S.O.S. nossos oceanos!
Oceanos estão enfrentando uma extinção
em massa sem precedentes
Javier Salas
Desaparecimento das maiores espécies pode alterar os
mares
“por milhões de anos”
«Agora mesmo estamos decidindo, quase sem
querer, quais caminhos evolutivos permanecerão abertos e quais serão fechados
para sempre. Nenhuma outra criatura jamais havia feito isso, e será, infelizmente,
nosso legado mais duradouro».
Elizabeth Kolbert definiu assim o papel que
estão desempenhando os seres humanos em A
Sexta Extinção, o livro que ganhou o Prêmio Pulitzer no ano passado [edição
brasileira: Editora Intrínseca, 2015, 336 páginas]. O título é bastante
expressivo: nos quase 4 bilhões de anos
de história da vida na Terra, ocorreram cinco megaextinções, momentos em
que muitos dos seres vivos foram arrastados de repente para a desaparição por
vários cataclismos. E agora, segundo
todos os dados recolhidos pela ciência, a
civilização humana está causando uma nova extinção em massa: somos como o
meteorito que dizimou os dinossauros do planeta.
E
as criaturas dos oceanos não vão
conseguir se livrar. Estamos provocando a agonia de numerosas espécies marinhas
e, como dizia Kolbert, escolhendo os seres aquáticos que ao desaparecerem
deixarão de evoluir no futuro. A este ritmo,
os grandes animais que vão povoar os mares dentro de milhões de anos não serão
descendentes de nossas baleias, tubarões e atuns porque estamos matando todos
eles para sempre. E do mesmo modo que o desaparecimento dos dinossauros
deixou um vazio que demorou eras para ser preenchida pelos mamíferos, não sabemos o que vai ser da vida nos
oceanos depois de serem arrasados.
“A eliminação seletiva dos maiores animais
nos oceanos modernos, algo sem precedentes na história da vida animal, pode
alterar os ecossistemas durante milhões de anos”, conclui um estudo
apresentado nesta semana pela revista Science.
Liderado por pesquisadores de Stanford,
o trabalho mostra como esta sexta extinção está acontecendo com os seres
aquáticos de maior tamanho. Um padrão “sem precedentes” no registro das grandes
extinções e que com muita segurança acontece
por causa da pesca: hoje em dia, quanto
maior o animal marinho, maior a probabilidade de se tornar extinto.
JONATHAN PAYNE |
Como
explicou para Materia o principal
autor do estudo, Jonathan Payne, o
nível de perturbação ecológica causada por uma grande extinção depende da
percentagem de espécies extintas e da seleção de grupos de espécies que são
eliminados. “No caso dos oceanos modernos, a
ameaça preferente pelos de maior tamanho poderia resultar em um evento de
extinção com um grande impacto ecológico porque os grandes animais tendem a
desempenhar um papel importante no ciclo de nutrientes e nas interações da rede
alimentar”, disse Payne, referindo-se a que os danos afetariam em cascata
todos os ecossistemas marinhos.
Os cenários pessimistas
preveem a extinção de 24% a 40% dos gêneros de vertebrados e moluscos marinhos; o cálculo mais trágico é
comparável à extinção em massa do fim do Cretáceo, quando os dinossauros
desapareceram, como explicado na revista Science.
O
trabalho deste investigador da Universidade
de Stanford e seu grupo foi analisar o padrão de desaparecimento de 2.500
espécies nos últimos milhões de anos. Até
agora, o tamanho dos animais marinhos não tinha sido um fator determinante nos
cataclismos anteriores, mas nos nossos dias existe uma notável correlação.
Para os pesquisadores, é evidente que isso acontece por causa da forma de
consumir ecossistemas própria dos seres humanos. Foi o que aconteceu com a extinção dos mamutes e agora acontece com a
pesca: cada vez que entramos em um ecossistema primeiro acabamos com os
pedaços maiores e à medida que os recursos ficam mais escassos vamos esgotando
o resto dos recursos menores.
Os
pesquisadores alertam que a eliminação desses animais no topo da cadeia
alimentar poderia perturbar o resto da ecologia dos oceanos de forma
significativa por, potencialmente, os próximos milhões de anos. “Sem uma mudança dramática na direção atual
da gestão dos mares, nossa análise sugere que os oceanos vão sofrer uma
extinção em massa de intensidade suficiente e seletividade ecológica para ser
incluída entre as grandes extinções”, diz o estudo.
Este
paleobiólogo defende que a visão positiva de sua descoberta é que as espécies ameaçadas ainda podem ser
salvas da extinção com políticas de gestão eficientes e, a longo prazo,
abordando os impactos do aquecimento global e da acidificação dos oceanos.
“Podemos evitar esse caminho; com uma gestão adequada, seria possível salvar
muitas dessas espécies da extinção”, afirma Payne.
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