«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

"O papa fascinou os Estados Unidos."

Entrevista com Massimo Faggioli
Historiador do cristianismo da St. Thomas University (EUA)

Pierluigi Mele
Rai News
(Itália)
28-09-2015

A viagem aos Estados Unidos vai marcar o pontificado do 
Papa Francisco.
Quais serão as consequências imediatas para a Igreja Católica?
Multidões acolheram com entusiasmo e alegria o Papa Francisco nesta viagem aos Estados Unidos

Professor, chegamos à fase final da viagem apostólica do Papa Francisco a Cuba e aos EUA. Uma viagem que marca o pontificado de Bergoglio: a confirmação disso veio com o seu discurso na ONU, a sua liderança espiritual e "política" em nível mundial. É assim?

Massimo Faggioli: O Papa Francisco se confirmou na sua identidade teológica, espiritual e também política na viagem aos EUA, que foi a mais difícil pela distância entre a sua cultura de referência e os extremos das culturas políticas e religiosas norte-americanas. O papa é hoje a autoridade mundial sobre pobreza, justiça social e ambiente. Mas outra coisa é transformar essa autoridade em uma mudança de direção das políticas sobre questões concretas.

A viagem aos EUA, que parecia mais "complicada", foi um sucesso. Qual foi a "chave" desse sucesso?

Massimo Faggioli: A chave está no estilo simples e pastoral que o caracteriza também em Roma; uma preparação cuidadosa da viagem e dos discursos; a escolha de se encontrar com a Igreja norte-americana "onde ela está", sem pretender que seja como a italiana ou a sul-americana; ao mesmo tempo, a escolha de uma mensagem que é diferente da retórica combativa e reivindicativa dos bispos norte-americanos, especialmente sobre as questões sensíveis do casamento, da família e da homossexualidade.

O ciclone Bergoglio investiu sobre a Igreja norte-americana, uma Igreja dividida. Ele vai mudar a vida da Igreja norte-americana?

Massimo Faggioli: Veremos em breve por parte dos bispos: dos norte-americanos que estarão no Sínodo, que se abre na próxima semana, e da próxima assembleia da Conferência Episcopal Norte-Americana. Será preciso esperar. O que é certo é que os opositores de Francisco parecem ser um grupo mais abatido e isolado hoje. Aquela grande parte dos bispos norte-americanos que aprecia Francisco virá à tona.

O discurso no Congresso dos EUA foi uma obra-prima política. Como ele foi vivido pela política dos EUA? Terá uma influência na campanha presidencial?

Massimo Faggioli: Eu acho que não: a política norte-americana vive hoje em uma bolha separada, também por causa dos sistemas de financiamento e de corrupção legal. Além disso ambos os partidos hoje estão divididos no seu interior, especialmente o partido mais religioso, o Republicano. Mas o discurso do papa no Congresso lembrou aos católicos e especialmente aos políticos católicos uma série de questões – não apenas as de moral sexual – que estão na base do ensinamento moral e social da Igreja.
 
Massimo Faggioli
Historiador do Cristianismo
St. Thomas University - Estados Unidos
Como a minoria "hispânica" viveu a visita do papa?

Massimo Faggioli: Como uma bênção e uma confirmação no seu papel: é uma minoria forte que em breve se tornará maioria, mas que ainda é invisível em grande parte dos ambientes que importam da Igreja Católica norte-americana.

Qual é a mensagem que vai aos europeus a partir dessa viagem?

Massimo Faggioli: Que a Igreja global também significa uma Igreja pós-europeia e pós-norte-americana. Nisso, a Europa e a América do Norte estão em duas situações semelhantes (mesmo que a Europa esteja mais secularizada). Trata-se de reconhecer que não existe mais um monopólio cultural sobre o catolicismo global por parte de uma cultura só.

Última pergunta: o outro desafio de Bergoglio será o Sínodo... A linha de Bergoglio vai vencer?

