A estagnação do ensino médio, que fazer?
Desafio enfrentado pelas escolas começa antes
do ensino médio
Daniela
Caldeirinha
Gerente
de políticas educacionais da Fundação
Lemann
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos
alunos
brasileiros em 2015 ficou em 3,7, abaixo da meta de
4,3, apesar
de 18 Estados terem aumentado desempenho em relação a
2013.
Só Amazonas e Pernambuco alcançaram o objetivo definido
pelo MEC
SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO - ANTIGO SEGUNDO GRAU |
A
divulgação do Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica (Ideb) do ano de 2015 mostrou que conseguimos avançar de maneira importante nos anos iniciais do ensino
fundamental. No entanto, esse avanço não tem resultado em uma melhoria da
educação como um todo: os anos finais do
ensino fundamental crescem muito abaixo do
desejado e o ensino médio segue estagnado.
Os
desafios encontrados no ensino médio não se iniciam nesta fase. Como atualmente não há clareza sobre o que
os alunos deveriam aprender em cada etapa da escolarização, fica mais difícil
oferecer os conhecimentos essenciais e indispensáveis para que mais adiante
os alunos possam seguir caminhos de aprofundamento, como acontece em outros
países. Ao chegar a esta etapa da vida
escolar, os jovens deveriam encontrar uma escola mais conectada com a vida,
que pudesse ser construída sobre uma base forte que esses estudantes já
deveriam ter.
Nesse
sentido, o Brasil tem neste momento uma grande oportunidade: a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A Base é o conjunto de conhecimentos e
habilidades essenciais que todos os estudantes têm o direito de aprender.
Em elaboração pelo Ministério da Educação, ela deve deixar claro o que é
esperado que o estudante aprenda em cada etapa, colocando o aluno no centro
desse processo.
Como
uma espinha dorsal do sistema educacional, a
Base deve orientar a formação inicial e continuada dos professores, a produção
dos materiais didáticos e as avaliações. Embora tenha enorme potencial para
promover mudanças relevantes no ensino médio e na educação como um todo - e
certamente este é um passo que o País precisa dar -, há outros fatores que
devem ser levados em conta na análise dos resultados do ensino médio. Como
estamos diante de um cenário bastante desafiador, é muito importante que seja
feita uma profunda reflexão sobre como avançar rumo à educação de qualidade que
desejamos para todas as nossas crianças e jovens.
Observa-se uma maior dificuldade em atingir a meta do MEC por parte do Ensino Médio |
Fonte: O Estado de S. Paulo
– Metrópole/Educação – Sexta-feira, 9 de setembro de 2016 – Pág. A13 – Internet: aqui.
“Ensino médio precisa levar em conta projeto
de vida dos jovens”
Victor Vieira
Para Priscila Cruz, presidente do “Movimento Todos pela
Educação”, outro problema é a pouca atratividade da carreira docente
PRISCILA CRUZ |
O
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos alunos brasileiros do
ensino médio está estagnado desde 2011 e abaixo da média estipulada pelo
Ministério da Educação (MEC). Dados divulgados nesta quinta-feira, 8, pelo
ministro Mendonça Filho revelam, ainda, que o ensino médio da rede privada teve o
pior desempenho desde o início da série histórica do indicador, iniciada em
2005.
A
presidente do Movimento Todos pela
Educação, Priscila Cruz, avalia
os desafios da educação básica.
1.
Por que há tanta dificuldade de avançar no ensino médio no Brasil?
Priscila Cruz: Basicamente por duas
razões. O desenho do ensino médio é ineficiente, com 13 disciplinas obrigatórias. Não dá para ter bom aprendizado com
esse modelo. É preciso ter ênfase por
áreas e levar em conta o projeto de vida dos jovens. Outro problema é a carreira docente [de professor], que não tem atratividade. Não estamos
conseguindo atrair o bom aluno do ensino médio para dar aulas. E o curso superior e as formações continuadas
não preparam bem.
2.
E por que a rede privada também não melhora?
Priscila Cruz: Há uma noção distorcida
sobre a rede particular, que não é tão superior à pública. A carreira docente também não é atrativa no colégio privado.
