«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

NOVA ENCÍCLICA DO PAPA: O DESTINO DA CRIAÇÃO SEGUNDO FRANCISCO

A responsabilidade pela Criação,
segundo o Papa Francisco

Corriere della Sera
16-06-2015

Poluição, mudanças climáticas e direito à água:
são os temas que unem o grito da Terra àquele dos pobres.
Eis algumas antecipações do texto de Bergoglio 
PAPA FRANCISCO inicia com estas palavras a sua nova encíclica:
 « “Louvado seja, meu Senhor”, cantava São Francisco de Assis.
Nesta bela canção recordou-nos que a nossa casa comum também é como uma irmã, com quem partilhamos a existência,
e como uma mãe bonita que nos acolhe em seus braços...»
“A contínua aceleração das mudanças da humanidade e do planeta se une hoje à intensificação dos ritmos de vida e de trabalho, naquela que alguns chamam, em espanhol, “rapidación” (aceleração). Embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que as ações humanas lhe impõem hoje contrasta com a natural lentidão da evolução biológica. A isso se acrescenta o problema que os objetivos desta veloz e constante mudança não são necessariamente orientados ao bem comum e a um desenvolvimento humano, sustentável e integral”, escreve o Papa Francisco no XVIII parágrafo de sua encíclica, dedicada aos temas do ambiente, a “casa comum” da qual cada um deve cuidar.

Da contaminação dos rejeitos ao superaquecimento global

“Existem formas de poluição que atingem cotidianamente as pessoas. A exposição aos poluentes atmosféricos produz um amplo espectro de efeitos sobre a saúde, em particular dos mais pobres [...]. A Terra, nossa casa, parece transformar-se sempre mais num imenso depósito de imundície. Em muitos lugares do planeta, os anciãos recordam com nostalgia as paisagens de outros tempos, que agora aparecem submersos por lixo [...]. Estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, que golpeia tanto os seres humanos excluídos quanto as coisas que se transformam velozmente em lixo”.

“O clima é um bem comum, de todos e para todos. Esse, em nível global, é um sistema complexo em relação com muitas condições essenciais para a vida humana. Existe um consenso científico muito consistente que indica que estamos em presença de um preocupante aquecimento do sistema climático. [...] A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de modificações de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou o acentuam. [...]. Se a tendência atual continuar, este século poderia ser testemunha de mudanças climáticas inauditas e de uma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves consequências para todos nós”.

As mudanças climáticas e os migrantes abandonados

“As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, e constituem um dos principais desafios atuais para a humanidade. Os impactos mais pesados recairão provavelmente nas próximas décadas sobre Países em via de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em lugares particularmente golpeados por fenômenos conexos ao aquecimento [...]. É trágico o aumento dos migrantes que fogem da miséria agravada pela degradação ambiental, os quais não são reconhecidos como refugiados nas convenções internacionais e, portanto, carregam o peso da própria vida abandonada sem nenhuma tutela normativa. Infelizmente há uma indiferença generalizada diante destas tragédias, que acontecem atualmente em diversas partes do mundo. A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda daquele senso de responsabilidade pelos nossos semelhantes sobre os quais se fundamenta toda sociedade civil”.
Papa Francisco assina a sua nova encíclica:
Laudato si': sobre o cuidado da casa comum

A água, direito fundamental e o respeito pela biodiversidade

“A água potável e limpa representa uma questão de primária importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos. [...]. Enquanto a qualidade da água disponível piora constantemente, em alguns lugares avança a tendência de privatizar este recurso escasso, transformado em mercadoria sujeita às leis do mercado. Na realidade, o acesso à agua potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas, e por isso é condição para o exercício dos outros direitos humanos. Este mundo tem um grave débito social com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isso significa negar a eles o direito à vida, radicado em sua inalienável dignidade”.

