«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

“O mundo de hoje, despojado pela cultura do descarte, precisa de vocês”

Papa Francisco com os índios em Chiapas

Iván de Vargas

Na sua homilia, o Santo padre diz que “a violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, também se manifesta nos sintomas de doença que percebemos no solo, na água, no ar e nos seres vivos”.
PAPA FRANCISCO
Acolhe indígenas mexicanos durante a Santa Missa celebrada em Chiapas
Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O Papa Francisco ficou nesta segunda-feira, dia 15 de fevereiro, em San Cristóbal de las Casas [México], vindo de helicóptero do aeroporto de Tuxtla Gutierrez, onde o avião da Aeromexico pousou. Milhares de pessoas receberam-no de maneira muito calorosa, agitando bandeiras com as cores do Vaticano e lenços.

O papamóvel parou várias vezes para que o Santo Padre pudesse abençoar e beijar algumas crianças, especialmente ao chegar no Centro Esportivo Municipal, onde o Pontífice presidiu a santa missa. Esta é a primeira vez que um Papa visita este local de Chiapas.

Pelos alto-falantes, o apresentador citou as várias etnias indígenas presentes. Enquanto isso as pessoas não paravam de saudá-lo. No papamóvel estavam os bispos de Tuxtla Gutierrez, D. Fabio Martínez Castilla e o de San Cristóbal de las Casas, D. Felipe Arizmendi.

No estádio foram reproduzidas uma réplica da fachada da Catedral de San Cristóbal, as escalinatas da pirâmide de Palenqua e imagens das cachoeiras de Água Azul, onde Francisco celebrou a eucaristia perante milhares de pessoas.

Em sua homilia, o Santo Padre advertiu que “já não podemos tampar os ouvidos perante uma das maiores crises ambientais da história”. Perante esta crise, acrescentou, os indígenas “têm muito para ensinar”.

Os paramentos eram da cor roxa, respeitando o tempo quaresmal, e a celebração foi embelezada com as melodiosas músicas locais e o característico som da marimba. As leituras e os cantos da missa foram nas línguas Chol, tzotzil e tzeltal e feitas pelos próprios indígenas. As oferendas foram entregues pelas famílias tojolabales e zoques.

Após a cerimônia religiosa, o Papa almoçou com oito representantes dos povos indígenas e visitou o túmulo de Samuel Ruiz, um bispo que era carinhosamente chamado de “Tatic” (pai, no idioma tzotzil).

Leia, abaixo, na íntegra a homilia desta missa proferida pelo papa: 
PAPA FRANCISCO
Profere homilia durante a Santa Missa em Chiapas

SANTA MISSA COM AS COMUNIDADES INDÍGENAS DE CHIAPAS
HOMILIA DO SANTO PADRE
Centro Desportivo Municipal, San Cristóbal de Las Casas
Segunda-feira, 15 de Fevereiro de 2016

 «Li smantal Kajvaltike toj leka lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma» (Sl 19/18,8): assim começa o salmo que escutamos. A lei do Senhor é perfeita; e o salmista encarrega-se de enumerar tudo o que esta lei gera de bom em quem a escuta e segue: reconforta a alma, torna sábios os simples, alegra o coração, é luz para iluminar o caminho.

Esta é a lei que o povo de Israel recebera das mãos de Moisés, uma lei que ajudaria o povo de Deus a viver na liberdade a que fora chamado. Lei que queria ser luz para os seus passos e acompanhar o peregrinar do seu povo; um povo que experimentara a escravidão e a tirania do Faraó, que experimentara a amargura e os maus-tratos, até que Deus disse «basta», até que Deus disse: «não mais». «Eu vi a aflição, ouvi o clamor, conheci a sua angústia» (cf. Ex 3,9). Manifesta-se aqui o rosto do nosso Deus, o rosto do Pai que sofre com a dor, os maus-tratos, a injustiça na vida de seus filhos; e a sua Palavra, a sua lei torna-se símbolo de liberdade, símbolo de alegria, de sabedoria e de luz. Experiência, realidade que ecoa numa frase nascida da sabedoria criada nestas terras desde os tempos antigos e assim transcrita no Popol Vuh: «a aurora veio sobre todas as tribos reunidas. E logo a face da terra foi purificada pelo sol» (33). A aurora veio para os povos que sucessivamente caminharam sob as mais variadas trevas da história.

