«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

UM PAÍS TRAVADO PELA PRECÁRIA INFRAESTRUTURA!

Não faltará assunto com tanta privatização

Washington Novaes
Jornalista

Ao que parece, agora privatizaremos tudo.
Até a China já está nesse mercado
Presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da China, Li Keqiang,
durante a Cúpula Empresarial Brasil-China, no Itamaraty.

Foto: Agência Brasil

Para onde quer que volte sua atenção – jornais, televisão, sites de internet –, o cidadão brasileiro depara com notícias dando conta de processos já em andamento ou planejados para privatizar acervos estatais em algumas áreas – portos, ferrovias, hidrovias, etc. – ou para conceder novas áreas.

Convém ir devagar com o andor do patrimônio público. Não esquecer as lições do que aconteceu na década de 1990, quando patrimônios como o ferroviário foram concedidos, não pagos e dilapidados. Não esquecer palavras da própria presidente Dilma Rousseff em rede nacional de televisão (7/9/2012), quando se lançava programa de concessões na área de petróleo: “Ao contrário do antigo e questionável modelo de privatização de ferrovias, que torrou o patrimônio público para pagar dívidas e ainda terminou por gerar monopólios, privilégios, frete elevado e baixa eficiência, o nosso sistema de concessão vai reforçar o poder regulador do Estado para garantir qualidade, acabar com monopólios e assegurar o baixo custo do frete privado”.

Tanto quando se saiba, não foi a regra no que aconteceu de lá para cá. Mas ainda assim se noticia (O Estado de S. Paulo, 20/5) que o governo federal incluirá em junho, em novo programa nacional a ser lançado (embora haja etapas do anterior não executadas), um megaprojeto de ferrovia que prevê ligação para o Pacífico, com 4,7 mil quilômetros, que custaria R$ 30 bilhões – e envolveria acordo entre China, Brasil e Peru. O desenho inicial é para uma rota Rio de Janeiro-Minas Gerais-Goiás-Mato Grosso-Rondônia-Acre-Peru (Folha de S. Paulo, 12/5). E atravessaria a Cordilheira dos Andes (onde, com que tecnologias, a que custos?), porque a China quer alternativa para o Canal do Panamá e o Brasil acha que o novo caminho facilitaria nossas exportações para o Oriente.

Além disso, a área federal coloca seu “interesse central” (O Estado de S. Paulo, 20/5) em tornar viáveis os 883 quilômetros do traçado que liga Lucas do Rio Verde (MT) a Campinorte (GO), porque “abriria as portas da ‘quase pronta’ Ferrovia Norte-Sul para o agronegócio; seria uma revolução no escoamento da principal região produtora de grãos e carne do País”. Também se pensaria em mais 600 quilômetros para chegar a Vilhena (RO), onde seria possível acessar a hidrovia do Rio Madeira.

O atraso é de três décadas, porém, desde que denúncias – corretas – sobre concorrência fraudada para beneficiar uma das grandes empreiteiras nacionais acabou tornando inviável o projeto da Norte-Sul durante muito tempo: até hoje a ferrovia ainda tem trechos a concluir pela empresa Valec, que já faturou R$ 4,5 bilhões, mas enfrenta denúncias de “irregularidades”. Também na campanha inicial contra a Norte-Sul, em 1987, de certa forma prevaleceram os interesses dos grandes conglomerados de transporte e portuários (Santos, Paranaguá), que não queriam perder as exportações do agronegócio, até ali escoadas por Santos e Paranaguá. Hoje a malha ferroviária brasileira tem pouco mais de 28 mil quilômetros, em grande parte inoperantes (Paulo Ferraz, 7/12/2014) quando na década de 1950 tinha 38 mil.

Na verdade, desde a infância, numa pequena cidade do interior paulista, o autor destas linhas começou a aprender o valor da informação privilegiada. Um carroceiro na cidade tinha uma mula que fugia com frequência do quintal da casa dele e ia pastar nos jardins públicos. Um dia em que foi apreendida por fiscal da prefeitura num canteiro do “largo da matriz”, o carroceiro foi informado de que teria de pagar multa de 500 mil réis para tê-la de volta. Recusou-se: “Ela não vale isso”. E foi-se embora. Um funcionário municipal, informado do que ocorria, pagou os 500 mil réis, ficou com a mula e passou a alugá-la a quem precisava de fretes – por 500 mil réis mensais. Ganhou muito dinheiro. Hoje a escala é infinitamente maior, como tem sido visto em vários episódios, do mensalão à Lava Jato.

Mas ao que parece agora privatizaremos tudo. Até a China já está no mercado, através da gigantesca Three Gorges (Três Gargantas, a maior hidrelétrica do mundo), com acordo para com Furnas tornar viável a polêmica usina de São Luiz do Tapajós, “com custo estimado em mais de R$ 30 bilhões” – mas que ainda não tem licença ambiental. E o Ministério do Planejamento prepara para este início de mês “um novo pacote” de concessões – “cada uma com modelo específico” – para rodovias e aeroportos, tendo o BNDES como principal financiador (O Popular, 26/5).

A má qualidade da pavimentação das rodovias para transporte de safras de grãos é um dos argumentos centrais: aumenta em 30,5%, segundo a Confederação Nacional de Transportes (Agência Brasil, 26/5), o custo do deslocamento. Temos apenas 12,4% de rodovias pavimentadas. Mas ainda assim a diferença entre fretes rodoviários (R$ 200 por tonelada) e ferroviários (R$ 190) é muito pequena, como na Norte-Sul.

Que acontecerá com as hidrovias, onde o DNIT estuda a viabilidade das bacias (Valor, 20/8/14)? A primeira seria a bacia Teles Pires-Tapajós, altamente polêmica – envolve até áreas indígenas e a conexão com o Rio Amazonas – e depois a do Araguaia-Tocantins, várias vezes comentada neste espaço, com numerosos estudos científicos mostrando sua inconveniência e seus custos. Segundo a Agência Globo (14/7/13), as hidrovias permitiriam evitar desperdício de R$ 3,7 bilhões por ano – 20,9 mil quilômetros de rios já são usados para levar cargas e passageiros. Em São Paulo, discute-se muito se esse é o melhor caminho, a começar pela retificação de trechos do Rio Tietê.

As cifras são sempre fabulosas. Só em rodovias seria preciso investir R$ 293,8 bilhões (CNT, 25/8/14). O ministro Nelson Barbosa confirma que o governo tem programas “contínuos” para expansão das infraestruturas (O Estado de S. Paulo, 29/5), “até o momento em que estará tudo concedido; e aí será somente uma questão de gerir a área de energias renováveis”.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Sexta-feira, 5 de junho de 2015 – Pg. A2 – Internet: clique aqui.

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