«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Bispos do Estado de São Paulo se posicionam contra "ideologia de gênero" e abusos de símbolos religiosos

Os bispos do Regional Sul 1 (São Paulo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reunidos em Aparecida (SP) para a 78ª Assembleia dos Bispos, divulgaram duas notas.
Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo de São Paulo (SP) e
Presidente do Regional Sul I - CNBB

Segue as notas na íntegra:

MENSAGEM AOS CATÓLICOS E A TODOS OS CIDADÃOS

Nós, Bispos Católicos das Dioceses do Estado de São Paulo, reunidos na 78ª Assembleia do Regional Sul I da CNBB, diante dos acontecimentos da recente “parada gay 2015”, ocorrida na cidade de São Paulo, com claras manifestações de desrespeito à consciência religiosa de nosso povo e ao símbolo maior da fé cristã, Jesus crucificado, em nome da verdade que cremos, vimos através desta, como pastores do Povo de Deus:

  1. Afirmar que a fé cristã e católica, e outras expressões de fé encontram defesa e guarida na Constituição Federal: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias” (artigo 5º, inciso VI).
  2. Lembrar que todo ato de desrespeito a símbolos, orações, pessoas e liturgias das religiões constitui crime previsto no Código Penal: “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso” (Art. 208 do Código Penal).
  3. Apelar aos responsáveis pelo Poder Público, guardiães da Constituição e responsáveis pela ordem social e pelo estado democrático de direito, que defendam o direito agredido.
  4. Expressar nosso repúdio diante dos lamentáveis atos de desrespeito ocorridos; queremos contribuir com o bem-estar da sociedade, pois somos, por força do Evangelho, construtores e promotores da liberdade e da paz.
  5. Manifestar nossa estranheza ao constatar um evento, como citado seja autorizado e patrocinado pelo poder público, e utilizado para promover atos que afrontam claramente o estado de direito que a Constituição garante.
  6. Lembrar a todos as atitudes firmes do Papa Francisco quanto ao respeito pelo ser humano, aos mais pobres, aos mais simples, à religiosidade popular.
  7. Recordar aos católicos que a profanação de símbolos religiosos pede de nós um ato de desagravo e de satisfação religiosa, pela oração e pela penitência, pedindo ao Senhor Deus perdão pelos pecados cometidos e a conversão dos corações.
  8. Reafirmar, iluminados pelo Evangelho e conduzidos pelo Espírito Santo, nosso respeito a todas as pessoas, também a quem pensa diferente de nós. E convidamos os católicos e pessoas de boa vontade a contribuírem, em tudo, para a edificação da justiça e da paz, do respeito a Deus e ao próximo.
Por fim, confirmamos nosso seguimento a Jesus Cristo e damos testemunho da beleza de nossa fé católica, na certeza de que, assim, contribuímos para o bem da sociedade, anunciando o que de melhor recebemos: Jesus Cristo crucificado, “força e sabedoria de Deus” (1Cor 1,23s), fonte de toda misericórdia.

Aparecida, 11 de junho de 2015.
Memória Litúrgica do Apóstolo São Barnabé

Dom Odilo Pedro Scherer
Presidente do Regional Sul I – CNBB

Dom Moacir Silva
Vice-Presidente do Regional Sul I – CNBB

Dom Tarcísio Scaramussa
Secretário do Regional Sul I – CNBB
Dom Luiz Demétrio Valentini - Bispo de Jales (SP)
Preside a Missa de Abertura da 78ª Assembleia dos Bispos do Regional Sul I da CNBB.
Na missa foram homenageados os bispos jubiliares, inclusive
Dom Luiz Demétrio que completou 50 anos de padre e 33 de bispo

NOTA DO REGIONAL SUL 1/CNBB SOBRE
IDEOLOGIA DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO

Aos Srs. Prefeitos, Presidentes e Vereadores dos Municípios,
educadores e pais no Estado de São Paulo;

