«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 14 de junho de 2016

É HOJE O DIA ! ! !

Moralismo popular versus política

José de Souza Martins*

O voto de uma deputada federal desconhecida, Tia Eron, desenhará os rumos do País. Depois desse voto, ela nunca mais será a mesma
EDUARDO CUNHA (DEP. FED. PMDB-RJ)
Retrato perfeito da amoralidade e imoralidade da política!!!

O moralismo popular tem sido o fundamento da precária consciência política dos que, de um lado e outro das polarizações ideológicas, desde o mensalão e particularmente desde as manifestações de 2013, vão às ruas e pedem a cabeça de alguns acusados de corrupção ou pedem o reconhecimento de sua inocência. Mas o moralismo popular colide com a política, que é amoral. E é melhor que ela seja assim. Os que defendem os acusados e lhes reconhecem a inocência fazem-no na concepção imoral de que é lícito usar imprópria e indevidamente o dinheiro e o patrimônio públicos em favor de partidos que tem o presumível mandato de beneficiar os pobres e simples, e para eles governar. O que lhes daria o direito de recorrer à corrupção. Porém, na cultura popular brasileira, corrupção é coisa de ladrão, ladrão é ladrão e gente é gente.

O que marca este momento da história política brasileira não é a suposta falta de vergonha dos acusados, mas de fato a falta de política dos acusadores. Partidarizados, mas despolitizados, estamos em face de um enorme imbróglio que só se resolverá com política e não com moralismo nem se resolverá com os simplismos e deformações das ideologias. Chegou a hora dos profissionais das instituições e terminou a hora dos amadores das ruas. E seja o que Deus quiser.

Não é impossível que os que estão sob suspeita e mesmo acusação sofram a metamorfose de se converterem no contrário do que são, em nome do primado das instituições. Sem metamorfoses de consciência e de protagonismo, dificilmente superaremos os impasses com os quais nos defrontamos. Entre nós, as apurações da Polícia Federal e da Justiça nos falam menos de delinquentes propriamente ditos do que de pessoas com graves limitações de formação política, tanto na esquerda quanto na direita, que tem uma concepção pobre, deformada e inescrupulosa de seu protagonismo político.

As próprias instituições, cujas funções essas pessoas desempenham, num cenário modificado pela centralidade da ética e dos éticos que atuam nas investigações e nos julgamentos, já as estão, de vários modos, chamando a desempenhar o papel, ainda que temporário, de funcionários do bem. Mesmo que com o risco da má intenção de se aproveitarem da realidade política adversa para no futuro continuarem a colher frutos das irregularidades que são capazes de cometer. Algo como ceder os anéis para preservar todos os dedos.
TIA ERON (DEP. FED. PRB-Bahia)
O voto dela será decisivo para que o Conselho de Ética da Câmara recomende ou não a cassação
do mandato do deputado Eduardo Cunha

A dimensão teatral esclarecedora está no protagonismo inesperado de uma deputada federal desconhecida, Tia Eron, chamada a colocar-se de um lado ou de outro da disputa política. Seu voto na Comissão de Ética desenhará os rumos políticos do País.
[Tia Eron é do PRB – Partido Republicano Brasileiro – mesmo partido de Celso Russomanno e criado pela Igreja Universal do Reino de Deus a fim de ter influência no mundo político e no poder!]

Dependendo do que decidir, o voto de Tia Eron definirá sua personalidade, nunca mais será a mesma pessoa, encarnará para sempre o acerto ou o erro, o bem ou o mal, a Pátria ou o fisiologismo político. Seu voto nos dirá se os fundamentos éticos da verdadeira política, inscritos nas instituições e no que nos resta de consciência cívica, capturaram sua personalidade ou foram capturados por aquilo que a ética popular repudia.

Só que a boa opção da deputada se tornará, fatalmente, a má opção da política. Sua opção ética dará ao processo político o rumo que anulará tudo que o moralismo popular tem pretendido e também o que a política carece, no limite com o impedimento da presidente da República que teria administrado mal a coisa pública, violando a Lei de Responsabilidade Fiscal. É que a trama que vitimou a presidente, vitimou também o País e se não for desatada o País é que pagará o preço do erro. Não é o caráter da presidente que está em julgamento, é o ato que a definiu pelo ilícito de que é acusada. Minúcia que o moralismo popular tem muita dificuldade para compreender.

Esse moralismo se baseia numa pauta estreita de referências para julgar pessoas e situações. Aprisionado entre o honesto e o desonesto, é essencialmente incompatível com a política. Para sair da crise pela via institucional, o País não pode varrer de vez os corruptos e a corrupção. Precisa do apoio dos que investidos em mandatos legais e legítimos podem ou não viabilizar a apuração de responsabilidades e decidir pelo afastamento do poder daqueles que cometerem ilícitos e envolveram-se em irregularidades.

Porém, tudo tem seu tempo e hora. Se todos os acusados de corrupção e irregularidades fossem de uma só vez afastados do poder e das funções políticas que ocupam atualmente, mesmo sendo minoria e minoria poderosa, o País provavelmente entraria em outra crise.

O populismo que domina nossa concepção de política não reconhece a desonestidade eventual dos pais dos pobres. A alternativa, por outro lado, fere a consciência dos íntegros e dos que se pautam por uma sólida moral: graduar o afastamento político de corruptos e suspeitos que ocupam posições sólidas na estrutura de poder para que, em face da circunstância, cumpram o dever de suas funções, removam os de remoção prioritária e viabilizem as mudanças e reformas de que o país carece com urgência.

* José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Possui uma ampla e notória bibliografia, dentre a qual cita-se: A Política no Brasil: lúmpen e místico (Editora Contexto).

Fonte: O Estado de S. Paulo – Suplemento ALIÁS – Domingo, 12 de junho de 2016 – Pág. E2 – Internet: clique aqui.

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