«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Por que a carta encíclica de Papa Francisco é importante?

Thomas Reese*
National Catholic Reporter
18-06-2015

«Em outras palavras, a encíclica está recebendo tanta atenção dos meios de comunicação porque ela fala sobre o tema certo, na hora certa, e foi escrita pela pessoa certa.»
 
Thomas J. Reese
Padre jesuíta norte-americano, jornalista e
cientista social
Algumas das perguntas mais frequentes que me foram feitas pelos jornalistas esta semana:
  • Por que a encíclica do Papa Francisco importa?
  • Que impacto ela terá?
  • Por que ela está recebendo toda esta atenção?

Vamos começar com a última pergunta:

1) Por que ela está recebendo toda esta atenção?

A encíclica Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum” está recebendo tanto atenção por duas razões.

Em primeiro lugar, há um consenso crescente em todo o mundo de que precisamos cuidar melhor do meio ambiente. Existe o consenso científico de que as mudanças climáticas estão acontecendo e que é a atividade humana que está causando isso. As pessoas estão ficando mais conscientes dos problemas ambientais, mas também estão vendo que, até agora, o mundo pouco tem feito para responder à crise.

A segunda razão por que a encíclica está recebendo tanta atenção é porque ela é do Papa Francisco. Este papa é admirado, respeitado e, até mesmo, amado em todo o mundo por católicos e não católicos. Todo mundo está fascinado por este papa, e ele tem a capacidade de se comunicar numa linguagem simples que as pessoas comuns conseguem entender.

É verdade que os papas anteriores falaram ou escreveram sobre o meio ambiente e o aquecimento global, mas a mensagem deles não penetrou no ambiente público por dois motivos. Primeiro, os meios de comunicação estavam mais interessados em escrever histórias sobre os papas e o uso de preservativos do que sobre os papas e o meio ambiente.

Segundo, nos dois últimos papados, as declarações papais tendiam a soar como teses acadêmicas. A Igreja nunca foi muito boa em comunicar o ensino social católico, fosse sobre justiça, a paz ou o meio ambiente.

Por outro lado, Francisco escreve mais como um jornalista do que como um acadêmico. Qualquer um que consiga ler um jornal pode ler esta encíclica e tirar alguma coisa dela.

Em outras palavras, a encíclica está recebendo tanta atenção dos meios de comunicação porque ela fala sobre o tema certo, na hora certa, e foi escrita pela pessoa certa.

2) Por que a encíclica do Papa Francisco importa?

Esta encíclica importa porque é uma mensagem de autoridade por um dos grandes líderes religiosos do mundo. Ela vai estimular homilias e discussões nas paróquias de todo o mundo. Tornar-se-á uma fonte de inspiração e ideias para ativistas, pregadores, professores, teólogos e autores que ecoarão e desenvolverão a mensagem do papa.

Em sua encíclica, o papa começa olhando para os fatos: O que temos feito à terra? Em seguida, ele argumenta que a forma como tratamos a terra, a forma como respondemos às alterações climáticas, são questões morais – na verdade, uma das questões morais mais importantes do nosso tempo.

Aqueles que argumentam que o papa deveria se restringir à fé e à moral, não se envolvendo em questões políticas, parecem ter uma visão limitada da problemática. O que pode ser uma questão moral mais importante do que aquela que pode causar a morte e o deslocamento de milhões de pessoas?

A encíclica é, também, um convite para o diálogo. O papa não tem a pretensão de possuir todas as respostas. Quanto mais específicas as suas recomendações políticas, menos autoritário ele se torna. Ele está convidando economistas, empresários, funcionários públicos, ambientalistas, inventores e líderes religiosos a se reunirem, todos, para uma conversa sobre como proteger o meio ambiente. Qualquer pessoa com uma boa ideia é bem-vinda.

Esta encíclica também importa porque coloca a Igreja Católica junto do movimento ambientalista. Com abraço do Papa, esse movimento entra para a grande mídia. Os seus integrantes não podem mais ser simplesmente tomados como “abraçadores de árvores” e “adoradores da Gaia”.

Apesar dos seus esforços, o movimento ambientalista teve apenas um sucesso limitado.

Francamente, as pessoas não mudarão os seus estilos de vida a fim de proteger os ursos polares. Mas se a história nos mostra alguma coisa, é que a religião pode motivar as pessoas a fazerem coisas extraordinárias. Motivos religiosos podem levar as pessoas ao autossacrifício, a desistirem de seu próprio interesse por um bem maior. O movimento ambientalista necessita de crentes de todas as religiões que estejam motivados por suas convicções religiosas a protegerem a criação de Deus.

3) Que impacto ela terá?

