Como se constrói um mito
Dora Kramer
Lula zombou do Ministério Público sem que isso sirva
para ajudá-lo na Justiça. Mas deu motivos aos interessados em atrapalhar as
investigações que, não por acaso, lhe deram toda razão.
LULA IRRITADO COM A SUA CONDUÇÃO COERCITIVA PELA POLÍCIA FEDERAL Aqui, ele exerceu o papel do FORTÃO, daquele que intimida e se vangloria! São Paulo, 4 de março de 2016 - Sexta-feira |
João Santana* captou de forma certeira a essência
de Luiz Inácio da Silva quando contou como explorou para efeito de propaganda política a dupla personalidade do
personagem:
* o fortão e
* o fraquinho.
Ambos
viventes do mesmo corpo entram em cena de acordo com a necessidade.
* O forte atua para intimidar e
se vangloriar;
* o fraco para fazer-se de
mártir.
O primeiro [fortão] encarna o humilde que virou poderoso contra tudo e contra todos e
o segundo [fraquinho] faz o papel de vítima das elites, alvo de
preconceito de classe, um injustiçado, mas resistente benfeitor dos pobres.
Santana revelou o truque ao
público há dez anos e até hoje ainda há quem se deixe iludir por essa artimanha. [E
como! Inclusive pessoas que se acham bem informadas e de boa formação!]
E
não se fala aqui do fiel depositário dos benefícios sociais, que não os vê como
direito, mas como concessão paternal. Fala-se das camadas mais informadas,
cientes de todos os fatos e atos que revelaram a mentira da bandeira do PT pela ética na política. Caíram no conto
quando da condução coercitiva de Lula para depor na Polícia Federal e voltaram
a morder a isca quando da denúncia apresentada pela força-tarefa da Lava Jato,
na semana passada.
Por ocasião da condução
coercitiva,
ato que já havia sido aplicado a vários investigados na operação, Lula encenou o fortão:
agressivo, avisou que haviam tentado abater “jararaca”, mas não conseguiram
matá-la.
Atingiu
o objetivo de inocular desconfiança na atitude dos investigadores que, por essa
versão, teriam cometido abusos, exagerado, montado um “circo”. Pois de lá para
cá surgiram novos indícios, novas revelações contidas nos depoimentos das
delações premiadas, que justificavam o ato. Lula deveria sim ser tratado como
vários outros investigados também conduzidos da mesma forma a prestar
esclarecimento sem que houvesse reação contra o “absurdo”.
A
diferença é que o ex-presidente é o que
resta ao PT e, nessa condição, precisa alimentar o mito do intocável.
Naquela ocasião, recorreu ao fortão que mete medo. Nessa recente, subiu ao
palco o fraquinho
que produz necessidade de expiação de culpa e resgate da “dívida social”. Ambos cultivam terreno fértil à semeadura
da enganação.
A
contundente, adjetivada e detalhada exposição das razões pelas quais foi
apresentada a denúncia contra Lula propiciou a propagação da ideia de que os
procuradores extrapolaram, produziram um show e nada comprovaram que pudesse
corroborar a convicção de que o ex-presidente esteve no topo do esquema de
corrupção que sem seu conhecimento não teria como funcionar naquela dimensão.
Fizeram
isso de maneira transparente, apresentando as evidências até agora recolhidas,
respondendo depois às perguntas dos jornalistas. Obviamente não revelaram tudo.
Quando o Ministério Público divulga
resultados de investigações é porque detém muito mais informações para
respaldar as afirmações. [Muitos críticos da
denúncia feita pelo Ministério Público Federal de Curitiba estão esquecendo
esse detalhe!]
Já
Lula fez as coisas de forma nebulosa. Pronunciou-se sem abordar o mérito das
acusações, protegido pelos aplausos da militância reunida no Diretório Nacional
do PT. Deu a satisfação que quis, fugindo daquelas que seria instado a dar caso
tivesse aberto espaço aos questionamentos da imprensa.
JOÃO SANTANA |
O
ex-presidente acusou o golpe recebido com a denúncia. Disse que não estava
“entendendo” o que se passava, mas compreendia perfeitamente o que daqui em
diante pode lhe acontecer. Fosse de fato inexistente a substância do material
na posse do MP, ele teria rebatido ponto a ponto sem o auxílio de recursos
histriônicos nem teria precisado sustentar sua diatribe aos procuradores numa
mentira: “Não temos provas, mas temos convicção”, a frase de impacto que nunca foi dita. [Mas
que está sendo repetida à exaustão pelos petistas e simpatizantes, uma mentira
quando é muito dita, acaba sendo admitida como verdade!]
Lula
zombou do Ministério Público sem que isso sirva para ajudá-lo na Justiça. Mas
deu motivos aos interessados em atrapalhar as investigações que, não por acaso,
lhe deram toda razão.
* JOÃO CERQUEIRA DE SANTANA FILHO é considerado um dos
mais importantes consultores políticos do Brasil – e, entre eles, o de maior
projeção internacional. Comandou o marketing vitorioso de oito eleições
presidenciais, o que lhe confere um local destacado no ranking mundial de sua
atividade. Coordenou o marketing vitorioso das campanhas de Lula (2006) e Dilma Roussef (2010 e 2014), no Brasil; Hugo Chávez (2012) e Nicolás
Maduro (2013), na Venezuela; Mauricio
Funes, em El Salvador; Danilo Medina,
na República Dominicana; e José Eduardo
Santos, em Angola. Três destas vitórias foram conseguidas em um mesmo ano
(2012), um feito inédito no marketing político internacional. Além destes
pleitos presidenciais, comandou dezenas de campanhas para governador, prefeito,
senador e deputados no Brasil e na Argentina. Foi preso em fevereiro de 2016 na
Operação Lava Jato, na 23ª fase,
batizada de Operação Acarajé, e solto
em agosto do mesmo ano após contribuição com a justiça, pagamento de fiança e
determinadas outras condições exigidas pela justiça. Em julho de 2016, admitiu
em juízo o caixa 2 no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato (Fonte: Wikipédia).
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