«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

E o que temos a ver com a eleição nos Estados Unidos?

O maior espetáculo da Terra

Rubens Barbosa
Ex-embaixador e atual Presidente de Comércio Exterior da FIESP

Lá como aqui, a decepção e desilusão com os políticos e a 
velha política, faz nascer o perigo do populismo e 
oportunistas de plantão
BARACK OBAMA
Presidente dos Estados Unidos

Durante recente passagem pelos Estados Unidos, pude acompanhar de perto o início da campanha para as prévias das eleições presidenciais, em novembro deste ano. O sentimento de frustração e desesperança, sobretudo da classe média, que mais perdeu na crise econômica que abalou os Estados Unidos há alguns anos, evidencia-se pela crítica generalizada à classe política, aos interesses dos grupos econômicos e, em especial, às lideranças partidárias (establishment) de Washington.

É semelhante ao desânimo que se verifica hoje no Brasil, onde prevalecem as práticas pouco éticas e transparentes dos políticos, onde não existe um debate sério sobre o futuro do País, onde inexiste uma liderança forte no governo, na oposição, nos partidos e mesmo nos movimentos sociais.

O noticiário mostra o baixo nível da campanha eleitoral americana, que, em vez de focar:
* nos problemas sociais,
* econômicos e
* de política externa no país mais poderoso do mundo – inclusive a questão dos imigrantes ilegais,
* a nova onda de refugiados do Oriente Médio e
* a percepção de ameaça terrorista –,
está voltada para violenta troca de acusações entre os candidatos dentro de seus próprios partidos.

Como no Brasil, a sociedade norte-americana está dividida e radicalizada. O Congresso, de maioria republicana, é tão disfuncional quanto o brasileiro, mas por motivos diferentes: bipartidarismo nos Estados Unidos e fragmentação partidária no Brasil.

A divisão em bases ideológicas paralisou as iniciativas do governo democrata que dependiam do Congresso. Mas não impediu que a liderança do presidente Barack Obama pudesse defender os interesses nacionais e conseguisse, sem o apoio do Legislativo, concluir as negociações do acordo comercial com os países asiáticos, o histórico acordo sobre o programa nuclear com o Irã e o restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba.

Em janeiro, no pronunciamento perante o Congresso sobre o estado da União (state of the Union), Obama fez um corajoso relato das mazelas políticas de Washington e pediu uma reforma do sistema político no país, que poderia, sem retoques, ser aplicado ao cenário brasileiro:

«Temos de reduzir a influência do dinheiro na política pela modificação das regras de financiamento das campanhas para evitar que um punhado de famílias e interesses escusos controlem as eleições... É fácil ser cínico e aceitar que as mudanças não são possíveis, que a política não tem jeito e acreditar que nossas vozes e ações não contam... Essas mudanças só ocorrerão quando o povo exigir as mudanças no processo político

No processo eleitoral americano a primeira fase é a das eleições primárias, quando os potenciais candidatos se apresentam dentro de seus partidos a fim de obterem o apoio necessário para se consagrar o candidato de fato. Nessa etapa pouco se discutiu concretamente sobre programas e visões de futuro.

No Partido Republicano, conservador, apresentaram-se 12 candidatos e no Democrata, liberal, 4. Do lado republicano, as candidaturas de Donald Trump, bilionário empresário de sucesso, e Ted Cruz, senador pelo Texas, as mais reacionárias e conservadoras, estão na liderança com um discurso radical contra os imigrantes, mexicanos, mulheres, muçulmanos, contra o terrorismo e contra tudo o que o governo Obama representa em termos políticos, econômicos, sociais e de política externa. “Trump representa uma ameaça aos valores conservadores”, repetem algumas figuras de proa da direção do partido nos programas de rádio e televisão e na imprensa escrita. O apoio de Sarah Palin, membro do Tea Party, facção ultadireitista dos republicados e candidata a vice-presidente nas últimas eleições, acentuou a radicalização eleitoral.

No Partido Democrata, Hillary Clinton, favorita para uma vitória considerada fácil, enfrenta crescente oposição de um senador socialista, Bernie Sanders, de um pequeno Estado, que um de seus adversários disse ser um candidato perfeito para a Suécia...
Na primária em Iowa, que abriu o processo de escolha, os resultados são uma indicação do que poderá ocorrer nos próximos meses. O campo ficou reduzido a três candidatos republicanos (Ted Cruz, Trump e Marco Rubio, senador pela Flórida) e a dois democratas (Hillary Clinton e Bernie Sanders). Trump, que liderava as pesquisas nas duas primeiras primárias, e também nacionalmente, perdeu a prévia para Ted Cruz, apoiado pelos evangélicos.

O fenômeno Trump pode ser explicado:
* pela facilidade de comunicação na mídia, especialmente na TV;
* pela reação às desgastadas posições politicamente corretas,
* ao adotar um discurso desabrido, oportunista, direto, sem meias-palavras, sobre todos os assuntos, que galvanizou as audiências conservadoras em todo o país;
* pelo encanto dos americanos por celebridades; e também
* pelo desencanto dos eleitores com a classe política de Washington, vista como ineficiente e corrupta.

O populismo decididamente ganhou espaço na sociedade norte-americana. Resta aguardar para ver se a aura de ganhador de Trump se vai dissolver, como de certo modo prenunciado em Iowa.

Ainda é prematuro especular sobre os resultados das primárias dos dois partidos, pois o quadro continua extremamente fluido e indefinido. Na prévia de hoje, em New Hampshire, caso o senador Marco Rubio repita o desempenho de Iowa, poderá consolidar-se como a alternativa menos radical conservadora dentro do Partido Republicano. As primárias seguintes nos restantes 48 Estados poderão trazer mudanças importantes até julho, quando as convenções partidárias definirão os candidatos democrata e republicano.

O mundo acompanha a maior campanha eleitoral do mundo pelas consequências extremamente negativas para os Estados Unidos e para a comunidade internacional se a agenda republicana xenófoba, isolacionista e anticomércio internacional vier a prevalecer.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto – Terça-feira, 9 de fevereiro de 2016 – Pág. A2 – Internet: clique aqui.

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