3.
E qual é o desafio para o ensino fundamental 2?
Priscila Cruz: Essa etapa fica no meio e
não é pauta dos secretários municipais nem dos estaduais. O aluno sai daquela configuração de um professor apenas e começa a ter
um professor por disciplina. Além disso, a adolescência é a fase em que se
vivem mudanças físicas e psicológicas. Isso
exige do poder público políticas específicas para essa fase. Seria melhor
equilibrar a divisão entre Estados e municípios nessa fase (ambos costumam
ofertar o fundamental 2). A prefeitura
deveria cuidar só da criança: creche, pré-escola e fundamental 1. Já o Estado deveria cuidar do adolescente e
do jovem, o que corresponde ao fundamental 2 e ao médio.
Somente Pernambuco e Amazonas conseguiram atingir as metas propostas pelo MEC ao Ensino Médio E observe-se que não são metas tão elevadas!!! |
Fonte: O Estado de S. Paulo –
Metrópole/Educação – Sexta-feira, 9 de setembro de 2016 – Pág. A13 – Internet: clique aqui.
O Ideb e o teto
Cida Damasco
MENDONÇA FILHO Atual Ministro da Educação reconhece os índices vergonhosos da educação brasileira |
Há
um bom tempo o acompanhamento dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), considerado o
principal indicador da qualidade da educação no Brasil, não mostra nenhuma
novidade. A cada levantamento, reforça-se a constatação de que o grande problema no Brasil chama-se ensino
médio – os três anos correspondentes ao antigo segundo grau.
Os
números de 2015, divulgados agora, não fogem à regra: o Ideb do ensino médio está estagnado há quatro anos e desde 2013
abaixo da média fixada pelo Ministério da Educação (“nota” de 3,7, frente a
4,5, numa escala de 1 a 10). Houve um pequeno avanço nos indicadores de alguns
Estados, mas só dois, Amazonas e Pernambuco, cumpriram a meta.
O
ministro da Educação, Mendonça Filho,
recém-chegado ao cargo, reconhece que
são índices vergonhosos. Quem entende de educação também concorda com essa
avaliação. Como virar esse jogo, então?
Para vários especialistas, a receita não tem mistério:
* melhorar a formação e a
remuneração dos professores,
* melhorar a qualidade das
aulas, inclusive com o aproveitamento mais adequado dos recursos da tecnologia,
* aprimorar e flexibilizar os
currículos, entre outras coisas.
Só
isso? Não, tudo isso.
A
análise desse quadro parece indicar que dinheiro
não é tudo para melhorar a educação. E é verdade. Não que haja dinheiro sobrando. Várias vezes o governo recorreu ao
bloqueio de gastos nos ministérios para fechar as contas do ano, o que acabou
mascarando quanto de fato foi aplicado em cada área, inclusive nas sociais.
Mas
o fato é que não houve uma política
pública com foco no ensino médio. Houve
sim, nos últimos anos, uma visível concentração de esforços na ampliação do
acesso dos estudantes ao ensino superior.
Estão nessa linhas programas como o Prouni
(para concessão de bolsas de estudo nas universidades privadas) e o Fies (para financiamento das mensalidades). Este
último com exageros e distorções que chegaram a ameaçar sua própria sobrevivência.
Apesar
do consenso no diagnóstico dos problemas do setor, a situação continua
desconfortável. O ministro diz que conta com a aprovação ainda neste ano do
projeto de lei que fixa novas diretrizes
para o currículo do ensino médio, com o objetivo central de torná-lo mais adequado aos interesses dos
alunos. Mas ele mesmo reconhece o risco de bloqueio da pauta no Congresso.
Além
disso, por mais ginástica financeira que seja feita, fica claro que se a PEC do
teto de gastos [projeto do governo
federal que impõe um teto, um limite para os gastos dos Estados e Municípios]
vingar do jeito que está, na sua tramitação pelo Congresso, vai acabar pesando
também sobre as áreas de saúde e educação.
Comentários
Postar um comentário