Nesta frase, há um anseio de viver em liberdade; um anseio que tem o sabor da terra prometida, onde a opressão, os maus-tratos e a degradação não sejam moeda corrente. No coração do homem e na memória de muitos dos nossos povos, está inscrito o anseio por uma terra, por um tempo em que o desprezo seja superado pela fraternidade, a injustiça seja vencida pela solidariedade e a violência seja cancelada pela paz.

O nosso Pai não só compartilha este anseio, mas Ele mesmo o suscitou e suscita dando-nos o seu Filho Jesus Cristo. N’Ele encontramos a solidariedade do Pai, que caminha ao nosso lado. N’Ele vemos como aquela lei perfeita assume uma carne, assume um rosto, assume a história, para acompanhar e sustentar o seu povo; faz-se Caminho, faz-se Verdade, faz-se Vida, para que as trevas não tenham a última palavra e a aurora não cesse de vir sobre a vida dos seus filhos.

De muitas maneiras e de muitas formas se procurou silenciar e cancelar este anseio, de muitas maneiras procuraram anestesiar-nos a alma, de muitas formas pretenderam pôr em letargo e adormecer a vida das nossas crianças e jovens com a insinuação de que nada pode mudar ou trata-se de sonhos impossíveis. Contra estas formas, a própria criação sabe levantar a sua voz: «Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que “geme e sofre as dores do parto” (Rm 8, 22)» (Encíclica Laudato si’, 2).

O desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas têm a ver com todos nós (cf. ibid., 14) e interpelam-nos. Não podemos permanecer indiferentes perante uma das maiores crises ambientais da história. Nisto, vós tendes muito a ensinar-nos, a ensinar à humanidade. Os vossos povos, como reconheceram os bispos da América Latina, sabem relacionar-se harmoniosamente com a natureza, que respeitam como «fonte de alimento, casa comum e altar do compartilhar humano» (Documento de Aparecida, 472).
PAPA FRANCISCO
Recebe um colar e um cocar de flores confeccionados por uma índia ao chegar ao local
da Santa Missa em Chiapas - México

No entanto, muitas vezes, de forma sistemática e estrutural, os vossos povos acabaram incompreendidos e excluídos da sociedade. Alguns consideram inferiores os vossos valores, a vossa cultura e as vossas tradições. Outros, fascinados pelo poder, o dinheiro e as leis do mercado, espoliaram-vos das vossas terras ou realizaram empreendimentos que as contaminaram. Que tristeza! Como nos seria útil a todos fazer um exame de consciência e aprender a pedir perdão! Perdão, irmãos!

O mundo de hoje, espoliado pela cultura do descarte, necessita de vós. Os jovens de hoje, expostos a uma cultura que tenta suprimir todas as riquezas e características culturais tendo em vista um mundo homogêneo, estes jovens precisam que não se perca a sabedoria dos vossos anciãos. O mundo de hoje, prisioneiro do pragmatismo, tem necessidade de voltar a aprender o valor da gratuidade.

Estamos a celebrar a certeza de que «o Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado» (Encíclica Laudato si’, 13). Celebramos que Jesus Cristo continua a morrer e ressuscitar em cada gesto que temos para com o menor de nossos irmãos. Animemo-nos a continuar a ser testemunhas da sua Paixão, da sua Ressurreição, encarnando «li smantal Kajvaltike toj lek – a lei do Senhor é perfeita, reconforta a alma».

Fonte: ZENIT.ORG – Papa Francisco – Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016 – Internet: clique aqui; e aqui.

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