O papa está chamando o mundo para uma conversão que terá um enorme impacto sobre o modo como vivemos, sobre a forma como funciona a nossa economia e na maneira em que os governos operam. “Revolucionário” é uma palavra muito fraca. Exigir-se-á uma mudança extraordinária de opinião e de comportamento humano para que esta revolução pacífica se realize. Exigir-se-á um sacrifício de todos, especialmente dos ricos e poderosos, que estão usufruindo dos frutos do status quo.

Fazer o que o papa pede não será tarefa fácil. Todavia, ele nos encoraja a confiarmos em um Deus amoroso e em um espírito poderoso que podem renovar a face da terra. Esta sua encíclica é notável na medida em que não depende, primeiramente, do MEDO para motivar as pessoas a cuidarem da terra. Em vez disso, enfatiza o AMOR como força motivadora.

Não podemos esperar que a encíclica transforme milagrosamente as atitudes e os comportamentos humanos de um dia para o outro. Diferentemente, a encíclica é o começo de um processo que vai durar anos. Ela exige que cada um de nós se envolva neste longo trajeto. É uma maratona, não uma simples corrida.

Como cientista social, estou bastante pessimista em que podemos evitar uma catástrofe ambiental, porém, como um cristão, tenho que ter esperança. Esta encíclica do Papa Francisco fortalece essa esperança.

* Thomas J. Reese (nascido em 1 de novembro de 1945) é um padre jesuíta norte-americano, escritor e jornalista. Ele é um analista sênior do National Catholic Reporter. Ele é doutorado em ciência política pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Ele foi editor-associado da revista semanal católica América de 1978 a 1985; membro sênior do Woodstock Theological Center a partir de 1985 até 1998; editor-chefe da revista América de 1998 a 2005 e voltou para Woodstock em 2006, onde permaneceu até 2013. Ele foi nomeado para a Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional pelo presidente Obama. Fonte: Wikipedia.

Traduzido do inglês por Isaque Gomes Correa. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 24 de junho de 2015 – Internet: clique .

Laudato Si’ – Prestemos atenção às notas de rodapé

Kevin Ahern*

«Além de quebrar a tradição ao citar textos de conferências nacionais, o Papa Francisco lança mão de uma gama de pensadores católicos. Ele cita oito vezes Romano Guardini, sacerdote e teólogo influente (1885-1968).»
Kevin Ahern
Teólogo especializado em Ética

Além da utilização de uma linguagem inclusiva de gênero – a primeira nas encíclicas sociais católicas –, um dos aspectos mais surpreendentes de Laudato Si’ são as notas de rodapé. Para ser honesto, elas foram uma das primeiras coisas que olhei. Francisco se afasta da tradição das encíclicas sociais católicas ao citar várias fontes não católicas oficiais, tais como documentos da ONU, as conferências episcopais nacionais e, de modo mais surpreendente, um místico sufi!

Agora, embora possa parecer um tanto pedante para a maioria dos leitores, as notas de rodapé de Francisco constituem um afastamento significativo da tradição. A maioria das encíclicas papais oficiais do ensino social católico tem um estilo específico e as notas de rodapé desempenham um papel importante. Diferentemente das citações que meus alunos usam em seus trabalhos para referirem à origem das ideias apresentadas, as notas de rodapé no ensino papal têm funcionado como uma forma de alertar o leitor para a continuação de uma tradição. Em geral, as notas de rodapé não estão muito preocupadas em fazer referências propriamente; estão mais interessadas em comunicar que este ensino está em harmonia com uma longa tradição no assunto, mesmo quando ele pode estar discordando ligeiramente da fonte.

Por exemplo, a Caritas in Veritate, a encíclica social de 2009 do Papa Bento XVI, dispõe de 159 notas. A maioria delas faz referência aos ensinamentos sociais oficiais de outros papas; várias destas notas se referem aos seus próprios ensinamentos; algumas mencionam os escritos de importantes santos ou dicastérios vaticanos. Nenhuma menciona fontes não católicas ou não doutrinárias. Em grande parte, é assim também com as encíclicas sociais de São João Paulo II.

Esta tradição reflete uma teologia específica do papado que entende que o papa deva ser o professor principal da doutrina católica com uma rígida divisão dos papéis entre professor e aluno. Como tal, o papa nunca precisaria aprender de fontes “abaixo” dele. Isso também inclui as declarações emitidas pelas conferências nacionais dos bispos. Por mais de 50 anos, tem havido um longo debate quanto ao estatuto do magistério das declarações feitas por grupos de bispos em nível nacional, continental e mundial.

