«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

POLÍTICA NÃO VIVE SÓ DE UTOPIA, MAS DE COMPROMISSO E COERÊNCIA!

Fim de ciclo

José Roberto de Toledo

Pesquisas mostram que o PT envelheceu mal, 
perdendo simpatizantes entre os jovens 

O diagnóstico crítico de Lula sobre o PT é preciso. Recente pesquisa Datafolha encontrou só 11% de simpatizantes do partido, a menor taxa em décadas. Não é um ponto fora da curva, mas o fundo de um buraco que o PT cava – como confirmam pesquisas do Ibopedesde os protestos de 2013. Lula disse estar no volume morto. Não será fácil uma ressurreição.

Fosse só uma questão de simpatia, seria um problema, não uma crise. É mais do que isso. O PT perde filiados desde 2012. Não está sozinho nessa (o PMDB e o DEM, por exemplo, mínguam desde 2008), mas o que houve nos últimos três anos foi a inversão da tendência de crescimento que o partido experimentava desde a sua fundação. Não é pouca coisa. O PT passou a andar para trás.

Segundo levantamento do Estadão Dados, o auge de filiados ocorreu em 2012: 1,612 milhão. Caiu para 1,601 milhão em 2013, 1,592 milhão em 2014 e começou 2015 com 1,586 milhão. O que isso significa para o futuro do partido que governa o Brasil há 12 anos? Que a possibilidade de sofrer um retrocesso nas eleições municipais de 2016 não é pequena. E 2016 prepara 2018.

A perda de capilaridade petista é mais significativa do que o mau desempenho de Lula na pesquisa de intenção de voto do Datafolha. Uma é causa, a outra é consequência. Aécio Neves (PSDB) aparece à frente do ex-presidente porque seu nome está fresco na memória do eleitor. Fatura com o desgaste da imagem de Dilma Rousseff, que prometeu e não entregou, enquanto Lula paga pela sucessão de escândalos envolvendo o PT e pela perda de poder de compra dos emergentes que sustentaram sua ascensão.

Muitas dessas razões são conjunturais e dinâmicas. Mudam com o tempo. Tanto é assim que a acurácia das pesquisas eleitorais em qualquer lugar do mundo é inversamente proporcional ao tempo que a separa da eleição: quanto mais longe da urna, maior a chance de erro. Em meados de 1994, por exemplo, as pesquisas mostravam Lula eleito presidente. Veio o Plano Real, as expectativas econômicas mudaram e Fernando Henrique Cardoso virou FHC.

Se a questão fosse apenas econômica, Lula poderia ter esperança de recuperar parte de seu cacife eleitoral em tempo de disputar como favorito a sucessão de Dilma – caso o ajuste fiscal interrompa a alta da inflação e, mais à frente, crie condições para a retomada dos investimentos, do emprego e da renda. Mas a questão é estrutural e vai muito além do que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pode ou não fazer em dois anos e meio.

Menos filiados significa que o PT convenceu menos gente a entrar no partido do que perdeu militantes. Não só: a legenda segue com dificuldade para mobilizar sua base em um momento crucial. Isso implicará menos cabos eleitorais voluntários em uma eleição que será marcada pelo sumiço dos tradicionais financiadores de campanha (já que muitos deles estão presos pela Lava Jato).

Menos militantes, menos dinheiro para financiar candidatos e sem discurso. O PT não sabe o que dizer para o eleitor. A falta de uma narrativa que faça sentido e seja convincente está por trás das discussões públicas entre petistas. Sem rumo não há estratégia. E sem estratégia não se faz campanha eleitoral.

Datafolha e Ibope mostram que o PT envelheceu mal, perdendo simpatizantes entre os jovens. O problema não está só no eleitorado. Os petistas não renovaram suas lideranças. A geração perdida no mensalão não foi reposta. E o sebastianismo lulista não permitiu que novos nomes surgissem além dos dois Fernandos.

Ambos têm seus próprios problemas. Fernando Pimentel terá primeiro que se livrar da Polícia Federal e fazer um bom governo em Minas Gerais para aspirar a um papel nacional. E Fernando Haddad terá uma difícil reeleição pela frente em São Paulo.

Tudo isso aponta para o fim do ciclo de expansão petista. E, com ele, o contrafluxo das ideias que o PT tentou representar.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Quinta-feira, 25 de junho de 2015 – Pg. A7 – Internet: clique aqui.

Do socialismo utópico ao capitalismo científico

Eugênio Bucci
Jornalista e Professor da ECA-USP

A utopia que um dia existiu nos foi roubada. Seus velhos profetas se aboletaram no “capitalismo” dos corredores de hotel, o “capitalismo” do favor oculto, do ganho clandestino e sem risco. Foi assim que os velhos “socialistas utópicos” do século 20 se converteram nos “capitalistas científicos” do século 21. 
Tradução:
"O problema da autocrítica é que muitíssima gente a faz aos demais"
“O PT perdeu um pouco da utopia.” Essa frase, pronunciada por Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira [22/06], correu o mundo, rendeu análises profusas, confundiu a disputa interna do Partido dos Trabalhadores e ainda vai render muita dor de cabeça para muita gente que já anda de cabeça quente. Luiz Inácio avisou: “Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego e em ser eleito. Ninguém mais trabalha de graça”.

Ele está certo. E como diz “a gente” e não diz “vocês aí”, está paradoxalmente certo. Entendê-lo, porém, não é tão simples. Talvez nem Lula entenda Lula a esta altura.