Nós, Bispos católicos do Estado de São Paulo (Regional Sul 1 da CNBB), no exercício de nossa missão de Pastores, queremos manifestar nosso apreço ao empenho dos Conselhos Municipais de Educação na elaboração dos Planos Municipais de Educação para o próximo decênio, a serem votados nas Câmaras Municipais. Destacamos nesses projetos, além da universalização do ensino, o empenho em colocar, como eixo orientador da educação, a inclusão social, para que uma geração nova de homens e mulheres possa se tornar construtora de uma sociedade onde todas as pessoas, grupos sociais e etnias sejam respeitados e possam participar e se beneficiar da produção dos bens materiais e culturais, numa nação cada vez mais próspera e justa. Consideramos, entretanto, oportuno e necessário esclarecer o que segue, no que se refere à ideologia de gênero, nos Planos Municipais de Educação:

A discussão dos Planos Municipais de Educação, deveria ser orientada pelo Plano Nacional de Educação (PNE), votado no Congresso Nacional e sancionado em 2014 pela Presidente da República, do qual já foram retiradas as expressões da ideologia de gênero.

Os projetos enviados aos Legislativos Municipais incluíram novamente, em suas propostas, a ideologia de gênero, como norteadora da educação, tanto como matéria de ensino, como em outras práticas destinadas a relativizar a natural diferença sexual.

A ideologia de gênero, com que se procura justificar esta “revolução cultural”, pretende que a identidade sexual seja uma construção exclusivamente cultural e subjetiva e que, consequentemente, haja outras formas igualmente legítimas de manifestação da sexualidade, devendo todas integrar o processo educacional com o objetivo de combater a discriminação das pessoas em razão de sua orientação sexual.

A ideologia de gênero subverte o conceito de família, que tem seu fundamento na união estável entre homem e mulher, ensinando que a união homossexual é igualmente núcleo fundante da instituição familiar.

As consequências da introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas contradiz frontalmente a configuração antropológica de família, transmitida há milênios em todas as culturas. Isso submeteria as crianças e jovens a um processo de esvaziamento de valores cultivados na família, fundamento insubstituível para a construção da sociedade.

Diante dessa grave ameaça aos valores da família, esperamos dos governantes do Legislativo e Executivo uma tomada de posição que garanta para as novas gerações uma escola que promova a família, tal como a entendem a Constituição Federal (artigo 226) e a tradição cristã, que moldou a cultura brasileira.

Pedimos ainda que seja cumprido o que dispôs o Conselho Nacional de Educação, através da Câmara de Educação Básica, que, dispõe que o ensino religioso integra a base nacional comum da Educação Básica (na resolução número 4, de 13/07/2010, em seu artigo 14, § 1, letra F).

Seja, pois, incluído nos Planos Municipais de Educação o ensino religioso, em sintonia com a confissão religiosa da família, que tem filhos na escola.

Queremos também solidarizar-nos com todos os que sofrem discriminação na sociedade. Que as escolas ofereçam uma educação que valorize a família e a prática das virtudes, acolhendo bem a todos, seja qual for a orientação sexual.

Deus abençoe a todos que trabalham na educação das crianças, adolescentes e jovens.

Aparecida, 11 de junho de 2015.

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 – CNBB

Dom Moacir Silva
Vice-Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 – CNBB

Dom Tarcísio Scaramussa
Secretário do Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 – CNBB

Fonte: CNBB Regional Sul 1 – 11/06/2015 – Internet: clique aqui.

ANALISANDO A QUESTÃO DE UM OUTRO ÂNGULO...

O gênero, aquele ''monstro terrível''

Véronique Beaulande*
Comité de la Jupe
03-06-2015

Amigos católicos, não tenham medo daquele "monstro terrível chamado gênero": ele simplesmente ajudará a compreender melhor as relações sociais de que todos somos protagonistas e a relativizar muitos julgamentos que, às vezes, sob a aparência de caridade e de "correção fraterna", podem ser realmente destrutivos.
No dia 6 de abril de 2014, transcorreu a votação na comissão especial da Câmara dos Deputados (Brasília),
que analisa o Plano Nacional de Educação (PNE).
Este foi aprovado, mas sem a menção da expressão “Ideologia de Gênero”.
Houve manifestações...

