Câmara desfigura Medidas Contra a Corrupção
Deputados Federais apresentam e aprovam
destaques que enfraquecem e desviam
a finalidade do projeto de iniciativa
do Ministério Público e da população
Luciano
Nascimento
A tática adotada foi aprovar
rapidamente o texto-base do projeto de lei para,
em seguida, desfigurá-lo e enfraquecê-lo
com os destaques
apresentados pelos deputados
A Câmara dos Deputados aprovou por 450 votos a
favor, um contra e três abstenções na madrugada de hoje (30) o texto-base do Projeto de Lei (PL) 4.850/16,
que trata das medidas de combate a
corrupção. No total, foram apresentadas 12 emendas ao projetos, que foram
rejeitadas pelo relator, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e 16 destaques a
pontos do texto. Todos os destaques
foram aprovados pelos deputados e a matéria segue agora ao Senado.
O deputado Zé
Geraldo (PT-PA) foi o único a se posicionar contra o projeto. O texto
prevê, entre outros pontos, a transformação de corrupção que envolve valores
superiores a 10 mil salários mínimos em crime hediondo e a criminalização do
enriquecimento ilícito de funcionários públicos.
A votação do projeto ocorreu em meio a um dia
tumultuado em Brasília. Na tarde dessa terça-feira, uma manifestação contra a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/16 que limita o teto de gastos da
União por 20 anos foi dispersada pela Polícia Militar (PM) com bombas de gás de
efeito moral, lacrimogêneo e spray de pimenta, houve confronto entre a PM e
manifestantes e vandalismo e depredação de bens públicos e privados.
Entre os
principais pontos do projeto está o que criminaliza a prática de utilização de
recursos não contabilizados formalmente, o chamado caixa dois. Pela proposta, o
candidato, o administrador financeiro que incorrer na prática poderá sofrer uma
pena de dois a cinco anos de prisão, e multa. As penas serão aumentadas de um
terço se os recursos forem provenientes de fontes vedadas pela legislação
eleitoral ou partidária.
A possível anistia ao caixa dois foi um dos temas
que mais gerou polêmicas no projeto. Mais cedo, chegou a circular um rumor de
que seria apresentada uma emenda ao projeto para promover a anistia. [Nem precisou! Desmontaram o projeto de outro modo!]
Crime de responsabilidade a juízes e a promotores
Outro tema que também gerou divergências é o que
previa a inclusão no texto da previsão de crime de responsabilidade a juízes e
a promotores, o que hoje não é previsto. O PDT chegou a apresentar uma emenda
ao projeto com esse conteúdo, mas o texto precisa ser votado. A proposta chegou
a constar no relatório de Lorenzoni, mas foi retirada após o deputado se reunir
com integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Durante a apresentação do relatório no plenário,
Lorenzoni excluiu a emenda com o argumento de que, apesar de haver a previsão
constitucional para crimes de responsabilidade, o texto não cabia no mérito do
projeto. Diante do rumor, integrantes da força-tarefa da Lava Jato soltaram uma
nota em que manifestaram repúdio contra a previsão de crime de responsabilidade
para juízes e promotores.
Na nota, os
integrantes da Lava Jato classificaram a proposta como uma tentativa de
“aterrorizar procuradores, promotores e juízes em seu legítimo exercício da
atividade de investigação, processamento e julgamento de crimes, especialmente
daqueles praticados nas mais altas esferas de poder.”
Segundo a nota, a afirmação de que essas classes são
uma “casta privilegiada” ou “intocável” são “falsas e objetivam manipular a
opinião pública”. “A pretensão de sujeitar membros do Ministério Público e do
Poder Judiciário a crimes de responsabilidade é totalmente descabida. Nem mesmo os próprios deputados e senadores
estão sujeitos a esses crimes. Além disso, a proposta tornada pública
atenta contra a independência do exercício da atividade ministerial e
judicial”, diz o texto.
WEVERTON ROCHA Deputado pelo PDT do Maranhão só preocupado em punir juízes, promotores e membros da Justiça! Que belo representante do povo!!! |
Proposta aprovada
Apesar da manifestação, a aprovação da emenda foi defendida por vários deputados, com o
argumento de que juízes e membros do Ministério Público se comportam como
agentes políticos. Ao final da votação, a proposta, primeiro destaque a ser votado, foi aprovada por 313 votos
a favor, 132 contra e cinco abstenções. “A primeira medida deste pacote
deveria ser o fim dos privilégios e abusos de poder da categoria deles. Não
pode haver castas”, disse o líder do PDT, Weverton
Rocha (MA).
