Com o que está preocupado Renan Calheiros?

Renan anuncia novas medidas que confrontam
o Judiciário   

Isabela Bonfim

Presidente do Senado quer votar projeto de abuso de autoridade
até o fim de ano; ele também instalou uma comissão
que vai investigar salários nos três Poderes que ultrapassam o teto
RENAN CALHEIROS (Senador pelo Estado de Alagoas - PMDB)

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou nesta quinta-feira, 10 de novembro, medidas que confrontam mais uma vez o Judiciário. O peemedebista quer retomar o debate sobre o projeto de abuso de autoridade, fortemente criticado pela classe de magistrados, e instalou uma comissão para analisar salários que ultrapassam o teto constitucional, fazendo referência direta a juízes. [É a fera ferida e ameaçada que ruge!!! Ainda mais quem! Preocupado com salários altos??? Engana-me que eu gosto!!!]

Renan ensaia a retomada do projeto que altera a lei de abuso de autoridade desde meados de Julho, quando tentou desengavetar a proposta, que é de 2009. O texto foi muito criticado por entidades do Judiciário e pelo Ministério Público, que alegam que o projeto é uma ameaça à Operação Lava Jato.

O presidente do Senado acabou não encontrando apoio político entre os demais parlamentares e a proposta ficou esquecida em uma comissão especial. Agora, ele que trazer o projeto de volta à tona, com direito a audiência de debates com a participação de figuras centrais da Operação Lava Jato como o procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro, que já se posicionaram contrariamente à proposta.

Segundo Renan, é ideal que o projeto seja votado até o fim deste ano. Ele considerou, inclusive, que a votação aconteça no mesmo dia do debate com convidados. [O Senado, muito raramente, tem pressa em votar algum projeto de lei, por que tanta pressa em relação a este??? Só ingênuo e desinformado para não duvidar das intenções de Renan!]

"Vou chamar representantes da Polícia Federal, Ministério Público, Judiciário, Associação de Juízes Federais. Não acredito que o juiz Sérgio Moro ou Dallagnol defendam o abuso de autoridade. É importante que eles venham para fazermos o debate", afirmou. [Cinismo!!!]

Segundo Renan, um novo relator será designado para o projeto em reunião de líderes na próxima quarta-feira, 16 de novembr. Na quarta, 9, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) deixou a relatoria alegando que a posição não é adequada com o novo posto de líder do governo. Renan ironizou a dificuldade de encontrar um interessado em assumir o projeto. "Ainda não decidimos um nome porque alguns gastaram a cota de coragem e a gente precisa reestimulá-la."
OTTO ALENCAR 
Senador pelo PSD da Bahia é o presidente da comissão para investigar salários abusivos nos
Três Poderes - Judiciário, Legislativo e Executivo

VENCIMENTOS

O presidente do Senado também instalou na manhã desta quinta a comissão que vai investigar salários que ultrapassam o teto. Os senadores terão 20 dias para avaliar casos de servidores que recebem acima do teto constitucional e trazer uma solução, como um projeto de lei que impeça o acúmulo de salários e benefícios.

Apesar de defender que o levantamento vai tratar dos salários dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), Renan repetiu diversas vezes, como exemplo, o caso de mais de 10 mil magistrados que recebem acima do teto, como revelado pelo jornal O Globo em outubro. "Enquanto estamos fazendo a reforma da Previdência, estamos reestruturando o gasto público, ainda temos pessoas que ganham mais de R$ 100 mil reais, como vimos no caso de juízes no Rio de Janeiro", afirmou. [A causa é boa! Mas é, no mínimo, muitíssimo estranha a ocasião em que Renan decidiu averiguar essa questão! E por que tanta ênfase nos salários do Judiciário?!]

A comissão será presidida pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), enquanto o vice-presidente será Antonio Anastasia (PSDB-MG). A relatoria coube à senadora Kátia Abreu (PMDB-TO).

Além do levantamento sobre salários acima do teto, a comissão também deve apresentar um projeto para desvincular o subsídio de ministros de tribunais superiores do restante da administração pública. Atualmente o teto constitucional é estabelecido por esses salários, o que dificultou o reajuste de ministros do STF, uma vez que a remuneração causa um efeito cascata.

Reação da Lava Jato não estava no radar
dos políticos

Vera Magalhães

Ao denunciar as manobras para coibir investigações, Moro e os procuradores jogam holofote gigante onde deputados e senadores gostariam de operar no escuro 
PROCURADORES QUE INTEGRAM A FORÇA-TAREFA DA OPERAÇÃO LAVA JATO

Talvez uma das coisas mais positivas da convulsão política pela qual o Brasil passa desde 2013, com a eclosão das jornadas de protestos de junho, seja o fim da passividade de cidadãos e de instituições como Ministério Público e Poder Judiciário.

O sucesso da Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff são os resultados mais palpáveis dessa nova institucionalidade. O que parece alentador é que, mesmo passado o momento agudo da crise, ela parece se manter sólida para reagir a movimentos regressivos como o colocado em curso pelo Congresso desde a troca da guarda no Palácio do Planalto.

O roteiro do impeachment previa, como bem disse o delator Sérgio Machado, uma certa acomodação posterior à posse de Michel Temer: viriam medidas no Congresso e um certo suporte no Supremo Tribunal Federal para tentar circunscrever a Lava Jato ao que já se sabia e seguir o jogo.

Foram abertas inúmeras frentes de ação nesse sentido. As mais visíveis são:
a) as reiteradas tentativas de anistiar o caixa 2 eleitoral, sob a “ingênua” justificativa de que ele passará a ser considerado crime e, portanto, o que foi praticado anteriormente não pode ser punido,
b) a proposta do Senado de apertar a Lei de Abuso de Autoridade para intimidar juízes e procuradores e, agora,
c) a ideia de tornar mais lenientes os acordos de leniência de empresas pegas em corrupção.

O que não estava no radar dos políticos, que repetem o movimento que cerceou a Operação Mãos Limpas, na Itália, é que viria uma reação imediata, clara e em bom som dos procuradores da Lava Jato.

Ao denunciar e chamar pelo nome que têm as manobras para coibir as investigações, o juiz Sérgio Moro e os procuradores jogam um holofote gigante onde deputados e senadores gostariam de operar no escuro. Resta saber se os movimentos de combate à corrupção, que foram às ruas e bateram panelas pelo impeachment, estão suficientemente atentos e mobilizados para se juntar aos agentes da Lava Jato na outra “perna” fundamental para impedir que a operação abafa prospere: a gritaria nas ruas.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política / Análise – Sexta-feira, 11 de novembro de 2016 – Pág. A6 – Internet: clique aqui; e aqui.

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