Como se fabrica, vende-se e mantém-se um político no poder?
Roberto Pompeu
de Toledo
As consequências terríveis da marquetagem para a
vida política do país
O
Brasil terá o que comemorar se a prisão do marqueteiro João Santana balançar o
prestígio do marketing na política do país. O caso de Santana repete, inchado
em alguns milhões de dólares e duplicado no potencial de espalhar lama no
ventilador, o de Duda Mendonça em 2005.
Não
por acaso são as duas figuras mais destacadas e mais emblemáticas da atividade
a que se dedicam. Também não por acaso tiveram seus momentos de maior esplendor
quando a serviço do PT, partido que com mais gosto se entregou à trucagem ilusionista.
João
Santana e Duda Mendonça são os generais da banda de uma trupe cujo excessivo
protagonismo tem o efeito de distorcer e aviltar a atividade política no país.
A seguir, uma relação de seus mais notórios efeitos nocivos:
1.
Sofisticação da mentira
Não
foram eles que a inventaram. A mentira acompanha as campanhas eleitorais desde
que elas existem e é parte talvez indissociável delas. No passado pululavam os
“promessões”. Vista de hoje, era a mentira dos pobres. O marqueteiro, com seus
filmes, jingles, mensagens subliminares e outros estratagemas, elevou a mentira
à categoria de uma ciência e uma arte.
2.
Elevação astronômica do custo das campanhas
A
marquetagem é ao mesmo tempo causa e efeito da dinheirama despejada nas
campanhas [políticas]. Arrecada-se mais e mais dinheiro porque a marquetagem
custa caro, e aproveita-se que a marquetagem custa caro para arrecadar mais e
mais. Oficialmente, a campanha de
reeleição da presidente Dilma Rousseff custou 318 milhões de reais, dos
quais 70 milhões foram pagos pelos
serviços de João Santana. A começar pelos 7,5 milhões de dólares agora
descobertos na Suíça, é de prever que se chegue a novos totais de um e de
outro.
3.
Despolitização da política
Em
política, fazem-se escolhas. As escolhas derivam de ideias e posições
doutrinárias. Nas campanhas, enfrentam-se ideias e posições. O marqueteiro
opera no sentido de camuflar ideias e posições e evitar escolhas. Quanto mais
indefinido o candidato, mais chance – este é o pressuposto – de arrebanhar o
maior número de eleitores, ou de desagradar ao menor número. O candidato
travestido em arrebatador genérico é o ideal da marquetagem.
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DUDA MENDONÇA Foi o primeiro grande marqueteiro político do Brasil!!! "Chorou" ao admitir ter recebido dinheiro do PT de modo ilícito! |
4.
Relaxamento moral
Marqueteiros
da estirpe Mendonça/Santana não recuam diante da posição política nem da ficha
criminal do candidato. Duda Mendonça pulou de Paulo Maluf a Lula. Santana teve
entre seus clientes o eterno presidente angolano José Eduardo dos Santos, chefe
de renomada cleptocracia [poder da
ladroagem, poder da corrupção]. Como operam eles próprios sem régua moral, inspiram
o candidato a seguir pelo mesmo caminho – se e quando o candidato precisa ser
inspirado para tal.
5.
Criação da figura do agente governamental irresponsável
Os
serviços de João Santana aos governos Lula e Rousseff transcenderam as
campanhas eleitorais. A cada passo, ambos os governos acostumaram-se a chamar o
marqueteiro, seja na hora ingrata de reagir a um escândalo, seja na hora feliz
do anúncio de um programa de habitação popular. A marquetagem é um vício. O
marqueteiro é um membro do governo que, ao contrário de um ministro, não é
responsável por seus atos.
6.
Heranças malditas
Boa
parte dos atuais problemas de Dilma decorre dos métodos utilizados na campanha
de 2014. A campanha orquestrada por Santana é portanto uma herança maldita a
atormentar a presidente. Em 1996, a campanha de Celso Pitta a prefeito de São
Paulo mostrou filmete com um mágico trem suspenso, apelidado Fura-Fila, a
percorrer vias elevadas pela cidade. Era uma promessa tão central na campanha
que, eleito, o candidato obrigou-se a realizá-la, por mais cara e discutível
que se mostrasse. Pitta plantou os primeiros pilotis que sustentariam a via
elevada e ficou nisso. Os dois prefeitos subsequentes arcaram com tal herança
maldita até acharem um meio de a reduzir a simples viaduto para ônibus comuns.
O inventor do Fura-Fila, como chefe da campanha de Pitta, era Duda Mendonça.
Seu auxiliar, João Santana. Os dois, juntinhos.
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