O verdadeiro grito de independência
TEATRO POLÍTICO, GRITO DOS EXCLUÍDOS
E ELEIÇÕES
Dom José
Reginaldo Andrietta
Bispo
Diocesano de Jales (SP)
O verdadeiro “Grito” de então, contido no povo, se
manifesta hoje no
“Grito dos Excluídos”, uma manifestação de gente
trabalhadora que
ocorre todo dia 7 de setembro, de norte a sul do país
D. JOSÉ REGINALDO ANDRIETTA |
O Brasil festejou nesta
semana sua independência, que, para muitos de nosso povo, ainda é fictícia e
extremamente desejada. O “Grito do Ipiranga”, dado
por Dom Pedro I, foi na realidade a transferência de poderes. Tudo ficou em
família. Para os pobres nada mudou. A
escravidão continuou existindo; depois, mudou de forma. Hoje, a exploração
continua de maneira dissimulada. Aquele “Grito” foi, evidentemente, uma cena
teatral.
O
verdadeiro “Grito” de então, contido no povo, se manifesta hoje no “Grito dos Excluídos”, uma manifestação
de gente trabalhadora que ocorre todo dia 7 de setembro, de norte a sul do
país, desde 1995. O “Grito dos Excluídos” surgiu em resposta aos desafios
tratados na 2ª. Semana Social Brasileira,
promovida pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil [CNBB], no ano de 1994, motivado pela Campanha da
Fraternidade daquele ano, cujo tema foi “Fraternidade
e os Excluídos”.
O
lema daquela Campanha, “Eras tu, Senhor?”,
retrata a ética da solidariedade de
Jesus, contida no Evangelho de
Mateus, capítulo 25: “eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu
estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua
casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim;
eu estava na prisão, e me visitaram”. Compaixão e solidariedade são critérios
fundamentais para se entrar no Reino de Deus.
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Por
isso, o “Grito dos Excluídos” é um clamor dos trabalhadores e trabalhadoras que
vivem e trabalham em condições precárias, dirigido a Deus, confiante de que a
compaixão divina possa se traduzir em compaixão e solidariedade humana. Nas
palavras de nosso saudoso Dom Luciano Mendes de Almeida, o “Grito dos Excluídos
“é o clamor de um povo que toma consciência de seus direitos e anseia por ver
respeitada sua dignidade e decência”.
Defensores
de uma economia sem coração, muitas lideranças políticas de nossa pátria se
conflitam na advocacia indecente de interesses mesquinhos, aliados a interesses
apátridas. Certamente, há grandes interesses econômicos escondidos atrás de
suas decisões políticas. O povo, no entanto, é tratado como expectador nesse
teatro político que poderia ser chamado de circo se não ofendesse aos
trabalhadores circenses, pois estes pelo menos comunicam alegria.
Muitos
atores políticos de nosso país, porém, nos fazem sofrer e chorar, sobretudo ao
pensarmos que adentraram no teatro político respaldados pelo próprio voto do
povo. Pensemos bem a esse respeito, pois estamos em um ano eleitoral. Devemos
ser conscientes de que nosso voto pode gerar consequências trágicas,
exigindo-nos extrema responsabilidade.
Devemos
respeitar e valorizar quem se apresenta às eleições. Mas, atenção! Não podemos
escolher qualquer um, de qualquer jeito. Necessitamos conhecer bem os
históricos de vida e os programas dos candidatos e candidatas, procurando
identificar se já estão ou não engajados em lutas pelo que dizem que
realizarão, e com quem estão vinculados, sobretudo financeiramente.
Reconheçamos
a importância de debatermos esse assunto de forma muito respeitosa em todos os
ambientes, especialmente em nossas comunidades, afinal o próprio Cristo nos
responsabiliza pela vida em comum, mostrando que devemos estar a serviço de seu
Reino e sua justiça. Tanto mais nos implicamos de forma ativa e responsável em
favor do seu Reino, mais ele se manifesta presente.
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