Indo contra a corrente: não ao corte de gastos sociais!
Primeiro passo
Amir Khair
Mestre
em Finanças Públicas pela FGV e Consultor
Uma redução na despesa social do governo causa uma
redução de igual valor no PIB
HENRIQUE MEIRELLES - Ministro da Fazenda do governo de Michel Temer |
A
tese central do governo Michel Temer é de que há excesso de despesas sociais, derivado da Constituição, que não podem ser mantidas pelo Estado
sob pena de estourar as contas públicas. O argumento usado é de que essas
despesas vêm crescendo há vários anos acima do crescimento da economia.
Para
frear essa tendência, foi enviado ao Congresso a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que congela por 20
anos a despesa federal. A única exceção
(?) é a despesa com juros, que fica livre para crescer.
É crescente
o número de emendas no Congresso para flexibilizar a PEC 241 pela própria base
de sustentação do governo. Afora a delicada questão política dessa PEC, o
congelamento acirra a disputa por
recursos no interior da demanda social, que cresce:
a) pelo
déficit histórico em quantidade e qualidade e;
b)
pelo crescimento demográfico da demanda.
Isso
é nitroglicerina pura para a explosão social.
Junto
com a PEC, o governo quer nova reforma da Previdência Social estabelecendo
idade mínima de 65 anos para ambos os sexos, para todos os trabalhadores com menos
de 50 anos. A tese defendida pelo
governo desconsidera que a maior despesa pública e a que mais cresce são os juros da dívida. Em 2015, o déficit da
Previdência foi de R$ 85 bilhões e, com
juros, de R$ 502 bilhões, seis vezes mais.
Nos
últimos 20 anos, em termos reais, a despesa da Previdência cresceu 228% e a de
juros 579%, portanto, mais que o dobro. Em
2015, os juros causaram 82% do déficit público!
É
por essa razão que, antes da crítica às
despesas sociais, que beneficiam a maioria da população, justifica-se o foco
fiscal na anomalia dos juros que beneficiam os bancos e uma minoria da população,
a de maior renda.
Além
disso, ao restringir despesas sociais, é reduzida a atividade econômica,
colocando mais uma barreira à retomada do crescimento econômico. Uma redução na
despesa social do governo causa uma redução de igual valor no Produto Interno
Bruto (PIB).
Previdência
A
proposta do governo retira direitos da maioria da população e carrega forte
dose de rejeição na sociedade, o que poderá trazer séria derrota do governo no
Congresso.
Ao se
fixar na idade mínima como critério de aposentadoria, sem levar em conta o
tempo de contribuição, prejudica os que ingressaram mais cedo no mercado de
trabalho. Mas o mais grave problema
causado pela idade mínima de 65 anos é que desconsidera que o mercado de
trabalho expulsa e troca os mais velhos pelos mais jovens, sendo reduzida a
presença dos idosos na vida laboral. A perda de vencimentos é agravada com
maiores despesas com saúde para essas pessoas.
O sistema atual permite a aposentadora
para essa parcela expulsa do mercado desde que:
a)
a soma do tempo de contribuição com a idade em que é solicitada a aposentadoria
atinja no mínimo 85 anos para as mulheres e 95 anos para os homens ou;
b) no
caso de não atingir essa soma, mas desde que tenha contribuído no mínimo 30 nos
as mulheres e 35 anos os homens, a aposentadoria sofre desconto pelo fator
previdenciário.
O excesso de desonerações na
quota patronal concedidos pelo governo Dilma deu duro golpe na receita
previdenciária,
o que ampliou o déficit. Há que reverter isso e buscar novas receitas, como:
a)
acabar com a forte regressividade imposta pelo limite de contribuição para os
salários acima do teto previdenciário;
b)
estabelecer contribuição para a atividade rural, praticamente inexistente.
É
preciso aprimorar a gestão, reduzindo a elevada inadimplência e
sonegação, coibir desvios e acabar com privilégios injustificados,
como acúmulos de pensões e aposentadorias. São dezenas de bilhões de reais
perdidos.
A
ameaça propalada pelo governo de que ou sai esta reforma [da Previdência] ou
não haverá dinheiro no futuro para pagar a aposentadoria deve ser confrontada
com a transparência das projeções, onde
devem ser apresentadas à sociedade as premissas e memórias de cálculo usadas,
como determina a Lei de Responsabilidade Fiscal. Esse é o primeiro passo de um
debate de alto nível.
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