Solenidade de Todos os Santos – Homilia
Evangelho:
Mateus 5,1-12a
Naquele tempo:
1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao
monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se,
2 e Jesus começou a ensiná-los:
3 «Bem-aventurados os pobres em
espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
4 Bem-aventurados os aflitos, porque
serão consolados.
5 Bem-aventurados os mansos, porque
possuirão a terra.
6 Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque serão saciados.
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia.
8 Bem-aventurados os puros de coração, porque
verão a Deus.
9 Bem-aventurados os que promovem a
paz, porque serão chamados filhos de Deus.
10 Bem-aventurados os que são
perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por
causa de mim.
12a Alegrai-vos e exultai, porque será
grande a vossa recompensa nos céus.»
Pe. Alberto
Maggi
Ordem
dos Servos de Maria (OSM)
Biblista
e Teólogo
O
QUE É SER FELIZ?
Como
Moisés subiu ao monte Sinai e de
Deus recebeu a Aliança com o povo, redigida nos dez mandamentos, igualmente
Mateus é o evangelista que apresenta Jesus que sobe ao monte, mas não diante de
Deus e sim, Ele próprio Jesus que é Deus – Mateus de fato nos apresentou Jesus como “o Deus conosco” – proclama a Nova Aliança. Não mais com
os mandamentos, e sim com as Bem-Aventuranças.
O
evangelista realiza uma obra artístico-literário-teológica de primeira
grandeza. De fato calcula o número destas Bem-Aventuranças, substitutivas da
Aliança de Moisés – como veremos – e as calcula
em número de oito. Porque as Bem-Aventuranças de Mateus são oito? Porque Jesus ressuscitou o primeiro dia da semana,
quer dizer o oitavo dia e logo, para a comunidade primitiva o número oito se tornou o número que indica
a vida indestrutível, aquela vida que é capaz de vencer a morte. É por isso
que as antigas fontes [pias] batismais, construídas em forma octogonal,
significavam o renascimento para uma nova vida.
Então,
Mateus apresenta oito Bem-Aventuranças.
Mas faz algo mais! Calcula até com
quantas palavras compor essas Bem-Aventuranças: são exatamente setenta e duas.
Porque setenta e duas? Porque setenta e
dois, no livro do Gênesis, capítulo 10, era o número dos povos pagãos conhecidos na época.
O
evangelista quer dizer o que com isso?
Enquanto
a Aliança de Moisés era destinada a um só povo e obtinha, para quem a
observava, longa vida aqui na terra, a
Nova Aliança, proposta por Jesus, é destinada a toda a humanidade – por
isso o número setenta e dois – não concede longa vida nesta terra, e sim uma
vida de uma qualidade tão superior que nem mesmo a morte é capaz de arranhar!
Então
Jesus, querendo mesmo se coligar ao decálogo, se liga ao último dos
mandamentos. Qual era o último dos mandamentos? Era: “Não cobiçar as coisas alheias”. Jesus, portanto, se coliga para
dar continuidade e, ao mesmo tempo, para superar aquela legislação. De fato, este mandamento que ordenava de não cobiçar
as coisas alheias, Jesus o transforma em positivo, isto é: “desejar que os outros tenham as mesmas
coisas que eu tenho”.
Portanto,
Jesus formula a primeira Bem-Aventurança.
Ela não foi colocada no primeiro lugar por acaso: de fato ela é a condição para que as outras possam existir. Todas as outras
Bem-Aventuranças são condicionadas pela acolhida e pela prática desta primeira.
O convite de Jesus, repetido por oito
vezes, é um convite à plenitude da felicidade.
A vontade de Deus coincide com a máxima aspiração do ser humano. E qual é? A
felicidade.
E Jesus também nos diz o que é a felicidade.
Diz-nos que a felicidade não consiste
naquilo que você recebe e sim naquilo que você dá. De fato, na primeira
Bem-aventurança, Jesus proclama: “Bem-aventurados
os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu”.
“Bem-Aventurados” quer dizer extremamente “Felizes...”, a mesma felicidade da
condição divina “...os pobres em espírito”. Jesus não declara “felizes” – “bem-aventurados”
os que a sociedade tornou miseráveis, os desgraçados da terra, mas declara felizes os que são “pobres em
espírito”.
A
expressão: “Pobres em espírito” pode
significar “carentes de espírito”. Esses não podem ser felizes! Pode
significar os que são “espiritualmente pobres”, mesmo conservando seus bens.
Porém,
quando Jesus encontra um rico lhe pede de abandonar imediatamente e
radicalmente os seus bens. Por último, pode
significar “aqueles que são pobres pelo espírito” – quer dizer, não aqueles
que são miseráveis – mas aqueles que, pela força interior que os anima, decidem
voluntariamente entrar na condição de pobres.
Condição
de pobres. Não significa se adicionar
aos tantos miseráveis descartáveis que a humanidade produz, mas àqueles que se esforçam para eliminar
as causas da miséria. O convite de Jesus poderia ser traduzido assim: “diminua
um pouco o seu nível de vida para permitir, aos que o têm baixo demais, de
elevá-lo”. O convite de Jesus é para a partilha e não para a esmola.
A
esmola cria um benfeitor e um beneficiado. A
partilha, ao contrário, produz irmãos e irmãs. Eis porque Jesus convida os seus discípulos a se
sentir responsáveis pela felicidade do outro: é disso que se trata aqui! E
a felicidade do outro começa desejando que o outro tenha as mesmas coisas que
eu tenho. Jesus não nos pede para nos despirmos e sim de vestirmos os outros!
Pois bem, Jesus proclama felizes, ou
seja, bem-aventurados os que fazem esta escolha de se tornar pobres “porque
deles é o Reino do Céu”.
Mateus
é o único evangelista que usa a expressão “Reino
do Céu”, onde os outros usam “Reino de Deus”. O que pode significar isso?
Que Deus é o Rei deles e, portanto, como já e sempre no Antigo Testamento, é
Deus quem cuida dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Jesus aqui garante aos
seus discípulos: “Se vocês se sentirem responsáveis pela felicidade dos outros, vocês
serão felizes”.
Por
quê? Onde está essa felicidade? Se vocês vão permitir ao próprio Deus de tomar
conta da vossa felicidade, a troca será, sem dúvida, vantajosa!
Portanto,
se houver a aceitação dessa primeira
Bem-aventurança seguem mais três Bem-aventuranças a respeito dos efeitos
positivos sobre a humanidade dessa
escolha da pobreza feita pela comunidade: a eliminação da injustiça que é a
causa do sofrimento, do ódio e da rivalidade. Tudo isso, além de todos os
outros efeitos extraordinários que a vivência da primeira Bem-aventurança
produz na própria comunidade e na
pessoa.
Portanto:
“Bem-aventurados os que são
misericordiosos”, “Bem-aventurados os
puros de
coração”, “Bem-aventurados os que promovem a paz”, não dizem respeito a outras
categorias particulares de pessoas. Não, são
todos efeitos na mesma pessoa.
E
depois, a última Bem-Aventurança que
volta a ser no presente – como a primeira, enquanto as outras estão no futuro –
e é a da perseguição: “Bem-aventurados os
que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu”.
A fidelidade à mensagem de
Jesus conduzirá inevitavelmente à perseguição, mas, como para a pobreza, Deus se colocará sempre ao lado dos
perseguidos e nunca do lado dos perseguidores.
Esta
é a BEM-AVENTURANÇA de Jesus.
Traduzido do italiano por Pe. Bartolomeo Bergese, Diocese de
Pesqueira – PE (Brasil).
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