«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 5 de novembro de 2016

Qual felicidade?

Beleza americana

Adriana Carranca

A qualidade de vida nos Estados Unidos é melhor do que em Ruanda sob
qualquer índice econômico e social. 
Mas os americanos são menos felizes que os ruandeses! 
AMERICANOS EM NOVA YORK - ESTADOS UNIDOS

A primeira impressão foi de estranheza, embora com alguma simpatia. Eu havia pedido um café e recebera de volta um líquido insosso e pardo que mal cheirava à bebida, com aroma predominante de canela. Hesitei em receber o copo de isopor cheio, mas o vendedor tinha as mãos estendidas em minha direção, os olhos vidrados nos meus e um sorriso congelado no rosto. Engoli a bebida quente forçando um semblante que indicasse aprovação, na tentativa de retribuir seu sorriso, mas mal dei o primeiro gole e ele já sorria para outro cliente. Era meu primeiro contato com a cultura americana, durante uma escala no Aeroporto de Miami.

Nos meses seguintes, eu seria recebida com um alegre e sonoro “Hi! How are you doing today?” [Como vai você hoje?] assim que colocava os pés em uma loja, farmácia, no caixa do supermercado. Ofereciam-me “happy meals”, batatas fritas no formato de um sorriso, descontos em “happy hours”. “Have a happy day”, eu ouvia ao sair. Ao voltar os olhos em direção à voz, encontrava fatalmente o mesmo olhar e o sorriso congelado do rapaz da lanchonete.

Eu pensava: “que simpáticos!”, até saber que uma rede varejista obrigava seus funcionários a sorrir sempre que um consumidor estivesse a três metros de distância deles. O sorriso era uma estratégia de marketing ensinada nos MBAs [cursos de especialização e mestrado]. Uma busca rápida na Amazon traz 924 livros com as palavras “smile & sales”, coisas como “Sorria e venda mais”. No Google, aparecem ensaios como: “A ciência por trás do marketing do sorriso”. Quando “o sorriso americano” passou a ser alvo de zombaria e se tornou sinônimo de uma expressão falsa de felicidade, os gerentes de marketing passaram a exigir de funcionários não apenas o sorriso, mas que fosse sincero. Eles deveriam se sentir realmente felizes.

A felicidade se tornara imperativo para alcançar sucesso, e sua busca alimentou uma bilionária indústria de autoajuda e o maior mercado de antidepressivos do mundo. Certamente não era o que imaginava Thomas Jefferson ao imprimir a busca pela felicidade no DNA da sociedade americana. “Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”, ele cunhou na Declaração de Independência.

Angústia

Em America the Anxious, lançado esta semana, a jornalista britânica Ruth Whippman mostra como a obsessão americana pela felicidade criou uma nação de infelizes. Os ingleses não são exemplos de bom humor e amabilidade pública, mas a observação aguçada de Ruth sobre o efeito reverso da busca pela felicidade é confirmada por estudos na área de psicologia, como o da Universidade de Berkeley, em que entrevistados que tinham a felicidade como ambição pessoal sentiam-se menos felizes e tinham maior probabilidade de manifestar sintomas de insatisfação e depressão. Um índex do instituto Gallup, de 2014, para comparar o grau de felicidade em vários países colocou os Estados Unidos em 25.º lugar, dois atrás de Ruanda. [Quando vamos aprender e reconhecer que a felicidade não deve ser uma meta, um objetivo de vida, mas uma consequência de uma vida bem vivida!]
ADRIANA CARRANCA
Autora deste artigo

A qualidade de vida nos EUA é melhor do que em Ruanda sob qualquer índice econômico e social. A percepção negativa dos americanos reside na distância entre expectativa e vida real. O crescimento econômico não impediu a desigualdade crescente desde os anos 1970. A desindustrialização, as mudanças tecnológicas dos anos 1990, que automatizaram a produção, e a globalização resultaram no declínio do emprego para as classes menos educadas. O economista David Autor, do Massachusetts Institute of Technology [MIT, em Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos], em artigo recente para o Council on Foreign Relations, fala no surgimento de “uma próspera classe global de elites no topo (da pirâmide social) e uma classe estressada que compreende todos os outros”. [Perfeito retrato daquilo que a globalização e a financeirização da economia fizeram nas últimas décadas em todo o mundo]

O impacto disso na sociedade americana foi particularmente devastador. Um dos efeitos colaterais da obsessão americana pela felicidade, como mostrou Whippman, foi reduzir a responsabilidade do Estado sobre o bem-estar social dos cidadãos. A felicidade passou a ser uma busca e uma responsabilidade de cada um, uma competição individual. Em última instância, se não tem emprego, educação, saúde, a culpa é sua ou de seu vizinho – especialmente se ele for um imigrante. Os americanos têm uma palavra para isso: loser (perdedor).

“Para um grande número de pessoas, Donald J. Trump representa talvez a encarnação final dessa ideia. É difícil argumentar que ‘o Donald’ não é, a seu modo, feliz”, escreveu Bruno Kavanagh, na Spectator. Uma pesquisa do Pew Research mostrou que 81% dos eleitores de Trump acham que sua vida é pior hoje do que há 50 anos, contra 19% de Hillary Clinton. “Donald Trump é a obra-prima da melancolia americana”, ele conclui. “Eu derroto as pessoas,” disse Trump à Fox News ao anunciar sua candidatura. “Eu venço.” Se isso será suficiente para chegar à Casa Branca, nós saberemos na terça feira [8 de novembro é o dia das eleições para presidente nos Estados Unidos].

Para ilustrar melhor o que é dito neste artigo, assista a este vídeo 
com discursos de Donald J. Trump e análises, 
clique sobre a imagem abaixo:


 Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional / Colunistas  – Sábado, 5 de novembro de 2016 – Pág. A14 – Internet: clique aqui.

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