«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

A terceira onda da recessão

Para a ONU, está a caminho a crise definitiva

Héctor G. Barnés
Jornal “El Confidencial” – Espanha
23-09-2016

Um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento adverte sobre os problemas que pode
desencadear uma nova crise da dívida
MUITOS PAÍSES ESTÃO SE DESINDUSTRIALIZANDO
Com isso, a produção diminui, a geração de riquezas também, bem como, a renda dos trabalhadores!

Ainda que pensávamos que a situação econômica havia melhorado e que os piores anos da crise haviam ficado para trás, é possível que o pior ainda esteja por vir. É o que sugere o demolidor novo relatório sobre comércio publicado pelo principal órgão da Assembleia Geral da ONU, que adverte sobre os perigos que pairam atrás da esquina. Assim como ocorreu em 2010, trata-se de uma crise da dívida, mas o alcance pode ser muito maior, uma vez que atinge um grande número de países em vias de desenvolvimento, cada vez mais economicamente vulneráveis. [Brasil aí se inclui! Leia o artigo abaixo deste.]

“Durante os últimos anos, houve uma preocupação com a fragilidade financeira nas economias emergentes, em razão de uma avalanche de fluxo financeiro e crédito barato a partir de 2009, alimentado até um ponto considerável por programas de expansão quantitativa nos países desenvolvidos”, destaca o relatório Trade and Development Report 2016. “Os sinais de alarma foram disparados há um tempo pela explosão da dívida corporativa nas economias emergentes do mercado”.

Este relatório chamou a atenção dos meios de comunicação globais. O editor de economia do jornal The Telegraph, Ambrose Evans-Pritchard, explicava que “a terceira onda desta depressão global sem remédio ainda está por vir”. A escala, desta vez, será muito maior que em ocasiões anteriores (o caso Lehman Brothers ou Grécia é uma piada ao seu lado): “Pode ser a crise definitiva do capitalismo globalizado, o decesso da ortodoxia do livre mercado liberal promovida durante os últimos 40 anos pelas instituições de Bretton Woods, a OCDE e a fraternidade de Davos”. Não é brincadeira.
AMBROSE EVANS-PRITCHARD
Editor de Economia do jornal "The Telegraph"

O documento publicado pela UNCTAD, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, se submerge em um panorama global “frágil”, no qual as economias desenvolvidas se recuperam muito mais lentamente que o esperado e o comércio global se enfraqueceu, o que deteve o crescimento de muitos países pobres, excessivamente dependentes do capital estrangeiro. “Na medida em que o capital começa a minar, há um verdadeiro perigo de entrar em uma terceira fase da crise financeira que começou no mercado imobiliário americano, em fins do ano 2007”. Já começou no Brasil, Rússia e África do Sul, países à beira da recessão [o Brasil já está em recessão!], nos quais pode se produzir “uma daninha espiral deflacionária”.

O relatório ressalta a armadilha econômica criada pela globalização, que acentuou na última década, como a culpada. As empresas privadas dos países em vias de desenvolvimento devem mais de 25 bilhões de dólares (em fins de 2008, o valor era de 9 bilhões), e a maior parte desta dívida provavelmente nunca se pague. “Não se pode descartar uma daninha espiral deflacionária”, acrescenta o documento.

“Nossa experiência passada nos mostra que se grande parte da dívida do setor privado é alta e está emitida em moeda estrangeira, como na América Latina, termina nas contas de balanço públicos, com o risco de uma crise de dívida externa soberana”.

O possível efeito contágio

Como ocorre em uma economia globalizada, um espirro em um lugar do mundo pode acabar contagiando o planeta de gripe. Só que neste caso, a julgar pelos termos empregados no relatório, pode se tratar de uma enfermidade mortal. “O medíocre rendimento dos países desenvolvidos, a partir da crise econômica de 2008-2009, e a crise financeira vão durar, com o risco adicionado que supõe a perda de estímulo aos países em vias de desenvolvimento, durante os últimos anos, que será maior do que se pensava”, explica o documento.

