Oceanos e a vida em risco!
Oceano mais quente, muito mais degradado
Washington Novaes
Jornalista
Dos 15 anos mais quentes da História do planeta, 14
foram neste
início de século 21
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OCEANOS ESTÃO SE AQUECENDO RAPIDAMENTE, principalmente em profundidades maiores!!! |
Há
poucos dias, o World Ocean Assessment
divulgou (21/1) texto do estudo que já fora aprovado pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em dezembro último, preparado
em 55 capítulos por 600 cientistas da área para orientar decisões que terão
de ser tomadas no mundo, de modo a enfrentar graves problemas na degradação dos
oceanos – com os altos custos ambientais, sociais e econômicos daí decorrentes.
Isso exigirá a integração das propostas para todos os setores de atividades
humanas que afetam os oceanos. Os
impactos aumentaram “dramaticamente” nas últimas décadas e levaram a capacidade
de resistência das águas marítimas à “proximidade do esgotamento”.
Segundo
o Observatório do Clima (25/1), a temperatura dos oceanos aumentou muito nos
últimos 50 anos, na faixa dos 700 metros mais rasos. O aumento anual foi
mais de duas vezes superior ao que era há 18 anos, diz o Laboratório Lawrence Livermore, dos Estados Unidos da América (EUA).
De
acordo com esse documento, a temperatura na Terra “sobe hoje mais (um terço) em
camadas mais profundas, abaixo da superfície”. E foi a partir do início do
século 21 que esse aumento de temperatura passou a ser mais forte. Já de 1997 em diante “os oceanos passaram a
esquentar duas vezes mais e as camadas abaixo de 700 metros passaram a
responder por uma parte cada vez mais significativa da absorção de calor”
(em 1988 começara o “hiato de aquecimento”, com a temperatura global se
acelerando em ritmo menor, apesar do aumento da concentração de dióxido de
carbono no ar); 14 dos 15 anos mais
quentes da História do planeta aconteceram neste início de século 21.
Hoje,
acreditam os cientistas do Met Office,
órgão meteorológico oficial da Grã-Bretanha, que o calor possa chegar (O Globo, 1.º/2) a recordes até 2020. No ano passado, a temperatura elevou-se
0,44 grau Celsius e poderá continuar alta este ano, com El Niño. Canadá, Estados Unidos e Groenlândia assinaram acordo
para enfrentar juntos a questão do degelo
no Oceano Ártico (New Scientist,
21/11/15).Teme-se que o derretimento dos glaciares possa drenar parte da vasta
camada de gelo da Groenlândia – o que poderia resultar em 50 centímetros mais
no nível do mar. Até o final do século poderia acontecer até uma elevação de
mais de um metro no nível do mar – com consequências graves em muitas áreas,
muitos lugares no mundo.
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GLACIARES NA GROENLÂNDIA - ÁRTICO Estão em processo acelerado de derretimento, podendo elevar o nível dos oceanos |
Os problemas nos oceanos
continuam cada vez mais preocupantes, com essas e outras questões relacionadas:
* clima,
* frequência de tempestades,
* acidificação de águas
oceânicas,
* pesca insustentável,
* navegação poluidora
afetando a biodiversidade,
* invasão de espécies,
* resíduos e
* emissões de indústrias offshore,
* deposição de lixo,
segundo
o estudo do World Ocean Assessment
apresentado à ONU.
Avaliação
de informações geológicas pela Universidade
de Vermont (EUA) chega a dizer que a elevação do nível do oceano na Baía de
Chesapeake (na região de Washington), em velocidade maior que a média global,
em cem anos pode atingir cem centímetros ou mais – um problema de dimensões
inimagináveis. Por aqui, entende um
comitê Brasil-Inglaterra-Estados Unidos (Folha de S. Paulo, 4/12/15) que
já é preciso recuperar trechos da orla marítima de Santos – inclusive porque
até 2050 o nível do mar pode subir mais de 30 centímetros na região e chegar a
45 centímetros até 2100 (a taxa global que prevê é de 28 a 89 centímetros
até o fim do século). Será indispensável recuperar mangues (problema também em
muitas outras partes do País), “engordar” praias e recifes (incluindo
Pernambuco e Rio Grande do Norte), providenciar defesas para muitas áreas
urbanas de Santos.
Já
a Nasa, a Agência Espacial dos Estados Unidos, afirma que o nível do mar, em média, subiu quase oito centímetros no mundo
desde 1992 e que essa mesma tendência deverá manter-se nos próximos anos (Eco-Finanças, 28/8/15). Até aqui, as
costas da Ásia e da Oceania, no Pacífico, assim como as do Mediterrâneo
Oriental e da América foram as mais atingidas. E a atividade humana é a principal causa da modificação nos oceanos e
mares, assim como nos gelos da Antártida, no aumento da temperatura da água.
“Pode piorar”, tem dito o geofísico Steve
Neren, da Universidade do Colorado.
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MANGUES São fundamentais para a renovação e sobrevivência da vida marinha, mas vêm sendo destruídos e poluídos no Brasil e pelo mundo afora! |
Há
regiões com problemas gravíssimos já hoje, como Kiribati, a República insular do Pacífico, com 100 mil habitantes,
que poderá desaparecer. Que fazer
com a população? Com que recursos? E com as ameaças a terras próximas? A República de Fiji também já está
realocando parte de sua população.
Mas
nem a pesca excessiva e insuportável no mundo se consegue enfrentar. Tampouco
no Brasil. Segundo a FAO-ONU, de 20% a
30% da população mundial de peixes está sobre-explorada ou esgotada; em 30 anos
a ameaça pesará sobre 80% das espécies. Nada menos que 12% da população
mundial depende da pesca (158 milhões de toneladas em 2012) e da aquicultura. É indispensável e urgente, segundo o órgão
da ONU, uma mudança radical nas formas de gestão dos recursos marinhos, para
salvar “a segurança alimentar mundial” – sem falar nos custos atuais de US$
50 bilhões anuais com a geração de problemas.
Precisamos pelo menos, e com
urgência, diagnosticar no Brasil com exatidão as questões da sobrepesca, da
vida de mais de 1 milhão de pessoas que trabalham nessa atividade. E os danos já provocados
nas áreas costeiras, principalmente o desaparecimento de mangues – berço da
vida marinha. Não se pode “deixar como
está para ver como é que fica”, diante de um ministério da Pesca
inexpressivo – num país com o privilégio da costa extensa de que dispomos, na
qual poderíamos centrar formatos decisivos para as áreas econômica, cultural e
ambiental. Enquanto é tempo.
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