Por duas vezes eu já ouvi falar, na missa, em uma homilia e em uma prece universal, de uma certa "teoria de gênero" difundida nesses últimos tempos na França. Não posso esconder a vocês que, em ambas as ocasiões, eu dei um pulo, certamente de maneira bem pouco discreta, e de novo prometi a mim mesma que iria protestar.

A expressão também tinha sido utilizada, eu soube depois, em algumas respostas ao questionário que precedeu o Sínodo sobre a família; também naquele dia eu havia protestado. Depois de ter protestado inutilmente no vazio, pensei em escrever este texto para pedir a vocês, amigos católicos, que parem de usar essa expressão que – me desculpem – não significa absolutamente nada.

Não existe uma "teoria de gênero", não existe nem mesmo uma "ideologia de gênero", expressão que tende a substituir a primeira na retórica "antigênero" muitas vezes brandida por alguns. Existe um conceito científico, o "gênero" (gender, em inglês).

O gênero não é uma elucubração de militantes que querem destruir a diferença sexual interna à humanidade, como alguns parecem acreditar. O termo "gênero" nasceu no campo das ciências humanas e sociais – sociologia, história, filosofia – em que foi usado, por algumas décadas, para designar o que também é chamado de "sexo social", isto é, o conjunto dos comportamentos característicos de um sexo (homem, mulher) que não são estritamente biológicos. Mais exatamente, o gênero foi definido para pensar as diferenças não biológicas entre o homem e a mulher.

Não me entendam mal: sim, o conceito de gênero foi pensado em um contexto militante, feminista especificamente, depois LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais). Ele permitia (e ainda permite) refletir sobre as relações sociais entre homens e mulheres, acima de tudo, e depois entre maioria heterossexual e minoria LGBT. Isso não impede, por si só, a sua validade científica.

Os historiadores que fazem história das mulheres trabalham sobre o gênero: tentam conhecer quais são os papéis que uma sociedade, em um dado momento, atribui às mulheres. Os sociólogos que estudam os trabalhos domésticos ou a feminilização de uma categoria profissional trabalham sobre o gênero.

O "masculino" é objeto hoje de inúmeros estudos, porque é tão "construído" quanto o "feminino". Os cientistas (sim, o historiador, o sociólogo, o filósofo são cientistas) que trabalham sobre o gênero não negam a existência dos dois sexos na humanidade (deixo de lado o problema bastante doloroso dos intersexuados). Ao contrário, eles põem em discussão a ideia de que, a partir da existência dos dois sexos, derivam necessária e "naturalmente" diferenças de comportamento que se encaixariam em uma "natureza feminina" e em uma "natureza masculina".

Alguns temem que o fato de abordar o gênero em âmbito escolar (coisa nada nova, aliás) irá desestabilizar os seus filhos. O que vocês temem? Que o seu filhinho aceite brincar de boneca com as suas colegas? Que a sua filhinha ouse dizer aos seus colegas que gostaria de jogar futebol com eles? Que o João, que gosta muito de rosa, vá para a escola com a sua camiseta rosa fúcsia mesmo que os seus colegas debochem dele? Que a Maria, que é apaixonada por carros, ouse pedir para se inscrever em um curso de mecânica em vez de secretariado?

O gênero é um conceito útil e potencialmente libertador. Sim, todos introjetamos normas de comportamento determinadas pelo corpo social em que vivemos. Alguns ou algumas de nós vivem muito bem dentro de tais normas. Fiquem tranquilos, não se trata de impedir que o Alberto jogue rúgbi e que a Carla aprenda o ponto cruz; de forçar que o Roberto troque as fraldas e que a Carolina troque os pneus do carro; de substituir uma obrigação por outra.