“Também os recursos da terra são depredados por causa de modos de entender a economia e a atividade comercial produtiva demasiado ligadas ao resultado imediato. A perda de florestas e bosques implica ao mesmo tempo na perda de espécies que poderiam constituir no futuro recursos extremamente importantes, não só para a alimentação, mas também para a cura de doenças e para múltiplos serviços. [...] Mas, não basta pensar nas diversas espécies somente como eventuais ‘recursos’ desfrutáveis, esquecendo que têm um valor em si mesmos. A cada ano desaparecem milhares de espécies vegetais e animais que não poderemos mais conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A imensa maioria se extingue por razões que têm a ver com alguma atividade humana. Por nossa causa, milhares de espécies não darão glória a Deus com sua existência nem poderão comunicar-nos a própria mensagem. Não temos esse direito”.

A renúncia ao paradigma tecnocrático

“De nada servirá descrever os sintomas, se não reconhecermos a raiz humana da crise ecológica. Existe um modo de compreender a vida e a ação humana que é desviado e que contradiz a realidade até o ponto de arruiná-la. Porque não podemos parar e refletir sobre isto? Proponho, portanto, que nos concentremos sobre o paradigma tecnocrático dominante e sobre o lugar que aí ocupam o ser humano e sua ação no mundo”.

“Em tal paradigma sobressai uma concepção do sujeito que progressivamente, no processo lógico-racional, compreende e de tal modo possui o objeto que se encontra fora. Tal sujeito se explica pelo modo de estabelecer o método científico com sua experimentação, que já é explicitamente uma técnica de posse, domínio e transformação [...]. Por isso, o ser humano e as coisas têm cessado de dar-se amigavelmente a mão, tornando-se, ao invés, contendentes. Daqui se passa facilmente à ideia de um crescimento infinito ou ilimitado [...]. Isso supõe a mentira sobre a disponibilidade infinita dos bens do planeta, que conduz a ‘espremê-lo’ até limite e além”.

O ponto de vista dos excluídos também na ecologia

“Gostaria de observar que com frequência não se tem clara consciência dos problemas que golpeiam particularmente os excluídos. Eles são a maioria do planeta, bilhões de pessoas. Hoje são mencionados nos debates políticos e econômicos internacionais, mas em geral parece que os seus problemas sejam colocados como um apêndice, como uma questão que se acrescente quase por obrigação ou de maneira periférica, quando não são considerados como um mero dano colateral. [...] Mas hoje não podemos deixar de reconhecer que uma real concepção ecológica se torna sempre uma concepção social, que deve integrar a justiça nas discussões sobre o ambiente, para escutar tanto o clamor da terra quanto o clamor dos pobres”.

Traduzido do italiano por Benno Dischinger. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 17 de junho de 2015 – Internet: clique aqui.

De São Francisco a Francisco

Vito Mancuso
La Repubblica
16-06-2015

No título e subtítulo a encíclica já aparecem três conceitos decisivos da interpretação global papal do cristianismo como serviço e defesa do homem

A combinação de título e subtítulo da nova encíclica de Bergoglio já é muito significativa: "Laudato si'. Sobre o cuidado da casa comum". Aí aparecem três conceitos decisivos da interpretação bergogliana global do cristianismo como serviço e defesa do homem:

1) o louvor, ou seja, a dimensão contemplativa, absolutamente essencial para a espiritualidade jesuíta;

2) o cuidado, a práxis voltada ao bem e à justiça, traço peculiar da teologia da libertação sul-americana;

3) a casa comum, ou seja, o bem comum e a dimensão comunitária da vida humana, que é sempre vida de um indivíduo dentro de um povo.
VITO MANCUSO
Teólogo leigo italiano, professor da Universidade de Pádua (Itália)

Precisamente por causa dessa terceira dimensão, o papa escreve que, com o seu texto, ele não se dirige apenas aos homens da Igreja e aos católicos, como é tradição para o gênero literário da encíclica, mas a todos os seres humanos: "Proponho-me especialmente a entrar em diálogo com todos a respeito da nossa casa comum".

Francisco recorda que a sua atenção particular à ecologia não é uma novidade para o papado, já que todos os seus antecessores imediatos a haviam cultivado antes dele. E, com efeito, lendo o seu texto, é impossível não encontrar fortes dívidas intelectuais em relação a João Paulo II e, sobretudo, Bento XVI, ambos muito citados (23 vezes o primeiro, 21 o segundo).

