UMA GUERRA PERIGOSA PARA O MUNDO!
O perigo da falta de ação
THE ECONOMIST
O atrevimento russo e a apatia americana mudaram o
curso da guerra para pior
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GUERRA SÍRIA Várias guerras em um só território!!! Crianças são as principais vítimas!!! |
Numa
guerra tão atroz como a da Síria, sobressaem várias lições pouco animadoras:
* quanto mais tempo duram as
hostilidades,
* mais sangrento se torna o
conflito,
* mais países são tragados
pela voragem e
* menos promissoras são as
opções para pôr fim ao derramamento de sangue ou pelo menos interrompê-lo
temporariamente.
Mas
a maior lição talvez seja a de que
ausência dos Estados Unidos cria um vácuo que é ocupado por forças perigosas:
* jihadistas,
* milícias xiitas e, agora,
* uma Rússia cada vez mais
abusada.
A Síria é uma reunião de
guerras dentro de uma guerra:
* um levante contra uma
ditadura;
* um conflito sectário entre
sunitas e alauítas (e seus aliados xiitas);
* uma luta intestina entre
árabes sunitas;
* uma ação militar de curdos
em busca de uma pátria;
* um embate regional, travado
por meio de terceiros, opondo Arábia Saudita e Turquia ao Irã;
* e uma disputa geopolítica
entre um Estados Unidos da América (EUA) receoso e uma Rússia ressurgente.
Em
meio à carnificina, Vladimir Putin
colocou-se ao lado de Bashar Assad e do eixo xiita. Seu poderio aéreo
modificou radicalmente o campo de batalha. As
forças pró-Assad conseguiram cortar um corredor vital, por onde chegavam
suprimentos provenientes da Turquia, destinados ao reabastecimento de áreas de
Alepo controladas por rebeldes. Assad está prestes a fechar novamente o
cerco em torno daquela que já foi a maior cidade síria. Os refugiados voltaram
a pressionar a fronteira com a Turquia, mas muitos continuarão por lá.
Na
dança diplomática envolvendo acordos de cessar-fogo, ajuda humanitária e uma
eventual solução política, quem dá as
cartas agora é a Rússia, mais ou menos como fizeram os EUA após intervir nas
guerras dos Bálcãs dos anos 90. A
estratégia de Barack Obama na Síria – seu desejo de que Assad saia de cena
sem que os EUA tenham de mobilizar os recursos necessários para fazê-lo ir
embora – fracassou. Assad, ao que
parece, ainda estará por lá quando Obama deixar a Casa Branca. Mas a guerra não
está perto do fim. Na verdade, a situação só piorou.
A Turquia afunda cada vez
mais no torvelinho. Unidades de artilharia do Exército turco têm lançado bombardeios
sistemáticos contra os curdos sírios.
Ancara os põe no mesmo saco que os curdos turcos, que retomaram
precipitadamente seu movimento separatista, iniciado há quase quatro décadas. Ocorre que os curdos têm sido os melhores
aliados dos EUA na luta contra o “califado” do Estado Islâmico (EI). Nos
últimos tempos, acabaram se aproximando da Rússia e de Assad, tendo ajudado a
cortar o corredor que fazia a ligação entre Turquia e Alepo, numa tentativa de
unir os dois enclaves curdos que se estendem ao longo da fronteira sírio-turca.
Em apoio à Turquia, a Arábia
Saudita deslocou aviões de caça para a base aérea de Incirlik. Os sauditas também
anunciaram exercícios militares com a participação de aliados sunitas, como
Egito, Marrocos e Paquistão. Além disso, prontificaram-se
a introduzir em território sírio forças especiais, com tropas de elite
americanas, com o objetivo, para todos os efeitos, de combater o EI. Os
diplomatas falam numa reedição da operação conduzida durante os anos 80 por
EUA, Arábia Saudita e Paquistão, com o objetivo de armar com mísseis Stinger os
grupos afegãos que combatiam o Exército soviético. Estariam os sauditas dispostos a equipar grupos sunitas com armas
antiaéreas para neutralizar o poderio aéreo russo?
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UMA GUERRA DE MAIS DE 250.000 MORTOS ATÉ O MOMENTO! Destruição e sacrifícios humanos inúteis!!! |
Mais alarmante ainda é a
possibilidade de uma guerra entre a Turquia e a Rússia. Em novembro, os turcos
derrubaram um jato russo. Agora Moscou quer se vingar, e busca uma oportunidade
para pôr o irascível Recep Tayyip
Erdogan, presidente da Turquia, em conflito com seus aliados na Otan.
De
modo que a Síria coloca riscos
crescentes para o Ocidente:
* da proliferação de mísseis
terra-ar, que podem cair nas mãos de jihadistas e ser usados contra aviões
ocidentais,
* à eventual debilitação de
países como Líbano e Jordânia;
* da desestabilização da
União Europeia com a chegada de uma nova onda de refugiados à
* ocorrência de incidentes
que façam a Otan entrar em guerra com a Rússia;
* da possibilidade de que
Putin se anime a desafiar o Ocidente em outros lugares ao
* perigo de que ele sirva de
inspiração a autocratas por toda a parte.
O Ocidente deve recomendar
cautela a turcos e sauditas: os riscos de uma guerra com a Rússia e de um
ricochete jihadista são altos demais. Os
EUA precisam convencer seus amigos turcos e curdos a buscar uma acomodação, em
vez de insistir no confronto. Mas, se pretendem manter alguma influência na
questão síria, os americanos terão de
ampliar seu envolvimento. Será um desastre se Assad e os russos conseguirem
transformar a guerra numa escolha entre o regime e os piores jihadistas. A
maioria dos sírios é formada por sunitas, e muitos deles jamais se
reconciliarão com Assad. Se forem esmagados, os grupos moderados terão duas
opções: ir para a Europa ou cair nos braços dos jihadistas. Portanto, os sunitas que não se identificam com a
causa jihadista precisam de apoio.
A
inação de Obama já produziu uma consequência trágica: ações que antes eram viáveis, como o estabelecimento de uma zona de
exclusão aérea, agora trazem o risco de um confronto com a Rússia. Talvez
ainda seja possível estabelecer zonas humanitárias informais. A melhor resposta
de Obama seria levar sua estratégia a sério: criar uma força moderada para combater o califado no leste da Síria.
Isso seria apoiado por países sunitas; ofereceria aos rebeldes moderados um
território vasto o bastante para que pudessem instaurar o núcleo de um governo
alternativo, sob a proteção das operações aéreas que os americanos já realizam
na região; e seria uma forma de obrigar
os russos a provar que sua intenção é realmente combater os jihadistas.
O Ocidente terá de pressionar
a Rússia, a começar pela renovação das sanções da UE no segundo semestre deste
ano. Putin
foi astucioso no uso da força. A resposta do Ocidente não pode ficar limitada à
Síria.
Traduzido do inglês por Alexandre Hubner.
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