A ameaça é clara: “Sem uma mudança de direção neste aspecto, o ambiente externo enfrentado por estes países será pior, com consequências potencialmente daninhas para sua prosperidade e estabilidade a curto e médio prazo”. Não só para os países pobres e em desenvolvimento, mas também em escala global: “Não se pode descartar um contágio mais amplo pelos ‘choques’ imprevistos que golpeiam de maneira mais forte o crescimento global”. O documento se refere explicitamente ao ‘brexit’, que provoca maremotos em uma corrente já bastante turbulenta em si.

Como recorda Evans-Pritchard, este cenário é a consequência previsível em países em vias de desenvolvimento das medidas de estímulo nos Estados Unidos, Europa e Japão: “Uma inundação de crédito barato que decompõe sua química e os conduz a uma armadilha”. No entanto, apesar que se pensava que isso poderia ocorrer, não se suspeitava que os efeitos fossem tão devastadores. O relatório é um puxão de orelhas em “uma cultura de recompra de ações e uma incansável extração de benefícios” na qual os lucros obtidos pelas empresas não são reinvestidos em postos de trabalho ou crescimento sustentável. [É a financeirização da economia mundial! Para saber mais sobre isso, clique aqui] 

Contra a economia ortodoxa

Se o relatório resulta relevante, destaca o economista, é porque contradiz muitas das visões populares sobre os benefícios da globalização, “aquelas que continuam sendo ensinadas em universidades e escolas de negócios, há duas gerações”. A justificativa moral a qual as nações desenvolvidas recorrem é que os investimentos estrangeiros “melhoraram o padrão de vida de milhares de milhões de pessoas na Ásia”. No entanto, o documento da ONU destaca que, na realidade, esta relação econômica não funcionou em muitos países, que enfrentam uma possível “desindustrialização prematura”. [Esse é o caso do Brasil, também!]

Nos últimos anos, muitos países viram como seu setor industrial se estagnava e deixava de produzir postos de trabalho. É o que ocorreu na Índia, México e muitos países do sudeste asiático. Ainda pior foi na África subsaariana, onde o desenvolvimento das manufaturas parou inclusive antes da industrialização do país. Mas, ainda mais grave é a desindustrialização, acompanhada por uma queda da produtividade, em países como América do Sul ou do norte da África, desde os anos 1980. Em muitos casos, este processo está ligado a “drásticas mudanças para políticas macroeconômicas mais restritivas e uma redução do investimento dos Estados para apoiar as transformações estruturais”.

Nas economias mais pobres, os benefícios das iniciativas para o alívio da dívida dos anos 1990 e princípios dos anos 2000 e da rápida integração nos mercados financeiros, após 2008, estão se evaporando rapidamente”, adverte o relatório. A situação mudou em apenas alguns anos, quando a dívida emitida pelos países em vias de desenvolvimento em forma de bônus parecia infinita (de 2 bilhões em 2009 para 18 bilhões em 2011). No entanto, fatores como uma pior projeção de crescimento fizeram com que seu financiamento saia muito mais caro.

Caso a economia global enfraqueça ainda mais, “uma grande parte da dívida dos países em vias de desenvolvimento, acumulada desde 2008, pode se tornar impagável e exercerá uma considerável pressão sobre o sistema financeiro”. Além disso, o relatório acrescenta que “caso isso ocorra, a comunidade internacional precisa se preparar para renegociar as dívidas de uma maneira mais rápida, mais justa e mais ordenada que a forma como fez até agora”.

Traduzido do espanhol pelo Cepat. Acesse a versão original deste artigo, clicando aqui.     

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 27 de setembro de 2016 – Internet: clique aqui.

