Andrea
Tornielli
«Por favor, no confessionário não repreendam duramente;
aquele que vem procurar paz para a sua alma que
encontre
um padre que lhe dê paz, e lhe diga: Deus te ama!»
PAPA FRANCISCO encontra-se com os Frades Menores Capuchinhos na Basílica de São Pedro (Vaticano) Terça-feira, 9 de fevereiro de 2016 |
Papa
Francisco do ambão do altar da Cátedra de Pedro na Basílica de São Pedro
começou
quase com voz baixa a homilia para a missa
que celebrou frente aos frades menores capuchinhos. A poucos metros de
distância encontravam-se as relíquias do
Padre Pio e de Leopoldo Mandic,
dois santos capuchinhos, dois grandes confessores.
Depois
de ter citado a atitude de mesquinhez descrita no Evangelho do dia, um dos
confrontos entre Jesus e os doutores da lei para os quais «tudo era exato,
deixavam de lado a lei para fazer suas pequenas tradições», o Papa recordou que
«a vossa tradição de capuchinhos é uma tradição de perdão».
«Hoje
– continuou o Papa,– citando o personagem da novela de Manzoni, há muitos bons
confessores, e é porque se sentem pecadores como nosso frade Cristóforo, sabem que são grandes pecadores. Frente à grandeza
de Deus pedem: escuta e perdão. Como sabem rezar, assim sabem perdoar».
Ao
contrário, «quando alguém se esquece da
necessidade que tem de perdão, lentamente se esquece de Deus, se esquece de
pedir perdão e não sabe perdoar. O humilde, aquele que se sente pecador é
um “perdoador” no confessionário. O outro é como estes doutores da lei, se
sentem mais puros, os mestres, somente sabem condenar».
«Eu
vos falo como irmão – continuou o Papa Bergoglio – e em vocês quisera falar a
todos os confessores. O confessionário é
para perdoar e, se tu não podes dar a absolvição – faço esta hipótese – por
favor, não repreenda severamente aquele que vem buscar paz para a sua alma. Que
ele encontre um padre que lhe dê paz e lhe diga: Deus te ama. Sinto dizê-lo: quantas pessoas, acredito que a maioria de
nós já escutamos isso, diz: não vou jamais confessar-me porque uma vez me
fizeram estas perguntas...».
E, insistindo em que os capuchinhos têm «esta
missão especial de perdoar», Francisco convidou-lhes a não se cansar jamais de
perdoar. Então, contou o episódio já conhecido de um frade capuchinho que ele
conhece em Buenos Aires, «um homem de governo» que «depois de setenta anos foi
enviado a um santuário para confessar. Este homem tinha uma fila de gente –
padres, fiéis, ricos e pobres – e era um grande “perdoador”, sempre encontrava uma
maneira para perdoar ou, pelo menos, deixar em paz aquela alma com um abraço».
PAPA FRANCISCO faz uma homilia espontânea aos Frades Menores Capuchinhos durante a Santa Missa. Basílica de São Pedro - 09/02/2016 |
«Uma
vez eu o encontrei e ele me disse: eu creio que peque porque eu perdoo demais.
E me vem este escrúpulo... sempre encontro como perdoar». Bergoglio lhe pediu:
«E tu o que fazes?». O capuchinho lhe respondeu: «Eu vou à capela, diante do
sacrário, e digo: desculpa-me, Senhor, hoje acredito ter perdoado demais. Mas
Senhor, foste tu que me deste o mal exemplo!».
«Sede
homens de perdão, de reconciliação, de paz – disse ainda o Papa – há tantas
linguagens na vida, há aquela da palavra, mas também aquela dos gestos. Se uma
pessoa se aproxima de mim no confessionário é porque sente algo que lhe pesa,
que deseja tirar de si, talvez não saiba como dizê-lo, mas o gesto é este. Desejaria
mudar, ser uma outra pessoa e diz isso com o gesto de aproximar-se. Não é
necessário fazer perguntas, mas tu... tu... Se uma pessoa vem é porque por sua
vontade desejaria não fazê-lo mais. Mas tantas vezes não podem, são
condicionadas pela sua psicologia, pela sua vida, pela sua situação. Ad impossibilia nemo tenetur (ninguém é
obrigado a fazer coisas impossíveis).»
O
perdão, prosseguiu Papa Bergoglio, «é uma semente, é uma carícia de Deus. Havei
confiança no perdão de Deus, não caí no pelagianismo... deve fazer isto, isto e
aquilo... Haveis este carisma de confessores, retomai-o, renovai-o sempre e
sede grandes “perdoadores” porque quem
não sabe perdoar acaba como estes doutores da lei, é um grande “condenador”.
E quem é o grande
acusador na Bíblia? O diabo... Ou se realiza a
incumbência de Jesus que perdoa, ou se faz aquela do diabo que condena e acusa».
«Digo
a todos os sacerdotes que vão confessar – concluiu Francisco – se não tendes
coragem [para bem confessar], sede humildes, dizei não: eu celebro a missa, talvez limpe o chão, mas
não sei ser um bom confessor... Pedi a graça ao Senhor. Eu a peço para cada um
de vós e também para mim».
Traduzido do italiano por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Assista ao vídeo com a homilia de Papa Francisco na íntegra,
em língua italiana. Clique sobre a imagem abaixo:
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