Papa Francisco reforma a Cúria Romana
Francisco conclui a primeira fase da
reestruturação da cúria
Jesús Bastante
Religión
Digital
01-09-2016
“Vai, Francisco, e reforma a minha Igreja, que ameaça
ruir”.
Este é o principal desafio interno do Governo do Papa
Francisco.
COMISSÃO FORMADA POR 9 CARDEAIS grupo de assessoria às reformas implementadas por Papa Francisco (à cabeceira da mesa) |
O
homem que veio do fim do mundo para dirigir a todo-poderosa hierarquia
eclesiástica vaticana propôs-se como primeiro
objetivo a transformação da cúria romana. E o está alcançando. Com a
criação do novo dicastério para o Serviço
do Desenvolvimento Humano Integral, Bergoglio conclui a primeira fase
de uma profunda reestruturação do Governo na Santa Sé, três anos após sua
chegada a Roma. Um recorde, se tivermos presente os tempos da Igreja.
1º Passo:
Uma
das primeiras decisões executivas de Francisco foi a criação do C-9, um grupo de
cardeais procedentes de todas as partes do mundo e coordenado pelo hondurenho
Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, com o objetivo de reformar uma cúria
atrofiada e onde a sede de poder ultrapassava o desejo do serviço. O excessivo poder da cúria e sua falta de controle foi, sem dúvida
nenhuma, uma das razões pelas quais Bento XVI acabou renunciando e um dos temas
chaves das reuniões prévias ao Conclave que elegeu o então arcebispo de Buenos
Aires.
Simplificar, harmonizar e
tornar transparente o trabalho da cúria romana, açoitada pelos escândalos
e causa do crescente desprestígio da instituição, foram os pedidos do Papa aos
membros da comissão, segundo assegura seu secretário, dom Marcelo Semeraro.
2º Passo:
Um
trabalho que foi ordenado em quatro passos, o primeiro dos quais veio
precisamente com a criação deste grupo. O segundo passo foi a reforma do Sínodo dos Bispos e a convocação de um encontro para falar sobre
a família, na qual, pela primeira
vez, se podiam ouvir as opiniões de todos os fiéis do mundo, e não somente
as dos líderes eclesiásticos.
3º Passo:
O
terceiro passo veio com a reforma
econômica e o saneamento do Banco Vaticano.
4º Passo:
Finalmente,
a criação de dois novos dicastérios
(Leigos, Família e Vida e o
dicastério anunciado nesta quarta-feira: Serviço
do Desenvolvimento Humano Integral) que aglutinam várias dezenas de organismos que desaparecerão ou serão
reestruturados, aliviando o peso da cúria.
Após
três anos de reuniões, os trabalhos do C-9 começaram a ser operacionais. Dessa
maneira, Francisco conclui a reestruturação da cúria, que levou à criação de quatro grandes blocos
organizativos.
1º bloco organizativo:
Em
primeiro lugar, o “superministério” ou Secretaria para a Economia,
encarregado de controlar os gastos da cúria.
2º bloco organizativo:
Em
segundo lugar, a coordenação dos meios
de comunicação, com a criação da Secretaria para a Comunicação.
3º bloco organizativo:
Em
terceiro lugar, a criação de um novo dicastério para os Leigos,
a Família e a Vida, muito na linha de sua exortação Amoris Laetitia.
4º bloco organizativo:
E,
finalmente, o dicastério anunciado na quarta-feira, 31 de agosto, sobre o Serviço
do Desenvolvimento Humano Integral, que será competente nas questões
que se referem às migrações, aos necessitados, aos enfermos e excluídos, aos
marginalizados e às vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais,
aos encarcerados, aos desempregados e às vítimas de qualquer forma de
escravidão e de tortura.
Deste
modo, Francisco aborda grandes mudanças nas questões econômicas, um dos
aspectos mais polêmicos do governo Vaticano há décadas; enfrenta o desafio da
evangelização através dos “novos púlpitos”, os meios de comunicação e as redes
sociais; abre um caminho para uma mudança de modelo na pastoral familiar, no
papel da mulher e dos leigos na Igreja, inclusive em postos de comando; e faz a instituição “retornar” ao Evangelho
dos mais pobres e necessitados com a criação de um dicastério dedicado aos mais
marginalizados. Um anúncio, este último, que se faz na metade do Ano da Misericórdia e dias antes da
canonização da “santa dos pobres”, Madre Teresa de Calcutá.
Para
além das pressões internas, o Papa deixou, em uma infinidade de ocasiões, sua
firme intenção de levar adiante a reforma da cúria “com determinação, lucidez e
resolução, porque a Igreja sempre deve
ser reformada”. Foi o que disse aos membros da cúria durante um encontro de
Natal.
Nem
escândalos como os do Vatileaks II, as visitas de alguns curiais ao Papa
emérito Bento XVI ou os posicionamentos públicos contra as reformas propostas
por Bergoglio conseguirão parar Francisco em sua missão. Bergoglio é um especialista na luta contra o “terrorismo das fofocas”,
o “Alzheimer espiritual” e outros pecados de alguns dos máximos mandatários da
Igreja.
Porque
é evidente que as mudanças na estrutura têm como objetivo último, junto com uma
mudança na forma de trabalhar, um golpe de timão nos destinatários do serviço:
já não podem ser os eclesiásticos, já
não pode existir uma cúria única e exclusivamente centrada em si mesma,
obcecada com a “autorreferencialidade” que tanto mal causou à estrutura
vaticana. O autêntico objetivo das reformas é socorrer aqueles a quem Jesus se
dirigiu: os pobres, os perseguidos, os fracos, os aleijados.
Por
isso, junto com o trabalho no âmbito econômico e comunicativo, as outras duas
pernas da mesa das reformas sejam dois grandes dicastérios dedicados aos
leigos, às mulheres e à família, por um lado; e aos refugiados, doentes,
marginalizados, migrantes ou vítimas do tráfico de pessoas, por outro. Nada é
por acaso na estratégia de Francisco, que primeiro surpreendeu a todos com seus
gestos e seu estilo participativo; posteriormente, com suas palavras e
documentos; e agora, finalmente, com a tomada de decisões executivas, que
contam com o apoio – mais ou menos decidido – da maior parte da hierarquia (em
um curioso exercício de “autorreforma”) e o respaldo, em muitos casos entusiasta, da maior parte dos fiéis de todo
o mundo.
Traduzido do espanhol por André Langer. Acesse a versão original
deste artigo, clicando aqui.
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