UM ALERTA PARA O BRASIL!
Trump explora a insatisfação
Peter Hakim
O pré-candidato do Partido Republicano dos Estados
Unidos,
com demagogia, lidera entre os eleitores que estão
frustrados com o governo, líderes políticos e outros
problemas
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DONALD TRUMP Homem super bilionário e pré-candidato à Presidência da República dos Estados Unidos pelos Republicanos |
Sua
vitória decisiva nas primárias de New Hampshire levou o empresário Donald Trump, hoje uma celebridade, mais perto de se
tornar o 45.º presidente dos Estados
Unidos. Agora, ele desfruta de uma posição vantajosa considerável na
maioria das pesquisas nacionais e estaduais no que se refere à indicação
republicana, deixando para trás os outros candidatos.
A esta altura da disputa
presidencial,
somente o senador Ted Cruz, do Texas, parece
ter maior possibilidade de superá-lo, embora cinco outros candidatos
republicanos continuem concorrendo, até mesmo o ex-governador da Flórida, Jeb
Bush, de início o favorito.
Até
o momento, os instintos demonstrados por Trump no confronto político ofuscaram
claramente os da sua mais provável adversária nas eleições de novembro, Hillary Clinton, que enfrenta o
inesperado desafio do senador Bernie
Sanders pela indicação democrata.
Indignação
A origem do surpreendente
apelo de Trump junto ao eleitorado é a enorme insatisfação do povo americano
com o governo, líderes políticos e também com muitos outros problemas. Os eleitores estão mais
indignados e mais frustrados do que em qualquer outro momento da história
recente dos Estados Unidos da América (EUA).
Por
outro lado, também estão cada vez mais temerosos
por sua segurança, de suas famílias, pelo futuro da economia e desiludidos com o que percebem ser uma diminuição da estatura dos EUA no cenário
mundial.
O
descontentamento do eleitorado explica o entusiasmo,
até mesmo a adulação, pelos candidatos menos moderados, em
termos de retórica, e descompromissados em ambos os partidos – não só no caso
de Trump, o poliglota ideológico,
mas também no de Bernie Sanders, o
único socialista declarado do Congresso americano, e de Ted Cruz, o conservador mais intransigente do Senado.
São
eles que clamam mais ruidosamente por mudanças radicais na política, na
economia e até mesmo na cultura dos Estados Unidos. Os três declaram que o país perdeu em grande parte tudo o que o tornava
uma nação especial e, se esta situação não for urgentemente sanada, será
perdido para sempre. O plano de Trump é fazer com que a “América volte a ser grande”. Cruz exige
“a América de volta” ao ponto em que
se encontrava. Sanders quer reviver “o
sonho americano”.
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TED CRUZ Senador pelo Estado do Texas e também pré-candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo partido Republicano |
Embora
os EUA possam se gabar de ter uma das economias mais fortes do mundo, muitos
americanos têm boas razões para estar contrariados. Os ganhos das famílias de renda baixa e média estagnaram há décadas.
Algumas das mais vulneráveis perderam até mesmo terreno.
Os bons empregos continuam
escassos.
Pela primeira vez na história dos EUA, a maioria dos pais teme que seus filhos
retrocedam e acabem piores do que as gerações anteriores. Muitos jovens adultos estão totalmente endividados em razão do custo
altíssimo do ensino universitário que, entretanto, não lhes garante uma
carreira segura.
Os
republicanos estão extremamente agitados pela ingerência cada vez maior do
governo, do seu ponto de vista, e pelos altos impostos e dívidas enormes que
precisam ser saldadas. Além de suas alas mais jovens, muitos republicanos
também estão incomodados pelas rápidas
mudanças ocorridas nos fundamentos sociais, culturais e éticos de seu país.
Sentem-se confusos e
desconfortáveis:
*
com a legalização do casamento gay,
*
com a legalização do uso recreativo da maconha e
* estão
apreensivos com a imigração e as mudanças demográficas que estão transformando
uma nação predominantemente cristã, branca e de língua inglesa, numa sociedade
de múltiplas línguas, cores e culturas.
Os
democratas estão particularmente mobilizados diante da desenfreada influência
dos bancos e das corporações “demasiado grandes para falir”, mas estão
dispostos a correr para o exterior à procura de mão de obra barata e de
impostos menores. Os membros de ambos os
partidos reclamam da apatia das instituições americanas, públicas e privadas,
diante das necessidades dos cidadãos comuns.
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BERNIE SANDERS Senador sem partido político pelo Estado de Vermont e pré-candidato à Presidência da República dos Estados Unidos pelo partido Democrata |
Os
acontecimentos globais estão levando os americanos a se preocupar mais do que
nunca com a própria segurança. O atentado contra as Torres Gêmeas, em 2001,
seguido pela derrota em duas guerras dispendiosas e prolongadas no Iraque e no
Afeganistão, deixaram a população americana com uma sensação de debilidade, de viver uma situação de grave risco, até
mesmo no próprio solo.