Porém, tem-se também uma sensação de autêntica novidade, ao menos, por três motivos:

1) pelo estilo simples e imediato que lembra de perto aquela água sobre a qual o papa escreve que "nos vivifica e nos restaura";

2) pela atenção prestada a contribuições que normalmente não são as fontes do magistério papal, como, por exemplo, as obras de outros líderes religiosos, incluindo o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, e às análises de cientistas, de sociólogos, de economistas;

3) pela força surpreendentemente "laica" dos argumentos e da argumentação.

De fato, na encíclica, repetem-se termos como poluição, mudanças climáticas, resíduos, cultura do descarte, questão da água (aqui o papa gasta palavras muito fortes contra todo projeto de privatização dos recursos hídricos), perda de biodiversidade, deterioração da qualidade de vida, degradação social, desigualdade planetária, transgênicos, em um ditado global que, especialmente na primeira parte, não tem justamente nada daquilo que tradicionalmente se entende como religioso.

A encíclica é muito longa, quase 200 páginas para 246 parágrafos, e uma análise adequada dela requer tempo e reflexão. Mas daquilo que surge de uma primeira leitura veloz, eu acredito que o conceito decisivo é o de "ecologia integral", expressão que se repete oito vezes no documento e é o título do quarto capítulo. Integral significa capaz de abraçar todos os componentes da vida humana, que deve ser resgatada da progressiva submissão à tecnologia que, no seu vínculo com as finanças, "pretende ser a única solução dos problemas", mas, escreve o papa, "de fato, não é capaz de ver o mistério das múltiplas relações que existem entre as coisas e, por isso, às vezes, resolve um problema criando outros".

Um grande ensinamento a esse respeito é a interconexão de todas as coisas, sobre a qual o papa retorna várias vezes ("tudo está intimamente relacionado"), a fim de compreender, para dar apenas um exemplo, que o aquecimento do planeta provoca a migração de animais e de vegetais e, portanto, o empobrecimento de determinados territórios e daqueles que os habitam, que, por sua vez, são forçados a emigrar.

Assim, a ecologia, de mera preocupação com o ambiente natural, mostra-se, ao mesmo tempo, como cuidado da humanidade como sinal, mais uma vez, da ecologia integral.

Permanecem, porém, três perguntas.

1) É sustentável afirmar que "o crescimento populacional é verdadeiramente compatível com um desenvolvimento integral e social", escreve o papa, citando um documento eclesiástico anterior? Hoje, somos mais de sete bilhões e já agora os nossos resíduos são superiores à possibilidade de putrefação, sem contar que a putrefação torna-se, por sua vez, causa de poluição. O que vai acontecer em 2050, quando a população será de 9,6 bilhões?

2) No capítulo bíblico-teológico, o papa escreve que "o pensamento judaico-cristão desmitificou a natureza (...) não lhe atribuiu mais um caráter divino". Não seria oportuno se perguntar se esse processo de desmistificação e dessacralização está na origem daquela exploração progressiva do planeta denunciado pelo papa?

3) Chama a atenção a total ausência de qualquer referência às grandes religiões orientais (hinduísmo, budismo, jainismo, taoísmo, xintoísmo), desde sempre muito atentas à questão da ecologia e à espiritualidade da natureza, muito antes do redespertar do cristianismo a esse respeito. Francisco escreve várias vezes que "tudo no mundo está intimamente conectado" e, seguramente, sabe que se trata de um ensinamento original da sabedoria oriental, particularmente do budismo e do taoísmo: por que não dizer isso e convocá-los? Não estaria em conformidade com o desejo de "unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral", como ele escreve?

Traduzido do italiano por Moisés Sbardelotto. A versão original do artigo pode ser acessada clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 17 de junho de 2015 – Internet: clique aqui.

''Ecoencíclica'' do papa pode agitar um vespeiro

Inés San Martín
Crux
16-06-2015

«Ninguém deve poder dizer:
“Eu tenho a consciência limpa, porque a encíclica não é dirigida a mim”.» 
Papa Francisco diante da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Foto: Franco Origlia / Getty Images
O Papa Francisco fez uma oração nesse domingo pela sua próxima encíclica sobre o ambiente, pedindo a bênção de Deus para que "todos possam receber a sua mensagem". A se julgar pelo clima antes ainda que o documento apareça, no entanto, obter essa graça pode ser um milagre.