A crítica que ele dirige ao partido serve contra si próprio. Ele é dois em um: é o líder que esculhamba o legado do PT e, ao mesmo tempo, é o responsável pela obra que esculhamba. Essa divisão destrambelha seus seguidores, que se dilaceram diante de uma pergunta: qual Lula deve ser levado a sério nessa história, o que critica a si mesmo ou o que é criticado por ele próprio? Lula nega Lula. Como fazer, então, para segui-lo?

Uns dirão que o ex-presidente não cai em contradição, apenas faz “autocrítica”. O termo “autocrítica” adquiriu status de um ritual solene na tradição da esquerda, equivalente às práticas religiosas de autoflagelação. A “autocrítica” de esquerda, contudo, não reafirma a velha ordem (como é típico do arrependimento religioso). Em vez disso, revoga a lei anterior, inaugura um período “novo” (uma “revolução interna”, para usar aqui a expressão de Lula) e acarreta uma mudança de direção. Quando o dirigente máximo faz “autocrítica”, o partido é instado a fazer “autocrítica” e anunciar que tudo vai ser diferente.

Um dos casos célebres (ou famigerados, dependendo do ponto de vista) de “autocrítica” foi o de 1956, quando o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), em seu 20.º Congresso, denunciou e condenou os “crimes de Stalin”. Num primeiro momento, os comunistas do mundo se uniram na incredulidade. Depois, assimilaram a “autocrítica” e a nova ordem. Stalin já estava morto e Kruchev já estava posto. Kruchev não mudou tudo no PCUS (manteve o aparelho praticamente intacto), mas mudou a direção (e, com isso, a História). Alguns militantes mudaram junto. Outros grupos nunca se renderam e seguiram venerando o velho bigodudo a quem conferiam (e conferem até hoje) títulos um tanto fanfarrões, como “farol do socialismo” ou “líder genial dos povos”.

É claro que a “autocrítica” de Lula não terá a mesma gravidade. As situações históricas não são comparáveis e, embora existam stalinistas sinceros dentro do PT, o PT não tem nada do PCUS de Stalin. Fora isso, Luiz Inácio não se parece nem um pouco com Kruchev. A única semelhança – e, mesmo assim, distante – é o receituário de tripudiar sobre o passado com o objetivo de abrir uma porta para o futuro, sem abrir mão da máquina partidária.

Voltemos, então, à pergunta inicial: quem deve ser levado a sério, neste momento, o Lula que critica o legado do PT ou o Lula que é o maior construtor do legado do PT? O que ele diz sinaliza de verdade uma transformação (“revolução interna”) no PT? Se sim, Lula abrirá mão do poder que hoje exerce sobre o partido para abrir o caminho da mudança? Ou sua fala é mais um jogo de cena para atrair o apoio de ex-petistas (e de setores mais à esquerda) à sua candidatura à Presidência em 2018? Em suma, o novo discurso de Lula é “autocrítica” ou autopromoção?

Se for uma jogada instintiva de autopromoção, ela embute a disposição de sacrificar, pelo menos em parte, tanto a imagem do PT quanto a imagem de Dilma Rousseff. Falando mal de sua própria obra e de sua sucessora, Lula falaria bem de si mesmo. É nesse movimento que ele começa a falar de utopia. Ele parece saber que só uma nova utopia pode cimentar uma nova aliança com essa configuração reconciliadora, como se fosse um convite: companheiros, vamos sonhar juntos outra vez.

A palavra “utopia”, a exemplo da palavra “autocrítica”, também tem uma história longa na tradição da esquerda. No começo, ela era vista como um defeito. No século 19, Friedrich Engels desqualificou, de modo mais enérgico do que o próprio Karl Marx, o “socialismo utópico” (que não estaria baseado no “materialismo histórico”). Defendia o “socialismo científico”. Para ele, a coletivização da propriedade privada seria uma conquista científica da humanidade. Crente de que fazia “ciência”, Engels criou uma seita que arregimenta fiéis até os nossos dias. Os convertidos dessa doutrina não entenderam que existe uma diferença substancial entre um acelerador de partículas e uma reunião de deputados (embora exista ideologia numa coisa e na outra). Em decorrência do fanatismo, o “socialismo científico” virou uma tirania fundamentalista que matou a liberdade de opinião e baniu a política.

Foi a partir dessa constatação que a palavra “utopia” voltou à baila, agora como sinônimo de solidariedade, de entrega, de abertura de espírito, de desprendimento. Para ser socialista não era mais preciso ter lido O Capital, não era mais preciso ser objetivamente proletário, bastava ter coração. A nova utopia gostava de John Lennon (Imagine), de Che Guevara (“sin perder la ternura jamás”), de Bakunin, de Rosa Luxemburgo, de pacifismo, de Jesus Cristo e dos hippies.

Vamos lembrar que sem essa utopia o PT jamais teria sido inventado e jamais teria sido, como foi, antistalinista e anticapitalista num só corpo.

Lula tem razões (as boas e as más) para ter saudade da palavra utopia. A utopia que um dia existiu nos foi roubada. Seus velhos profetas se aboletaram [acomodaram, instalaram] no “capitalismo” dos corredores de hotel, o “capitalismo” do favor oculto, do ganho clandestino e sem risco. Foi assim que os velhos “socialistas utópicos” do século 20 se converteram nos “capitalistas científicos” do século 21. Não, eles não trabalham de graça. Alimentam poder com dinheiro e vice-versa.

Isso pode mudar?

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Quinta-feira, 25 de junho de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

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