Cuidado, Cunha não estava sozinho!
Uma articulação desafiadora
Glauco Peres
da Silva
Professor
do Departamento de Ciência Política – USP
Eduardo Cunha é produto do meio político e, apesar da
habilidade em articular por seus interesses, não é
excessão.
EDUARDO CUNHA assiste à proclamação do resultado da votação que cassou o seu mandato de Deputado Federal Câmara dos Deputados (Brasília - DF), 12 de setembro de 2016 |
O
presidente da Câmara dos Deputados é figura fundamental no funcionamento do
presidencialismo de coalizão brasileiro, mas Eduardo Cunha (PMDB-RJ) levou as vantagens do cargo ao extremo.
Apesar de ser do PMDB, ele se indispôs diretamente com o Executivo desde sua
eleição, ao derrotar o candidato do Palácio do Planalto, Arlindo Chinaglia
(PT-SP), e usar de suas prerrogativas para pressionar o governo enquanto pôde.
Buscou manter privilégios, ao que parece. Reinterpretou o regimento, quebrando
práticas comuns de seus antecessores para encaminhar projetos que lhe eram
caros. Formou um grupo de deputados
fiéis a si, enfraquecendo as lideranças partidárias. Foi útil à boa parte
da oposição dentro e fora da Câmara que via vantagens no enfraquecimento da
ex-presidente Dilma Rousseff. Sua atuação
foi truculenta e desafiou desafetos.
Salta aos olhos a sua
capacidade de mobilização dos demais parlamentares. Não se sabe ao certo a
origem desta situação, mas se suspeita que passe tanto pelo apoio financeiro nas campanhas quanto em
possíveis ações ilícitas.
O
principal ponto é que Cunha é produto do
meio político e, apesar de uma habilidade excepcional em articular em prol
de seus interesses, não deve ser visto
como uma exceção. Parece cedo para afirmar que seu futuro como político
chega ao fim. Isso ainda depende do andamento das investigações da Lava Jato.
Certamente, porém, continuará lutando da forma mais desafiadora que conseguir.
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