Michel Temer, o presidente que ninguém pediu
Tom C.
Avendaño
O homem que tocava a máquina de escrever como se fosse
um
piano dirige um país como se o povo tivesse permitido.
MICHEL TEMER faz juramento de respeito à Constituição Nacional durante cerimônia de posse como Presidente do Brasil Quarta-feira, 31 de agosto de 2016 Congresso Nacional - Brasília (DF) |
Conta
Michel Temer, o homem que na quarta-feira assumiu a presidência do Brasil, que
quando era um menino de nove anos, leitor e solitário, viu uma imagem que lhe
ficou gravada para sempre: era em À Noite
Sonhamos, um filme sobre o compositor franco-polonês Frédéric Chopin. "Fiquei tão impressionado quando vi cair uma
gota de sangue sobre o piano que pedi a meu pai que me matriculasse em aulas de
piano", lembrava em 2010 para a revista Piauí. Seu pai, um imigrante que havia
chegado do Líbano fazia 10 anos, o colocou em aulas de datilografia.
"Aprendi a dedilhar as teclas da máquina como se fossem as do
teclado."
Michel Temer, na
quarta-feira, foi transformado como sétimo presidente desde a redemocratização
brasileira.
Aos 75 anos, tem o aspecto reservado e cerimonioso de quem se diverte com uma
máquina de escrever. De alguém que
chamou pouca atenção do público nos 26 anos que está na política. Nem nos
últimos nove, como líder do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
nem tampouco nos últimos seis, como vice-presidente de Dilma Rousseff, sua
rival ideológica (ele é decididamente mais conservador) e aliada política por
conveniência.
Mas há um ano a presidenta
começou a cambalear no poder e ele passou a se pronunciar:
* Em agosto de 2015 comentou com alguns jornalistas que o Brasil
precisava de alguém "capaz de
reunificar a todos".
* Em setembro declarou diante de um grupo de empresários que seria
difícil que Dilma chegasse ao final de seu mandato.
* Em dezembro, quando a roda do impeachment
começou a girar, ele simplesmente se pôs de lado e esperou ser alçado por
eliminação.
Em 12 de maio se tornou o
terceiro vice-presidente a assumir o poder após a redemocratização. Dilma o chamou de traidor.
Desde
que está no poder já ouviu insultos piores. Temer admitiu sentir inveja das
pessoas engraçadas. Ele, que em 2013 publicou um livro de poemas, sabe que seu caráter é tragicamente sério. Faz
com que transmita uma imagem que o então senador e caudilho da Bahia, Antônio
Carlos Magalhães (1927-2007) definiu como “mordomo de filme de terror”. Para
seus detratores, isso só lembra que nunca
se apresentou a uma eleição como cabeça de chapa em eleições para o Executivo.
Ele não planejou o impeachment, mas o
representa. É o alvo da ira dos setores da população que se sentem enganados
por ele. Seus detratores afirmam que seu
Governo significará uma avalanche de cortes em saúde, educação e direitos
trabalhistas. Mas prometeu manter os programas sociais emblemáticos dos
Governos de Lula e Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT).
Sua vida pessoal tampouco
serviu para reverter seus problemas de popularidade. Em abril, sua mulher, Marcela Tedeschi, apareceu em um artigo
na revista Veja com uma manchete que fez mais mal do que bem (Marcela Temer: Bela, recatada e "do
lar"): “A quase primeira-dama, 43 anos mais jovem que seu marido,
aparece pouco, gosta de usar vestidos na altura dos tornozelos e sonha em ter
mais de um filho com o marido”. Marcela
se casou com Temer há 12 anos: ela tinha 20 anos e ele, 62 e outros quatro
filhos, foi o primeiro namorado dela. No final de julho, ele avisou os
jornalistas políticos em Brasília que estava prestes a ir pegar Michelzinho,
seu filho, na escola. A imprensa comentou mais o aviso que o próprio fato.
Em 5 de agosto, teve que declarar aberta a
Olimpíada em uma cerimônia retransmitida para todo o mundo. Atrasou seu
discurso até o final (o programa indicava que seria no começo). Reduziu o discurso a 10 segundos. E
ainda assim não conseguiu terminar sem que o som das vaias enchesse as
arquibancadas. As forças de segurança
passaram dias escondendo cartazes que se tornaram o mantra de muitos no país:
“Fora Temer”.
O atual presidente tem um
índice de aprovação de 14%, como Dilma quando foi afastada do poder. Já anunciou que não será
candidato para as eleições gerais de 2018. Isso assusta seus detratores, que
sabem que isso lhe dá liberdade para tomar decisões mortalmente impopulares.
Não é a primeira vez que Temer se adapta ao que tem. O homem que tocava a máquina de escrever como se fosse um piano dirige
um país como se o povo tivesse permitido.
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