23º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

Evangelho: Lucas 14,25-­33

Naquele tempo:
25 Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse:
26 «Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos,
seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.
28 Com efeito: qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário,
29 ele vai lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a caçoar, dizendo:
30 “Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!”
31 Ou ainda: Qual o rei que ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem
se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil?
32 Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei ainda está longe, envia mensageiros para negociar as condições de paz.
33 Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!»

JOSÉ ANTONIO PAGOLA 

Realismo responsável

Os exemplos utilizados por Jesus são muito diferentes, mas os seus ensinamentos são os mesmos: quem empreende um projeto importante de forma temerária, sem avaliar antes os meios e forças para alcançar o que pretende, corre o risco de acabar fracassando.

Nenhum lavrador começa a construir uma torre para proteger suas vinhas, sem antes ter tido tempo para calcular se a poderá concluí-la com êxito, para que a obra não fique inacabada, gerando provocações por parte dos vizinhos. Nenhum rei decide entrar em combate com um adversário poderoso, sem antes analisar se aquela batalha pode terminar em vitória ou será um suicídio.

À primeira vista, pode parecer que Jesus convide para um comportamento prudente e precavido, muito afastado da audácia com que fala habitualmente aos seus. Nada mais distante da realidade. A missão que ele quer confiar aos seus é tão importante que ninguém deve comprometer-­se com ela de forma inconsciente, temerária ou presunçosa.

Sua advertência ganha grande atualidade nestes momentos críticos e decisivos para o futuro da nossa fé. Jesus chama, em primeiro lugar, a uma reflexão madura: os dois protagonistas das parábolas «sentam-­se» para refletir. Seria uma grave irresponsabilidade viver hoje como discípulos de Jesus, que não sabem o que querem, nem onde pretendem chegar, nem com que meios devem trabalhar.

Quando iremos sentar para juntar forças, refletir juntos e procurar entre todos o caminho que temos de seguir? Não necessitaremos dedicar mais tempo, mais escuta do evangelho e mais meditação para descobrir chamadas, despertar carismas e cultivar um estilo renovado de quem segue Jesus?

Jesus chama também ao realismo. Estamos vivendo uma mudança sociocultural sem precedentes:
* Será possível disseminar a fé neste mundo novo que está nascendo, sem o conhecer bem e sem o compreender por dentro?
* Será possível facilitar o acesso ao Evangelho ignorando o pensamento, os sentimentos e a linguagem dos homens e mulheres do nosso tempo?
* Não será um erro responder aos desafios de hoje com estratégias de antigamente?

Seria uma temeridade nestes momentos atuar de forma inconsciente e cega. Expomo-nos ao fracasso, à frustração e até ao ridículo. Segundo a parábola, a «torre inacabada» só serve para provocar a zombaria das pessoas para com o construtor. Não devemos esquecer a linguagem realista e humilde de Jesus que convida os Seus discípulos a ser «fermento» no meio do povo ou punhado de «sal» que dá sabor novo à vida das pessoas.

Cristãos lúcidos

É um erro pretender ser «discípulos» de Jesus sem jamais deter-se para refletir sobre as exigências concretas que encerra seguir seus passos, e sobre as forças com que temos de contar para isso. Nunca Jesus pensou em seguidores inconscientes, mas em pessoas lúcidas e responsáveis.

As duas imagens que ele emprega são muito concretas. Ninguém se põe a «construir uma torre» sem tirar um tempo para refletir sobre como deve atuar para conseguir acabá-la. Seria um fracasso começar a «construir» e não poder levar a término a obra iniciada.

O Evangelho que Jesus propõe é uma maneira de «construir» a vida. Um projeto ambicioso, capaz de transformar nossa existência. Por isso, não é possível viver de maneira evangélica sem deter-se para refletir sobre as decisões oportunas a se tomar em cada momento.

O segundo exemplo também é claro. Ninguém enfrenta de modo inconsciente um adversário que lhe vem atacar com um exército muito mais poderoso, sem refletir previamente se aquele combate terminará em vitória ou será um suicídio. Seguir Jesus significa enfrentar os adversários do Reino de Deus e sua Justiça. Não é possível lutar a favor do Reino de Deus de qualquer maneira. É preciso lucidez, responsabilidade e decisão.

[...] Segundo Jesus, entre os seus seguidores, sempre será necessária a meditação, o debate, a reflexão. Do contrário, o projeto cristão pode ficar inacabado.

É um erro, na Igreja de Jesus, sufocar o diálogo e impedir o debate. Necessitamos mais do que nunca, refletir e deliberar juntos sobre a conversão que os seguidores de Jesus devem viver hoje. Não continuar trabalhando como se nada houvesse. «Sentar-nos» para pensar com que forças temos de construir o Reino de Deus na sociedade moderna. Do contrário, nossa evangelização será uma «torre inacabada».

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana (Bizkaia – Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo C – Internet: clique aqui.

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