Em um sinal de agitação, a revista italiana L'Espresso postou na segunda-feira, dia 15 de junho, uma versão preliminar da Laudato si', o título da encíclica, três dias antes da sua data de lançamento oficial, nesta quinta-feira.

O Vaticano chamou o vazamento de "hediondo" e suspendeu as credenciais de imprensa do veterano vaticanista Sandro Magister. O chefe do departamento de língua alemã da Rádio Vaticano chamou o caso de "sabotagem" por parte de alguém que quer prejudicar a mensagem do papa.

Se fosse, de fato, uma tentativa de minar a encíclica, a L'Espresso não seria a primeira a sair do armário.

O ex-senador e candidato republicano à presidência dos EUA Rick Santorum, por exemplo, é um católico devoto que disse amar o papa, mas também chamou o aquecimento global de "farsa" e a pesquisa subjacente às descobertas sobre as mudanças climáticas, de "junk science" [ciência-lixo].

Em uma entrevista recente, Santorum aconselhou Francisco a "deixar a ciência para os cientistas" e, ao contrário, se concentrar na teologia e na moral. A sugestão era de que o pontífice, que estudou química quando universitário, não está no seu papel ao se pronunciar sobre algo que ultrapassa a sua competência. (Esse comentário foi o impulso para um meme da internet que reivindica que o Papa Francisco detém um mestrado em química, mais tarde desmentido).

Outro cético das mudanças climáticas, o senador estadunidense James Inhofe, de Oklahoma, presidente do comitê do Senado dos EUA sobre o ambiente, disse na semana passada a uma plateia alinhada com o seu pensamento: "O papa deveria ficar no seu trabalho, e nós vamos ficar no nosso". E continuou: "Eu não vou falar sobre o papa. Deixem que ele cuide do seu negócio, e nós cuidamos do nosso".

Na verdade, há muita empolgação em outros setores em torno da encíclica. O documento já despertou comícios globais e campanhas publicitárias, incluindo um trailer de estilo hollywoodiano intitulado "The Encyclical", que se tornou viral na rede.

Clique abaixo para assistir a este trailer:


A encíclica também inspirou o rabino estadunidense Arthur Waskow a escrever "Uma carta rabínica sobre a crise climática", dirigida "a todo o povo judeu, a todas as comunidades de espírito e ao mundo".

Até mesmo o líder budista Dalai Lama se uniu ao movimento, enviando uma mensagem aos seus 11,2 milhões de seguidores no Twitter na segunda-feira [leia aqui, em inglês].


Since climate change and the global economy now affect us all, we have to develop a sense of the oneness of humanity.

Tradução:
Uma vez que a mudança climática e a economia global, agora,
afeta todos nós, devemos desenvolver um senso de unidade da humanidade.

Apesar de não haver referência à Laudato si' ou ao pontífice no tuíte, esta foi a primeira vez em mais de um ano que o Dalai Lama se referiu a questões ambientais.

Até mesmo os mais entusiasmados, no entanto, admitem que a carta encíclica provavelmente vai agitar um vespeiro de polêmicas.

O cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras, que diz já ter lido a encíclica, descreveu-a como um "texto delicioso", que irá "medir a pressão" de questões como a "responsabilidade das grandes corporações na punição que estão infligindo ao planeta".

Rodríguez lidera um conselho de nove cardeais que aconselha o papa. Falando na Espanha no dia 12 de junho, ele disse que a encíclica vai dar "um grande choque" que vai fazer todo mundo pensar. Os jornais locais relataram que ele "riu" em relação àqueles que estão atacando o documento antes mesmo de lê-lo.

No entanto, Rodríguez reconheceu que ele irá gerar críticas. Ele até citou pontos específicos em que a repercussão provavelmente irá surgir, citando os Estados Unidos e a China como "os países ambientalmente mais prejudiciais".

Falando em Roma no mês passado, o cardeal criticou os "movimentos nos Estados Unidos" hostis à postura ambiental do pontífice. "A ideologia em torno das questões ambientais também está ligada a um capitalismo que não quer parar de arruinar o ambiente, porque não quer abrir mão dos seus lucros", disse Rodríguez.