O
surgimento de ameaças ainda mais perigosas, como o Estado Islâmico, e o número
cada vez maior de atentados terroristas fizeram soar novos alarmes no mundo
todo. Além disso, países potencialmente
hostis, como China, Rússia e Irã, não mais parecem temer o poderio americano.
Eles se tornaram mais confiantes de si, enquanto os EUA aparentemente se
enfraqueceram.
Pesquisas
recentes mostram que os americanos se sentem mais inseguros do que em qualquer
outro momento desde o 11 de Setembro. Nenhum dos candidatos debate, reflete e
reforça mais indignação e o medo dos eleitores americanos do que Donald Trump –
e nenhum outro oferece as receitas mais descaradas contra os múltiplos males
dos EUA.
Os diagnósticos de Trump a
respeito dos problemas são em geral simplistas ou totalmente errados. Suas soluções são na
maioria das vezes incoerentes e inviáveis. As eleições presidenciais deste ano,
porém, poderão se caracterizar mais pelo temperamento e o estilo do que pela
política, pela programática ou pelas ideologias.
O que as pessoas mais
admiram em Trump é a falta de comedimento, a prepotência – até mesmo a
grosseria, a suprema autoconfiança e seu histrionismo. Observe-se que seu estilo
é praticamente o oposto da estratégia metódica, angustiada, professoral de
Obama.
Fraquezas
Até
agora, Trump demonstrou suas habilidades nesta campanha – a capacidade de
formular, expressar e dirigir com precisão suas mensagens ao público, detectar
e explorar as fraquezas dos adversários, atrair a atenção e entusiasmar. Ele dominou a mídia e definiu os termos do
debate, enquanto os outros candidatos limitam-se a reagir a ele.
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HILLARY CLINTON Pré-candidata à Presidência da República dos Estados Unidos pelos Democratas |
Hillary Clinton, por
exemplo, ainda não encontrou a própria mensagem. Ela é a candidata da
mudança ou da continuidade? Certamente, ela não espalha entusiasmo nem
encontrou uma maneira de valorizar os próprios pontos fortes ou os pontos
fracos de Sanders.
Ao
contrário, Sanders definiu o debate do
lado dos democratas, enquanto Hillary ainda busca um equilíbrio, está na
defensiva. Seu começo vacilante contra um socialista declarado, pouco
conhecido anteriormente, suscita questões quanto às suas perspectivas de
sucesso contra a mais recente celebridade, o empreendedor temido esbanjando
energia. Sanders tem uma mensagem forte
que destaca as grandes desigualdades – de renda, saúde e poder – em toda a
sociedade e a política americanas.
Como
se testemunhou em Iowa e em New Hampshire, esta mensagem ecoa vigorosamente
entre muitos democratas, particularmente entre os jovens, mas provavelmente
será muito limitada para tirar a indicação de Hillary, e muito menos as
eleições gerais de Trump.
Os candidatos democratas têm ainda outros
problemas. Talvez tenham dificuldade
para segurar o apoio dos membros dos sindicatos, que costumam votar em peso nos
candidatos democratas. No entanto, este ano, há muita ansiedade entre os
líderes sindicais com o apelo exercido por Trump junto às suas bases,
conquistadas pela retórica combativa do republicano, particularmente na questão
da imigração ilegal e contra a Parceira Trans-Pacífico.
A
esta altura, os democratas deveriam saber que Trump nunca se compromete completamente com qualquer uma de suas
posições ou declarações. Ele está pronto para mudar de posição sempre que
lhe convier e, em geral, o faz sem o menor esforço. Na realidade, em várias das
questões mais importantes, ele tem manifestado posições que diferem
drasticamente de suas declarações atuais.
Desde
o início, a campanha presidencial americana mostrou-se cheia de surpresas.
Ninguém previu que Trump ou Sanders representariam um desafio tão grande para
candidatos como Hillary ou Jeb Bush.
E,
certamente, teremos outros choques nos dez meses que faltam para as eleições de
novembro. A lição mais surpreendente
– e a mais importante para todos os candidatos – é o péssimo humor do país, a enorme indignação e frustração em todos os
Estados Unidos em relação aos líderes e às instituições em vigor, com o
processo político rotineiro.
Até o momento, Trump foi o
que assimilou a lição mais depressa. No entanto, quem ganhar as eleições só se revelará
um presidente bem-sucedido se compreender e for capaz de responder ao
descontentamento manifestado pelo eleitorado americano como um todo.
Traduzido do inglês por Anna Capovilla.
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