Vamos ter de renovar a classe política do Brasil
Sinopse da ópera (bufa)
Dora Kramer
Síntese do Brasil, o Rio de Janeiro retrata mazelas
nacionais que o
Congresso Nacional quer preservar
ANTHONY GAROTINHO & SÉRGIO CABRAL Ex-governadores do Rio de Janeiros presos na semana passada |
Um Estado que em seis anos
aumenta em 70% o contingente de funcionários para, adiante, não ter como lhes pagar os
salários gasta por causa de arrecadação
presumida, com sucessivos governos
levando um baile da bandidagem com a qual políticos trocam relações
amistosas por votos nos territórios dominados, onde policial de alta patente confessa a seus pares que tem medo de chegar à
noite ao Aeroporto Tom Jobim e enfrentar o trajeto pela Linha Vermelha por
causa dos tiroteios, francamente o Rio não poderia estar em situação diferente.
Tido
como síntese do Brasil, sede da cidade (realmente) maravilhosa, o Rio é um retrato dos males que acometem o
País desde Cabral (com trocadilho):
* corrupção
a rodo,
* inépcia administrativa,
* irresponsabilidade nos
gastos,
* insegurança pública,
* carência de espírito
público e
* excesso de ganância
privada.
Nem todos os Estados reúnem
todas essas características, mas raro (inexistente?) aquele onde não esteja
presente ao menos uma delas. Se houver é a famosa exceção que confirma a regra liderada pela administração
federal como vem revelando a tardia, porém bendita, aliança entre Polícia
Federal, Ministério Público e Poder Judiciário.
Uma hora essa coisa iria
explodir. O
padrão perverso que atrela o País ao atraso iria estourar. Provoca surpresa a
prisão de dois ex-governadores, Sérgio
Cabral e Anthony Garotinho. Surpreendente, contudo, é que tenham - cada
qual o seu setor - pintado e bordado durante tanto tempo sem serem importunados.
Garotinho é velho freguês da Justiça Eleitoral em decorrência dos métodos para
obtenção de votos. Está preso por isso, compra de votos. Já Cabral, acusado de
corrupção e lavagem de dinheiro, dá sinais exteriores de riqueza incompatível
com os ganhos de suas funções desde que era deputado estadual. Como governador,
abusou. De tudo: do excesso de confiança
na “proteção” de Lula e Dilma, do deslumbramento, das relações impróprias com
fornecedores do governo, da desfaçatez. [É bom os
petistas e lulistas de plantão darem-se conta disso: Cabral foi sempre um
político apoiado e paparicado por Lula e Dilma Rousseff!]
Abusos que a Lava Jato
revela terem sido corriqueiros e abrangentes desde sempre, embora não tão
explícitos como nos governos do PT e aliados. A lamentar os prejuízos, materializados de
maneira cruelmente contundente no Rio e demonstrados à farta na dilapidação da Petrobrás. Mas a
celebrar o início do desmonte do modelo. Não se trata de festejar a perda de
liberdade de quem quer que seja. Melhor que não houvesse motivo para tal ou que
ocorressem como casos isolados. Evidente que o processo é sofrido e humilhante
para quem é atingido, mas não dá para ser de outra forma. Até daria, se
políticos, empresários, funcionários e quem mais se envolver em ilegalidades
pensassem antes de fazer em uma máxima do óbvio: as consequências vêm depois.
Estão
em curso e, por isso, sofrendo ameaça de serem abatidas em pleno voo por um
Poder Legislativo eivado de suspeições e localizado na rabeira do ranking de
confiabilidade da população nas instituições brasileiras. Câmara e Senado reagem - cada Casa a seu modo - contra o avanço das
investigações, tentando aprovar leis que restrinjam a atuação notadamente do
Ministério Público, cuja independência foi um dos principais avanços da
Constituição de 1988. [Manifeste-se contra as tramoias
em curso atualmente no Congresso. Saiba como fazê-lo, clicando aqui].
O Congresso está diante de
uma escolha:
fica do lado certo ou estaciona do
próprio lado e, com isso, se posiciona contrariamente à vontade da Constituinte
que elaborou a Carta atual. Contra a vontade daquele colegiado que há quase 30
anos estabeleceu um novo marco legal no Brasil, onde não cabe a impunidade e
que finalmente começa a ser posto em prática.
A
opção é de suas excelências: podem
escolher ficar ao lado do cidadão ou contra ele. Sem esquecer que as
consequências vêm depois. Cedo ou tarde. Não importa, virão. E aí, a cadeia
pode ser a única opção.
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