Um desses grupos, o Instituto Heartland, com sede em Chicago, disse ao Crux em um e-mail que eles irão ao encontro de "centenas de milhares de católicos com a nossa opinião sobre a encíclica do papa – contatos que coletamos desde a nossa viagem a Roma em abril", referindo-se ao seu protesto contra um congresso vaticano sobre a luta contra as mudanças climáticas.
 
Bill Patenaude - professor de Teologia norte-americano
Bill Patenaude, professor de teologia no Providence College e ex-autoridade do Departamento de Gestão Ambiental de Rhode Island, previu que a esquerda secular pode ficar tão nervosa quanto à direita pró-negócios quando os seus partidários realmente lerem o documento.

"O movimento ambiental tem sido liderado pela esquerda, muitas vezes pela esquerda muito progressista, por décadas", disse Patenaude ao Crux, dizendo que "não é à toa" que muitos conservadores acham que a versão liberal da ecologia é a única existente.

"Isso não é verdade, como São João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco estão nos dizendo", disse Patenaude, prevendo que a Laudato si' vai desafiar as impressões do ambientalismo como uma clássica causa "de esquerda".

Até certo ponto, a disputa política sobre a encíclica é compreensível, já que o próprio Francisco disse que quer que ela tenha implicações políticas no mundo real.

No início deste ano, ele disse que queria vê-la publicada antes de um acordo promovido pela ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e de uma cúpula da ONU sobre mudanças climáticas em Paris, no fim deste ano.

De acordo com uma fonte da Igreja familiarizada com o documento, a grande novidade é que ele "vem de um pastor que está pensando em todas as suas ovelhas".

A fonte, que pediu para não ser identificada porque não está autorizada a discutir a encíclica, disse que Francisco está buscando "uma ecologia mais integral que seja totalmente inclusiva e abrangente".

A ideia, disse a fonte, é que todos – desde alguém apaixonado pelas árvores ou pela água potável até as pessoas comuns que vivem em bairros comuns, passando por alguém que trabalhe pelas questões políticas ecológicas em Nova York ou em Washington – devem se sentir "chamados à ação". Ninguém, disse a fonte, deve se sentir isento da convocação do papa.

"Ninguém deve poder dizer: ‘Eu tenho a consciência limpa, porque a encíclica não é dirigida a mim’", disse.

Para Patenaude, o principal resultado político da carta pode ser a frustração das expectativas daqueles que poderiam reivindicar uma "vitória" a partir dela. "Muitos dos nossos amigos conservadores sabem que serão desafiados pela Laudato si’ ", disse. "Eu não acho que muitos do outro lado do espectro estão esperando para ser desafiados – mas eles serão."

Uma dessas figuras poderia ser o senador estadunidense Edward J. Markey, democrata de Massachusetts e copresidente da Senate Climate Clearinghouse.

Na segunda-feira, depois de relatos sobre o vazamento do esboço da encíclica, Markey divulgou um comunicado dizendo que eles refletem o que o pontífice disse no passado: "Que a humanidade tem causado as mudanças climáticas, e que devemos agir agora para enfrentá-las". "Estou ansioso para ler a encíclica do Papa Francisco na íntegra quando ela for liberada oficialmente e acolher esse chamado à ação para enfrentar o desafio geracional das mudanças climáticas", afirmava a declaração de Markey.

No entanto, dado o forte histórico de votos pro-choice [a favor da livre escolha de abortar ou não] de Markey, ele pode não ficar tão encantado com o parágrafo 120 da encíclica – que, se a versão vazada estiver correta, afirma que a defesa da natureza não é uma justificativa para o aborto.

(Não é necessário nenhum alerta de spoiler para isso, pois o Papa Francisco já condenou o aborto como uma prática "horrível".)

Como afirma Patenaude, o documento vai "chocar, deleitar e desafiar" praticamente todo o mundo.

Traduzido do inglês por Moisés Sbardelotto. Acesse a versão original, clicando aqui.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Quarta-feira, 17 de junho de 2015 – Internet: clique aqui.

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