Para que servem as eleições?
Ricardo
Kotscho
Jornalista
Em 2016, não há sinais em parte alguma de que estamos
na reta final
de mais uma eleição, reinam o silêncio e o
desinteresse, poucos
se animam a discutir as propostas dos candidatos
PRINCIPAIS CANDIDATOS A PREFEITO DE SÃO PAULO - CAPITAL: Celso Russomanno, Marta "Suplicy", Luiza Erundina, Fernando Haddad, João Dória, Marco Feliciano e Andrea Matarazzo (vice de Marta do PMDB) |
Para
que servem as eleições?
Faço-me
esta pergunta ao observar, por dever de ofício, o que anda acontecendo na
campanha para as eleições municipais de 2 de outubro, daqui a três semanas.
Nas
entrevistas, debates e na propaganda eleitoral, os candidatos prometem qualquer
coisa para ganhar o voto do eleitor.
O mantra de todos é que dá
para fazer "mais e melhor", consertar tudo o que está errado e construir o que
falta em seis meses.
Como?, eu pergunto, se todos sabemos que o dinheiro acabou e
muitos governos pelo país afora não conseguem nem pagar os salários do
funcionalismo.
Por toda parte, encontramos
obras abandonadas, serviços públicos parando,
o lixo se espalhando pelas ruas
esburacadas, que ameaçam pedestres e motoristas, o mato crescendo, tornando cada vez mais precário nosso sagrado
direito de ir e vir.
A acreditar nas propagandas,
a saúde pública vai oferecer atendimento melhor do que o Einstein e o Sírio
juntos,
acabando com as filas nos pronto socorros. [Os
hospitais Albert Einstein e o Sírio Libanês de São Paulo, capital, considerados
de referência e excelência]
A máfia dos fiscais vai
parar de roubar, devolver o dinheiro surrupiado dos contribuintes e se dedicar à
benemerência.
Nossas
escolas municipais servirão de
exemplo de educação de qualidade para o Santa
Cruz e o Bandeirantes. [Dois dentre os mais conceituados e melhores
colégios da capital de São Paulo]
A merenda escolar, que não terá mais
verbas desviadas, será de dar inveja ao Alex
Atala. [Conceituado restaurante da
capital paulista]
Assim
é o jogo, campanha após campanha, eleição após eleição. Costuma-se dizer que só é feio perder.
Fica
uma disputa para ver quem vai pagar salários mais altos a médicos e
professores, construir mais creches e escolas, iluminar mais ruas, abrir novos
corredores de ônibus, multiplicar a guarda municipal, oferecer mais de tudo e
cobrar menos taxas e impostos.
Vão me dizer que sempre foi
assim, mas este ano, sem a grana preta das grandes empresas, que bancavam as campanhas
com marqueteiros de grife, esperava-se
que este cenário fosse mudar.
Eleição, qualquer eleição – o instrumento democrático
por excelência que nos dá o direito de mudar o destino com as próprias mãos –, respondendo à pergunta que fiz na abertura,
deveria servir, antes de mais nada, como um tempo de renovação
de esperanças, mas continua servindo apenas para vender ilusões.
À
medida em que a campanha avança, os candidatos repetem suas propostas como um
mantra, qualquer que seja a pergunta.
Se eleitos, e são cobrados
por não fazer o que prometeram na campanha, botam a culpa nas crises e heranças
malditas
que os deixaram sem recursos.
De
tanto repetir as propostas impossíveis, acabam acreditando nelas.
Durante as campanhas, os
candidatos têm soluções para tudo, as formas mais simples para resolver os problemas
mais complexos.
Uma
vez vitoriosos, logo começam a se queixar do aumento das despesas e da queda na
arrecadação.
A
repetição do mesmo enredo, muitas vezes com os mesmos personagens, vai cansando
e desencantando o eleitorado, a tal ponto que, hoje, se não fosse obrigatório, boa parte nem iria votar. Votar para
quê?, perguntam-se.
Pertenço à geração que
ocupou as ruas do país, em 1984, enfrentando uma ditadura militar, para
reconquistarmos o direito de escolher o presidente da República em eleições
diretas.
De
lá para cá, cada eleição era uma festa, casas e veículos enfeitados com
propaganda dos candidatos, carros de som percorrendo as ruas, crianças cantando
os jingles, enormes carreatas cruzando as cidades, comícios que eram
verdadeiras celebrações da democracia.
Em 2016, não há sinais em
parte alguma de que estamos na reta final de mais uma eleição, reinam o
silêncio e o desinteresse, poucos se animam a discutir as propostas dos candidatos.
É o
que temos para o momento. [Até que resolvamos mudar,
de verdade!]
Vida
que segue.
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