«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Economia brasileira: Qual é o nó da questão?

Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo

“As despesas com juros e swap cambial alcançaram em 2015 valor equivalente a mais de quatro vezes o orçamento da educação e da saúde, mais de cinco vezes o déficit da previdência, 18 vezes o Bolsa Família e 25 vezes o orçamento de transporte”
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Economista e Professor da Unicamp

O “ajuste econômico” até agora anunciado pelo governo Temer é qualitativamente distinto do ensaiado em 2015 pelas “mãos de tesoura” de Joaquim Levy. A revisão da meta fiscal autorizou quase dobrar o valor do déficit primário. A mudança obedece a uma lógica oposta à de cortes nas despesas discricionárias, com o propósito de converter o déficit fiscal em superávit a curto prazo. No primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff esse objetivo foi obstado pela queda acentuada da receita.

Alguns analistas já atinaram: a ladina ampliação do déficit primário para mais de 170 bilhões de reais sinaliza a ampliação dos gastos no ano em curso, em vez do esperado e alardeado corte. A meta de superávits primários como porcentual do PIB foi substituída pelo conceito de limite ao crescimento do gasto primário, cuja ampliação deverá ser proporcional à da inflação do ano anterior.

A nova métrica do “equilíbrio fiscal” busca impedir o crescimento real do gasto primário de um ano para o outro. A redução de sua participação porcentual no PIB não será obtida pelo corte absoluto a curto prazo, mas pela perda da participação relativa decorrente de um crescimento inferior ao da expansão do PIB ao longo dos anos.

A nova perspectiva procura contornar os percalços do austericídio fiscal de 2015. Nesse ano, em cenário de retração econômica, a busca de superávits primários exigia mais cortes, desatando uma espiral viciosa, pró-cíclica, que derrubava ainda mais a arrecadação e tornava distante a obtenção dos resultados pretendidos.

O equilíbrio da relação entre dívida e PIB exige que a dívida bruta do setor público cresça à mesma taxa que o PIB nominal. Para evitar a majoração da razão fatal é preciso quitar a diferença entre o crescimento do numerador (dívida) e denominador (PIB nominal). Isso exige que a arrecadação do governo supere suas despesas em montante proporcional ao serviço da dívida (superávit primário). Caso o setor público consolidado apresente, por hipótese, um déficit nominal de 10% do PIB em 2016, e o crescimento nominal da economia seja de 5%, seria necessário um superávit primário de 5% para a manutenção da relação dívida/PIB.

Ao longo de 15 anos (1998 a 2013) os superávits primários não foram capazes de impedir o salto da dívida bruta do setor público. A indigitada saltou de 40%, em 1998, para quase 58% do PIB, em 2013, acompanhada da elevação de 6% na carga fiscal, também medida em relação ao PIB.

Essa dinâmica perversa decorre dos efeitos da política monetária no resultado fiscal: em 2016 aproximadamente 90% do déficit nominal que engorda a dívida bruta é devido ao pagamento de JUROS nominais, e não ao déficit primário.

As despesas com juros e swap cambial alcançaram em 2015 valor equivalente a mais de quatro vezes o orçamento da educação e da saúde, mais de cinco vezes o déficit da previdência, 18 vezes o Bolsa Família e 25 vezes o orçamento de transporte. Caso os economistas insistam em tentar ocultar o paquiderme debaixo do tapete, a nova meta fiscal promete ser tão insuficiente quanto a anterior na contenção da trajetória da dívida bruta.

Aí, entra na festa a convidada principal que, num ritual de prestidigitação, estava ausente. No mundo da finança globalizada as políticas econômicas “internas” estão limitadas pela busca de condições atraentes para os capitais em movimento. A estratégia brasileira é seduzir os investidores “estrangeiros” com os juros mais altos do mundo e apreciar a moeda doméstica para ajudar no combate à inflação.

Desde os anos Fernando Henrique Cardoso, a abertura da conta de capitais à brasileira é o fio desencapado que detona choques de juros na instância fiscal e traumas de valorização/desvalorização do câmbio que desorganizam as expectativas de longo prazo, leia-se, as decisões de investimento. Libertar a economia dos grilhões da armadilha monetária exige a adoção de políticas prudenciais para administrar os fluxos de capitais. [Traduzindo: se não mexermos nesses juros astronômicos que atraem o capital especulativo, não reduziremos jamais nossa dívida!]
 
A imposição de um teto para o crescimento do gasto primário será insuficiente para domesticar a relação dívida/PIB, se a política monetária permanecer como sujeito oculto da narrativa dos economistas. Ademais, o debate acerca do gasto público precisará superar a questão da quantidade, analisar sua qualidade e incluir o questionamento da estrutura tributária. Para os homens de boa-fé, isso significa discutir quem paga e quem recebe.

