«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 26 de setembro de 2015

Um Papa que "agita consciências" e "chacoalha nossas complacências"

A autoridade de Francisco

Editorial

Numa época em que as atuações políticas são sempre precedidas por muitos cálculos frios e impiedosos, um homem tem mostrado ao mundo outro modo de proceder. Com sua simplicidade e sinceridade, o papa Francisco vem conseguindo abrir portas que há muito estavam fechadas. Sua viagem a Cuba e aos Estados Unidos – meses após o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, no qual o papa já havia desempenhado papel fundamental – evidencia mais uma vez a força de sua autoridade moral.
PAPA FRANCISCO
Discursa na Assembleia-Geral das Nações Unidas
Nova York, 25 de setembro de 2015

Certamente, suas palavras não agradam a todos. Ao contrário, não é fácil de encontrar quem concorde com o papa em todos os pontos que ele vem abordando em seus discursos. Mas talvez aí – na sua incontida sinceridade – esteja a força de suas palavras. Seus discursos não buscam uma artificial sintonia com os valores vigentes no momento. Francisco simplesmente fala aquilo que pensa – e pensa naquilo em que acredita.

Ao receber o papa na Casa Branca, o presidente Barack Obama reconheceu explicitamente a autoridade moral do pontífice e suas virtudes de humildade, simplicidade, gentileza e generosidade. “Em suas gentis, mas firmes recordações de nossas obrigações com Deus e uns com os outros, o senhor está nos chacoalhando em nossa complacência”, afirmou Obama. De fato, o papa agita consciências por onde passa.

Em Cuba, Francisco deu um claro recado ao regime castrista. “Serviço nunca é ideológico. Não servimos a ideias, servimos a pessoas”, afirmou durante uma celebração em Havana. Também expôs que tipo de mundo sonha deixar para as próximas gerações. “Discute-se muito hoje sobre o futuro, sobre o tipo de mundo que queremos deixar aos nossos filhos, que sociedade queremos para eles. Creio que uma das respostas possíveis (...) é: deixemos um mundo com famílias.”

No Congresso dos EUA, onde pela primeira vez na história um papa fez um discurso, Francisco criticou a pena de morte e as leis permissivas ao aborto. Comentou a responsabilidade de “proteger e defender a vida humana em todas as fases do seu desenvolvimento. Esta convicção levou-me, desde o início do meu ministério, a sustentar em vários níveis a abolição global da pena de morte”. Francisco também criticou a venda de armas, outro tema que divide a opinião pública americana.

Na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, o pontífice falou da necessidade de os organismos financeiros internacionais zelarem pelo desenvolvimento sustentável, bem como da importância de uma contínua melhoria no funcionamento da própria ONU, para “conceder a todos os países, sem exceção, uma participação e uma incidência nas decisões”.

O papa conclamou os líderes mundiais a adotarem medidas efetivas contra a degradação ambiental. Em Washington, ao referir-se às mudanças climáticas, já havia dito: “Parece evidente que é um problema que não pode ser deixado para a próxima geração”. Mostrava assim, mais uma vez, que não faz concessões, dizendo o que sua audiência quer ouvir. Assim, não teve medo de desagradar a grande parte dos seus ouvintes americanos que nem sequer reconhecem a existência de qualquer problema nesse campo.

O papa parece consciente da sua tarefa. “É meu dever construir pontes e ajudar, por todos os modos possíveis, cada homem e cada mulher a fazerem o mesmo.” No entanto, pela abertura com que fala de temas polêmicos, o papa deixa claro que não vê a construção dessas pontes como fruto da indiferença ou do relativismo. A sua promoção da paz vai por outros caminhos.

Aos deputados e senadores americanos, o papa propôs uma nova visão da política, mais voltada para o serviço que para o poder. “Um bom líder político sempre opta por iniciar processos mais do que por ocupar espaços.” É o que parece fazer o próprio pontífice, com resultados muito concretos e muito bons.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Sábado, 26 de setembro de 2015 – Pg. A3 – Internet: clique aqui.