Já o deputado
Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS) argumentou que a emenda colocaria juízes
e promotores em “pé de igualdade” com os demais cidadãos. “Temos a oportunidade
de tornar juízes e promotores brasileiros como os outros. Porque hoje, se
alguém faz uma nota contra juízes e promotores, é processado, mas quando eles
recebem mais de R$ 100 mil, nada acontece”, disse. [Interessante,
o projeto visava aumentar as chances de punição para corruptos no Brasil, mas
os deputados entregam ao povo leis que punem os que investigam e condenam
corruptos!!! Que país é esse???]
Pelo texto
aprovado, juízes poderão responder por crime de responsabilidade, nos seguintes
casos:
* alterar decisão ou voto já
proferido (exceto se por recurso);
* julgar quando estiver
impedido ou suspeito;
* exercer atividade
político-partidária;
* proceder de modo
incompatível com a honra dignidade e decoro de suas funções;
* exercer outra função ou
atividade empresarial;
* receber custas ou
participação em processo;
* manifestar, por qualquer
meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento.
Já os
promotores podem crimes de responsabilidade nos casos de:
* emitir parecer quando
estiver impedido ou suspeito;
* se recursar a agir;
* proceder de modo
incompatível com a dignidade e o decoro do cargo;
* receber honorários,
percentagens ou custas processuais;
* exercer a advocacia;
* participar de sociedade
empresarial;
* exercer qualquer outra
função pública, com exceção do magistério e exercer atividade
político-partidária.
Lorenzoni
defendeu a rejeição da emenda. Segundo o deputado, a aprovação seria vista como
uma espécie de “cala a boca” a promotores e juízes. “Aqui está uma emenda que, se for aprovada, será conhecida no Brasil
como uma emenda anti-investigação, uma emenda do mal. Vamos aguardar para
discutir isso em outro projeto”, defendeu. [Infelizmente,
o bom senso não predominou! Venceu o oportunismo da maioria!]
O deputado
Glauber Braga (PSOL-RJ) também foi contra a emenda por considerar que
algumas tipificações são genéricas. “Defendemos
que tem que haver limites claros ao abuso de poder, de todos os poderes, mas
não achamos que essa emenda seja a solução para resolver os problemas que estão
sendo colocados pelos deputados. Não
parece ser a melhor saída”, disse. “O magistrado progressista que tenha uma
visão crítica de operações que utilizam a prisão preventiva por regra, por
exemplo, vai estar sendo criminoso se ele manifestar sua opinião sobre o
tema?”, questionou Braga. “Na nossa opinião, não”.
NELSON MARCHEZAN JUNIOR Deputado Federal pelo PSDB do Rio Grande do Sul, outro mais preocupado com os promotores e juízes do que com o combate autêntico e sério à corrupção!!! |
Mais destaques
O plenário da Câmara dos Deputados também aprovou,
por 326 a 14, destaque do PSB e retirou
do projeto de lei de medidas contra a corrupção a possibilidade de os órgãos
públicos fazerem teste de integridade com servidores públicos.
A aprovação da emenda que cria a previsão de crime
de responsabilidade para juízes e promotores abriu espaço para que os deputados
promovessem diversas alterações no projeto aprovado, por unanimidade, na
comissão especial que analisava as dez medidas. Com isso, na sequência, o plenário aprovou um destaque do PSB que
suprimiu toda a parte do projeto relativa ao Programa de Proteção e Incentivo a
Relatos de Informações de Interesse Público, o chamado reportante do bem. Pela proposta,
qualquer cidadão que relatar atos ilícitos perante a administração contaria com
proteção contra atentados a sua integridade física, além da possibilidade de
receber um percentual de recursos que viessem a ser recuperados pelo Estado.