Massimo Faggioli: Na visita aos EUA, o papa deixou clara a sua abordagem não ideológica às questões do Sínodo. Resta ver todo o resto. Acredito que o Sínodo será uma etapa importante durante um processo que não vai terminar no dia 25 de outubro.

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. Para acessar a versão original desta entrevista, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 29 de setembro de 2015 – Internet: clique aqui.


Um discurso e uma visita históricos:
Papa Francisco na sede da ONU, Nova York
Ele uniu meio ambiente com exclusão social

Victoria Ginzberg
Página/12
(Argentina)
26-09-2015

O discurso fez referências à agenda sobre o desenvolvimento sustentável e a futura cúpula do clima que se realizará em Paris. Bergoglio vinculou os problemas do ambiente aos da pobreza, da exclusão e da exploração econômica. 
PAPA FRANCISCO
Acompanhado do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon adentra à sede das Nações Unidas
e é acolhido com entusiasmo pelos funcionários
Sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Papa Francisco entrou no recinto da Assembleia Geral das Nações Unidas pouco antes das dez da manhã. Caminhou devagar pelo corredor enquanto representantes de todo o mundo o aplaudiam de pé. Os eixos do seu discurso foram os problemas ambientais e a exclusão social. Mas não como dois temas separados, mas interligados. Também vinculado a ambos os assuntos, Jorge Mario Bergoglio assegurou que os organismos financeiros devem “velar pelo desenvolvimento sustentável e pela não submissão asfixiante aos sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza e dependência”. Os primeiros aplausos vieram quando mencionou que todos os países devem ter a mesma participação no Conselho de Segurança da ONU e nas instituições econômicas internacionais.

Foi um dia atípico na Organização das Nações Unidas (ONU). Era o início da Assembleia Geral e também da Cúpula sobre o Desenvolvimento Sustentável. O organismo, suas autoridades e trabalhadores estão acostumados com as medidas de segurança e os visitantes importantes, já que todos os setembros se reúnem aqui dezenas de chefes de Estado. Esta oportunidade, no entanto, foi especial. Quando ainda era noite e os outdoors da Times Square brilhavam, inclusive um gigante com a figura de Francisco, com o qual o governo da cidade de Nova York lhe deu as boas-vindas, já havia gente esperando para entrar na sede do organismo internacional.

Antes de falar na Assembleia, o Papa teve outras atividades no edifício situado entre a Primeira Avenida e o East River: reuniu-se com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon e com outras autoridades e funcionários e depois falou para alguns trabalhadores do lugar. Os que puderam participar deste último evento foram escolhidos por sorteio. Da mesma forma foram escolhidos aqueles que puderam ver o Papa na procissão no Central Park, na missa no Madison Square Garden ou no percurso da quinta-feira pela Quinta Avenida.

O Papa falou aos funcionários da ONU em inglês: “Vocês são trabalhadores especialistas, funcionários, secretárias, intérpretes, cozinheiros, funcionários da manutenção, pessoal de segurança. Estejam tranquilos que seu trabalho contribui para a manutenção da ONU”. Destacou que vinham de diferentes partes do mundo e pediu “que se respeitem mutuamente, que se preocupem uns pelos outros, que estejam próximos”. Finalmente, pediu “que mandem saudações aos seus familiares e aos colegas que não puderam estar conosco por causa do sorteio”. Dentro do edifício, Francisco fez alguns trajetos em um carrinho tipo golfe e foi aplaudido nos corredores. Quando entrou no salão da Assembleia, também foram ouvidos gritos de apoio.