Sob os pontificados de João Paulo II e Papa Bento XVI, as publicações sociais das conferências episcopais nacionais e dos sínodos foram percebidas como carecendo de competência para um ensino (magisterial) com autoridade. Esta alegação é feita frequentemente pelos críticos das políticas sociais da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos – USCCB (na sigla em inglês), em particular contra os seus ensinamentos sobre a justiça econômica, a paz e o racismo. Em Evangelii Gaudium, o Papa Francisco abordou este ponto quando pediu pelo desenvolvimento do “estatuto das Conferências Episcopais” com “autêntica autoridade doutrinal” para melhor servir a missão da Igreja (n. 32).
Romano Guardini (Verona, Itália, 1885 – Munique, Alemanha, 1968):
foi um sacerdote, escritor e teólogo católico-romano.

Embora não tenha sido bem recebida por todos, Laudato Si’ afirma a autoridade destas estruturas regionais com 20 citações de declarações de 18 conferências episcopais nacionais e regionais. Isso inclui o documento da USCCB, de 2001, intitulado Global Climate Change: A Plea for Dialogue, Prudence and the Common Good [trad.: Mudanças Climáticas Globais: Um apelo para o Diálogo, Prudência e o Bem Comum]. A seleção de documentos de várias regiões do mundo parece querer significar algo referente às preocupações expressas pelos bispos quanto aos problemas em jogo. Com efeito, ela construtivamente mostra como a promoção de uma ecologia integral não é apenas a preocupação do Papa Francisco. Embora sutil, é também um aceno para uma visão indutiva e mais descentralizada de Igreja, onde as declarações (os documentos) das conferências episcopais têm valor na formação do ensino social católico universal.

Além de quebrar a tradição ao citar textos de conferências nacionais, o Papa Francisco lança mão de uma gama de pensadores católicos. Ele cita oito vezes Romano Guardini, sacerdote e teólogo influente (1885-1968). Faz uma referência surpresa para o controverso jesuíta Teilhard de Chardin, na nota n. 53, e cita por extenso o Patriarca Bartolomeu no início do texto. Faz também referência a um livro [de John Chryssavgis] publicado pela Fordham University Press, na nota n. 15 [On Earth as in Heaven: Ecological Vision and Initiatives of Ecumenical Patriarch Bartholomew].

Talvez a referência mais surpreendente é a um místico sufi muçulmano, Ali al-Khawas, na nota n. 159, que diz:

«Um mestre espiritual, Ali Al-Khawwas, partindo da sua própria experiência, assinalava a necessidade de não separar demasiado as criaturas do mundo e a experiência de Deus na interioridade. Dizia ele: “Não é preciso criticar preconceituosamente aqueles que procuram o êxtase na música ou na poesia. Há um ‘segredo’ subtil em cada um dos movimentos e dos sons deste mundo. Os iniciados chegam a captar o que dizem o vento que sopra, as árvores que se curvam, a água que corre, as moscas que zunem, as portas que rangem, o canto dos pássaros, o dedilhar de cordas, o silvo da flauta, o suspiro dos enfermos, o gemido dos aflitos…”».
Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955):
foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês
que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia.
Através de suas obras, legou para a sua posteridade
uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material
com as forças sagradas do divino e sua teologia.

Ficamos mais impressionados ainda quando lemos a seção intitulada “Os sinais sacramentais e o descanso celebrativo” (n. 233). De um ponto de vista teológico, a inclusão de textos explicitamente religiosos de fora da tradição católica levanta questões interessantes sobre o desenvolvimento da doutrina: O que significa para um documento oficial de doutrina social citar um místico muçulmano? O que isso diz sobre o papel do Espírito Santo para além da Igreja?

Entre as 172 notas de rodapé desta encíclica, nem todas são de fontes surpreendentes. Os escritos de João Paulo II são citados 37 vezes – o mais próximo é o Papa Bento XVI, que vem em segundo lugar com 30 citações. Enquanto alguns podem tentar distanciar os ensinamentos sociais de Francisco sobre o meio ambiente e a economia dos ensinamentos de seus antecessores, estas referências – e este é o propósito delas – devem ajudar a lembrar ao leitor que ele está se baseando numa tradição profundamente estabelecida de preocupação social.

Tal como acontece com outras encíclicas papais, Laudato Si’ destaca a importância de prestarmos atenção às notas de rodapé. Como digo aos meus alunos nos cursos sobre doutrina social católica: sigam as notas de rodapé. Talvez nos surpreendamos com o lugar aonde elas podem nos levar.

* Kevin Ahern é teólogo especializado em Ética e professor assistente de Estudos Religiosos na Manhattan College.

Traduzido do inglês por Isaque Gomes Correa. Para acessar a versão original deste artigo, clique aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quinta-feira, 25 de junho de 2015 – Internet: clique aqui.

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