O silêncio dos bons
Eliane
Cantanhêde
O aparelhamento dos fundos de pensão no Brasil é uma
história a ser contada.
Quem sempre falou em defender o trabalhador, deixou de
herança um futuro incerto a milhões deles!
Na Bancoop, os dirigentes pintaram e
bordaram, deixando centenas de famílias a ver navios e tríplex no Guarujá. No Petros (Petrobrás), no Postalis (Correios), na Previ (BB) e na Funcef (CEF), os presidentes
e diretores também fizeram a maior farra, deixando milhares de funcionários com
uma aposentadoria incerta e uma dívida já estimada em R$ 46 bilhões.
O
que uma cooperativa de bancários de São Paulo tem a ver com os fundos de pensão
das principais estatais brasileiras? Todas viveram o mesmo aparelhamento, com o
mesmo modo de fazer as coisas e personagens que têm origens parecidas: os presidentes da Bancoop e dos fundos de
pensão eram do PT, ou indicados pelo partido de Lula, e fizeram carreira em
sindicatos. Exemplo: João Vaccari Neto,
da Bancoop, ex-tesoureiro do PT e
hoje preso na Lava Jato.
É preciso reconstituir essa
história e mostrar o que há de tão intrigantemente igual na escolha dos
dirigentes, na origem sindical e partidária de cada um, na ausência de limites
entre público e privado, na forma invertida de tirar da maioria para favorecer a minoria do
poder. Como lembrou o chefe da Casa Civil, o também petista Jaques Wagner, “quem nunca comeu melado, quando come...”
A turma encheu a pança.
Há muitos detalhes cruéis
nessa trama, mas o principal deles é que os governos passam, os partidos
passam, os presidentes dos fundos de pensão passam, mas as vítimas ficam e se tornam vítimas para sempre. Aí, entra uma
curiosidade, resvalando para uma cobrança: como tudo isso pôde acontecer,
durante tanto tempo, atingindo tanta gente, prejudicando tantas instituições, e
ninguém meteu a boca no trombone?
Funcionários do Banco do
Brasil, da Petrobrás, dos Correios, da Caixa Econômica Federal são
historicamente reconhecidos e admirados por vestirem a camisa e defenderem suas
instituições.
Por que, depois da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, eles passaram a também
não ver, não ouvir, não saber e não falar? Um mistério.
Vejamos
a Petrobrás. O desastre e o escândalo que marcaram para sempre a história da maior
empresa brasileira refletiram diretamente sobre a gestão do fundo de pensão dos
funcionários, desenrolando-se dia após dia, semana após semana, anos após
anos, à luz do sol, envolvendo bilhões de reais, dólares, euros. E não havia um
só diretor, gerente, engenheiro, secretária, telefonista, garçom, servente,
motorista, para defender a companhia e impedir que o Titanic afundasse?
A
bem da verdade, registro aqui que, em outubro de 2011, dois anos e meio antes
do início da Lava Jato, recebi o e-mail de um engenheiro da Petrobrás que,
obviamente, assinava com um pseudônimo, “Miamoto Kojuro”: “Causa espanto o que vem acontecendo nas obras de expansão das
refinarias e de construção das novas, na verdade, em praticamente todos os
empreendimentos que levam o nome Petrobrás”.
Segundo
esse engenheiro, “se a corrupção no Ministério dos Transportes chocou a opinião
pública, levando a uma pseudo faxina do governo, motivada por denúncias da
imprensa, o que acontece na Petrobrás excede em muito as irregularidades dos
Transportes”. E acrescentava algo que o juiz Sérgio Moro agora diz claramente: “Notadamente empresas doadoras de campanha
para o PT são bem aquinhoadas na Petrobrás. (...) Mesmo que orcem as obras
baixo, elas nunca perdem dinheiro mediante os mais diversos expedientes”.
“Kojuro”,
se você estiver me lendo, entre em contato, por favor! Aliás, senhores funcionários da Petrobrás e da
PETROS, do Banco do Brasil e da PREVI, da Empresa de Correios e Telégrafos e do
POSTALIS, da Caixa Econômica Federal e da FUNCEF, é hora de falar. Além das
suas instituições, os atingidos são o País e cada um de vocês. Como ensinou
Martin Luther King Jr. (1929-1968), o pior não é o grito dos violentos,
corruptos, desonestos e sem caráter. “O
que preocupa é o silêncio dos bons.”
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