A medida foi apelidada por deputados contrário de “incentivo a dedo duro”. “Essa matéria
não veio das dez medidas. Essa medida veio do relator e nós temos que retirar
do texto isso do 'dedo duro', com isso nós estaremos mantendo a iniciativa das
dez medidas, em vez de oferecer incentivo financeiro para os reportantes fazer
as delações”, disse o líder do DEM, partido de Lorenzoni, Pauderney Avelino
(AM).
O líder do
PPS, Rubens Bueno (PR) criticou o que chamou de esfacelamento do projeto. “Se retiram mais de 30 itens do relatório
aprovado por unanimidade na comissão especial. É muito estranho”, disse.
Por 317 a 97,
também foi retirado do texto a parte que trata da extinção de domínio de bens e
propriedades do réu quando provenientes de atividade ilícita ou usados para tal. Esse trecho do texto
original facilitaria o confisco de bens
provenientes de corrupção. A exclusão foi criticada pelo deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).
"O relatório e essa medida foi aprovada por unanimidade por membros de
vários partidos que tinham integrantes na comissão. O que estamos vendo agora é uma insurreição contra as matéria que foram
subscritas pelos integrantes da comissão", disse. [Qual é o interesse público em retirar uma medida como esta?
Dá para entender? É incentivo descarado da corrupção!]
ARNALDO JORDY Deputado Federal pelo PPS do Pará um dos poucos a denunciar a desfiguração e manipulação completa do pacote de medidas contra a corrupção |
Outro destaque aprovado, este de autoria do PT, retirou do projeto uma
regra que condicionava a conversão de pena restritiva de direitos com a
reparação do dano causado ou do valorizado. O texto do projeto condicionava, nos crimes contra a administração
pública, que a progressão da pena privativa de liberdade por uma mais branda
ficaria condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto
do ilícito praticado, com os acréscimos legais. [Parabéns,
PT, você aprendeu rápido estando no poder!]
As alterações
propostas nas regras de prescrição de crimes também foram retiradas do texto.
Entre elas estavam a que previa que a contagem do prazo para prescrição
começaria a partir do oferecimento da denúncia e não do seu recebimento. Também foi aprovado outro
destaque, apresentado pelo PP-PTB-PSC,
que retira do texto a tipificação do crime de enriquecimento ilícito e a
decretação de perda estendida de bens de origem ilícita, a favor da União, se
assim considerados por consequência da condenação transitada em julgado por
vários crimes.
O Plenário aprovou, por 220 votos a 151, destaque do PSOL que retirou do projeto
de lei todo o trecho sobre o acordo
penal, que poderia ser formalizado após o recebimento da denúncia e até a
promulgação da sentença, implicando a confissão do crime e a reparação do dano.
Também foi aprovado, por 280 votos a 76, o destaque
do bloco PP-PTB-PSC que retirou do projeto de lei texto no qual é suprimida
a defesa prévia nas ações de atos de improbidade, permanecendo a regra atual
prevista na legislação.
Também foi
retirou do projeto de lei todos os artigos sobre reformulação das regras
relativas aos acordos de leniência, após a aprovação do destaque do PT por 207 votos a 143. O Plenário também aprovou, por
285 votos a 72, destaque do PMDB ao
projeto de lei para incluir no texto emenda do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) caracterizando como crime, por parte de
juiz, promotor ou delegado, a violação da prerrogativa do advogado, com
detenção de um a dois anos e multa. A emenda também especifica que, se a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não concordar com o arquivamento de inquérito
policial sobre esse crime ou o de exercício ilegal da advocacia, poderá assumir
a titularidade da ação penal. [É bom lembrar, que este
deputado federal, Carlos Marun é
amigo pessoal de Eduardo Cunha, deputado cassado e detido em Curitiba, bem
como, fez parte integrante e foi peça chave da sua “tropa de choque” na Câmara
Federal!]
Os deputados aprovaram, na última votação da
madrugada, destaque do PR ao projeto
de lei que mantém na legislação
dispositivo que prevê a responsabilização pessoal civil e criminal dos
dirigentes partidários somente se houver irregularidade grave e insanável com
enriquecimento ilícito decorrente da desaprovação das contas partidárias.
A sessão foi encerrada às 4h20 desta quarta-feira,
após aprovar todos os destaques ao projeto de lei de medidas contra a corrupção
(PL 4850/16). [Não há outra palavra para resumir esta
sessão e o que os deputados federais fizeram: VERGONHA!]
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