É hora de virar a página
Algodão entre cristais
Dora Kramer
Cármen Lúcia assume o Supremo Tribunal Federal
com apelo à “pacificação”, sem prejuízo do bom combate
CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA Assume nesta segunda-feira, 12 de setembro de 2016, a Presidência do STF |
A crise persiste, a
turbulência resiste e os conflitos de natureza política ainda insistem em
marcar presença no ambiente de maneira contundente. Ciente do cenário nacional ainda
conturbado em que assumirá amanhã [12 de setembro] a presidência do Supremo
Tribunal Federal, a ministra Cármen
Lúcia Antunes Rocha – mineira de Montes Claros, onde nasceu há 62 anos sob
o signo de Áries – fará um discurso de
panos quentes, no sentido da união do País, do fim da ideia da divisão entre
“nós” e “eles”.
Ela
acredita que a fala estará em sintonia com o anseio da maioria da população e
irá ao encontro da necessidade mais
urgente do Brasil: a pacificação entre as forças políticas (sem prejuízo do
exercício da oposição e da liberdade de expressão) e a harmonia entre os Poderes. Notadamente no âmbito do Judiciário
– aqui entendido o destaque ao tribunal que presidirá pelos próximos dois anos.
A
despeito das posições firmes e declarações de clareza indubitável – é da
autoria dela o conceito expresso durante o julgamento do mensalão sobre o caráter criminoso do uso de caixa 2 nas
campanhas eleitorais – a ministra no primeiro momento evitará alimentar
polêmicas. O que não significa que não as “comprará” adiante, ao longo do
mandato.
Quando chamada a se
manifestar, em duas delas certamente enfrentará resistências entre magistrados:
1ª)
aumento do teto salarial do Poder Judiciário (em tramitação no Congresso). Cármen Lúcia é contra o reajuste, pelo
mesma razão que decidiu deixar de lado a
tradicional festa de comemoração da posse de presidentes do Supremo. Não é
hora de gastar, de reivindicar vantagens nem de simular prosperidade em momento
de privação geral na economia.
2ª)
A nova presidente do Supremo Tribunal Federal também contraria boa parte de seus pares ao se opor à concessão de
auxílio-moradia, ao menos para a magistratura de instância superior. Para
dar o exemplo, deixou o apartamento funcional e comprou uma casa em Brasília.
Financiada. Tais características não fazem de Cármen Lúcia uma heroína: são convicções de uma mulher culta, mas comum,
em universo de gente que se considera incomum. De onde, provocará
estranheza.
Desculpa
esfarrapada
Para
Eduardo Cunha melhor seria que o
menor número de deputados comparecesse à sessão marcada amanhã, cuja pauta é a
cassação de seu mandato. Ausências o favorecem.
Os aliados dele simplesmente
não irão.
Os adversários fazem campanha para assegurar presenças. No meio disso há os
mais interessados nas eleições municipais. São instados a comparecer sob o
argumento de que o eleitorado não lhes perdoará a ausência.
A
isso respondem: em 2018, ninguém vai se lembrar de quem votou ou deixou de
votar na cassação de Eduardo Cunha, mas em 2016 o prefeito, de quem depende a
eleição futura do deputado, lhes cobrará presença imediata.
Com
essa justificativa, muitos irão se
ausentar dizendo que o motivo foi o atendimento às bases. [Estaremos atentos, registrando e recordando os nomes desses
Deputados Federais que se ausentarem dessa sessão!]
DILMA ROUSSEFF E LULA Ainda falta cair a "ficha" do atual momento político brasileiro para ambos! |
Terrenos
na lua
Os primeiros movimentos
pós-impeachment do PT indicam que o partido continua operando no campo da
fantasia:
a) Pede
que o Supremo anule o julgamento, a despeito das constantes negativas;
b)
insiste na “denúncia” internacional do golpe, cuja tendência é cair no vazio
diante da crescente recusa dos países de aceitar a tese;
c)
propõe campanha por eleições diretas já sabendo da impossibilidade
constitucional da empreitada.
Tais propostas animam o
auditório, mas não prestam bom serviço à necessidade de o PT recuperar
credibilidade junto à sociedade.
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