O que causou o desastre da barragem de Mariana?
Estudo mostra falha que causou tragédia na barragem da
Samarco, em Mariana
Leo Rodrigues
Sobre uma base instável, a obra foi se deteriorando até
a
consumação da tragédia.
DISTRITO DE BENTO GONÇALVES, MUNICÍPIO DE MARIANA (MG), DEBAIXO DA LAMA |
O
rompimento da barragem ocorreu em novembro
de 2015, deixou 19 mortos, poluiu a bacia do Rio Doce e inundou o distrito
de Bento Rodrigues.
Quase
dez meses após a maior tragédia socioambiental do país, a mineradora Samarco
apresentou, no dia 29 de agosto, o resultado
de um estudo encomendado sobre as causas que levaram ao rompimento da barragem
de Fundão, ocorrido em novembro do ano passado no distrito de Bento
Rodrigues, no município Mariana (MG). De acordo com a pesquisa, problemas de drenagem ocorriam desde 2009.
Entre as tentativas de reparo, teria
sido feita uma ampliação da barragem sobre base instável.
O
estudo foi encomendado pela Samarco e pelas suas acionistas Vale e BHP Billiton
ao escritório de advocacia dos Estados Unidos, Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP. A apresentação do
relatório final foi feita por um dos quatro especialistas responsáveis, Norbert Morgenster, professor emérito
de engenharia civil pela Universidade de Alberta, no Canadá.
Segundo
ele, é possível que pequenos abalos sísmicos ocorridos antes da tragédia tenham
sido o estopim para conclusão do processo de rompimento da barragem, que já
estava avançado.
Algumas das conclusões estão
de acordo com o constatado pela Polícia Civil de Minas Gerais em investigação concluída em
fevereiro. Entre elas, o estudo confirma que o rompimento ocorreu na lateral esquerda da barragem. Nesse local,
um recuo da estrutura foi construído apoiado em lama, que estava ali por erros
na drenagem. Sobre uma base instável, a
obra foi se deteriorando até a consumação da tragédia.
O
episódio, que ocorreu em 5 de novembro de 2015:
* deixou 19 mortos,
* poluiu a bacia do Rio Doce e
* destruiu grandes áreas de
vegetação nativa.
RICARDO VESCOVI Ex-presidente da SAMARCO - Mariana (MG) |
Em
fevereiro, a Polícia Civil indiciou sete
pessoas, entre elas o ex-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi.
Em
nota, a Samarco destacou que o escritório responsável pelo estudo foi
contratado sob premissa de absoluta independência. A mineradora acrescentou que
colaborou plenamente com a pesquisa e que está tendo acesso aos resultados
juntamente com a imprensa.
"Trata-se
de um trabalho técnico complexo e detalhado, que será estudado para que
comentários possam ser feitos. Qualquer manifestação nesse momento é
precipitada", finalizou o texto.
Licenças
suspensas
Há
duas semanas, o Tribunal de Justiça de
Minas Gerais (TJMG) determinou a suspensão temporária de todas as licenças
ambientais do Complexo de Germano, pertencente à Samarco. Além da barragem
rompida de Fundão, o complexo é formado pelas barragens de Germano e de
Santarém, todas elas em distritos do município de Mariana.
Na
mesma semana, o Tribunal Regional
Federal da 1ª Região anulou a homologação do acordo firmado entre União, os
estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, a empresa Samarco e as acionistas
Vale e BHP Billiton.
As
estimativas em torno do acordo apontavam para um gasto de R$ 20 bilhões ao
longo de aproximadamente 15 anos para recuperação dos danos socioambientais que
a tragédia provocou na bacia do Rio Doce.
A
anulação da homologação havia sido pedida pelo Ministério Público Federal
(MPF), que não concorda com os termos. Em maio, o órgão apresentou uma ação
civil pública estimando em R$155 bilhões os prejuízos alcançados.
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