quarto lugar, dado o reconhecimento do Papa Francisco como o “Papa da Misericórdia”, nada disso deveria ser surpresa.

Francisco fez da misericórdia algo central em sua pauta. Numa coletiva de imprensa, durante o voo que o trouxe do Brasil a Roma em julho de 2013, disse: “Penso que este tempo seja um kairós de misericórdia”, empregando um termo grego tirado do Novo Testamento que significa um momento privilegiado no plano divino de salvação.

A mesma ênfase é encontrada no lema de Francisco, Miserando atque eligendo, o que podemos traduzir como “escolhendo através dos olhos da misericórdia”. Foi em sua primeira homilia dominical como papa onde ele afirmou: “Para mim, a mensagem mais forte do Senhor é a misericórdia”.

Nesse sentido, o novo decreto de Francisco está coerente com o tom que ele definiu desde o início.

Independentemente do que se possa fazer com o conteúdo das decisões, qualquer um que conheça a psicologia e a cultura da Igreja irá reconhecê-las como algo mais do que meramente cosmético.

O resultado provavelmente será que a conversa do Papa Francisco sobre a misericórdia não é apenas retórica. Pelo menos por um ano, ela será traduzida em política para abordar dois dos desafios mais sensíveis e polarizantes que todo papa moderno enfrenta.

Traduzido do inglês por Isaque Gomes Correa. Para acessar a versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 2 de setembro de 2015 – Internet: clique aqui.

CARTA DO PAPA FRANCISCO COM A QUAL SE CONCEDE A INDULGÊNCIA
POR OCASIÃO DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA



Ao Venerado Irmão
D. Rino Fisichella
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização

A proximidade do Jubileu Extraordinário da Misericórdia permite-me focar alguns pontos sobre os quais considero importante intervir para consentir que a celebração do Ano Santo seja para todos os crentes um verdadeiro momento de encontro com a misericórdia de Deus. Com efeito, desejo que o Jubileu seja uma experiência viva da proximidade do Pai, como se quiséssemos sentir pessoalmente a sua ternura, para que a fé de cada crente se revigore e assim o testemunho se torne cada vez mais eficaz.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, a todos os fiéis que em cada Diocese, ou como peregrinos em Roma, viverem a graça do Jubileu. Espero que a indulgência jubilar chegue a cada um como uma experiência genuína da misericórdia de Deus, a qual vai ao encontro de todos com o rosto do Pai que acolhe e perdoa, esquecendo completamente o pecado cometido. Para viver e obter a indulgência os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, aberta em cada Catedral ou nas igrejas estabelecidas pelo Bispo diocesano, e nas quatro Basílicas Papais em Roma, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão. Estabeleço igualmente que se possa obter a indulgência nos Santuários onde se abrir a Porta da Misericórdia e nas igrejas que tradicionalmente são identificadas como Jubilares. É importante que este momento esteja unido, em primeiro lugar, ao Sacramento da Reconciliação e à celebração da santa Eucaristia com uma reflexão sobre a misericórdia. Será necessário acompanhar estas celebrações com a profissão de fé e com a oração por mim e pelas intenções que trago no coração para o bem da Igreja e do mundo inteiro.

Penso também em quantos, por diversos motivos, estiverem impossibilitados de ir até à Porta Santa, sobretudo os doentes e as pessoas idosas e sós, que muitas vezes se encontram em condições de não poder sair de casa. Para eles será de grande ajuda viver a enfermidade e o sofrimento como experiência de proximidade ao Senhor que no mistério da sua paixão, morte e ressurreição indica a via mestra para dar sentido à dor e à solidão. Viver com fé e esperança jubilosa este momento de provação, recebendo a comunhão ou participando na santa Missa e na oração comunitária, inclusive através dos vários meios de comunicação, será para eles o modo de obter a indulgência jubilar.

O meu pensamento dirige-se também aos encarcerados, que experimentam a limitação da sua liberdade. O Jubileu constituiu sempre a oportunidade de uma grande anistia, destinada a envolver muitas pessoas que, mesmo merecedoras de punição, todavia tomaram consciência da injustiça perpetrada e desejam sinceramente inserir-se de novo na sociedade, oferecendo o seu contributo honesto. A todos eles chegue concretamente a misericórdia do Pai que quer estar próximo de quem mais necessita do seu perdão. Nas capelas dos cárceres poderão obter a indulgência, e todas as vezes que passarem pela porta da sua cela, dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, que este gesto signifique para eles a passagem pela Porta Santa, porque a misericórdia de Deus, capaz de mudar os corações, consegue também transformar as grades em experiência de liberdade.

Eu pedi que a Igreja redescubra neste tempo jubilar a riqueza contida nas obras de misericórdia corporais e espirituais. De fato, a experiência da misericórdia torna-se visível no testemunho de sinais concretos como o próprio Jesus nos ensinou. Todas as vezes que um fiel viver uma ou mais destas obras pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar. Daqui o compromisso a viver de misericórdia para alcançar a graça do perdão completo e exaustivo pela força do amor do Pai que não exclui ninguém. Portanto, tratar-se-á de uma indulgência jubilar plena, fruto do próprio evento que é celebrado e vivido com fé, esperança e caridade.

Enfim, a indulgência jubilar pode ser obtida também para quantos faleceram. A eles estamos unidos pelo testemunho de fé e caridade que nos deixaram. Assim como os recordamos na celebração eucarística, também podemos, no grande mistério da comunhão dos Santos, rezar por eles, para que o rosto misericordioso do Pai os liberte de qualquer resíduo de culpa e possa abraçá-los na beatitude sem fim.

Um dos graves problemas do nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida. Uma mentalidade muito difundida já fez perder a necessária sensibilidade pessoal e social pelo acolhimento de uma nova vida. O drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do gravíssimo mal que um gesto semelhante comporta. Muitos outros, ao contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que não têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que as levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por esta escolha sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente injusto; contudo, só a sua verdadeira compreensão pode impedir que se perca a esperança. O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai. Também por este motivo, não obstante qualquer disposição em contrário, decidi conceder a todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se preparem para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento genuíno com uma reflexão que ajude a compreender o pecado cometido, e indicar um percurso de conversão autêntica para conseguir entender o verdadeiro e generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença.

Uma última consideração é dirigida aos fiéis que por diversos motivos sentem o desejo de frequentar as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade São Pio X. Este Ano Jubilar da Misericórdia não exclui ninguém. De diversas partes, alguns irmãos Bispos referiram-me acerca da sua boa fé e prática sacramental, porém unida à dificuldade de viver uma condição pastoralmente árdua. Confio que no futuro próximo se possam encontrar soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da Fraternidade. Entretanto, movido pela exigência de corresponder ao bem destes fiéis, estabeleço por minha própria vontade que quantos, durante o Ano Santo da Misericórdia, se aproximarem para celebrar o Sacramento da Reconciliação junto dos sacerdotes da Fraternidade São Pio X, recebam validamente e licitamente a absolvição dos seus pecados.

Confiando na intercessão da Mãe da Misericórdia, recomendo à sua proteção a preparação deste Jubileu Extraordinário.

Vaticano, 1 de Setembro de 2015

Franciscus

Fonte: A Santa Sé – Francisco – Cartas – 2015 – Internet: clique aqui.

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