Pensamentos sobre o Papa Francisco e seu
"Quarteto Fantástico" americano

John L. Allen Jr.
Crux
24-09-2015 
Papa Francisco citou quatro americanos em seu discurso ao Congresso.
No sentido horário do superior esquerdo:
Presidente Abraham Lincoln; o líder dos direitos civis Martin Luther King Jr.;
o monge trapista e escritor Thomas Merton; e a ativista social Dorothy Day.

Segundo uma estimativa, houve cerca de 1,8 bilhão de cidadãos norte-americanos desde a fundação da República, em 1776. Escolher apenas quatro grandes de todos os tempos, assim, é bastante audacioso, mas isso não impediu que o Papa Francisco o fizesse nesta quinta-feira no seu discurso profundamente aguardado ao Congresso dos Estados Unidos da América (EUA).

No discurso, Francisco elevou quatro norte-americanos a uma menção especial. Eles incluíram dois não católicos, Abraham Lincoln e Martin Luther King Jr., e dois católicos, Dorothy Day e Thomas Merton. Em cada caso, o pontífice notou que 2015 marca um aniversário – 150 anos desde o assassinato de Lincoln, por exemplo, e 100 anos desde o nascimento de Merton.

Vamos chamá-los de o "Quarteto Fantástico" do papa.

Nesse espírito, aqui estão quatro considerações rápidas sobre quem são esses quatro norte-americanos que Francisco escolheu. Vamos nos concentrar principalmente em Day e em Merton, já que Lincoln e M. L. K. são seleções razoavelmente naturais sobre os quais qualquer não americano provavelmente está consciente.

1. POBREZA E GUERRA

A ênfase em Day e em Merton confirma que, na galáxia das questões de interesse desse papa – mudanças climáticas, tráfico de seres humanos, imigração e crise dos refugiados na Europa, família e assim por diante –, a pobreza e a guerra têm um lugar de destaque.

Tanto Day quanto Merton foram figuras complexas que abraçaram uma grande variedade de preocupações, mas, no imaginário católico norte-americano, cada um está associado, sobretudo, a uma única causa determinante.

Para Day, era a dignidade dos pobres, expressada de forma mais famosa na fundação do Catholic Worker Movement [Movimento Operário Católico], junto com Peter Maurin. Para Merton, era a paz, com as suas cartas e diários que narravam a sua profunda preocupação com a violência, incluindo a Guerra do Vietnã e a proliferação de armas nucleares.

No seu discurso ao Congresso, Francisco identificou Day com a paixão pelos pobres e Merton, com o diálogo e a paz.

Ao destacar esses norte-americanos, Francisco estava chamando os Estados Unidos e, especialmente, os seus líderes eleitos, a redescobrirem os seus legados e a agir como eles. Além de qualquer outra coisa, isso implica um compromisso mais profundo com a defesa dos pobres e a promoção da paz.

2. INSTINTOS POLÍTICOS

As escolhas não mostram apenas que Francisco fez o seu dever de casa sobre os Estados Unidos, mas também refletem os seus experientes instintos políticos em ação.

No período que antecedeu a sua visita aos Estados Unidos, houve muita conversa sobre se Francisco é ou não, em certo sentido, "antiamericano", ou se a sua visão é incompatível com os valores norte-americanos.

O colunista George Will concluiu recentemente uma coluna detonando Francisco pelas suas posições econômicas e ambientais com a frase: "Os norte-americanos não podem, simultaneamente, honrá-lo e celebrar as premissas da sua nação".

É fácil entender de onde essas percepções vêm – a crítica ocasionalmente afiada do pontífice aos excessos do capitalismo, as suas afirmações ácidas contra o "consumismo extremo e seletivo", o fato de ele nunca ter posto os pés no país antes e a sua óbvia preferência pelas periferias do mundo sobre os seus supostos centros.