Bergoglio mencionou que não é o primeiro Papa a falar na ONU, embora Bank Ki-moon tenha dito que nenhum papa tenha participado de uma abertura da Assembleia Geral e lhe agradeceu por “fazer história”. No discurso, fez referências à agenda sobre o desenvolvimento sustentável e a futura cúpula do clima que se realizará em Paris. O tema coincide com a preocupação do Papa, que dedicou sua encíclica Laudato si’ aos problemas do ambiente e os vinculou, por sua vez, aos da pobreza, da exclusão e da exploração econômica. Francisco falou em castelhano e em seguida enviou uma mensagem interna ao organismo internacional sobre a necessidade de que todos os países sejam iguais, inclusive no Conselho de Segurança, onde cinco potências (Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China) têm poder de veto. 
PAPA FRANCISCO
profere um discurso histórico para os chefes de Estado e diplomatas presentes
à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU)

Também falou de equidade em relação ao sistema financeiro e aos organismos de crédito internacional. “A reforma e adaptação dos povos sempre é necessária, para avançar no objetivo último de conceder a todos os países, sem exceção, uma participação real e equitativa nas decisões. É necessária uma maior equidade nos órgãos com efetiva capacidade, como o Conselho de Segurança, os organismos financeiros ou os grupos especialmente criados para enfrentar crises econômicas, para ajudar a mitigar todo tipo de abuso ou usura com os países em desenvolvimento”.

E prosseguiu: “Os organismos financeiros devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países, evitando uma sujeição sufocante desses países a sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência”, disse em uma menção que na Argentina não pode passar despercebida, nem estar desligada do conflito com os fundos abutres, nem do marco regulatório sobre a reestruturação da dívida soberana que foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU há três semanas. O tema, tanto a votação que se fez no organismo internacional por iniciativa da Argentina, como a alusão do Papa, será mencionado seguramente pela presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que chegou sábado a Nova York e que falará na segunda-feira na ONU.

Em outras partes mais políticas do seu discurso, Francisco respaldou o acordo que os Estados Unidos e cinco potências fizeram com o Irã e que foi rechaçado pelos republicanos e o Estado de Israel. “É uma prova das possibilidades da vontade política. Faço votos para que seja duradouro e eficaz”.

Vestido de branco, usando os óculos e sua cruz pendurada no peito, o Papa mencionou que “a promoção da soberania do direito, sabendo que a justiça é um requisito indispensável para se realizar o ideal da fraternidade” e que “nenhum indivíduo ou grupo humano pode se considerar onipotente, autorizado a pisar a dignidade e os direitos dos outros indivíduos ou dos grupos sociais”. Disse que é necessário “consolidar a proteção do meio ambiente e acabar com a exclusão”, que “qualquer dano provocado ao ambiente é um dano causado à humanidade” e que o dano ao ambiente vem acompanhado da exclusão.

“A exclusão econômica e social é uma negação da fraternidade humana e um gravíssimo atentado à dignidade humana e ao ambiente. Os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques por um triplo e grave motivo: são descartados pela sociedade, ao mesmo tempo são obrigados a viver de desperdícios, e devem sofrer injustamente as consequências do abuso do ambiente. Esta é a cultura do descarte”.

Convidou os líderes mundiais a adotar uma agenda para o desenvolvimento sustentável e alcançar resultados sobre a mudança climática. Mas pediu que as ações não sejam apenas declarativas. “O mundo pede vivamente a todos os governantes uma vontade efetiva, prática, constante, feita de passos concretos e medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e superar o mais rapidamente possível o fenômeno da exclusão social e econômica, com suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, tráfico de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade internacional organizada”.

Também fez menções aos temas mais tradicionais da Igreja, como o “direito da família a educar e da Igreja a colaborar com as famílias” e a “liberdade religiosa”. E terminou com uma citação de Martín Fierro: “Os irmãos estejam unidos, porque esta é a primeira lei. Tenham união verdadeira em qualquer tempo que seja, porque se litigam entre si, serão devorados pelos de fora”.

O final foi com aplausos, mas ainda havia uma surpresa: um coro o esperava para cantar Dorme, negrinho, a canção de berço tradicional gravada por Atahualpa Yapanqui e popularizada por Mercedes Sosa. Depois veio Shakira com “Imagine”. Mas o Papa teve que sair, porque tinha uma agenda muito apertada para cumprir.

Traduzido do espanhol por André Langer. Para acessar a versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 29 de setembro de 2015 – Internet: clique aqui.

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