Trata-se, simplesmente, de permitir que aqueles que estão, pouco ou muito, fora da norma possam existir. Como diz Judith Butler, cujo pensamento é muitas vezes tão maltratado nesses últimos tempos, trata-se de tornar "vivíveis" vidas que as normas socioculturais tornam "invivíveis".

Todos temos exemplos concretos, nossos ou de pessoas próximas a nós, do "gênero" ao qual fomos designados e das dificuldades, mais ou menos pesadas – as coisas não são sempre dramáticas, mas podem ser – que se encontram ao não corresponder a ele.

Pensar que tais normas não são absolutos atemporais e naturais ajuda a aceitar os outros como são e não como pensamos que deveriam ser.

O gênero não é uma teoria, é um fato social, conceitualizado com esse termo. Não diz respeito nem à identidade sexual (pode-se ser do sexo feminino e do gênero masculino), nem à orientação sexual (pode-se ser do sexo feminino, do gênero masculino e heterossexual – qualquer outra combinação é possível).

Lutar contra os estereótipos de gênero não significa fazer a "promoção da homossexualidade"; ao contrário, ajuda a lutar contra a homofobia, evitando que um rapaz do gênero feminino deixe-se tratar como "bicha", independentemente da sua orientação sexual real; ou que uma lésbica deixe-se tratar como "machorra", independentemente do seu gênero. Isso permite compreender que "Papa porte une robe" (papai veste uma saia), para retomar o título de um livro muitas vezes vilipendiado, mesmo sem ter sido lido, não é sinônimo de "papai é transexual", nem de "papai é homossexual" (e isso independentemente daquilo que se pense da homossexualidade, que não é o assunto deste texto).

Isso permite ensinar ao Roberto e à Carolina que saber trocar as fraldas e os pneus não arruína o seu status de homem ou de mulher; isso ensina ao Roberto que ele não deve pensar que a Carolina está destinada mais do que ele a fazer os trabalhos domésticos, e à Carolina que o Roberto tem o direito de detestar os automóveis (mas também que não tem problema se ela gosta dos trabalhos domésticos e ele, dos automóveis, contanto que cada um se encontre nessa situação "livremente e sem constrições", como se diz em outras circunstâncias).

O sexo biológico existe (com uma complexidade maior do que se apresenta, mas digamos que ele existe); o gênero também. Não existe uma "teoria de gênero". Entre as correntes filosóficas que usam o conceito de gênero, algumas desenvolvem, a partir desse fato, concepções filosóficas sobre o ser que podem ser questionadas, sobre as quais se pode debater, sobre as quais se deve debater e sobre as quais eu não me pronuncio.

Mas me parece que a missa dominical na paróquia não é o lugar desses debates intelectuais. Parece-me que evocar uma fantasmagórica "teoria de gênero" não ajuda no debate e contribui para tirar credibilidade de um cam po inteiro das ciências sociais cuja utilidade já foi bastante provada (não deveria mais haver a necessidade de ser provada...).

Amigos católicos, não tenham medo daquele "monstro terrível chamado gênero": ele simplesmente ajudará a compreender melhor as relações sociais de que todos somos protagonistas e a relativizar muitos julgamentos que, às vezes, sob a aparência de caridade e de "correção fraterna", podem ser realmente destrutivos.

Tradução do francês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

* VÉRONIQUE BEAULANDE é católica, doutora em História Medieval, professora da Universidade de Reims, na França e integra um grupo denominado “Comité de la Jupe” que defende uma maior e mais igualitária participação feminina no interior da Igreja Católica Apostólica Romana. Como elas próprias se definem: “Nous sommes un mouvement de renaissance de notre Eglise où nous souhaitons simplement que les femmes soient justement considérées” (tradução: Somos um movimento de renascimento de nossa Igreja no qual desejamos, simplesmente, que as mulheres sejam justamente consideradas). Para saber mais, clique aqui e aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 12 de junho de 2015 – Internet: clique aqui.

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