Nessa manhã, Francisco respondeu indiretamente à pergunta sobre se ele é antiamericano, dizendo, em essência: "Bem, se eu o sou, então estes quatro heróis norte-americanos também o são".

Na verdade, a crítica de Francisco ao capitalismo e ao consumismo podem parecer terrivelmente leves em comparação com a maior parte dos textos de Day sobre o assunto. Merton tinha a mesma paixão profunda pelas periferias como Francisco, expressada tanto na sua vida quanto na sua visão de mundo.

Poderíamos fazer pontos semelhantes sobre Lincoln e King, já que ambos compartilhavam a mesma vontade de desafiar práticas e atitudes norte-americanas entrincheiradas em nome das suas convicções morais.

A decisão de destacar essas figuras provavelmente deve ser tomada em conjunto com a repetida ênfase de Francisco de que ele vem como um companheiro "americano", no sentido do único continente chamado "América", e também da sua afirmação de que ele pode se conectar com a experiência desse país porque ele também é filho de imigrantes.

Em geral, existem duas formas para criticar qualquer coisa, quer se trate de um país, de uma Igreja ou de qualquer outra coisa. Uma forma de fazer isso é como alguém de fora, expressando hostilidade ou desdém; a outra é como alguém de dentro, incitando uma cultura ou uma instituição que se admira e se respeita a perceber a melhor versão de si mesma.

Francisco, nesta manhã, parecia estar tentando dizer que, na medida em que ele tem críticas para oferecer aos Estados Unidos, elas são do segundo tipo.

3. OUTRA SANTA?

O discurso desta manhã, provavelmente, foi uma boa notícia para a causa de canonização de Dorothy Day.

O falecido cardeal John O'Connor, de Nova York, abriu a causa no ano 2000 e recebeu o apoio unânime dos bispos dos EUA em 2012. O cardeal Timothy Dolan manifestou seu total apoio, e, recentemente, a Arquidiocese de Nova York contratou um "coordenador diocesano" para preparar os materiais que devem ser submetidos a Roma.

Atualmente, o movimento Catholic Worker está ajudando esse coordenador na tentativa de identificar testemunhas que conheceram Day, que morreu em 1980.

Embora não haja nenhuma indicação de que Francisco planeja apressar a causa, certamente não é exagero dizer que ele usou o primeiro discurso de todos os tempos de um papa ao Congresso dos EUA para lhe dar um incentivo.

Talvez Thomas Merton poderia ser o próximo?

4. APRENDENDO SOBRE OS EUA

Essas quatro escolhas mostram um papa que está tentando aprender com os Estados Unidos, e não simplesmente pregar a ele.

Ao longo desta viagem, Francisco tentou exibir uma familiaridade com os padrões da cultura e do pensamento norte-americano. Até mesmo as referências geográficas do seu discurso aos bispos dos EUA na quarta-feira – "Das suas grandes metrópoles da costa oriental às planícies do meio-oeste, do sul profundo ao infindável oeste" – ressoaram com a forma como os próprios norte-americanos pensam sobre o formato da sua terra.

Da mesma forma, a sua citação de Edgar Lee Mestres no mesmo discurso foi uma forma de ir ao encontro. É óbvio, alguém provavelmente sinalizou essa citação para ele, mas o fato de que ele a manteve no discurso diz algo.

Francisco poderia ter dirigido o olhar do Congresso para grandes figuras da sua própria experiência cultural, como Simón Bolívar ou quaisquer outros papas. Ao contrário, ele escolheu norte-americanos, uma maneira de dizer que ele se dá conta de que não só tem algo a ensinar aos Estados Unidos, mas também que ele e o resto do mundo também podem aprender com o país.

Se os membros do Congresso apreciaram tudo isso enquanto o papa estava falando ainda é uma incógnita. Baseados na experiência, no entanto, deve-se tornar cada vez mais claro que esse "Quarteto Fantástico" realmente diz muito sobre esse pontífice fraternalmente "norte-americano".

Traduzido do inglês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 25 de setembro de 2015 – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.