No liberal Estados Unidos, aproximadamente 45% da carga tributária incide sobre a renda, lucros e ganho de capital e menos de 20% sobre bens e serviços. Na desenvolvida Dinamarca, a participação da tributação sobre renda, lucros e dividendos chega a quase 65% da carga. No Brasil, a tributação sobre renda e lucro representa menos de 20% da carga, enquanto a incidente sobre bens e serviços responde por mais de 50%. [Traduzindo: o brasileiro mais pobre acaba pagando mais impostos em proporção ao brasileiro mais rico! Isso porque, a carga de tributos é mais pesada sobre bens e serviços que toda a população consome, enquanto que o lucro e a renda real ficam quase livres de tributos!]

Nas despesas, preocupa especialmente a ameaça aos gastos com saúde e educação, bem como a tentativa de relativizar os direitos adquiridos. O exame das contas da Previdência, sistematicamente acusada como a razão de todos os males, apresenta superávit no setor urbano desde 2009, por causa do aumento do emprego formal.

A previdência rural apresenta um componente de assistência social. Quem passou a vida trabalhando no campo tem direito à aposentadoria por idade, mesmo sem ter contribuído para o INSS, comprovando o exercício da atividade rural por um período mínimo exigido. O valor do benefício é de um salário mínimo. Os aumentos diferenciados para o salário mínimo desempenharam papel central na redução da desigualdade no Brasil.

Fonte: CartaCapital – Economia – Quarta-feira, 1 de junho de 2016 – 03h40 –  Internet: clique aqui.

OUTRO PONTO DE VISTA

Chegar chegando, Ilan?

Fabio Alves

O corte na taxa de juros não depende só do novo presidente do
Banco Central ou de nosso país
ILAN GOLDFAJN
Economista indicado por Michel Temer para presidir o Banco Central do Brasil

Logo que Ilan Goldfajn foi confirmado para presidir o Banco Central, muitos analistas apostaram que ele ia “chegar chegando” e cortar agressivamente a taxa Selic, hoje em 14,25% ao ano. Alguns acreditam que ele poderia reduzir os juros já na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no mês de julho. Até porque a sabatina dele no Senado foi adiada para a terça-feira da semana que vem, provavelmente impedindo a participação de Goldfajn no próximo encontro do Copom, marcado para os dias 7 e 8 de junho. Diante da contração da economia, há quem acredite que, sob o comando de Goldfajn, o BC irá reduzir os juros básicos em dois pontos porcentuais até o fim do ano. E para o fim de 2017, os mais otimistas do mercado estimam a taxa caindo até 9%. Nos últimos dias, todavia, índices de preços mais salgados do que o esperado, estimativas piores para a inflação oficial e a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed) deve elevar os juros americanos ao menos duas vezes neste ano injetaram uma dose de cautela no mercado, que agora começa a desconfiar que Goldfajn vai “chegar e... aguardar”.

Duas forças são preponderantes no momento para as apostas em relação à trajetória dos juros básicos neste ano e no próximo: a recessão – ou um maior hiato do produto, como os economistas preferem dizer – e a contribuição da política fiscal para conter a demanda, permitindo assim uma desaceleração maior da inflação. Ontem, o IBGE divulgou a contração de 0,3% da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano, ampliando o hiato do produto. Isso, por si só, já permitiria uma redução dos juros básicos. Mas quanto cai e em qual velocidade? A resposta dependerá da aprovação de medidas fiscais e de reformas, como a da Previdência, no Congresso. Sem essas medidas, as estimativas para a inflação ficam mais resistentes e a Selic cai menos. No curto prazo, é razoável esperar a aprovação da desvinculação de receitas da União (DRU), mas somente isso não será suficiente para conter os gastos públicos. Para tanto, é preciso também passar no Congresso a emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento das despesas do governo.

Seria correr um risco, em termos de tornar mais difícil a batalha de controlar as expectativas inflacionárias, começar a cortar os juros antes da aprovação da PEC que fixa um teto ao crescimento do gasto público, o que sinalizaria para o mercado que a política fiscal será mais apertada daqui em diante. Esse, porém, não será o único senão para Goldfajn cortar os juros mais cedo do que tarde. A inflação recente, especialmente em razão da alta mais forte observada nos preços dos alimentos, tem se mostrado resistente. Os índices têm ficado acima do esperado. Só na virada do segundo trimestre para o terceiro é que a sazonalidade favorecerá a inflação, que perderá seu ímpeto com mais força.

Além disso, quando os analistas fizeram suas apostas mais otimistas para o corte da Selic, o mercado ainda acreditava que o Fed iria elevar os juros americanos apenas uma vez em 2016, se muito. Nos últimos dias, porém, os dirigentes do Banco Central americano adotaram um tom mais duro, levando o mercado a crer que haverá, no mínimo, duas altas de juros neste ano. Se esse cenário se concretizar, o diferencial de juros americano e brasileiro vai cair bastante, diminuindo a atratividade do capital estrangeiro para aplicações no Brasil e aumentando a migração de dólares de volta aos EUA. Menor entrada de dólares no País provocaria uma alta da moeda americana frente ao real, com efeito importante sobre a inflação. Ou seja, o quanto Goldfajn poderá cortar os juros já não depende mais só dele, ou do Brasil.

Fonte: ESTADÃO.COM.BR – Economia & Negócios – Quinta-feira, 2 de junho de 2016 – 05h00 – Internet: clique aqui.

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