O risco das superendividadas

Editorial

Novo alerta: a crise bateu com força também nas grandes empresas,
tornando-as menos capazes de pagar suas dívidas
MUITAS EMPRESAS DEVEM EM DÓLAR E TÊM DIFICULDADES DE RENEGOCIAR

A recuperação da economia só deve começar para valer no próximo ano, com uma lenta retomada dos negócios. Muitas companhias têm procurado renegociar os compromissos com os credores e nem todas conseguem escapar dos pedidos de recuperação judicial. Com juros muito altos, menor acesso ao crédito e receita deprimida pela recessão, as demissões e cortes de custos têm sido insuficientes para restabelecer a segurança financeira. O risco de quebras assombra tanto essas empresas quanto milhares de outras – principalmente fornecedoras – dependentes da prosperidade das maiores companhias. Quando as maiores ficam sem fôlego financeiro, surge o chamado risco sistêmico, porque qualquer desastre pode espalhar-se facilmente em ondas de choque.

A ameaça impõe um desafio tanto para o governo, empenhado em puxar o Brasil para fora do atoleiro, como para os parlamentares. A estes cabe apreciar e votar boa parte das medidas necessárias para as correções dos maiores desajustes, a começar pelo desequilíbrio das contas públicas.

Um levantamento sobre as dívidas de grandes empresas fez soar o novo alarme. As dificuldades foram mostradas em recente relatório do Centro de Estudos do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Cemec). Segundo análise das contas de 605 grandes firmas, a geração de caixa tem sido suficiente, em média, só para cobrir 58% das despesas financeiras. Mal tem bastado, em muitos casos, para os juros.

Ainda farto em 2013, o crédito secou a partir do ano seguinte. O acesso ao financiamento internacional também ficou mais difícil para muitas companhias, por causa do rebaixamento da nota brasileira pelas principais agências de classificação de risco. Além disso, as dívidas em moeda estrangeira cresceram com a desvalorização do real. O financiamento externo poderá ficar ainda mais complicado se o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, aumentar de novo os juros básicos. Essa medida poderá ao mesmo tempo tornar o mercado menos acessível e provocar uma nova alta do dólar, inflando mais uma vez a dívida empresarial.

O endividamento das empresas, particularmente perigoso no caso das maiores, parece um bom argumento a favor de um afrouxamento da política monetária, com redução dos juros brasileiros ainda antes do fim do ano. Os dirigentes do Banco Central (BC) com certeza percebem a conveniência de iniciar o corte da taxa básica e de tomar quaisquer medidas necessárias para estimular a oferta de crédito. Mas a primeira função do BC é cuidar da estabilidade da moeda. O Comitê de Política Monetária, formado por dirigentes do BC, terá de levar em conta pelo menos dois fatores – a inflação ainda alta e as perspectivas de conserto das contas públicas.
OS VALORES SÃO ASSUSTADORES ! ! !
Só a Petrobras deve cerca de 400 bilhões de reais!

O segundo fator, neste momento, parece o mais problemático. Enquanto houver grande incerteza sobre a recuperação do Orçamento nos próximos dois anos, ninguém poderá apostar com alguma segurança num firme declínio da inflação. Mas o conserto das finanças públicas depende apenas em parte do Executivo. O primeiro grande passo para a implementação do ajuste deve ser a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241. Essa proposta fixa um teto para elevação do gasto público e fornece ao governo um apoio preciso para a restauração gradativa da disciplina fiscal.

Se os parlamentares forem capazes de entender e de assumir sua responsabilidade na reconstrução da economia, tratarão de aprovar com rapidez aquela PEC e todas as medidas necessárias para a melhora das contas públicas. Isso facilitará o começo da redução dos juros, do reequilíbrio financeiro das empresas e da retomada do crescimento. Se as grandes companhias puderem ganhar algum fôlego, o Brasil já será poupado de sérios problemas e, talvez, de um novo mergulho na crise. Fará a coisa certa quem estiver mais interessado no País que nas conveniências pessoais ou partidárias.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Terça-feira, 27 de setembro de 2016 – Pág. A3 – Internet: clique aqui.

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